Faculdade de Medicina da Bahia Às opsoninas, o indico opsonico, vaccinotherapia pelo metliodo de WR1CIIT Ttese de doutoramento MCMVIII Jo$é Diag de Mozaeg THJESE FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA THESE APRESENTADA Á Faculdade è Medidna da Bahia EM 31 DE OUTUBRO DE 1908 Para siT prraiilc a mesma publicameiite defendida ' POR José Dias de Alora.es> b. l. Filho legitimo de Eduardo Dias de Moraes e D. Ritta Costa de Moraes, natural do Estado da Bahia. AFIM DE OBTER G GRAU DE Doutor om Medicas e Cirúrgicas DISSERTAÇÃO CADEIRA DE THERAPEUTICA As opsoninas, o índice opsonico, vaccinotlie- rapia pelo metliodo de WRIGHT PROPOSIÇÕES rpres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas BAHIA LBTHO-TYPOKIC AftSIA A LIHIBIBA 37. Kua da Alfandega, 37 1908 Director=I>r. Augusto Vianna Vice-Director-»r. Manoel José <ie A ranjo LENTES I. Sesção Os Ili.ms. Srs. Drs.: Matérias que Emocionam; José Carneiro de Campos Anatomia descriptiva Carlos Freitas Anatomia medico-cirurgica 2.a Secção Antonio Pacifico Pereira Histologia Augusto Cezar Vianna.. Bacteriologia Guilherme Pereira Kebelio Anatomia e Physiologia pathologicas. 3.a Secção Manoel José de Araújo Physiologia José Eduardo Freire de Carvalho Therapeutlca •a.a Secção Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia Luiz. Anselmo da Fonseca Hygiene S.a Secção Braz Hermenegildo do Amaral Pathologia Cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica-1.a cadeira Ignacio Monteiro de A. Gouveia.... " " 2.a " S.a Secção Aurélio Rodrigues Vianna Pathologia medica Alfredo Britto Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho Clinica medica-1.a cadeira Francisco Braulio Pereira " " 2.a " 7.a Secção Antonio Victorio de Araújo Falcão Matéria Medica. Pharmacologia e Arte de formular José Rodrigues da Costa Doria Historia natural medica José Olympio de Azevedo Chimica medica S.a Secçãc Deocleciano Ramos Obstetrícia Climerio Cardozo de Oliveira Clínica obstétrica e gynecologica O.» Secção Frederico de Çastro Rebello Clinica pediátrica IO.» Secçãc Francisco dos Santos Pereira Clinica ophtalinologica II. a Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira Clinica dermatológica e syphili graphica 12.a Secção Luiz Pinto de Carvalho Clinicapsychiatrica e de moléstias nervosas João E. de Castro Cerqueira I Sebastião Cardoso f disP°nihihdade Os Drs; Os Drs: José Affonso de Carvalho., la Aec. Pedro da Luz Carrascosa... 1 _a .. . Gonçalo Moniz S de aragão | .,a ,. José Julio de Calasans Juito Sérgio Palma - í~' José Adeodato de Souza S* " Pedro Luiz Celestino ,?a " Alfredo F. de Magalhães !>■<■ " Oscar Freire de Carvalho... >• ciodoaldoF.de Andrade R'a " Antonino B. dos Anjos 5» " Albino Arthur Leitão 7?a " João A. Garcez Fróes 6» " Mario Leal 7ia " Secretario-Dr. Menandro dos líeis Meirelles Sub-Secretario-Iir. Mathens Vaz de Oliveira A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seus auctores. ... a crêr que, em nosso meio scientifico actual, já bastante interessado comtudo nessas coisas tão importantes da sciencia medica, que nos veem de todo o mundo por caminhos que se tornam, dia por dia, cada vez mais reduzidos e curtos, graças a essas poderosas e admiráveis machinas de transporte que fazem hoje dos povos mais afastados como que bons vizinhos do mesmo quarteirão ou pensionistas do mesmo andar de hotel, custa-me a crêr, custa-me a comprehender devéras, que aqui a monumental theoria opsonica seja ainda tão infelizmente desconhecida. Não se a enuncia, não se a escreve, não se a pro- fessa, não se a commenta, não se a nega, não se a approva,- o que leva á secca conclusão de que se não a conhece. Já em 1902 publicava Sir A. E. WRIGIIT casos de cura de acne, furunculose e sycose pelas vaccinas microbianas; era o advento da vaccinotherapia, da vaccinação curativa, porque até então a vaccina li- mitava-se a prevenir somente a moléstia, estes ensaios preliminares eram o arauto annunciante de mais um II triumphador que vinha, forte e decidido, receber um dos sceptros dcs vastos e boliçosos domínios da immu- nidade, pois em 1903 publicava o mesmo Prof. WRIGHT as bases de sua brilhante theoria opsonica, revelando a existência de substancias a que denominou opsoninas, de que elle dava as provas materiaes e palpaveis. Seus trabalhos não tinham, os primeiros mesmo, o frágil caracter