<&'*■ a^r «*■ £ ^ S ^t ^?T ^..J'1 ^hj^ BAHIA TYPOGRAPHIA DE J. G. TOÜRINHO J86Í, .y FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. DIRECTOR O JE>.mo Snr, Con8etheii"o JPr. •Woão Resplista tios Anjos. 0 Ex.rao Snr. Conselheiro Dr. Vicente Ferreira de Magalhães. os sus. doutobhs I •* ANNO. matrsias quii LncciONAM . „ ..„,,„„„„„n,s„c í Physica em geral, eparlicularirienlc em suas Cons. Vicente Ferreira de Magalhães . \ ;ipoli Secçao Accessoria. José lgnacio de Barros Pimentel. . .\ Virgílio Clymaco Damazio.....J José AfTonso Paraizo de Moura, . . .\ Augusto Gonçalves Martins...../ Domingos Carlos da Silva......> Secçao Cirúrgica. DemetrioCyriacoTourinho.....\ Luiz Alvares dos Santos ..... .r Secçao Medica. O íér. Dr. Cincinnnto Pinto da Silva. O Sr* Dr. Thomaz «l'Aqnino Gaspar. A Faculdade naoapprova, nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhe são apresentadas. MED SEMPRE CHORADO PÂIE AMIGO A' MEMÓRIA DE MEU SEMPRE CHORADO IRMÃO E ROM AMIGO DR. ERNESTO MOREIRA DE ALMEIDA Á MEMÓRIA »E MEIJ PRIMO JE AMIGO PEDRO MOREIRA D'ALMEIDA Saneltetle e tagritnas í ! Á MINHA RESPEITÁVEL E PREZADA MÃI. A' mm boa tia, madrinha e amiga D. Rítta Sabina Neves Sempre teus olhos me sorriram júbilos f Sempre teus braços me acolheram francos ! Se alguma c'roa me destina a gloria, Cinge com ella teus cabellos brancos. A MEU ESPECIAL E MELHOR AMIGO 0 EXCELLENTISSMO SEMIOR &axão í>e Snbaljè Àmisade e eterno reconhecimento. A MEUS IRMÃOS E RONS AMIGOS A' MINHAS QUERIDAS IRMÃS AS SR.* OS SENHORES 2). 9e6aAlia.ua Jtboieita De JbfmeiDa ífiiua ('aintão lUutotiío t/lbaiioet Jllboteita 3 JblmeiDa ÍV. Cecília, cb* yautoò «illboteita fíítffo Deumle ToiJ JbutouLo ttbotcita 3'Jmmei.3a ~D. Clementina Jbutefia Jlboteua íJbftiieirv-i Jbffetí* SucíiDcò Ciceio Ahotála, dVbfmeiDa 2). 8mia?ia Jlboleita D'JbfutcíDa 2Wea Sincera amisade. Á MEUS CUNHADOS E AMIGOS OS ILLUSTRISSIMOS SENHORES Capitão VraiiliBim ferreira ILima Antônio Joaquim Esteves €»t'illo Yhemistocles de Menezes I$orea Amizade. Á MINHAS CUNHADAS AS EXCELLENTISSIMAS SENHORAS D. Carolioa da f amara Paim e Almeida D. Maria Esleves d'Almeida D. Amélia Pereira d'Araujo e Almeida Amizade, consideração e respeito. â mais QDMimiDDs Extremosa amizade. ■in» A (Gffi©lIEEJ\(gl(D BIHSiDIOTM li particularmente a meu amigo o IIIsh. e Rvm.° Sr. PADRE MESTRE FR. LOURENCO DE SANTA CECÍLIA o Muita amizade e gratidão. A MEU AMIGO NIARMACEUTICO EUCLIDES EMÍLIO PIRES CALDAS Sincera amizade. k 1(EV MESTRE E 11090 0 lLL.o E EX.™> SEXHOR Dr. José ãe Góes Siqueira Amizade e consideração. Â' Illustrada Congregação da Faculdade de Medicina Homenagem a sciencia e ao mérito. -----^---- AOS MUITO DIGNOS OPOSITORES DA FACULDADE DE MEDICINA OS 1LLUSTR1SSDIOS SENHORES IDr. Virgílio Climtsco ISamasio IMr. lgnacio *fosc da Cunha Amisade e consideração. A MEUS ESPECIAES AMIGOS DA FACÜDLADE DE MEDICINA Muita amisade e saudosa lembrança A TODOS OS MEUS COLLEGAS QUE ME DEDICAM ESTIMA Um adeus. ■ 7i>B»nr» Á TODOS OS MEUS PARENTES QUE ME CONSAGRAM AMISADE Offereço esta these. Á TODAS AS PESSOAS QUE ME ESTIMAM E HONRAM COM SUA AMISADE Retribuição de amisade. SECCÀO MEDICA. DISSBRTAÇiO. TRATAMENTO DA ANGINA DIPHTHERICA. SYNONIMIA. Angina diphllierira, ulccra egypciaca, ulcus syriaco, angina maligna, angina gangre- nosa ou mal de garganta gangrenoso, angina plástica, angina codeosa ou pseudo-membranosa, angina diphlheritica etc. Definição. NGINA diphtherica c uma in-ílammo Ho especial da mem- brana mucosa, que tapiza o isthmo da garganta (véo do paladar e seus pilares) as amvgdalas e o pharynge; inflam- mação caracterisada por uma exsudação fibrinosa, que se . estende em camada adherente pela superfície desta membrana mucosa, se reproduz após a ablação, durante um tempo limitado, e possue uma grande tendência a invadir pouco e pouco as partes atravessadas pelo ar, as fossas nasaes, e principalmente o larynge e os bronchios. Etliâologia. A angina diphtherica-accommette a qualquer idade da vida, atacando de preferencia aos meninos de tros, cinco e seis annos, não ficando incó- lumes os recém-nascidos, como diz Bretonneau, em seu tratado de diph- therite. Nenhuma influencia tem o sexo sobre o desenvolvimento da diphtheria, que parece atacar a ambos indifferentemente. Em quasi igual condição se acham as constituições que são igualmente assaltadas; devendo-se, porém, notar que os meninos, submettidos ás peiores condições hygienicas e de- — 4 — bilitados por moléstias graves anteriores, são, de preferencia, atacados do mal, quando reina esporadicamente; sendo provável que estas mesmas condições favoreçam seu desenvolvimento nas epidemias. Os climas, por mais variados que sejam, não offerecem a menor bar- reira ao desenvolvimento da angina diphtherica, que igualmente se ma- nifesta em todas as estações; reinando, porém, em maior escala nas esta- ções frias e humidas.—As localidades não parecem offerecer influen- cia alguma sobre a manifestação do mal. Trousseau, que muito estudou e observou a diphtheria, convenceu-se de que ella se desenvolvia em todas as localidades, e nas condições as mais oppostas; pelo que teve de renunciar a opinião que até então nutria, th qne o frio hmnido, que a disposição de certas localidades entretem na atmosphera, muito concorria para o desenvolvimento da angina diphthe- rica.'A angina pseudo-membranosa tem coincidido com a existência de fe- bres exanthematicas, como o sarampo, a escarlatina. etc. A angina diphtheri- ca escarlatinosa tem reinado, por muitas vezes, epidemicamente; na plura- lidade dos casos, os individuos accommettidos estão isentos de outro qual- quer mal. Como as causas predisponentes, em grande obscuridade se envolvem as occasionaes: nestas ultimas está comprehendido o frio, principalmente o frio humido. Entretanto, bem poucas são as provas que tem-se colhido a tal respeito; as observações são muito imperfeitas, e estas mesmas estão em completa opposição. Os agentes irritantes não determinam semelhante affecção; a inflamma- ção, produzida por elles, offerece uma differença tão notável que é im- possível confundil-a com a inílammaçào diphtherica. O resfriamento é uma causa verificada por muitos. O contagio, que tem suscitado tão serias discussões, é hodiernamente, em presença de factos levados á evidencia, incontestável. Os factos observados por Bretonneau, Brunet, Collineau, Trousseau e outros, corroboram a opinião dos contagionistas, que admittem, com muita razão, a influencia dessa causa especifica, que antes não fosse uma realida- de; porque, talvez, não tivéssemos de lamentar a perda precoce de Yalleix, Henri Blache e Gillette, que victimas de sua dedicação, pagaram seu tributo á contagião de tão perigosa moléstia. — 5 — SyiiifrtoiBiatolocjiat A doença, em seu principio, se desenha por uma febre mais ou menos viva, que costuma declinar no segundo dia, tornando-se quasi nulla desse dia em diante. Uma tal ou qual indisposição, que se traduz por abatimento tristeza, fraqueza, cephalalgia, obstáculo, as mais das vezes, passageiro, no acto da deglutição, dor pouco intensa, dá á moléstia um cunho pouco assustador. É, em virtude destes phenomenos geraes, pouco intensos, que a moléstia tem um principio quasi sempre insidioso. Continuando na sua marcha, se observa do lado do pharyngc uma ver- melhidão mais ou menos viva, tumefacção das amygdalas, que se circums- creve na pluralidade dos casos em uma d'ellas; nesta circumstnncia, appa- rece sobre o órgão affectado, uma nodoa branca perfeitamente circumscri- pta, constituída, em principio, por uma camada de ridícula consistência, assemelhando-se a muco inteiramente coagulado: é por baixo desta camada membraniforme que novo muco pode se reunir cm certos pontos e simular as pústulas que Franck suppoz ver na angina diphtherica. A secreção plás- tica vae pouco e pouco se concretando, e toma muitas vezes unia espessura notável. As concreçòes, uma vez formadas, offerecem, nos primeiros mo- mentos de sua formação, pouca resistência e separam-se facilmente; a adherencia, que ellas adquirem com os folliculos muciparos,'se faz por meio de filamentos delicadíssimos que facilmente se despedaçam. É, depois d'ellas separadas, que se vê que o epithelio, vindo com ellas, sua sede primitiva era entre clle c o tecido mucoso, que fica perfeitamente são, a excepção do epithelio que soffre qualquer modificação com a separa- ção da falsa membrana. A mucosa, algumas vezes, parece escavada; prestan- do-se, porém, attenção, vê-se que semelhante lacuna é o resultado da tume- facção que se faz em derredor da secreção plástica, simulando uma sorte de debrum. A membrana mucosa está sempre intacta e só apresenta, de mais saliente, uma vascularisação mais pronunciada. Ecchimoses são, algumas vezes, observadas após a separação das con- creçòes membraniformes; algumas são consideráveis e dão uma lividez ao tumor que se assemelha a uma excrecencia cancerosa. (Bretonneau). Estas ecchimoses são, segundo Roche, o começo de novas falsas mem- branas. A secreção plástica, depois de horas, muda de aspecto; seu centro tor- na-se convexo, seus bordos adelgaçados; e, nesta marcha, tomando maior A. — G — desenvolvimento, adhere-se mais intimamente aos pontos primitivamente invadidos. É nesta quadra de sua evolução que ella toma a cor d'um branco amarellado, que, passando por diversos matizes, varia do branco amarel- lado, ao escuro e até ao negro. É ordinariamente nesta phase da diphtheria que o véo do paladar e a uvula se