V i THFSF J DE k ¥ ANTÔNIO BONIFÁCIO DE SOUZA BRANDÃO -j~\-- ^^^^^^^^§^^^S^^ Ú L\ 1 THESE PARA SER PUBLICAMENTE SUSTENTADA PERANTE i FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EM NOVEMBRO »E 199 f Aras nss ans¥im a êmí? DE DOUTOR EM MEDICINA / entorna Bonifácio í>* $on\a ffirjwfowr Filho legitimo de Francisco Santiago Brandão e D. Luiza Vicencia dos Santos Brandão. NATURAL DESTA PROVÍNCIA (CIDADE DE SANTO AMARO) Irman gêmea das penas e do soffrimenlo a Medicina nasceu na hora, emque,dos lábios do primeiro homem desprendeu- se o primeiro gemido de dor. BAHIA TYPOGRAPH1A DE J. G. TOURINHO 1871 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. DIRECTOR O Ei.mo Snr. Conselheiro Dr. Yicenle Ferreira de Magalhães. OS SRS. DOUTORES l.*ANNO. MATÉRIAS QUE LECCIOHAM . „ • ^...„.ii,s0. í Physica em geral, eparticularmente em mas Cons. Vicente Ferreira de Magalhães . [ applicações ã Medicina. Francisco Rodrigues da Silva.....Chimica e Mineralogia. Adriano Alves de Lima Gordilho . . . Anatomia desenpuva. 2.» ANNO. Antônio de Cerqueira Pinlo.....Chimica orgânica. Jeronymo Sodré Pereira . ... . Physiologia. Antônio Mariano do Uotnflm.....Botânica e Zoologia. _ Adriano Alves de Lima Gordilho. . . . Repetição de Anatomia dcscripliva. 5.' ANNO. Cons. Elias José Pcdroza......Anatomia geral epathologlca. José de Góes Sequeira.......Pathologia geral. Jeronymo Sodré Pereira......Physiologia. i.' ANNO; Cons. Manoel Ladisláo Aranha Dantas . Pathologia externa. Demetrio Cyriaco Tourinho.....Pathologia interna. Conselheiro Mathias Moreira Sampaio j Pa/eceVnnaSs! ^ mulheres pèjadas e de menlnos ».<> ANNO. Demetrio Cyriaco Tourinho . . . : . Continuação de Pathologia interna. José Antônio de Freitas.....i .j Al)1aptSanr1eatlt0°spographica' Medicina operatoria. Luiz Alvares dos Santos......Matéria medica, e therapeutica. 6.' ANNO, Rozendo Aprigio Pereira Guimarães . . Pharmacia. Salustiano Ferreira Souto......Medicina legal. Domingos Rodrigues Seixas.....Hygiene, e Historiada Medicina. JoséAffonso de Moura........Clinica externa do 3/e 4.° annou Antônio Januário de Faria......Clinica interna do 5.* e 6.* anno, ignacio José da Cunha.......f Pedro Ribeiro de Araújo......i Secção Accessoria. José Ignacio de Barros Pimentel. . .1 Virgílio Clymaco Damazio...../ Augusto" Gonçalves Martins.....j Domingos Carlos da Silva......} Secção Cirúrgica. Antônio Pacifico Pereira......\ R.imiro AITonso Monteiro......) Secção Medica. Efeas Carlos Moniz Sodré de Aragão . X Glandoiniro Augusto de Moraes Caldas .} O Sr. Dr.Cincinnato Pinto da NI Ira. O Sr. Dr. Thomaz d'Aquino Gaspar. A Fa^iü.i.1» não approva, nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhe são apresentadas. A SAUDOSA MEMÓRIA ms: MEUS PAES ......et tacituãn vivit sttb pectore vuinus VIRGIt D. A MIHA BOA E VIRTUOSA ESPOSA A SENHORA JD. Batia augusta €0^0 banirão Todos os affectos de minh'alma. A mmmStB wmmbaw&b iimãs Muita amisade. 4 HEU PADRINHO E VERDADEIRO AMIGO O RVM. VIGÁRIO CONEGO ANTÔNIO PEDRO MOREIRA RIOS E A SUA IXTOITOiA BüflÂO A EXMA. SRA. Sincero protesto de amisade e gratidão eterna. ü mm smkd 0 SENHOR COMMENDADOR 1HM©1I Dl SÍIM IMltòi Amisade e reconüecimento. A OS PJtREHTES QIIE IÍE ESTIlüiO Retribuição. Pequeua prova de amisade e consideração. Á ILLUSTRAÜA CONGREGAÇÃO DA FACULDADE DA BAHIA Homenagem ao mérito. A MEUS COLLEGAS DOUTORANDOS Um adeos. 2ESÇA0 MEDICA fi!LT(CJ)SMlI£ DISSERTAÇÃO HISTORIA E PATHOGENIA. o importante quadro das moléstias constitucionaes destaca-se uma entidade mórbida, verdadeiro germen destruidor da or- ganisação do homem, cuja natureza e causa determinante se tem conservado desde as mais remotas epochas da medicina até hoje envoltas no denso véo de hypotheses e mysterio. Diversos tem sido os nomes dados á essa moléstia. Galeno chamava-na ora dyarrhèa urinosa ora hydropsia das vias urinarias, Sauvages e Mead diabates anglicus, Nicolase Gueudiville diabetes assucaraia, pthysuria assucarada; Cel- so que parece tel-a conhecido ainda que mal e confusamente assim a indica: quem urina super potionum modum mingitur, et jam sine dolore profluens maciem et periculum facit; finalmente Bouchardat dera-lhe a denominação im- própria de glycosuria. Os antigos médicos consideravão diabético o indivíduo que emittia em 24 horas uma grande quantidade