hypothetico e theorico dessas tantas verdades que nos atropellam em sciencia nova, mormente no compartimento alvoroçado e desalinhado dos factos da immunidade. Depois desta triumphal incursão desses factos revelados, firmes e bons, que eram as bases do grande metliodo contemporâneo, entraram na sciencia, por meio desses apparelhos verdadeiramente injectores que são os jornaes e revistas medicas, um sem numero de noções comple- mentares, e mais, é até raro que se estampe agora um numero de bôa revista medica ingleza que opsotiica- mente não diga qualquer coisa, v. g. a antiga e respei- tável «The Lancet». WRIGHT e sua theoria opsonica estão em fóco, todos III os conhecem. Uns duvidam da viabilidade do methodo opsonico, outros approvam-no e defendem, no, mas a grande verdade é que todos o querem conhecer e praticar. Dóe-me por isto que, entre nós, 6 e 5 annos se tenham superposto pesadamente sobre tão bella con- quista scientifica escondendo-a por inteiro. D'ahi ter eu feito este trabalho sobre tal assumpto. Advogar, propagar e vulgarisar uma bôa e grande verdade vale, quasi talvez, tanto quanto concebel-a. Não quero os glorificantes louvoresinhos de ninguém por isso, não me candidato a glorias nenhumas. Tenho como o cum- primento de um dever irrevogável de consciência o ter escripto sobre a obra preciosa de WRIGHT. Si a minha contribuição pessoal aqui foi pequena é este o meu sacrifício, porque, sobre uni assumpto, pelo menos, que tenho em estudos, teria eu escripto por mim só, sabem-no mesmo alguns amigos meus. Este, que ides ler,é um trabalho incompleto e imperfeito sobre- maneira, attentos os motivos todos que impedem a livre acção em escriptos deste theor. Assim, deixei IV por imprimir um capitulo crítico sobre imperfeições technicas, causas de erro em opsonometria, rigor e infalibilidade do indice, falta a que me refiro no texto e de que me desobrigarei ulteriormente. Os meus di- versos capítulos não tiveram a largueza que o assumpto requeria, o que-não pude evitar em escripto de taes limites. Fugi de usar esse estylo avelludado e florido, que tão gratamente amima o espirito do leitor, porem que também por vezes é revelador de sciencia pouca ou má. Ao terminar dou ao sabio e prestimosissimo mestre, Sir ALMROTH E. WRIGHT, meus cordiaes agrade- cimentos pela remessa de seus escriptos e offerecimento de seus favores, que me fez em condescendente carta, assim como pela impagavel honra que me deu permit* tindo que eu lhe dedicasse este trabalho. Bahia, Outubro 1908. DISJSGIVTHÇHO CADEIRA DE THERAPEUTICA As opsoninas, o índice opsonico, vaccinothe- rapia pelo methodo de WRIGHT Tteó óobte cada uma daó cadeitaó do cucóo de ócienciaô medicaó e citutgicaó CAPITULO I Mechanismo geral da immunidade, o papel do serum com suas substancias protectoras, valor e acção dos leucocytos processo por meio do qual o organismo responde ao ataque dos germens infecciosos é muito complexo e nossos conhecimentos a respeito, se bem que, cres- cendo assombrosamente de dia para dia, estão longe de ser completos e perfeitos. No mechanismo da defesa contra a infecção vão apparecendo a mais e mais molas subtis e preciosas, por assim dizer, que criam um todo de movimentos delicadamente regulados e precisos, que são reaccionarios e bemfazejos, cujo fira ultimo é libertar o organismo invadido da acção do micro.bio invasor. Com a descoberta do leucocyto, globulo branco do sangue, principiam, bem se póde dizer, os estudos verdadeiramente profícuos e boas sobre a defeza do organismo contra os germens pathogenos. METCHNI- KOFF, dirigindo uma escola, tentou por bem tempo 1 2 sustentar que ao leucocyto pertence o papel mais importante na lucta incessante contra os micro-orga- nismos invasores, e que por meio do trabalho desta cellula o organismo está apto a vencer as moléstias infecciosas. Quiz elle também mostrar que a destruição ultima destes parasitas era feita no interior dos leucocytos por meio de uma digestão commandada por fermentos, que essas cellulas elaboravam para tal fim. De outro lado, BUCHNER sustentou que a defeza contra o microbio está nos humores ou líquidos do corpo, e que o trabalho leucocytario lhes é subsidiário. Mais recentemente dando-se o devido valor a cada uma das partes do sangue, globulos e plasma ou serum, tem-se corntudo discriminado os seus papeis