inflammam; esta, depois de algumas horas, cobre-se, do lado cor- respondente áamygdala, játapizada pelas concreções plásticas, de uma con- creção da mesma cor, que acaba muitas vezes por envolvel-a completa- mente, imprimindo-lhe a forma d'um dedo de luva. E, ainda nesta quadra da evolução diphtherica, que se vê, na amygda- la, então sã, uma nodoa da mesma naturesa, que, marchando com rapi- dez, acaba por envolvel-a. As concreções plásticas, por sua vez, invadindo o pharynge, tapizam-n'o em seus dous lados: o desenvolvimento destas se faz, ora por strias longitudinaes, longas, estreitas, e d'um vermelho carre- gado, ora por placas membraniformes, que por sua vez se reúnem. Attin- gindo a moléstia este gráo, as concreções diphthericas tomam, quasi sem- pre, um aspecto sórdido, como o d'umaulcera de má natureza, e são mais difficeis de despegar-se; todavia, com uma pinça, ellas se separam, e tra- zem, muitas Aezes, o molde do logar em que se achavam. É assim que Trousseau arrancou falsas membrannas que envolviam a uvula, com a forma dum dedal de cozer. As concreções nesta época se espessam de dia em dia pela addição de novas camadas, e tomam, como já dissemos, o aspecto sórdido; as mais superficiaes, amollecendo, cabem facilmente, e fingem verdadeiras escaras, o que tem levado muitos a crerem na exis- tência d uma gangrena da uvula, das amygdalas e do pharynge, corrobo- rando-lhes a crença a respiração horrivelmente fétida; sem considerarem que as bebidas, os alimentos, as substancias medicamentosas, as matérias vomitadas e o sangue, vindo do pharynge ou das fossas nasaes-, devem al- terar as exsudações plásticas, tornando-as negras e dando-lhes a forma dum detrito gangrenoso, as quaes, na realidade, em estado de putrefac- ção, exhalam um cheiro nauseabundo: de mais, para provar a ausência de semelhante gangrena, basta dizer que uma vez que as superfícies enfermas tornam-se limpas, as mucosas, recobertas pouco tempo antes pelas concre- ções, se apresentam vermelhas, e sem traço algum de gangrena. Trousseau, que observou innumeros casos de affecção diphtherica, somente encontrou três exemplos de verdadeira gangrena. Valleix cita um facto observado por Delbet, em que um menino lançara a epiglotte perfeitamente esphacelada; taes factos, além de serem raros, se caracte- risam por tal forma que não podem se contundir com as affecções pel- liculares que simulam uma gangrena. Quando a doença attinge este gráo, a salivação é horrivelmente fétida salivação, cuja matéria é constituída por um liquido nauseabundo, se manifestando com mais ou menos abundância. Muitos doentes teem uma expuição sanguinolenta, determinada pela infiltração sangüínea, que se faz do lado do pharynge. Na pluralidade dos casos, a voz altera-se profundamente, torna-se rouca e nasal, sem comtudo assemelhar-se á que soe sempre manifestar-se, quando as exsudações plásticas propagam-se ao larynge. (Crup). A tosse é um phenomeno quasi constante, e bem differentc da que se observa no crup.—segundo Valleix, ella consiste antes em um movimento brusco de excreção do que em um abalo convulsivo dos órgãos respirató- rios.—A respiração, algumas vezes, não se executa com toda liberdade; ainda assim, a pertubação é em um gráo medíocre, e bem longe de ser comparada a suffocação do crup. A angina diphtherica tem grande tendên- cia a inva^;r o larynge (crup), cujos symptomas omittimos por estarem fora da esphera de nosso ponto. É muito commum a angina diphtherica pro- pagar-se á bocca, e determinar a stomatite codeosa; não é rara sua invasão á pelle, atacando de preferencia as azas do nariz, a parte posterior das orelhas, o prepucio, a circumferencia do ânus, davulva e dos mamillos, tornando-se, porém, preciso que uma excoriação se faça na pelle, para que . a concrecção plástica se desenvolva; esta excoriação, para muitos, é já o começo do trabalho mórbido especial.—As pseudo-membranas, na sua marcha devastadora, invadem, umas vezes, as fossas nasaes, donde resulta o corrimento dum ichor sanioso, e também epistaxis, que, em alguns casos, é tão abundante que se torna sempre um signal de máo agouro; outras vezes propagam-se pelo conducto nasal até os canaes lacri- maes que ficam obstruídos pelas concreções diphthericas e tumefacção da mucosa que os tapiza. As exsudações plásticas podem invadir os próprios olhos e determinar uma ophtalmia diphtherica. Quando as concreções se estendem, por tal forma, outros symptomas, denunciadores d'uma verda- deira intoxicação, se manifestam para caracterisar a diphtheria maligna; bem que possam taes symptomas não existir, não obstante as exsudações plásticas se estenderem por tal forma.—Os ganglions dos ângulos da ma- xilla, os submaxillares e os cervicaes se tumefazem. Perturbações do lado das vias digestivas costumam manifestar-se, como — 8 — sede, inappetencia e vômitos. Pode sobrevir uma diarrhéa intensa, que é ou o sigual de exsudações, que se teem formado na parte inferior do in- testino, ou então, o resultado d'uma perversão da nutrição que sempre se dá na diphtheria maligna. As concreções, estendendo-se ao esophago e até ao cardia, determinam vômitos mais ou menos rebeldes; bem que estes possam apparecer somente pelo facto da existência de pseudo-membranas no pharynge e pela tumefacção das amygdadas. A albiumnuria é um accidente muito freqüente na angina diphtherica, e tem sido verificada por todos os médicos, que teem-se occupado d'esta doença. Por muitas formas tem-se querido explicar a presença da albumina nas urinas. Para uns, a presença deste principio nas urinas se liga a uma congestão passiva e passageira nos rins, produzida pelo crup asphyxico, e pela staze sanguinea que resulta da mesma congestão. É fora de duvida que a asphyxia e a congestão nos rins produzem a albuminuria. Para provar, basta dizer que a estrangulação em cães e as congestões, artificialmente feitas nos rins pela ligadura das veias renaes, determinam o o apparecimento da albumina. Entretanto, taes experiências não são sufficientes para explicar o facto clinico. A albumina ainda persiste, diz o doctor Sée, nos individuos em que tem se praticado a tracheotomia, que traz consecutivamente o resta- belecimento da respiração. São constantes os factos de crup sem albumi- na nas urinas, o que vem ainda demonstrar que não teem rasão aquelles que ligam a albuminuria á congestão passiva dos rins determinada pela as- phyxia. Para outros, que são em maior numero, a albuminuria se liga ao estado geral que acompanha a diphtheria, sem que se possa, por esta for- ma, dar a razão do facto clinico. É, ainda pela mesma razão, que não satisfaz ao espirito, que se explica a presença da albumina na varíola, escarlatina e dothienenteria, moléstias septicas, em que, como na angina diphtherica, a economia fica geralmente compromettida, A albumina, em alguns casos, se manifesta desde a phase ini- cial da moléstia, e sua quantidade pode variar no mesmo individuo d'um dia para outro, e tendo logar muitas vezes d'um modo intermittente. A albuminuria se encontra habitualmente nos casos graves de diphtheria, não faltando innumeras excepções a esta regra. É assim que tem se ob- servado casos benignos com albumina, e outros eminentemente graves sem ella. Estas diversidades pathologicas nos fazem crer, que alem do estado geral, devemos fazer appello ás-disposições individuaes. — 9 — Inculiaçâo. A incubação da diphtheria, isto é, o período que decorre desde o mo- mento em que se põe em acção a causa morbigena, até suas primeiras manifestações, é de dous a nove dias, variando, por tanto, dentro dos mesmos limites da incubação das febres eruptivas, e da maior parte das moléstias virulentas. Rfarcha. A marcha, em seo principio, quer na diphtheria de forma maligna, quer na benigna, é sobre modo insidiosa.—As crianças, na maioria dos casos, já affectadas do mal, não apresentam symptoma algum capaz de desper- tar a attenção dos que as circulam; um abatimento geral é o único si- gnal que muitas vezes se observa. É, em virtude d'esta forma traiçoeira, que o medico, quando chamado, encontra sempre o paciente em criticas circumstancias. A marcha, apezar de seo principio insidioso, torna-se continua, progri- de sem cessar, assim como as concreções plásticas, que em seu desenvol- vimento progressivo estendem-se e ganham terreno. Em grande numero de indivíduos, a doença attinge o maximum de intensidade em cinco ou seis dias; ao contrario, em outros, são precisos dez ou doze dias, para que ella attinja o seo mais alto ponto. fluraçao* A duração é summamente variável; com tudo, apezar desta variedade, nos casos ordinários, e quando a cura se faz, se a tem fixado entre doze e quinze dias. Nos casos contrários, quando as falsas membranas não se limitam ao pharynge e se estendem com rapidez ás vias respiratórias, a morte pode sobrevir em 24 horas. Algumas vezes, as concreções plásticas marcham com lentidão e não ganham o larynge senão depois de cinco ou seis dias- A duração pode ser, em alguns casos, muito considerável e prolongar- se além de trinta dias; este facto, porém, se dá, quando a inflammação es- — IO — pecifica se estende á superfície cutânea, deixando illesas as vias respira- tórias. Terminação. Quando as pseudo-membranas se limitam ao pharynge; quando os sym- ptomas geraes denunciam que a doença é benigna, sua terminação é sem- pre feliz, se principalmente os meios therapeuticos são postos em acção; se, porém, a inflammação especifica ganha o larynge, então, sua