de ourinas, que emmagrecia progressivamente e que apresentava uma sede ardente e um appetite excessivo; mas ainda nesse tempo se ignorava a existência do assucar nestas ourinas, quando em 1674 Willis reconheceu que esse liquido apresentava um sabor doce assucarado, e foi somente em 1778, que Gawley separou o principio sacharino que elle continha. Restava ainda conhecer-se a natureza desse assucar quando em _ 4 — 1815 Chevreul demonstrou por meio de analyses que essa substancia era chi- micamente análoga áquella que resultava da transformação da fecula. Rollo, partidário da opinião dos physiologistas do século XVIII que, o sue- co gástrico mudava a natureza de sua reação pela influencia das substan- cias que digeria, que portanto na alimentação animal tornava-se alcalino, na vesetal era ácido, considerou a diabetes devida á um vicio da digestão, á um Ç? 7 desarranjo das funeções do estômago resultantes de uma alteração do sueco gástrico, em virtude da qual as matérias vegetaes ingeridas erão transformadas em assucar. A theoria do illustre practico do século passado, professada pela maioria dos médicos de então, decahiu em 1825 quando Tiedman e Gmelin provarão qne assucar formava-se. normalmente durante a digestão pela transformação da fecula, e que por tanto não se podia considerar a existência dessa substan- cia no canal intestinal como o resultado de qualquer alteração das funeções digestivas. Depois de longos e sérios estudos sobre a diabetes o sábio professor do col- legio de França o Dr. Bouchardat procurou fazer reviver a thearia de Rollo, considerando por sua vez o estômago a sede da moléstia. Fundando-se no facto physiologico da transformação sacharina da fecula, o sábio hygienista fa- zia consistir a causa da diabetes em uma exagereção desse acto normal deter- minada pela formação no estômago dos doentes da diastase, idêntica por suas propriedades dissolventes a diastase extrahida por Paen da cevada germinada. Esta theoria que se tem chamado gástrica só poderá explicar a diabetes que desapparece pela abstenção da alimentação feculenta, e senão, como ex- plicaria o illustre professor de hygiene a persistência da moléstia em ausência completa dos feculentos? demais, sabe-se hoje pelas experiências exactas e precisas dos Srs. Lehman e Uhle que, sempre que o sangue encerrar seis dé- cimos por cento de assucar ha glycosuria, por isso que está provado hoje que, o assucar formado no tubo digestivo pela transformaição dos feculentos não entra em totalidade no sangue, uma pequena parte apenas é absorvida. Mialhe, celebre chimico, firmando se na acção oxidante que tem sobre o assucar, resultante da transformrção dos feculentos, os alcalis do sangue, para tornarem-no unido ao oxigeneo um verdadeiro alimento respiratório e calorifico, pretende encontrar a causa da diabetes em uma perturbação des- ses phenomenos de chimica viva que se dão normalmente na economia e en- tão diz elle: se a glucose ê expellida em naturesa pelas secreçòes é porque ella não encontrara no sangue uma quantidade sufficienle de alcalis para oxi' — 5 — da-la, logo conclue o eminente chimico: a diabetes tem por causa um vicio de assimilarão da glucosepor falta de alcalis, devida ao abuso das bebidas ácidas, á uma alimentação puramente animal e mais que tudo á suppressão do suor. Contra esta theoria serias e sensatas objecções se tem levantado que pare- ce destruirem-na; em primeiro lugar, a suppressão do suor é antes um effeito do que uma causa da moléstia, porquanto como explicar-se a continuação do estado mórbido nos casos raros, é verdade, em que a secreção cutânea func- ciona? em segundo lugar, está hoje provado exhuberantemente pelas obser- vações do Dr. Jaccoud que a influencia dos alcalis do sangue sobre o assucar se faz sentir somente na temperatura de 95° cent. Claud Bernard em suas experiências demonstrou que, se injeclarmos em um cão nma solucçãoaquosa deglucose eem um outro igual quantidade addicio- nando carbonato de soda, os dois cães íicão glycosuricps e excretão a mesma porção de assucar; demais diz Jaccoud: a evolucção dos feculentos e do assucar na economia não consiste somente em umaoxidação, mas principalmente em uma assimilação em virtude da qual o assucar absorvido è convertido em matéria giycogcnica. 