considerando-se-os mais approximadamente do que elles são. O leucocyto tem um papel quasi que mecha- nico, seria indifferente sem a existência do serum; ao serum vão-se dando as honras da soberania defensiva, cada vez mais, com as incessantes e continuas desco- bertas de suas substancias protectoras. Essas substan- cias teem vindo á sciencia por um influxo continuo de uma serie grande e nobre de investigadores, a frente dos quaes está WRIGHT, com suas brilhantes con- tribuições. Considera-se a serie de phenomenos, que se seguem á invasão bacteriana do organismo animal, como uma lucta; dois são os contendores, de um lado o microbio invasor com seus recursos maléficos procura destruir o organismo que elle invade, de outro lado a economia invadida porfia em defender suas unidades cellulares da acção do microbio e subtrahil-as a sua influencia 3 nociva. Encarando-se, como eu vou fazer, a natureza própria, as armas de cada parte belligerante, ver-se-á aos raios da evidencia, que não é inverosimil a com- plexidade que se proclama da immu- nidade. Os micro-organismos pathogenicos sustentam a sua permanência no organismo animal pela producção de toxinas, venenos, que quando são secretados cha- mam-se exotoxinas e endotoxinas quando se manteem incorporados ao protoplasma microbiano. O organismo infectado, çjn resposta reaccionaria, produz então substancias protectoras, defensivas, que circulam com o sangue por todo o corpo. Estas sub- stancias são de varias especies, como se ha de ver. EHRLICH foi quem primeiro mostrou claramente que os venenos bacterianos, pedem entrar em combinação com um elemento cellular do corpo; as cellulas atacadas variam nas differentes infecções. WRIGHT deu aos venenos desta sorte o nome generico de tropinas\ chama-se assim a uma toxina da classe da do tetanus, veneno neurotropico. A união da tropina com o protoplasma cellular desperta a producção de substancias agindo contraria- mente ás tropinas. Taes substancias são defensivas e denominam-se antitropicas. São conhecidos vários typos de antitropinas, umas capazes de neutralizar os effeitos das tropinas bacterianas, outras consideradas como antídotos de certas tropinas de plantas superiores, ou das de natureza animal (veneno das cobras). O estudo das antitropinas é do maior interesse scientifico, da mais alta importância pratica, e se destas substancias não ha muito conhecido, apezar dos innumeros inves- tigadores que se entregam a esses estudos, é por causa 4 das difficuldades que encerram. Estas substancias variam qualitativa e quantitativamente. Em certas moléstias agem conferindo uma immunidade longa ou mesmo de toda vida; por outras vezes as antitropinas são em tão baixo gráo que a immunidade não existe, é insufficiente ou passageira e temporária. E' devido ás antitropinas que os individuos subtrahem-se ás in- fecções ou restabelecem-se delias. Não se sabe a maneira exacta por que estas substancias se formam; para BULLOCH ellas teem putras funcções no organismo e primitivamente existem independentemente de qual- quer infecção bacteriana. As repetidas inoculações de pequenas doses de um virus dão nascimento a maior formação de antitropinas, também a qualidade de produzil-as passa de ascendentes a descendentes. Para provar a existência destas substancias no sangue e lympha das pessoas normaes, o que é facil, WRIGHT fez seu methodo muito engenhoso de avalial-as em pequenas porções de serum. Sejam produzidas pelo mechanismo porque forem, o que não padece contestação é que ellas variam de quantidade quando o organismo se infecciona ou quando se introduz artificialmente nelle uma vaccina. O augmento artificial e provocado destas substancias dá em resultado uma immunidade, constitue um processo de vaccinação, preventiva ou curativa (Methodo de WRIGHT). WRIGHT mostrou que sempre estas antitropinas teem um caminho definido, isso por numerosas obser ■ vações originaes, firmando-se em previas investigações de BRIEGER e EHRLICH, M0RGENROTH, SALO- MONSEN e MADSEN, BULLOCH, SACHS e outros. 