termina- ção é muitas vezes funesta, apezar dos meios enérgicos que soem ser em- pregados. Ha casos que, apezar das concreções se limitarem ao pharynge, osten- tam uma rebeldia ás medicações, por mais enérgicas que sejam. São es- tes que infelizmente não fazem mais do que ostentar a impotência da arte e o desespero do medico, que, muita vez, tem diante de si seres que lhe são caros, e que não podem mais ser absolvidos da fatal sentença, que lhes está lavrada, uma vez que sua economia está envenenada, e não ha mo- lécula de seo organismo que não esteja saturada deste principio septico, que nunca perdoa áquelle de quem por tal forma se apodera. É a diphtheria maligna, que zomba assim do paciente, que traz-lhe sempre a morte precedida por um abatimento geral e completo das forças. Complicações. A enterite, a pneumonia, o emphisema pulmonar interlobular e as pa- ralysias são conseqüências da angina diphtherica; as paralysias, porém bem raras vezes, se manifestam no decurso da moléstia; geralmente se de- senvolvem no período de perfeita convalescença ou de cura apparente, quando os phenomenos locaes característicos da doença teem desappare- cido. N'estas condições, ellas merecem ser consideradas como accidentes consecutivos, e, como taes, vamos fazer um ligeiro esboço. As paralysias diphthericas, assim denominadas por Trousseau, que, com seo proverbial talento e saber profundo, as descreveo em suas lecções de clinica medica, começam geralmente pelo véo do paladar e pharynge. A deglutição se embaraça; ha refluxo de liquido para as fossas nasaes; os alimentos, algumas vezes, insinuando-se pelo larynge, provocam suffoca- — II — ção e accessos de tosse; e a morte é muitas vezes o desfeixo final de tão desastroso aceidente. A impossibilidade de apagar uma vela accesa, de exercer a sucção, de gargarejar tem sido verificada por alguns médicos. Os accidentes que dimanam da innervação não param ahi: os músculos posteriores do pes- coço, perdendo sua acção, põem em actividade os seos antagonistas que determinam a flexão da cabeça para diante.—Os braços e as pernas se enfraquecem; a marcha torna-se titubeante ou impossível. Amaurose, dilatação das pupillas, paralysias do recto e da bexiga são phenomenos que hão sido observados por muitos. Algumas vezes, as paralysias são incompletas e se traduzem mais por uma diminuição do que por uma perda absoluta da potência muscular. Pery, que observou o2 casos de paralyzia dyphtheríca, offerece um quadro, que deixa ver como são destribuidas as paralysias. Paralysias dos membros inferiores—ÍG vezes » » superiores— 9 » » do véo do paladar—10 » Paralysia incompleta dos músculos da parte posterior do pescoço e do dorso.........5 » Strabismo............................... 2 » Paralysia da lingoa...................... 1 » » da bexiga....................... 1 » » do recto........................ 1 » A sensibilidade táctil é diminuída ou completamente abolida, (anes- thesia) outras vezes, ha analgesia. Os músculos da vida orgânica podem igualmente ser affectados; não são raros os casos de paralysia do diaphragma, do intestino, da bexiga, do recto e dos esphincteres, dando em resultado, segundo o órgão affec- tado, conslipação rebelde ou dysuria. A incontinencia das matérias fe- caes e da ourina tem sido algumas vezes observada na paralysia dos sphinctercs. Trousseau observou a paralysia das faculdades viris levada a ponto de produzir a anaphrodisia a mais completa. Finalmente os sen- tidos especiaes podem ser igualmente affectados. Qual é a causa real das paralysias diphthericas? Não o sabemos, e nos contentamos em referir as palavras de Trousseau: « A causa real das pa- ralvsias diphthericas está no envenenamento, na intoxicação da economia pelo principio mórbido que dá logar á moléstia da qual estes accidentes dependem; ellas são devidas á perturbação experimentada pelo systhema — 12 — nervoso, á modalidade que elle tem soffrido, modalidade que não conhe- cemos até o presente, e que talvez não conheçamos nunca». Ijcsoes anatômicas* O tecido mucoso, desnudado de seu epithelio, offerece uma infiltração sanguinea que o penetra mais ou menos profundamente. As exsudações pelliculares ora são adherentes, ora separam-se facilmente, e são cons- tituídas, ordinariamente, por muitas folhas, que apresentam em sua face adherente pequenos pontos vermelhos, que resultam das manchas de san- gue situadas nos pontos em que se fizeram pequenas ecchymoses. As concreções membraniformes são muitas vezes encontradas no esophago no cardia, nos intestinos, e até mesmo no estômago; as vias aerias são o theatro constante de suas manifestações: não é raro vel-as estendidas so- bre diversas regiões da superfície cutânea. Millard e Peter foram os primeiros que chamaram a attenção sobre as alterações do sangue; este apresenta commummente uma coloração, asse- melhando-se ao sueco de ameixas passadas, ou de alcaçús.—Os coágulos que ha formados são molles e assemelham-se ao arrobe de uvas muito cosido. As artérias trazem tanto sangue quanto as veias, o contrario do que ge- ralmente se vê nos outros cadáveres. Por um exame microscópico se vê, na falsa membrana, grande quantidade de substancia amorpha, granulações moleculares, glóbulos granulosos de inflamação que são as cellulas de pus mal formadas, alguns glóbulos sanguineos e fibrillas parallelas, e mais ou menos tortuosas de fibrina coagulada (Bouchut). Pelos caracteres chimicos se nota que a falsa membrana é composta de fibrina coagulada, além de sulfato de cal e corbonato de soda, obtidos de- pois da incineração.—Ella é insoluvel n'agoa em todas as temperaturas, nos ácidos sulfurico, azotico e chlorhydrico, os quaes a endurecem, enru- gam e despegam-na. É solúvel no ácido acetico, nas soluções alcalinas e no ammoniaco—(Valleix). A glycerina converte-a numa substancia que offerece a apparencia de muco diffluente e diaphano (Bouchut). — 13 — Diagnostico. A questão de diagnostico é a que sobresalta ao espirito de qualquel1 medico consciencioso, quando em presença de qualquer enfermo; sem elle, desapparece sua mais sublime missão, e verdadeiro nauta sem bús- sola, entrega-se ao empirismo cego, e applica tudo quanto lhe vem á mente ao encalço do momento em que por um feliz accaso possa domi- nar o mal, ou então dar-lhe maior vigor, empecendo a natureza em sua marcha salutar, que, com seus únicos esforços, muitas vezes, rehabilita sua autonomia e sopita as potências morbigenas. Felizmente não é muito difficil, geralmente fallando, o diagnostico da an- gina diphtherica, principalmente se já há formação de falsa membrana. A angina pultacea não pode confundir-se com a angina diphtherica; na primeira, as amygdalas teem um volume muito mais considerável e são tapizadas por uma exsudação branca caseiforme, que muito differe da falsa membrana que é escura e tenaz, a ponto de não receber a im- pressão dos corpos duros, que actuam sobre ella; entretanto que, cara- cteres oppostos se encontram na exsudação caseiforme da angina pultacea, em que uma vermelhidão muito viva precede sempre a formação da ex- sudação, ao envez do que se dá na angina diphtherica, onde a vermelhi- dão é simplesmente inflammatoria. Os symptomas geraes da angina pultacea são sempre mais ou menos violentos: agitação, perturbações digestivas, acceleração da circulação são o apanágio da angina pultacea, que é precedida sempre dos symptomas geraes da escarlatina, por cuja colligação ella é também chamada pharin- gite escarlatinosa. Na angina diphtherica a pseudo-membrana apparece nas amygdalas, para depois se estender .além. Na pharingite escarlatinosa as exsudações invadem simultaneamente as amygdalas, a cavidade da bocca posterior e das narinas, com grande ten- dência a ganhar as vias digestivas, o que não se observa no ulcus egypcia- co, onde as falsas membranas soem sempre invadir as vias respiratórias. É sempre fácil distinguir-se a pharingite ulcerosa da angina diphterica; na primeira, as partes affectadas apresentam um ponto deprimido, com bordos mais ou menos elevados e um detrilo amarellado irregular e sem saliência em sua circumferencia:—na segunda os caracteres são inteira- mente oppostos; as falsas membranas são ordinariamente espessas e, logo que cahem ou são separadas, não deixam a menor perda de substancia. a. 4 — 14 — São mui sallientes os signacs distinctivos da angina diphtherica e da pharingite gangrenosa: placas negras deprimidas, de aspecto gangrenoso desde o principio, deixando, após a sua eliminação, uma perda de subs- tancia mais ou menos considerável, são caracteres infalliveis da pharingi- te gangrenosa. No ulcus cgypciaco, as falsas membranas espessas e escuras só tomam o aspecto gangrenoso depois d'uma epocha mais ou menos adiantada da moléstia, deixando, porém, sempre após a sua -queda a mucosa intacta, ou apenas escoriada. De todas as espécies de affecções codcosas da garganta que teem sido confundidas com a angina diphtherica, a que tem dado logar, e que dá as mais das vezes a erro de diagnostico é a angina codeosa com- mum. Entretanto, o diagnostico, entre estas duas espécies de angina, não offerece difficuldade alguma, quando, na angina codeosa commum, a erup- ção herpetica se faz discreta do lado do pharinge e sobre outros ponto» da membrana mucosa boccal; então, os caracteres que s~opropios ao her- pes se manifestam por tal forma que é impossivel o menor engano. A erup- ção herpetica pode ser confluente c produzir sobre as amygdalas