0 emminente e illustrado physiologisla francez o Dr. Claud Bernard tendo feito a grande descoberta da funeção glycogenica do fígado, considerando o glycogenio idêntico a glucose, impressionado pelo facto de ter encontrado as- sucar no figado dos indivíduos mortos de diabetes sem que este órgão apre- sentasse qualquer lesão, concluio qne a glândula hepatica era a sede da dia- betes e que esta moléstia era portanto devick á uma perturbação de natu- rcsa nervosa, dando logara uma hypersecreção do glycogenio, perturbação esta que podia ter por causa uma alteração do encephalo ou ser uma simples alteração funcoional sem lesão material apreciável. Esta theoria apenas recommendavel e valiosa pelo nome illustre de seu author longe de desvendar o mysterio, maior confusão levou ao espirito de muitos práticos. Bouchardat negou a identidade da glucose e do glycogenio que subCíettidas ao polarimetro de Biot derão o seguinte resultado: a glucose cristalisa facil- mente em mamelões e desvia á direita os raios da luz polarisada, e o glyco- genio cristalisa dificilmente e desvia á esquerda os mesmos raios. Ainda as experiências de Meismer e Schiíf provão que no estado pbysiolo- gico o figado não forma glycogenio, fixa e guardã-o em abundância e a sua transformação emglucoze, queé produzida pelainíluenciada diastase, é um farto pathologico ou então post mortem. Para Boucharcat o íigado representa o — 6 — papel de moderador, retém esta substancia para derramal-a lentamente no sangue. Ainda Rouget tem demonstrado que o glycogenio ou zoamylina não existe somente no figado, e que a fixação desta substancia provindo dos feculentos não se dá unicamente neste órgão, mas em todos os tecidos de zoamyglina. Citaremos finalmente a opinião de Jaccoud: não ha rasão plausível para loca- Usar a diabetes no figado, por quanto a zoamylina muito espalhada no or- ganismo não pertence á essa glândula exclusivamente; a desordem na evo- lucção dos feculentos e albuminoides, as perdas em uréa revelão a perturba- ção do processo nutritivo e não a de um só órgão. A theoria que mais racionalmente parece explicar o facto mórbido da dia- betes sendo confirmada pelo grupo de symptomas que denuncião claramente a alteração profunda de nutrição, é a do illustre physiologista Pavy, o qual dá como causa da moléstia a formação no sangue de um fermento, bem que desconhecido em sua naturesa, que tem a propriedade de transformar o gly- cogenio em glucose: este fermento é sem duvida alguma produzido por uma alteração do sangue, por uma aberração da inervação nutritiva. Esta theoria é abraçada por quasi todos os práticos eminentes principal- mente pelo Dr. Jaccoud que assim define a diabetes * uma moléstia da nutri- ção, uma distrophia, consistindo na transformação assucarada do glycogenio ou zoamylina resultado da existência de um fermento no sangue.» ETIOLOGIA Não estão de accordo os pathologistas a respeito da influencia do clima na producção da diabetes: alguns afflrmão ser a moléstia muito freqüente nos paizes frios, os Srs. Contour e James Willis, porem, dizem nunca terem-na observado nos hospitaes da Rússia. Rara na infância, pouco commum na velhice, o máximo de freqüência da diabetes, segundo a estatística de Gríesinger, está no homem entre 10 e 30 annos, na mulher entre 30 e 40 annos; a practica, porem, nos mostra innume- ras excepções. A influencia dos sexos é uma das condicções etiologicas bem conhecidas, em 225 casos observados por Gríesinger 172 indivíduos erão do sexo masculino e 52 do feminino; as observações de muitos outros práticos tem colhido analo- gos resultados e tendem a provar que a moléstia ataca de preferencia aos homens. A constituição fraca ou a forte por predominância do systema adiposo (Mar- chai de Calvi) e a herança são causas muito poderosas para o desenvolvimento da moléstia. Muitos factos parecem provar que o traumatismo directo cephalico e o in- directo ou por contra pancada muitas vezes despertão o apparecimento da diabetes, que terá uma duração muito curta se outras causas mais poderosas não vierem em seu auxilio. As paixões deprimentes, as grandes emoções, um violento accesso de cólera, os excesso venereos, o onanismo, a febre íntermittente inveterada e os resfriamentos representão, na opinião de muitos authores, o papel de causas occasionaes