5 Chamou a este modo de ser na acção das antitropinas «law of the ebb, flow and reflow, and subsequent maintained high tide of immunity». A baixamar ou «phase negativa» (negative phase) se segue á invasão do corpo por uma bactéria ou seus productos toxicos, é uma diminuição do valor antitropico do serum do sangue, que não é devida, como estabeleceram SACO- MONSEN e MADSEN, á neutralização das antitro- pinas pelas tropinas bacterianas, porque a diminuição das antitropinas é muito rnaíor do que seria necessário para tal fim, parece antes que ha uma profunda modifi- cação no mechanismo intimo da producção das anti- tropinas; com as doses grandes de tropinas em geral, a secreção de antitropinas é suspensa tempora- riamente, as antitropinas já existentes sahem por qualquer modo do corpo, pelas secreções ou excreções certamente, ou melhor, podem ser queimadas de- pressa. WRIGHT fez conhecer que a phase negativa equivale a um augmento na susceptibilidade á infecção. As antitropinas se formam obedecendo a um modo par- ticular e privativo de reagir de cada organismo, assim é que uma mesma dose da mesma vaccina dada a differentes indivíduos produz variações differentes no valor antitropico de cada ura. Depois de algum tempo a phase negativa é substituída por uma chamada «phase positiva» (flow) em que ha um augmento das antitro- pinas devido ás recem-formadas que se lançam no sangue, e nesta phase, como é facil concluir, a resis- tência individual á infecção augmentou. Em maior ou menor espaço de tempo, dá-se a dimi- nuição do contendo antitro pico (reflow, WRIGHT) limitando-se porem a um nivel acima do que tinha 6 antes da inoculação vaccinal, é o «alto nível da immu- nidade» (high tide de WRIGHT) . Estas phases podem ser vistas satisfactoriamente determinando-se frequentes vezes o conteúdo antitro- pico do serum, notando porem que ellas variam com o indivíduo, a vaccina e suas doses. Eu eschematiso-as aqui em um simples graphico, para melhor compre- hensão. dã. in . 1 M}Ãt> de crtA. Jl/aseí 7>*-< títiso Pâ H g p&4 il<r* s e _fi/&a Já está bem sabido que ha varias especies de antitropinas bacterianas; antitoxinas, agglutininas, precipitinas, lysinas, cidinas, opsoninas. São desti- nadas as antitoxinas a neutralizar os effeitos vene- nosos de certas toxinas bacterianas; não são destruídas, mas formam com ellas uma combinação não toxica, indiffcrente ao organismo. As antitoxinas não teem influencia alguma preju- dicial sobre as bactérias que formam as toxinas. As 7 antitoxinas melhor conhecidas são as da diphteria e tetanus; a creação do termo antitoxina é de VON BEHRING. Quando examinamos o sangue de indivi- duos immunisados contra outras moléstias que não as mencionadas, não se pode demonstrar nelle a existência de antitoxinas, ou porque não as ha ou porque são em tão infima quantidade que escapam á prova. As agglu- tininas são substancias que teem a propriedade de agglomerar em amontoados as bactérias (GRUBER e DURHAM). São especificas e teem sido demonstradas somente em certas infecções, febre typhoide, febre de Malta, tuberculose ( WRIGHT ). As precipitinas (KRAUSS, BORDET e TCHISTOWITSCH) são sub- stancias que se depositam sob forma de precipitado nas soluções de serum. São bacterioprecipitinas e albumoprecipitinas; apparecem no serum de animaes tratados previamente por filtrados de culturas bacte- rianas ou por substancias albuminoides extranhas/ São também substancias altamente especificas. As lysinas (R. PFEIFFER) são substancias prote- ctoras do serum que promovem a dissolução da bactéria reduzindo-a a granulações. Esta é a reacção bacterio- lytica de P1TEIFFER, provada no Bacillo typhico e Vibrião cholerico. A doutrina lytica também não tem universal applicação, em muitas moléstias a existência de lysinas tem sido proposta, mas não justificada pela experiência. As opsoninas finalmente são substancias que se fixam sobre as bactérias tornando-as aptas á phagocytose. São talvez as antitropinas mais impor- tantes do serum. Como fazem porem, o assumpto especial de meu estudo, deixo para em capitulo sepa- rado estudar-lhes as propriedades todas. 