e véo do pa1, dar uma exudação pseudo-membranosa larga e espessa, e nem por isso tornar-se difficil o diagnostico, si se der a coexistência d'um herpes do lábio ou da face, que vem então esclarecer ao medico sobre a natureza da angina. Ha casos, porém, em que a duvida é o único batei em que navega o medico. Infelizmente, na pratica são mui freqüentes os casos de affecções codeosas da garganta sem o menor traço dos caracteres peculiares ao her- pes; a lesão anatômica ulcero-membranosa, que muito nos auxilia, não se manifesta claramente; de mais, ainda que os caracteres possam forne- cer alguma luz, acontece que tracta-se muitas vezes d'uma criança que difficilmente se presta ao exame; todavia, a falta de diagnostico não deve desacoroçoar ao medico, que nunca deve cruzar os braços ante o quadro do soffrimento. Em taes casos convém que sua intervenção seja enérgica como se tivesse diante de si um doente de angina de má natureza. Esta é a forma de pensar de Trousseau, que na sua clinica medica diz: Agissez avecd'autant moins de crainte que, suivanl Ia juste remarque de Breton- neau, les applications topiques propres à arreter les progres de Ia phlcgma- sie diphtherique loin (Vaggraver Vcruption coucnneuse propre à Vangine commune en abregent aussi Ia duréc. — 15 — Prognostico. Quando a angina diphtherica affecta a forma benigna, e as manifesta- ções locaes se limitam ao pharynge, a cura quasi sempre se realisa; se, po- rem, as falsas membranas se estendem ás vias respiratórias, sua propa- gação determina accidentes mortaes, e imprime á affecção o caracter de gravidade que é devido antes á asphyxia produzida pela sua invasão ao la- rynge, do que á própria moléstia. A diphtheria maligna é summamente gra- ve; nesta forma, a morte sobrevem, sem que seja mister a pseudo-mem- brana propagar-se ao larynge; o principio septico de que se acha impre- gnado o organismo, o envenenamento geral da economia, basta para ex- plicar sua gravidade. Natureza. Já muito antes de Bretonneau escrever seu tractado de diphtherite, se discutia sobre a natureza da diphtheria; e esta discussão já começava a derramar alguma luz para o esclarecimento da verdade, quando surgio a eschola physiologica, em que a theoria da inflammação dominava toda pathologia, e não se via nas moléstias, quaesquer que fossem, se não o ele- mento inflammatorio. Bretonneau achou, portanto, toda medicina dominada pelo physiologis- mo broussasiainno que, não exeptuando a angina diphtherica, collocou-a na classe das inflammações. Era necessário que nova luz se derramasse sobre a historia das molés- tias e desse um novo impulso ao espirito de observação. Pinei havia dito que a inflammação, segundo os tecidos orgânicos invadidos, apresentava caracteres muito assignalados—Bretonneau fez mais do que o illustre au- thor da nosographia philosophica, demonstrou que a duração, a gravida- de e o perigo da maior parte das pyrexias tinham mais que ver com a es- pecificidade da inflammação, do que com a natureza do tecido. O auctor do tractado de diphtherite, guiado por seus princípios, considerou a an- gina diphtherica como uma infiammação, por concorrerem os caracteres das phlegmasias; porém, uma inflammação especifica por ser contagiosa, como as doenças chamadas especificas, e por se desenvolver epidemica- mente. — 16 — Não negando a cathegoria que deve representar o elemento inflamma- torio na angina diphtherica, lhe concedemos todavia um papel muito se- cundário, que por si não indica os meios antiphlogisticos, como absolu- tamente necessários para combater a moléstia, que consideramos espe- cifica, e que, por isso mesmo, está no mesmo caso que a varíola, o sa- rampão e a syphiles, onde o elemento phlegmasico se subordina ánaturesa da causa que lhe imprime seo caracter especial. Uma differença, porém, essencial devemos estabelecer entre as moléstias que acabamos de refe- rir e a angina diphtherica, que vem a ser: a maior attenção que prestamos á manifestação local desta em relação a daquellas.—Na verdade, o medico deve muito se oecupar, na angina diphtherica, das determinações mórbi- das locaes, embora a moléstia seja primitivamente geral.—Reproduzimos textualmente as palavras do Trousseau, que pensa por igual forma.—aOn peut comparar, en effet ce qui se passe ici avec ce qui se passe dans Ia .pustule maligne, ou, en attaquant directement Vaffection locale, nous en- rayons Ia marche de Ia maladie generale dont cctte affection ctait unepre- mièrc manifestation. De rneme, dans Ia diphtherie en intervenant energique- ■ment pour combattre Ia première manifeslalion itous pouvons quelquefois en arrêter les progrès, en empecher les manifestations ulterieures.— Escudado com a authoridade de grandes vultos na sciencia, vamos por em relevo algumas razões valiosas, que vêem comprovar a opinião que fazemos sobre a natureza da angina diphtherica. A incubação do principio morbifico, que varia nos limites de 2 a 9 dias, pouco mais ou menos, como nas febres exanthematicas e nas moléstias infectuosas, offerece, incontes- tavelmente, um ponto de contacto ou de semelhança com. as moléstias ge- raes, e vem provar, uma vez que também está provada a existência da incubação, que a moléstia é primitivamente geral. O modo porque principia a moléstia e sua marcha vêem corroborar ainda nossa opinião. Toda vez que por um exame escrupuloso se surprehende o modo pelo qual a angina diphtherica desenvolveo sua phase inicial, chega-se quasi sempre ao conhecimento de que as primeiras manifestações locaes foram precedidas dum certo numero de symptomas geraes, como febre mais ou menos forte, precedida ou não de calefrios, quebrantamento de corpo, tristeza, fraqueza, pouco appetite ou fastio, e muitas vezes cephalalgia, ra- ras vezes perda dos sentidos, tontura, epistaxis. Taes symptomas, que precedem as manifestações locaes, são as vezes tão pouco intensos que passam completamente desapercebidos pelas pessoas da familia, cuja at-= — 17 — tenção só é despertada pelos symptomas locaes, como dor de garganta e difficuldade na deglutição. É em virtude desta forma inicial da moléstia que muitos médicos, pouco escrupulosos em suas observações, consideram a moléstia como primitivamente local, porque foram tão somente os symp- tomas locaes que lhes despertaram a attenção. Esta é a forma geral da invasão do mal; mas pode acontecer que os symptomas geraes se mani- festem ao mesmo tempo que os phenonemos locaes; estes, porém, são tão benignos que não podem ser a origem dos primeiros. É, depois, por tanto, dos symptomas que caracterisam o período inicial da angina diphtherica que ;;oparecem os phenomenos locaes que são para a angina membranosa, forno a pústula é para a variola, como a erupção intestinal é para a dolhie- nenlcria, com as manchas vermelhas e irregulares da pelle são para o sarampão. Sua marcha nos patenteia, portanto, a semelhança que ella affecta com as doenças geraes agudas, desenvolvendo, como ellas, um certo numero de symptomas que são a expressão da luta, que estabeleceo a naturesa para eliminar o principio morbifieo. A angina diphtherica apresenta symptomas que estão em perfeita har- monia com a idéia, que nutri .os de ser ella uma moléstia primiti- vamente geral: queremos f ; ; ' do movimento febril que precede e acompanha os phenomenos locaes, das falsas-membranas que se manifes- tam nas diversas mucosas e na pelle excoriada, dos symptomas de infe- cção, da albumimuria e dos accidentes consecutivos, como as paralysias que se manifestam em partes que estão fora da aeção da influencia local, como os membros inferiores, os órgãos sexuaes etc. O movimento febril jamais pode ser considerado como effeito dos phe- nomenos locaes, que no começo de sua evolução, e no decurso da molés- tia, são as vezes tão diminutos que deixam claramente ver que o estado febril é antes a causa do que o effeito d'elles, ou para melhor dizer, am- bos os estados são o effeito simultâneo de uma mesma causa. A albumi- nuria, que é tão freqüente na moléstia, é uma prova de não pequeno valor, e que vem realçar as demais, que já temos apresentado; provando, por tanto, que a angina diphtherica é uma moléstia geral em que o sangue está alterado em sua crase. Já tivemos oceasião de mostrar qu< a albu- minuria, não podendo ser explicada somente pela congestão dos rins, havia mister fazer appéllo para o estado geral da moléstia, que sendo in- fectuosa, está nas mesmas condições da escartalina, variola, cholera-mor- A. 5 — 18 — bus e febre amar cila, nas quaes a albumina sabe pelas urinas em um certo período de sua evolução. A angina pseudo-membranosa quando reveste a forma maligna é acom- panhada de symptomas, que, caracterisando o estado adynamico, deixam ver claramente que ella é uma moléstia diathesica determinada por um principio septico desconhecido em sua essência, e que, actuando sobre o sangue, altera-o, como o faz na febre amar ella nu escarlatina, na. febre ty- phoide etc. A angina diphtherica tem coincidido com o apparecimento de outras moléstias geraes, que tem com ella uma grande analogia. A forma epidêmica que affccta a moléstia não será ainda uma prova em auxilio do que hernos dito? Cremos que sim. A vista por tanto, do que temos ennunciado cremos, com o eminente clinico do Hotel-Dieu que a angina diphtherica é uma moléstia geral, especifica por excellencia, cujas diversas maneiras de ser locaes e geraes, constituindo somente varie- dades na espécie, devem-se referir a acção dum