da diabetes. ANATOMIA PATI10L0GICA As lesões encontradas nos cadáveres dos indivíduos mortos de diabetes são: signaes de decubitus, anthrases principalmente ao lado da espinha dorsal e na nuca, furunculos e gragrenas nos membros superiores e um emmagreci- mento considerável do corpo. Alguns práticos dizem ter encontrado pela autópsia uma hypertrophia e congestão do figado. Para Bouchardat e Skod a atrophia do pancreas é lesão infallivel, A dilatação do estômago com hypertrophia da túnica muscular é constante no período adiantado da moléstia. « Os rins, diz Cruveillier, são em geral hypertrophiados e congestos, eu os tenho encontrado muitas vezes do peso de 180 a 250 gram. em vez de 120 oram. peso ordinário de um rim são; tenho visto pelo factodeuma compressão ligeira o sangue correr das secções praticadas neste órgão.» Os pulmões apresentão-se destruídos em certas partes em conseqüência das cavernas. Não é raro, diz Jaccoud, encontrarem-se lesões nervosas que se traduzem por congestão, induração, amollecimento, focos apoplecticos e que se manifestão nos hemispherios cerebraes, nos corpos estriados, no cerebello ou ainda na medulla. O sangue é profundamente alterado, alem de grande quantidade de assucar — 8 — que ahi se descobre, a porporção da uréa augmenta, a fibrina e a albumína dinuem. SYMPTOMAS Na pluralidade dos casos a diabetes conserva-se por longo tempo occulta nas profundezas do organismo, sem que phenomeno algum apreciável ao doente denuncie da sua existência. Algumas vezes porem, o seu período de invasão manifesta-se por alterações da digestão como eructações ácidas, um gosto acre da bocca, peso na região epigastrica, seccura da bocca e da garganta, saliva cscumosa, espessa e ácida, ou ainda manifesta-se por phenomenos nervosos que se traduzem por cephalalgias, hemicranias, dores na nuca e no dorso, caim- bras, enfraquecimento da sensibilidade peripherica (Jordão). É sempre um conjuncto de symptomas chamados primitivos cardiaes ou in- falliveis quem revela ao medico a existência ja adiantada da moléstia. Estes phenomenos que determinão graves complicações são: glycosuria ou mélituria, polyura, polydipsia, polyphagia e mais tarde authophagia. A mélitura ou presença de glucose na urina é a expressão da glycemia, que é o facto capital da moléstia. A quantidade de assucar iluminado em 24 horas varia segundo os indiví- duos, as diversas horas do dia, o período da moléstia, as condicções do regi- men e finalmente segundo o estado das forças do estômago. Durante a digestão a quantidade é mais considerável, pela manhã e no começo da moléstia o é menos. Não é raro ver-se doentes que eliminem durante 24 horas tresentas, qua- trocentas e mais grammas de assucar. O estado febril e a suppressão dos feculentos determinão as vezes a ausência da emissão desta substancia. A irritação continuada resultante da ourina assucarada produz rubor ao re- dor do meato ourinario e um prurido insuportável na urethra; este phenomeno é muito importante e digno da attenção do medico que, deverá examinar a ou- rina de qualquer individuo que isso apresentar, em ausência de qualquer outro phenomeno mórbido. A ourina diabética é transparente, sem cheiro, de um sabor doce e muito mais clara que a ourina normal, o seu peso especifico varia de 1035 a 1060, ella é ácida e contem em augmento a uréa a creatinina e os chloruretos. A quantidade de ourina elliminada em 24 horas foi antigamente considerada — 9 ~- maior que a dos líquidos ingeridos, d'ahi nascerão astheorias de Areteé, Haller e Rutherfold mas, pelos estudos de Nasse, Gríesinger e Jordão é hoje estabe- lecida a proporção directa entre estes e aquella; ella varia entre 3 e 12 litros. Para compensar as grandes perdas de agoa que se dão pelas ourinas os doentes são atormentados de uma sede ardente e insaciável e inserem enormes quantidades de líquidos; a intensidade dapolydipsia está em relação com a po- lyuria (Jacoud) ou com a quantidade dos feculentos ingeridos (Bouchardat). Assim como um homem que perde agoa pela transpiração, como um febrici- tante pela evaporação insensível ou como um cholerico que perde muita água pelos capillares intestinaes, assim o diabético que perde muito mais água pelas ourinas tem sede, porque seu sangue é expesso, Niemeyer. Os doentes bebem de 10 a 15 litros de agoa por dia, a sede é mais ardente horas depois do jantar, oceasião em que a producção do assucar é mais abundante. No período adiantado da moléstia, quando os seus progressos não tem sido obstados pela applicação dos meios convenientes, quando portanto a eco- nomia começa a abater-se pelas perdas em uréa e porque não recebe do san- gue degenerado o estimulo de vida e materiaes de nutricção, dá-se providen- cialmente o phenomeno da polyphagia; o doente apresenta um augmento do appetite que pode ir á bolimia; augmenta-se tãobem a actividade das forças digestivas, e nestas condicções elle pode resistir por lougo tempo aos estragos da moléstia. Mas, quando o assucar não mais se forma á custa dos feculentos e das subs- tancias azotadas, sim dos próprios tecidos da economia, quando os alimentos não podem mais compensar as perdas de uréa e de assucar, as forças aba- tem-se, perturbão-se todas as funeções principalmente a digestiva, a vida vae pouco e pouco apagando-se e o infeliz doente cahe no período authopha- gico, reduz-se em poucos dias ao marasmo mais completo e terrível e a morte prestes dará fim a esse drama mysterioso e lugubre. Como conseqüências da grande alteracção do sangue diversas lesões impor- tantes se apresentão na pelle; além de secca, rugosa e escamosa, ella cobre- se de erupções de diversas epecies; a sensibilidade cutânea diminue e é até abo- lida, a transpiração cutânea desapparece completamente. Alem destas erupções, outras lesões mais graves e importantes para o dia- gnostico se manifestão, assim: os anthrazes apresentão-se ordinariamente no dorso, os phlegmões e furunculos nos membros; estas phlegmasias trazem como caracter distinetivo a disposição á passagem rápida ao estado gan- greno. B. 2 — 10 — Outra lesão para a qual o Sr. Marchai (de Calvi) tivera chamado a attenção dos practicos é a gangrena espontânea ou senil, que é devida a uma arterite que precedente quer consecutiva ao coagulo obturador, ella manifesta-se prin- cipalmente nos membros inferiores. Estas lesões podem apparecer desde o principio da moléstia e em alguns casos ellas são as primeiras manifestações da diabetes, e a sciencia moderna tem estabelecido como preceito ao medico: examinar as ourinas de indivíduos que apresentarem uma destas aífecções gangrenosas, quando ellas não depende- rem de uma causa bem manifesta. A circulação nenhuma alteração apresenta no principio da moléstia, mas com o apparecimento dos tuberculos o pulso torna-se pequeno e accelerado. Ainda o doente soífre de dureza de ouvido e mesmo surdez, perversão do gosto e do olfacto, amollecimento fungoso das gengivas determinando a que- da dos dentes, e a pneumonia que sempre termina-se pela gangrena. A visão é sede de alterações hoje bem conhecidas: a amblyopia que appa- rece desde o começo da moléstia e a catarata que não vem sinão em um perío- do mais adiantado e desenvolvendo-se rapidamente, esta é devida á falta de alcalis do sangue (Mialhe), ou é uma manifestação do deterioramento profundo da economia. MARCHA, TERMINAÇÃO E PROGNOSTICO A diabetes é uma moléstia essencialmente chronica, a sua marcha é lenta e continua; ella na pluralidade dos casos conserva-se no estado latente por muito tempo, mas uma vez manifestando-se exteriormente segue seos períodos com mais ou menos presteza. As moléstias agudas intercurrcntes fazem diminuir ou suspender a glyco- suria; explicão este phenomeno ou pela ausência do fermento que transforma o glycogenio em glucose ou pela falta do próprio glycogenio. Quando a diabetes segue uma marcha fatal, as suas manifestações mórbidas vão sempre apresentando maior intensidade, o emagrecimento e a prostraçãp vão de dia em dia augmentando consideravelmente, as digestões perturbão-se e os alimentos não são mais digeridos. A duração da diabetes é longa ordinariamenre, algumas vezes porem é de poucos mezes. A terminação ordinária é pela morte; nos casos mais felizes pode ser pela — M — cura se os meios hygienicos e therapeuticos forem empregados conveniente- mente e a moléstia se achar no começo. Do que temos dito se conclue que o prognostico da moléstia é grave. Todavia é necessário que o medico attenda á influencia do regimen sobre a marcha da moléstia, o seu período e as condicções do indivíduo para com certesa e