principio morbifico único, d'um viras especial; c, cm uma palavra, uma moléstia pestileneiai. Como todas as moléstias especificas por excellencia, ella é contagiosa e talvez inno- cu lavei. Sendo innegavel a transmissão da moléstia por contagio ou infecção, torna-se necessário que digamos algumas palavras, que servem ain- da para elucidar a opinião, que professamos sobre a natureza da mo- léstia, que consideramos geral e análoga ás febres exanthematicas, que se transmittem por tal forma. É fora de duvida que a angina diphtherica pode desenvolver-se espontaneamente, e sob o império das causas ge- raes, que já tivemos oceasião de mencionar; maneira esta porém, de de- senvolver-se não é a única, e está muito longe de ser ? mais freqüente; por quanto, é de observação, que a angina diphtherica se transmitte as mais das vezes por contagio ou por infecção. Não são raras as vezes em que se vê um indivíduo, em tempo de epidemia diphtherica, sem causa apreciá- vel, ser affectado d'uma forma qualquer da diphtheria; em taes condi- ções, é necessário crer que a moléstia se desenvolveo sob a influencia destas condições geraes desconhecidas, que se suppõe infectarem a athmos- phera, isto é, a infecção. É incontestável a trammissão da angina diphtherica pelo contagio; em algumas circumstancias, podendo-se remontar a origem do mal, é então que a observação reflectida chega a trazer ao espirito do medico a con- vicção sobre a contagiosidade do mal. É innegavel o caracter contagioso da angina diphtherica epidêmica, como o é igualmente na diphtheria esporádica, ainda a mais benigna. Não são raros os casos de anginas codeosas simples, que, por se desen- volverem espontaneamente, e se curarem em pouco tempo, não des- pertam a menor desconfiança; entretanto que, por serem de essência diph- therica, são contagiosas e propagam-se a outros indivíduos, determinando a angina diphtlierica benigna ou maligna, ou qualquer outra moléstia diphtherica, como: crup, ophtalmia diphtherica, ou diphtheria cutânea. Henri Koger e Michel Peter citam os casos seguintes: Um menino contrahio de sua irmã, que estava affcctada de angina co- deosa simples, a ophtalmia e a corysa diphthericas; por este duplo mal foi levado ao hospital dos meninos e abi curou-se; mas, um menino que es- tava ao lado de seo leito, e soffria de syphilide ulcerosa, foi acommettido nove dias depois pelo mesmo mal, que apresentava os caracteres seguin- tes: uma placa codeosa por detrás de cada orelha, uma outra sobre uma das ulcerações especificas do pescoço, uma ulceração codeosa em cada commissura labial, e vermelhidão com tumefacção notável das palprebas do olho direito. No fim de dous dias todas as ulcerações syphiiiticas esta- vam cobertas de pseudo-membranas; enfim o olho e a garganta começa- vam a soffrer, quando succuirilúo no fim de 48 horas. Ainda citaremos outros factos, e nos contentamos com elles, visto se- rem innumeros, e por si sós bastarem para formar um grande volume. Em uma família, o marido duma criada, a 8 de Setembro, foi atacado d'ma angina diphtherica benigna contrahida em conseqüência d'um res- friamento; sua mulher, que o tractava, c aecommettida da mesma an- gina 4 dias depois; a 10, ella está em convalescença e por fim curada, como seu marido. Dez dias mais tarde, uma criança, de que ella era a ama, apparece com febre, depois angina, que vem a tornar-se pseudo-mem- branosa. Os symptomas aggmvam-se, ao principio, lentamente; entretanto, no fim de dez dias a situação torna-se perigosa; o larynge é acommettido, e o menino morre de crup no dia seguinte á operação, e com os symp- tomas d'uma verdadeira intoxicação—Este menino recebia os cuidados do Dr. Gillete, que apresenta no dia seguinte á operação os symptomas d'angina diphtherica e morre do crup quatro dias depois de seo pequeno doente. Nesta serie lamentável de factos, vemos uma angina diphtherica, evi- dentemente espontânea e benigna, produzir pelo contagio uma angina codeosa de igual natureza, que por sua vez determina depois d'um con- — 20 — tacto certo, uma outra angina, porém maligna, em que a morte não pode ser explicada somente por um obstáculo á hematose—O quarto, final- mente, é do infeliz Dr. Gillete, em que a angina era maligna, e d'aquellas que trazem a morte, mais por uma intoxicação geral do que por um obs- táculo á respiração. Destes factos tiram-se as conclusões seguintes: a propriedade conta- giosa da angina, ainda a mais benigna, e a transformação possível da an- gina benigna em angina grave, segundo a disposição actual do organismo contaminado; e como corollario, a identidade de natureza entre a an- gina diphtherica a mais simples e a angina diphtherica a mais maligna. Tratamento. Sendo a angina diphtherica uma moléstia geral com manifestações lo- caes, e ao mesmo tempo contagiosa debaixo de três pontos de vista va- mos considerar seu tratamento que abrange o tratamento preventivo, lo- cal e geral. Tratamento preventivo. As medidas de precaução constituem exclusivelmente o tratamento preventivo; o afastamento é a precaução a mais efficaz, e que deve ser tida em grande consideração. O affastamento, sem detrimento dos de- veres sagrados da sociedade e das ternuras que não devem ser olvi- dadas pela familia, deve ser posto em pratica, tanto quanto permittem as condições de cada hum. Os meninos sendo os que mais freqüentemente são accommettidos, é sobre elles que de preferencia devem ser applicados os méis preventivos; por isso, cumpre que elles sejam separados immediatamente da casa que se achar contaminada—Afora estas precauções, todas as mais são inúteis; a inefficacia preventiva de certos medicamentos, administrados interna- mente, ou por outra qualquer forma, está sanccionada pelos próprios. factos. — 21 — Tratamento local. É sobre as determinações mórbidas locaes que se dirige exclusivamente o tratamento local. A medicação tópica tem proselytos dedicados; por aquelles mesmos, que encaram a moléstia, como primitivamente geral, ella é considerada como a medicação por excellencia. Trousseau, seo apologista, diz: « Ella é tão bem indicada nesta molés- tia, como o c na pústula maligna». Sua applicação remonta-se a tempos immemoriaes. Bretonneau, nas suas judiciosas observações, mostra claramente, que na epocha, em que a moléstia era denominada mal egypciaco já se applicava o ungucnto egypciaco. Areleo, em suas obras, não só recommendava as loções com medicamentos acres « illilio) es acriorum medicamentorum faciendoz sunt.» como mandava atacar as falsas membranas, não com o fogo. cuja appli- cação era difícil e imprudente; porem, com medicamentos semelhantes ao fogo. O alumem, a nox de galha e a calamina ja eram medicamentos co- nhecidos por elle. Os meios tópicos que não teem o cunho da novidade, c que já eram conhecidos e applicados pelos médicos os mais antigos, teem hoje uma vasta aceeitação. Os cáusticos os mais enérgicos teem sido applicados segundo a gravi- dade do mal. Entre elles, citamos o ácido chlorhydrico, que se emprega em naturesa ou misturado com mel, ou como Trousseau o empregava, fumegante, absolutamente puro. Modificando, dizem os clinicos, as superfícies enfer- mas é superior ao nitrato de prata, aos ácidos-sulphurico e nitrico, por não estender como elles sua acção tão profundamente; entretanto que elle não deixa de ser acompanhado d'alguns inconvenientes que serão relatados, quando tractarmos do valor das cauterisações. O ácido sulphurico, o ácido nitrico, o sulfato ácido de alumina teem sido aconselhados; nenhum delles, porem, está na cathegoria do nitrato de prata, que alem de ser de fácil applicação, offerece a vantagem de ser trazido em qualquer pequeno estojo de cirurgia. Apesar destas vantagens, o lápis de nitrato de prata tem alguns incon- venientes práticos. Um menino indócil pode mordel-o, quebral-o e en- gulil-o, e grandes inconvenientes devem resultar. O nitrato de prata, applicado por tal forma, offerece ainda a desvantagem de produsir, sobre a. 0 — 22 — as partes sans, escaras superficiaes, de baixo da forma de largas nodoas brancas, podendo por esta forma illudir ao medico sobre a marcha ulte- rior da moléstia. Taes inconvenientes podem desapparecer, fazendo-se uso de sal lunar em solução; a exsudação, que neste caso elle produz, é uma nodoa super- ficial, que muito facilmente se distingue da concreção diphtherica. A solução forte de nitrato de prata, na proporção d'uma parte para três d'agoa, empregada por Trousseau e outros, offerece a vantagem de attin- gir partes, que seriam inaccessiveis, se por outra forma fosse empregado o sal lunar. Com uma esponja, colloeada na extremidade duma barbatana recurvada e embebida na solução, pode-se attingir a epiglotte, toda a boca posterior, a trompa de Eústaquio e a abertura posterior das fossas nasaes; o que seria impossível conseguir-se com o lápis de nitrato de prata. A soda cáustica em dissolução, na proporção de 25 por 100, foi appli- cada pelos. Drs. Roger e Peter; sua acção dissolvente, sobre as falsas mem- branas, se faz maravilhosamente, mas não dá a menor garantia contra sua reproducção; limitando-se, por tanto, como todos os típicos preconisados, a modificar os symptomas locaes, sem combater a affecção geral. A tintura de iodo e o perchlorureto de ferro estão na cathegoria dos cáusticos menos enérgicos e menos dolorosos; por isso mesruo, são de algum uso para com os meninos que acabam afinal por aborrecel-os, em virtude de seu sabor desagradável; alem deste inconveniente, elles determi- nam uma repugnância invencível aos alimentos.—O Sm*. Jodin, em sua memória impressa em 1859, suppõe que as concreções diphthericas são constituídas por vegetaes parasitas, cogumelos microscópicos, que se re- produzem facilmente, e são o germen do contagio diphtherico; para des- truir os quaes, aconselha o perchlorureto de ferro, como tópico. Não tem fundamento a theoria de Jodín, quando vemos que outros mycrographos de mais authoridade, entre os quaes citaremos Ch. P\obin, não acharam taes cryptogamas, ou só os teem notado accidentalmentc. As producções diphthericas, sobre as quaes se desenvolvem, algumas vezes, os cryptogamas, offerecem as melhores condições á sua germina- ção; não sendo elles por conseqüência senão um effeito accidental e remo- to. O parasitismo vegetal, como causa mórbida, tem tido grande desen- volvimento n'estes últimos tempos, maxime na Allemanha e nos Estados Unidos. É de esperar que mais tarde o futuro da medicina se engrandeça com a solução de tão esperançoso problema; por emquanto, nosso espi- rito oscilla n'um mar de duvidas, e oscillará em quanto os micrographos — 23 — não forem accordes em suas observações; ainda assim, nos fica o direito de perguntarmos se os parasitas vegetaes são causa ou effeito. O sulfato de cobre, cuja acção é considerada por alguns tão enérgica como a do nitrato de prata, offerece a vantagem de não deixar, como o sal lunar, nódoas esbranquiçadas, que podem confundir-se com as falsas mem- branas: Trousseau o empregava, de preferencia, debaixo da forma de so- lução saturada. O sueco de limão, de emprego remoto, é ainda hoje preconisado; sua applicação se faz dum modo quasi continuo, de dez em dez minutos. É um modiíicador, que offerece a vantagem de ser encontrado facil- mente, e de não ter um gosto desagradável. O cauterio actual tem merecido, infelizmente, a attenção d'alguns mé- dicos. O Dr. Bonsergent, em 1828, se servio deste cauterio no tracta- mento das crianças. Srs. Valentin e Davin muito se esforçaram, por ge- neraiisar seo uso. Por nossa parte, não lhe achamos nenhuma vanta- gem, sendo principalmente um meio, que muito deve horrorisar as pessoas em que se tentar applical-o; o condemnamos, portanto, por acharmo-lo inútil e bárbaro. Os adstringentes occup.un uma grande cathegoria entre os meios tópi- cos. Em primeira linha, está o alumem, que Areteo prescrevia incorpo- rado ao mel. Sua efficacia, negada por Bretonneau, foi verificada por Trousseau, quando descobrio o segredo d'uma mulher, que grandes resultados obteve com o seu emprego, na epidemia que reinou em 1828 na França, Foi de então para cá que seu uso generalisou-se. O alumen é de fácil applicação, e .pode ser empregado encorporado ao mel, em solução ou em pó; neste estado, elle pode ser levado ás partes enfermas, por meio d'um canudo de papel espesso ou cartão, ou o que mais apropriado se achar na oceasião—A quantidade deve ser considerável, duas grammas três e mais. O tanino tem quasi as mesmas propriedades do alumen; em dose con- siderável pode ser applicado em collutorio ou gargarejo. As insuflações são preferíveis, e sua efficacia se mostra com mais evidencia quando se o alterna com as insuflações de alumen. O borax é um medicamento, que alguns crêem ter uma acção especi- fica; pondo de parte sua acção especifica que é inteiramente duvidosa, pode ser empregado como adstringente. O bromureto de potássio tem sido recommendado pela acção dissolvente do bromo, e fluidificante da potassa. — 24 — Alguns médicos* que o tem empregado, não teem encontrado taes van- tagens. Outros muitos medicamentos que, além da acção tópica, se lhes attri- bue uma acção especifica, teem sido igualmente gabados. Seus resultados teem sido negativos; todavia faremos menção do calomelanos e da tintura de iodo e de bromo. O perchlorureto de ferro perde seu valor especifico, uma vez que não tem se podido provar a existência dos cryptogamas, e por conseqüência sua acção sobre elles. A idéia nosologica da moléstia infecciosa devia necessariamente des- pertar, em certos médicos, a idéiatherapeuticaduma medicação anti-se- ptica; na verdade, elles, guiados por taes princípios, poseram cm pratica, sem colher as vantagens que almejavam, o licor de Labarraque, o per- manganato de potassa e o ácido phenico. As injecções e as irrigações gosam de summa importância no tracta- mento local da angina diphtherica. As injecções são feitas por meio duma forte seringa, guardados os preceitos necessários. Apparelhos pulverisadores, o brigador ordinário prestam-se bem a pra- ctica das irrigações, estas, sendo feitas muitas vezes por dia, offerecem a vantagem phisica e therapeutica de refrigerar as partes inflammadas, e a não menos importante de, mecanicamente, separar as concreções diphthe- ricas; pondo em boas condições de asseio a garganta, onde as falsas mem- branas tendem a se putrefazer sob a influencia do calor e humidade da região. Os Srs. Boger e Peter afiançam que a agoa de cal saturada, em- pregada por tal forma, tem o poder de dissolver as falsas membranas. Ultimamente, a flor de enxofre tem sido applicada duma maneira en- thusiastica; sua applicação tem sido, na verdade, coroada dos mais felizes resultados. Não duvidamos collocal-a na.frente dos primeiros tópicos, uma vez que clinicos de grande mérito e elevado critério attestam sua efficacia. Dous dos mais distinctos clinicos desta capital, os Illm.os Srs. Drs. Silva Lima e Faria ja tiveram occasiâo de apreciar seus maravilho- sos effeitos. Qual é a acção do enxofre sobre as falsas membranas? Gosará do poder especifico de destruir os suppostos cryptogamas considerados tão injusta- mente como o germen do contagio diphtherico? Não o cremos. Por ora em quanto novas luzes não se derramarem sobre a questão, nos contentaremos em dizer que o enxofre é um excellente tópico, cuja acção — 25 — parece comprehender a própria falsa membrana, facilitando sua elimina- ção, modificando os symptomas locaes, sem combater a affecção geral. Tratamento geral* Sem nos occuparmos minuciosamente dos medicamentos e remédios aconselhados na angina diphtherica; sendo muitos dentre elles conse- qüências das doutrinas médicas da epocha ou da idéia errônea que cada um formava da naturesa da moléstia, passamos, todavia, a fazer uma ligeira analyse dos que são ainda hoje aconselhados; dando maior impor- tância aos que tiverem maior somma de razões a seu favor. O tractamento geral de qualquer moléstia deve necessariameute cor- responder á idéia, que se faz sobre sua natureza. A angina diphtherica, sen- do uma moléstia especifica por excellencia, contagiosa e pestilencial, em uma palavra, uma moléstia geral, para ser combatida racionalmente, seria mister a applicação d'um modificador genérico, que combatesse o elemen- to mórbido em todo o organismo. Os meios antiphlogisticos, que exclusi- vamente occupavam o primeiro logar, durante o período broussaisiano, estão hoje inteiramente proscriptos. Não contestamos a existência do elemento inflammatorio, na angina diphtherica; não lhe prestamos, porém, a importância que ha merecido d'alguns; sua cathegoria, longe de ser a principal, é completamente se- cundaria; uma vez que elle está subordinado á natureza da causa que o domina, lhe imprimindo seu caracter especial. Considerando, pois, o ele- mento inflammatorio como inteiramente especifico, é claro que não pode- mos sanccionar a pratica abusiva dos antiphlogisticos directos ou indirectos, A pratica ainda confirma nossos princípios: se a especificidade phlegma- sica não fosse o apanágio da angina diphtherica, facilmente poderíamos com as sangrias geraes e locaes combater um mal local circumscripto, em principio, em que a inflammação é pouco vehemente e moderada. É justamente o contrario; os meios antiphlogisticos, que tão heroicamente combatem as phlegmasias francas, ainda mesmo as mais extensas, na an- gina diphtherica de todo baqueiam. As sangrias geraes são inúteis e es- sencialmente prejudiciaes na angina pseudo-membranosa, moléstia septica e susceptível de lançar o organismo em um abatimento considerável, ainda mesmo que uma causa já por si debilitante não viesse auxiliar. As sangrias locaes não enfraquecem a economia como a phlebotomia, a. 7 — 20 — porém não sustam a secreção; ellas além disto teem contra si o inconve- niente que offerecem as picadas de sanguesugas, que, por sua vez, podem diphtherisar-se. Os vesicatorios são inteiramente inúteis, elles tornam-se a origem de accidentes da mais alta gravidade, como a diphtherisação ulterior em mais alto gráo. Entre os antiphlogisticos indirectos, citaremos em primei- ro logar o calomelanos e os alcalinos, considerados por alguns duma acção especifica. Os mercuriaes são considerados os antiphlogisticos mais pode- rosos que possue a matéria medica. Seus effeitos maravilhosos, sobre as phlegmasias sorosas, são reconhecidos por todos. Terão elles o mesmo effeito, a titulo de antiphJogistico, no tratamento das affecções diphthericas? Vejamos. É sustentada por muitos a acção be- néfica do calomelanos, em alguns casos de angina diphtherica, administra- do, fracta dosi, conforme o methodo do doctor LaAv. Se ja provamos a inutilidade, e até mesmo o perigo da medicação anti- phlogistica, é claro que se fizéssemos excepção ao calomelanos nos acha- ríamos em uma contradicção palpável. O proto-chlorureto de hydragirio e as mais preparações mercuriaes, diz Trousseau, são um argumentum bisferiens. O mercúrio