se- gurança dar a sua opinião sobre a sorte do doente. DIAGNOSTICO E a verificação do assucar de uva ou glucose nas ourinas accompanhado de outros symptomas quem leva ao espirito do medico a convicção da existên- cia da diabetes assucarada. É sempre de urgente necessidade examinar as ourinas de um individuo que apresentar um augmento do apetite, das ourinas, da sede, accompanhado de emmagrecimento. Outros symptomas não menos importantes impõem igual necessidade de ana- lyse da urina, assim: o prurido urethral ou vulvar, as erupções do prepucio, as manchas brancas como amidonadas na camisa, eum emagrecimento progressivo em ausência de qualquer estado mórbido apreciável. Diversos são os processos de analyse empregados para a verificação do as- sucar, descreveremos apenas os mais empregados e de resultados precisos. Processo de Trommer—Deita-se em um tubo de experiências uma certa quantidade de urina, ajunta-se-lhe egual de uma solução aquosa de potassa, addicionão-se algumas gottas de uma solução de sulfato de cobre, forma-se logo um precipitado azul esverdinhado; agita-se o liquido, se a ourina contem assucar este precipitado se dissolve completamente e o liquido apresenta uma bonita cor azul claro e uma limpidez perfeita. Se a solução é levada á ebulli- ção, vae se formando no fundo do tubo um anel escuro avermelhado, preci- pitado de oxidio de cobre, que demonstra a presença do assucar. Processo de Moore—Ajunta-se á ourina uma quantidade egual de uma so- lução de potassa cáustica e leva-se a mistura á ebullição, se a urina contem assucar, a medida que vae fervendo, toma uma cor de carmello bem visível. Em lugar de potassa se pode empregar com os mesmos resultados a soda e a água de cal. — 12 - TRATAMENTO La precision du diaynostic et 1'oppor- tnnité du traitement sont les seuls ya- raüts du succés dans Ia pratique. (Courty maladies de 1'utcrus.) Tão diversas tem sido as opiniões dos práticos de todos os tempos sobre a natureza da diabetes assucarada quão variados os meios empregados para de- bela-la. Muitas medicações se tem empregado para esse fim, entre ellas aquellaque é mais geralmente seguida e aconselhada é a alcalina, preconisada por Mialhe que assim a recommenda nestas palavras:—retablir Vètat normal des humeurs vicies et lorde naturel des fonctions assimüatrices, activer les phénomènes de combuslion de Ia glucose, et en expulsant les acides qui predominent, en intro- duisant dans Véconomie Valcali qui fait défaut, tel est le but du traitment de Ia diabete. E' o bicarbonato de soda o preferível, elle é dado na dose de 6 grammas três vezes por dia e augmentando-se uma gramma no fim de cada três dias até que o doente ingira 12 ou 15 grammas por dia. O Dr. Jaccoud acconselha tãobem esta medicação quando se acha no co- meço a moléstia e assim se exprime:—« é incontestável a utilidade dos al- calinos na diabetes; debaixo de sua influencia, as digestões são melhores, as funeções intestinaes mais regulares, a sede menos viva, a polyuria dimi- nue, a perda em assucar é menor. » E' muito conveniente o uso das águas alcalinas interna e externamente e as mais usadas são as de Vichy e Carlsbad. O ópio e a valeriana tem sido empregados com o fim, segundo alguns, de diminuir a sede, a polyuria e o apetite exagerado. Para activar as funeções digestivas que no período adiantado da moléstia tendem a enfraquecer-se, se deve lançar mão da strychnina que, é considerada por muitos práticos remédio infallivel da diabetes. E' de necessidade restabelecer a actividade da secreção cutânea pelos meios diaphoreticos principalmente os hydrotherapicos; as dyspepsias tão freqnentes na diabetes são combatidas com apepsina, os amargos e mesmo com os alcalinos. Quando o doente principiar a sentir alquebramento de forças, deverá usar da quina, dos ferruginosos e do óleo de figado de bacalhao se o estado do estô- mago permittir. Na diabetes de causa nervosa se tem empregado, com muita — 13 — esperança âe cura,, o bromureto de potássio. Em uma memória do Sr. Begbie, publicada em 1866, encontra-se alguns casos de cura da diabetes pelo emprego deste medicamento. E' o regimen a base do tratamento da diabetes, de ha muitos annos elle tem merecido a attenção dos práticos, e com quanto antigamente não hou- vessem estudos sérios e observações