tem dous modos de acção: d'uma parte tem uma acção ge- ral sobre a economia; d'outra parte, tem uma acção exclusivamente tópica. Admittida, por tanto, a dupla acção do proto-chlorureto de mercúrio, é como agente tópico que elle gosa d'uma real utilidade, no tractamento das affecções diphthericas. Administrado, fracta dosi, pelo methodo de Law, a um doente de angina diphtherica, elle mistura-se á saliva, toca as super- fícies enfermas, no acto de atravessar o pharynge, e modifica as falsas membranas: precedendo, por tanto, esta acção tópica á acção geral, é só depois d'algum tempo que, absorvido na via digestiva, elle vae modificar a massa do sangue, augmentando-lhe a fluidez, pondo-o, talvez, em con- dicções de concorrer, para que as secreções não se tornem tão plásticas, como eram d'antes. A cura d'alguns casos de angina diphtherica parece depender simples- mente de sua acção local; tanto é assim que quando se ataca a angina di- phtherica por fricções mercuriaes repetidas, a cura nunca se manifesta, não obstante se determinar a discrasia particular do sangue. Nem sempre faz-se sem perigo a administração do mercúrio; seos effei- tos variam com as predisposições individuaes; nos faltando sempre um conhecimento prévio de taes disposições, podemos passar pelo desgosto de — 27 — vel-o ultrapassar os limites em que desejávamos restringil-o; e, em taes emergências, o doente, já debilitado pelo facto mesmo de sua moléstia, continua a enfraquecer sob a influencia d'uma medicação antiphlogistica, que concorre a diminuir as forças, que a todo custo, devem de ser susten- tadas. Os alcalinos teem sido aconselhados d'uma maneira enthusiastica. O bi« carbonato de soda foi empregado em 1839 por Mouremans, que despertou a attenção dos médicos. Mais tarde Marchai tirou-o do esquecimento em que jazia, e preconisou-o ardentemente. Os factos, porém, analysados, perderam sua importância. Uma obser- vação calma e reflectida deo a rasão de seus maravilhosos resultados; foi então que se verificou que os saes alcalinos foram applicados em affec- ções codeosas que curam-se por si mesmas, como as affecções codeosas cscarlatinosas. De mais, as propriedades antiplasticas dos alcalinos só se manifestam, depois d'um uso prolongado; sua influencia, portanto, está fora de acção em uma moléstia, que não tem uma longa duração. O sub-carbonato de am- moniaco está inteiramente abandonado. O chlorato de potassa, proposto por Chaussier, em 1819, contra o crup, tinha cabido em esquecimento, quando Blache, reproduzindo as experiên- cias que Hunt e West fizeram em 18i7 na gangrena da boca e na sto- matite ulcerosa, o experimentou na angina diphtherica. As experiências do Dr. Isambert e os factos recolhidos por muitos" authorisam a considerar este medicamento, senão como um remédio effi- caz, ao menos como capaz de prestar alguns serviços, muito principal- mente associado á medicação tópica. O Dr. Isambert lhe attribue uma ac- ção toda especial, d'alguma sorte electiva sobre a membrana mucosa. O bromo e o bromureto de potássio merecem apenas ser mencionados. O Dr. Trideau, comparando as affecções diphthericas com as affecções catharraes, e fundando-se nos bons effeitos, produzidos pelos balsamieos n'estas ultimas affecções, teve a idéia de applicar a copaiba e o pó de cu- bebas. A copaiba offerece a desvantagem de perturbar as funeções do estômago, ao passo que o pó de cubebas augmenta o appetite;-pelo que deve ser preferido. Trousseau empregava-o com algum resultado, na dose de quatro gramas, iodas as quatro horas, assosiando-o á acção repetida dum ácido vegetal. — 28 — Os vomitivos são ainda hoje considerados como um dos meios mais po- derosos de que podemos lançar mão no primeiro período da doença. Qualquer que seja o vomitivo empregado, devemos contar com uma dupla acção—mecânica—e dynamica; esta pouca influencia tem sobre o processo phlegmasico, e nenhuma sobre as concreções já formadas, que são desembaraçadas por sua acção puramente mecânica. É pois mecanica- mente que obrão os vomitivos; é desembaraçando o pharynge das concre- ções diphthericas que elles prestam alguns serviços; todavia, devemos ter toda a cautella no emprego deste meio, que, por sua naturesa depri- mente, traz o decrecimento rápido das forças. Não é indifferente a escolha dos vomitivos. O tartaro emetico, tão pre- conisado por alguns, é considerado por Trousseau, Roger, e Petter como o mais perigoso. O tartaro emetico, na verdade, determina nos meninos ac- cidentes graves, como vômitos rebeldes e diarrhéas eholeriformes, e pro- duz, muitas vezes, um abatimento, que por si só é bastante para traser a morte. O sulfato de cobre administrado, fracta dosi, foi empregado e con- siderado por Trousseau como isento destes inconvenientes, entretanto, Roger e Petter, attribuindo-lhe propriedades irritantes sobre o tubo intes- tinal, preferem a ipecacuanha a todos os mais.—O perchlorureto de fer- ro, o chlorureto de soda, o permanganato de potassa e o ácido phenico são medicamentos que teem sido indicados a titulo de antisepticos; na maior parte dos casos, taes medicamentos teem se mostrado impotentes antído- tos do veneno diphtherico. Os tônicos constituem o tratamento por excellencia que deve ser pre- ferido em todos os casos; a naturesa duma moléstia, como a angina diph- therica, em que as forças do organismo são primitivamente perturbadas e deprimidas, indica necessariamente sua preferencia.—Os tônicos mais em- pregados são o vinho, a quina, e as preparações ferruginosas; o perchlo- rureto de ferro, o citrato e o tartrato de ferro são os saes ferricos que de preferencia são indicados. As medidas hygienicas são da mais alta impor- tância no tractamento da diphtheria: o quarto do enfermo deve ser areja- do; o leito convenientemente asseiado; a alimentação deve ser tida em grande consideração; os meninos, convém, que se nutram,.e esta neces- sidade é tão imperiosa que impõe muitas vezes ao medico a obrÍ£>*ação de entimidal-os para conseguir-se o fim desejado. — 29 — Valor das canterisacoes no tratamento da angina cliplitlicrica. As caulerisaçõcs occupam ainda o primeiro logar na therapeutica da angina pseudo-membranosa. Quasi todos os médicos, em presença de semelhante enfermidade, persistem no emprego d'este recurso, e muitas vezes, vendo o doente succumbir, teem para si, e com profunda dor, que não empregaram convenientemente as cauterisações. O Dr. Bricheteau, impressionado pelos preconceitos desta pratica quasi universal, e apreciando convenientemente o valor d'este recurso thera- peutico, não lhe concede a honra que vulgarmente se lhe dá.—Apreciemos suas reflexões, e vejamos a razão que teve o distineto pratico para assim pensar.—O Dr. Bricheteau, tomando por typo o acydo chlorhydrico, e por ser um dos mais fortes, assim se exprime: «Este ácido não destroe imme- diatamente as falsas membranas e quando muito não passa além de sua superfície exterior, a qual fica endurecida, escondendo debaixo de si uma outra camada de falsas membranas, e offerece resistência ao emprego dos meios que procuram destacal-as da boca posterior. Estas tentativas offerecem um apparato tyrannico, cercado, alem disso, na clinica civil, de grandes embaraços.» Este cáustico, por tanto, não tem a vantagem que se lhe attribue, como os demais da matéria medica. O Dr. Bricheteau não conhece algum reagente chimico que seja capaz de dissolver immediatamente as exsudações diphthericas.—Os ácidos em geral, os meios lembrados pelo empyrismo, finalmente tudo quanto se ha empregado tem mostrado a necessidade duma maceraçào, mais ou menos prolongada, para dissolver a falsa membrana, o que é devido a sua com- posição essencialmente fibrinosa. Concedamos que se. possa descobrir um agente capaz dé dissolver com- pleta e immediatamente as concreções diphthericas, e que por sua acção inoffensiva se possa applical-o em larga escala. A therapeutica terá com este descobrimento, attingido seu desidera- liinft Por certo que não. Um agente de tal ordem ainda que podesse des- truir por sua acção tópica as falsas membranas, só poderia ser considera- do como especifico, quando também tivesse o poder de obstar a sua re- producção. Esta questão encerra a maior difficuldade no tratamento da am-ina dinlitherica. A angina pseudo—membranosa é uma doença geral c a. 8 — 30 — epidêmica e contagiosa, em uma palavra, uma moléstia pestilencial, na qual ha uma alteração especial do sangue, que faz depor a fibrina do mes- mo sangue na superficie da mucosa respiratória, que é o seu logar de eleição. Em uma moléstia de tal ordem, um agente tópico, qualquer que fos- se elle, poderia, é verdade modificar as manifestações locaes, mas nunca as condições mórbidas do sangue as quaes só podem ser modificadas por um tratamento geral.—As manifestações locaes e a asphyxia consecutiva a ellas não constituem somente nossos receios; a extensão e a intensidade dos symptomas são mais que tudo. Tanto é assim que na diphtheria maligna os doentes morrem gangre- nados, sem symptomas asphyxicos, e com limitadas manifestações locaes. Tanto é assim ainda, que os práticos prestam pouca attenção as manifes- tações locaes dos doentes, que soffreram a tracheotomia; em casos taes, o tratamento local, que até então despertava todos os seus cuidados, é in- teiramente abandonado, e toda sua attenção se volta para o estado ge- ral que é eminentemente grave: ahi o veneno mórbido continua nas suas manifestações geraes; em quanto que as falsas membranas, seguida sua evolução, acabam por desapparecer.—^As experiências de Reveil, Roger, e Peter corroboram plenamente estas doutrinas. A soda cáustica, em dissolução na glycerina, applicada localmente, dir zem estes distinctos práticos, produz maravilhosamente seu effeito dissol- vente sobre as falsas membranas; mas não dá a menor garantia contra a sua reproducção. O Dr. Rouxeau, com o resultado de sua longa pratica, confirma as opi- niões dos Srs. Roger e Peter. As reflexões do Dr. Bricheteau não se limitam somente em mostrar a inefficacia das cauterisações; ellas se estendem mais; provam até o seo in- conveniente èm alguns casos. Tomemos ainda por exemplo o ácido chlorhydrico e vejamos a acção deste cáustico enérgico. A applicação deste ácido, sobre as partes sãs da mucosa, produz esca- ras, desenvolvendo uma inflammação e esbranquiçando o epithelio; se sua applicação se prolonga, ulcerações, cobertas duma concreção esbranqui- çada, se manifestam, esta concreção, separando-se com demora, difficulta a cicatrisação, ja por si tão morosa. A mucosa, que na angina diphtherica conserva sua integridade, fica alterada. Não é tudo; as escaras esbranquiçadas da cauterisação confundem-se — 3! — com a própria falsa membrana; e spasmos do larynge sobreveem algumas vezes pela intensidade da dôr da cauterisação.—O Dr. Bricheteau, asso- ciando á estas considerações a difficuldade da applicação e suas duvidosas vantagens, lavra, sem contestação, sentença de proscripção ao emprego dos cáusticos eneruicos. Os cáusticos menos fortes, se não teem grandes inconvenientes, offere- cem outros que os devem fazer proscrever.—O nitrato de prata, a tin- ctura de iodo, o perchlorureto de ferro estão nesta cathegoria; elles não podem ser applicados, sem se exercer, mais ou menos, alguma violência sobre os doentes; donde resulta o esgotamento das forças;.suas repetidas cauíerisações acabam afinal por trazer o desgosto para os alimentos. É, pois, o tratamento geral tônico e algumas vezes estimulante, os vo- mitivos, em principio, e com moderação para expellir as falsas membra- nas e os tópicos, como os adstringentes e outros modificadores, que mo- dificam a mucosa sem alteral-a, o proceder lógico da medicina racional. As flores de enxofre satisfazem bem estas condições; porque sua acção parece comprehender a própria falsa membrana sem alterar a mucosa. As injecções, as irrigações e a pulverisação de líquidos, como agoa sa- turada de cal, deveriam ser applicadas, toda vez que não houvesse uma contra indicação. A vista pois de taes reflexões, concluímos que a therapeutica da angina diphtherica limita-se a estes dous pontos capitães. Procurar o modificador genérico que possa combater o elemento mór- bido em todo organismo: modificar o estado local da mucosa affectada, sem nunca alterar a textura d'aquella membrana. Sustentar as forças do organismo é de summa necessidade, e é o complemento lógico da medi- cação desta doença, ja por si de caracter tão deprimente. SECÇAO MEDICA. Chlorose. PROPOSIÇÕES. l.a Chlorose é uma nevrose, que affecta particularmente á mulher. 2.a A hypoglobulia é quasi sempre um estado consecutivo a esta nevropa- tliia. 3.a A chlorose e a anemia são consideradas por alguns distinctos médicos como uma e a mesma moléstia. 4.a A hypoglobulia, que sempre acompanha á anemia, pode faltar no prin- cipio do chlorose. 5.a A anemia é um elemento commum a muitos estados pathologicos dis- tinctos; por isso mesmo é variável seu tratamento. G.a A persistência do ruido de sopro na chlorose, por longo tempo, depois da reconstituição do sangue, é uma prova de que ellenão se liga necessa- riamente á alteração do sangue. 7.a Uma multidão de causas pode alterar a constuição do sangue e simu- lar uma chlorose, é por isso que muitos médicos não duvidam conside- ral-a como uma anemia. A 9 — 34 — 8.a Os phenomenos nevropathicos da chlorose muitas vezes persistem, não obstante a reconstituição do sangue; o que prova que a chlorose deve ser considerada como uma moléstia nervosa causa da alteração do sangue, e não como uma cachexia produzindo as desordens nervosas. 9.a Os symptomas da chlorose se traduzem, principalmente, por aberrações do systhema nervoso. lO.a Perturbações das secreções, perversão da nutrição, finalmente uma de- gradação de toda a constituição, completam o quatro symptomatico da chlorose, no seu ultimo período. ll.a As preparações ferruginosas occupam uma grande cathegoria no trata- mento desta moléstia. 12.a Os tônicos amargos, os banhos de mar, a hydrotherapia e os banhos sulphurosos são úteis adjuvantes do tratamento ferruginoso. 13.a Os meios hygienices formam o complemento lógico do tratamento pharmaceutico. 14.a Não duvidamos recommendar o casamento, quando a chlorose depen- der d'um amor contrariado. SECCÀO CIRÚRGICA. lias indicações e contra-indicares na uretrotosnia interna. PROPOSIÇÕES. l.a A diminuição permanente e progressiva do calibre do canal da uretra, pela presença d'um tecido retractil e pathologico, occupando uma pari*! mais ou menos extensa de suas paredes, chama-se coarctação uretral. 2.a Segundo Sedil! \ dividimos os estreitamentos em quatro classes: l.J íjs que podem ser atravessados, conservar-;)o sempre o gráo dilatação, 2.o osque são atravessados, sem que sua dilatação possa ser conservada, o.o os que podem ser aíravessados mas que não se deixam dilatai', i.° os que não podem ser atravessados. 3.a Estudados que sejam os estreitamentos, segundo esta divisão, o cirur- gião pode indicar ou contra indicar a uretrotomia interna. l.a O estreitamento, em que, empregada a dilatação, não for possível es- tendel-a alem de 4 a 5 millimetros, indica necessária e urgentemente a uretrotomia interna. 5.« Os accidentes de certa gravidade, consecutivos á dilatação, indicam o emprego do coarctotomia interna, ainda que a dilatação, em seu principio tenha marchado regularmente. (i.a Nas coaretações antigas, denaturesafibrosa, acompanhadas de accidentes — 30 — graves devidos a sua própria naturesa, e rebeldes á dilatação, a coarcto- tomia interna é de grande utilidade. 7.a lia estreitamentos que indicam a uretrotomia interna apezar de offere- cerem um calibre alguma cousa favorável á execução das funcções genito- urinarias. 8.a A morosidade da dilatação, nos estreitamentos complicados de cálculos visicaes, indica esta operação. 9.a A presença de cálculos engasgados na uretra, indica, algumas vezes, a coarctotomia interna. lO.a Se o canal não tolera o contacto das sondas, se estas provocam acciden- tes nervosos ou febris, e se ha emfím imminencia a stranguria, não se de- ve hesitar em recorrer a uretrotomia interna. 1 l.a A dilatabilidade e a impermcabilidado das coarctações uretraes contra- indicam, in liminc, esta operação. I2.a Nem sempre as affecções da próstata, da bexiga e dos rins contra-indi- cam a coarctotomia interna. 13.a Os estreitamentos inflammatoríos, devidos á turgencia ou intumescen- cia das porções profundas da mucosa, contra indicam a coarctotomia in- terna. SECÇAO ACCESSORIA. Glycerina considerada como veliiculo pharinaceutico. PROPOSIÇÕES. l.a Glycerina é um corpo liquido de consistência xaroposa, sem cor, sem cheiro, neutro, incrystalisavel, de sabor assucarado e insoluvel no ether nos óleos fixos e nas essências. 2.a A glycerina gosa d'um poder dissolvente intermediário entre a agoa e o álcool. 3.a A glycerina dissolve perfeitamente o bromo, osioduretos de enxofre, po- tássio, zinco e ferro, os chloruretos de ferro e zinco, os sulfuretos alcalinos, o eyanureto de mercúrio, o emetico, o tanino, o assucar, o mel e a gomma. 4.a Os alcalóides, o iodo o bichlorureto de mercúrio, o enxofre e o phosforo são dissolvidos por ella em menor proporção. 5.a A glycerina não dissolve o calomelanos, os ioduretos de mercúrio, de chumbo e as resinas. 6.a A glycerina, por suas propriedades dissolventes em tão grande escala, pode ser considerada como um dos primeiros vehiculos pharmaceuticos. 7.a Aderma intacta absorve perfeitamente a glycerina, e consequentemente os corpos que ella tem em dissolução. A. 10 — 38 — 8.a A glycerina se une aos líquidos aquosos e alcoólicos e se incorpora igualmente aos unguentos e pomadas. 9.a A glycerina se mistura aos extractos e as tinturas, e pode servir de ba- se aos linimentos, as uncções e embrocações. lO.a Os glycerolatos, medicamentos obtidos com a glycerina como excepien- te, são hoje de vasta applicação. ll.a A glycerina se presta a maior parte dos empregos da medicina e cirur- gia, prestando ás preparações de que ella faz parte o concurso de suas propriedades emollientes e sedativas, e pondo d'esta sorte os tecidos em condições favoráveis á absorpção das substancias medicamentosas de que ella é vehiculo. I2.a A glycerina, por tanto, é um grande e poderoso vehiculo pharmaceu- tico. IIYPPOCRATIS APHORISMI I. Vita brevis, ars longa, occasio proeceps, experientia faUax, judicium difficile. (Sect. i.a Ap/i. 7.o) II. Ad extremos morbos extrema remedia exquisite, optima. fSec. Ia Aph. 6.0) III. Ubi somnus delirium sedat, bonum. (Sect. 5.a Aph. 4.o) IV. In morbis acutis extremarum partium frigus, malum. (Sect. 7.a Aph. l.o) V. In acutis affectionibus, qual cum febre sunt luctuosal respirationes, malal. (Sect. 6* Aph. 54.) VI. Febres, soporem, lassitudinem, caliginem, vigílias inducentes, exsudan- tes, malignae. Sect. 2* Aph. 11.) BAHIA.—Typ. de J. G. Tourinlio. &emeéitc&i d %omm^ão gvevúoia. £3a/ta e &acu/c/ac/e c/e ^6e<Á> /-/ c/e £>dpo