exactas sobre a diabetes, todavia esse meio era reconhecido necessário. Rolls e depois delle muitos médicos aconse- lhavão a alimentação animal. Foi o celebre professor o Dr. Bouchardat quem, em uma de suas memórias, estabeleceo os preceitos hygienicos úteis e applica- veis no tratamento da diabetes. Como primeira indicação, deve o medico prohibir expressamente o uso dos feculentos e sacharinos e substitui-los pelo pão de glúten e alimentos azotados, até que a glycosuria desappareça; as bebidas de que os doentes devem usar são os vinhos velhos de Bordeaux e Bourgogne com água de vichy, o chá e café sem assucar. Quando a glycosuria tem cessado por algum tempo deve-se fazer o doente seguir um regimen mixto, tendo-se o cuidado de examinar todos os dias a ourina, e quando nellas encontrar-se assucar suspender-se o uso dos feculentos. É de indeclinável necessidade, e sempre é coroado de bellos resultados o exercício ao ar livre principalmente, ajardinagem, grandes marchas a pé, a esgrima, serrar, finalmente todos os exercícios activos. Estes exercícios devem ser feitos até produzirem cupioso suor depois do que, o doente tirará com cuidado as roupas, para evitar respiramentos, enxu- gará o corpo com toalhas grossas para excitarem a pelle pelo attrito, vestirá roupas novas e aquecidas e fará ainda um pequeno exercício moderado a pé de um quarto de hera a meia hora. Quando o assucar não for mais eliminado conceder-se-ha ao doente alimentos feculentos que, nestes casos são utili- sados. Este tratamento segundo a opinião de Jaccoud só aproveita quando a diabe- tes é entretida pelos feculentos, mas, quando o assucar é feito a custa das subs- tancias azotadas e dos próprios tecidos da economia, este meio não dá resul- tado algum. Tendo no tratamento da diabetes assucarada o medico, de manter a regu- laridade das funeções, activar as funeções digestivas e cutânea, evitar a fra- queza do organismo, e mais que tudo corrigir as aberrações do systema ner- voso da vida de nutrição, que é a causa determinante da moléstia, e sendo a hydrotherapia com seos diversos agentes a medicação especifica de todos os — 14 — vicios e desordens das funeções nutritivas, e demais tendo esta medicação obtido lisongeiros resultados no tratamento da diabetes, segundo as notas de Fleury, Schoedel e outros hydropathas; não podemos deixar de considerar a hydrotherapía a medicação por excellencia da diabetes assucarada, e dizer com o Sr. Durand Fardei:—l'hydrotherapie na pas encore pris Ia place qu'elle merite dans le traitement de Ia diabete. .CÇJlO MEDICA Cancro do estômago PROPOSIÇÕES. o I—0 estômago é um dos órgãos onde mui freqüentemente se manifesta o cancro. II—A diathcse cancerosa é a condição indispensável ao desenvolvimento do cancro. III—0 uso de bebidas irritantes, as emoções moraes depressivas, os ex- cessos alcoólicos, são causas que muitas vezes apressão o apparecimento do cancro. IV—Phenomenos de dispepsia, symptomas de cachexia e dor lancinante na região epigastrica denotão o principio da moléstia. V—A existência de um tumor epigastrico, duro, desigual, de volume variá- vel, é o signal pathognomonico do cancro do estômago, VI—O deperecimento profundo do doente e os vômitos pretos são os pheno- menos que denuncião a gravidade da moléstia e a impossibilide da cura. VII—No tratamento do cancro, a primeira indicação é sustentar as forças do doente com alimentação tônica reparadora: o leite é muito util nestes casos. VIII—As águas alcalinas são de uma utilidade incontestável, regularisa as funeções do estômago, destroe os ácidos que ahi se formão. IX.—O tratamento do cancro é palliativo; melhorar os symptomas e alli- — 16 — viar as dores moraes do infeliz doente, aconselhar-lhe distracções e a pratica dos preceitos hygienicos, taes são os meios geralmente acconselhados. X—A extirpação em nada aproveita, porque mais cedo ou mais tarde o cancro se roproduz. XI—A terminação do cancro é sempre fatal. XII—O cancro uma vez produzido, não retrocede, qual parasy ta vive á cus- ta dos tecidos que o cercão, os deprime e destroe tornando-se cada vez mais funesto á economia. 1ECÇ10 CERTO6ICA Asphyxia dos recém-nascidos, suas cansas, formas, diagnostico e tratamento PROPOSIÇÕES o I—A's perturbações da hematose, produsidas pela suspensão mais ou menos completa dos movimentos respiratórios immediatamente depois do trabalho do parto, dá-se o nome de asphhyxia dos recém-nascidos. II—A compressão do feto e do cordão, o descollamento prematuro da pla- centa, o obstáculo á entrada do ar nos bronchios, os estados mórbidos da creança e da mulher, os obstáculos á circulação são as circumstancias deter- minantes da asphyxia. III—A sua forma pode ser simples ou apoplectica segundo a natureza da causa. IV—Na forma apopletica a superfície do corpo parece edemaciada, é colo- radaem violetta escura principalmente na face; os músculos não tem movi- mentos, o corpo conserva seu calor, os membros sua flexibilidade, as pulsa- ções do cordão e do coração são obscuras. V—Pallidez extrema e frieza da pelle, membros pendentes, lábios flacidos, perda de movimentos, battimentos do coração e do cordão muito fracos de- nuncião a asphyxia simples. VI—Em qualquer das formas, para verificar-se a morte ou a vida da crian- ça, é necessário auscultar-se-lhe a região precordial. VII—A forma apopletica exige um tratamento enérgico e prompto sendo a b. 3 — 18 — primeira indicação desengorgitar o cérebro, quer pelo corte do cordão, quer pela applicação de sangue-sugas atraz das orelhas. VIII—Na forma simples, deve-se esperar a volta da circulação placento- fetal conservando-se por um quarto de hora a criança presa ao cordão. IX—Antes de qualquer operação é necessário ezaminar-se o interior da bocca da criança e retirarem-se as mucosidades ahi accumuladas. X—Em qualquer das formas é mister provocar os movimentos respiratórios. XI—As duchas de água com vinagre e caxaça sobre o peito e a respiração artificial, são dois meios infalliveis, quando ha possibilidade de restituição da vida. XII—A respiração artificial deve ser praticada com muito cuidado e deli- cadesa para não produzir o emphysema. XIII—O medico deve lançar mão de todos os meios aconselhados com prudência e descripção e só deverá abandonar a creança, quando o desappa- recimento completo das pulsações e dos movimentos do coração denunciarem a impossibilidade completa de vida. Estudo chimico da urina e sua applicaçâo ao diagnostico e á therapeutica PROPOSIÇÕES o I—Muitas são as alterações quer em quantidade querem qualidade que apre- senta a secreção renal em diversos estados mórbidos. II—Nas moléstias inflamatorias e nas febres a secreção urinaria diminue; a urina é mais ácida, corada e mais densa que normalmente. III—Em muitas moléstias do figado pode-se reconhecer o pigmento biliar nas ourinas. IV—Os reactivos para tal fim empregados são acido nitrico só ou misturado (partes iguaes) ao acido sulfurico. V—A ourina dos gottosos encerra um excesso de acido urico. VI—No catarrho vesical a urina deixa depor um sedimento mucoso. VII—Na chlorose e na anemia a urina é alcalina, rica em saes e pobre em princípios orgânicos. VIII—Na urina dos chloroíicos o prussiato amarello de potassa descobre a presença de certa quantidade de ferro. IX—Na nephrite parenchymatosa e em muitas moléstias cardíacas apresen- ta-se albumina nas urinas. X—No periodo adiantado da moléstia de Bright a urina tem a cor da água da lavagem da carne. — 20 — XI—O calor e o acido nitrico são os reactivos empregados para a desco- brimento da albumína. XII—Na diabetes assucarada eucontra-sc assucar de uva ou glucose nas urinas. XIII—Para o descobrimento do assucar nas urinas empregão-se vários pro- cessos mas os preferíveis são os de Trommer e Moore. XIV—No tratamento dos cálculos urinarios a chimica presta valiosos ser- viços determinando a composição delles. XV—A uroscopia é pois a base do diagnostico e therapeutica de muitas moléstias. flYPOCRATIS APHORISMI Animadvertere proeterea opportet hominis mentem et mores et corporis vi- res. Alii enim facilius aut difficilius alia imperata faciunt. (Liv. 2. Aph. 19.) II Ad extremos morbos, extrema remedia exquisite optima. (Sect. 1. Aph. 6.) III Ubi somnus delirium sedat, bonum. (Sect. 2. Aph. 2.) IV Ubi fames non opportet laborare. (Sect. 3. Aph. 16.) V Vulneri convulsio superveniens Iethale. (Sec. 5. Aph. 2.) VI Quibus autem ourinoe divulsce fiunt, iis vehemens est in corpore turbatio. (Sec. 7. Aph. 33".) Bahia—Typograpbia de J. G. Tourinho—1871. êft>emetá'(/a a 'féommtàâão ê&wiec/t° cena s3 c/e ^/étem/ko c/e làj-/. Sàtá' con/otme o