8 São estas as principaes substancias defensivas do organismo, com suas propriedades geraes, cuja exis tencia é quasi incontestável no serum dos animaes, sãos ou infectados, immunes ou immunisados, conforme a occurrencia. Ao contrario do que está bem edificado actualmente, METCHNIKOFF pretendia que ao phagocyto per- tencia toda a força na acção contra o microbio, com seu poder digestivo feito pelas cytaseb (alexinas de BUCHNER). Em tolos os seus escriptos dá poderes absolutos quasi aos phagocytos, e quando foi forçado a admittir que os humores contêm antitropinas, apontou que taes corpos deviam ter vindo do interior dos leucocytos onde existern como fermentos. Separadas dos leucocytos, não admitte elle a exis- tência de antitropinas no sangue. Admittia a existência de substancias estimuladoras da phagocytose, a que chamou «estimulinas», mas não demonstrou que ellas existiam por nenhum meio. Outros bacteriologistas comparam o phenomeno da phagocytose, a acção dos globulos, com um processo simples de limpeza, os leucocytos englobando somente as bactérias já mortas on atacadas por quaesquer outros meios. WRIGHT e DOUGLAS nos mostraram, que os líquidos do sangue teem um papel independente, definido e muito importante na phagocytose, por meto de experimentos muito simples alias e que vão no se- guinte capitulo bem esclarecidos. NEUFELD e RIM- PAU não sustentam absolutamente, demais,que o serum tenha qualquer effeito estimulador sobre os phagocytos, como pensava METCHNIKOFF. Está pois bastante es- tabelecido hoje por meio de provas irrefutáveis e serias 9 que o leucocyto é um agente secundário, na defeza organica contra a infecção; não tem quasi acção, na ausência das substancias do serum a que elle está sujeito, espontânea é inútil como defensiva por sua pequenez e insufficiencia provadas pelas simples experiencias de WRIGHT. E' somente util e efíiciente a phagocytose induzida, provocada pelas sub- stancias do serum. Fica somente ao leucocyto o papel da presa e digestão dos parasitas, o papel de phagocy- tose e não o da immunisação. A immunidade produ- zir-se-á por qualquer processo occulto do organismo, mas os productos que a asseguram estão no serum, existem com elle. A defeza organica contra a infecção não é só limitada á phagocytose, logo o leucocyto não basta para promovel-a. CAPITULO II As opsoninas, suas propriedades The why of immunity is receiving its answer to-day in the opsonic power of the blood. Dr. Wm. F. KUHN. Oration on the future of medicine and the medicine of future. Â. opsoninas são substancias chimicas que existem no serum ou no plasma do sangue, ainda não isoladas chimicamente, cujo papel é unirem-se ás bactérias e tornal-as aptas a serem atacadas pelos leucocytos. São substancias, como se vê, de uma palpitante necessidade para a producção da phagocytose, sem sua intervenção os phagocytos fastidiosos recusariam ingerir as ba- ctérias. Estas substancias não agem porem de modo algum sobre os leucocytos. A palavra «opsonina» de recente introducção feita por Sir WRIGHT, deriva do grego «opsonéo ou opsonô» ou do latim «opsonio» ou «opsôno», que significam «eu preparo um banquete, eu cosinho, eu converto em alimento saboroso»; tem portanto toda a propriedade a expressão, indicando a verdadeira funcção que teem estas substancias. A existência destas substancias foi suspeitada ante- 12 riormente por DENYS e LECLEF e por MENNES, porem o mérito de sua cabal demonstração cabe a WRIGHT e DOUGLAS que mostraram sua impor- tância no ponto de vista pratico e elaboraram methodos que permittem determinar a existência d'ellas e sua avaliação quantitativa. Estas existem no sangue ao lado das outras substancias defensivas, como ficou assentado anteriormente, sua acção porem é inde- pendente e definida. São das principaes substancias protectóras do serum, não se poderá dizer sem exaggeroí porem, que ellas sejam as mais proveitosas de todas, mesmo porque, também já ficou dito, ha microbios dos quaes o organismo não se defende absolutamente por sua reacção opsonica e sim por qualquer uma das outras. Demonstração da existência e acção das opsoninas do serwn do sangue.-Toma-se uma porção de globulos de sangue lavados, isto é livres de todo o serum, cuja preparação eu descrevo no Cap. III; de outro lado faz se uma emulsão bacteriana de estaphylococcus albus, por exemplo, tal como eu descrevo também no Capitulo indicado Divide-se a emulsão em duas partes A e B. A primeira A põ.e-se de lado; á segunda B junta-se volume egual de serum sanguíneo fresco, mistura-se o todo e leva-se á estufa 37° por 15 minutos; feito isto centrifuga-se a mistura para precipitar no fundo do tubo as bactérias e tira-se com uma pipeta todo o liquido que fôr possível. As bactérias são então mis- turadas com solução salina a 0.1 por cento e de novo centrifugadas, repetindo-se o processo varias vezes. Faz-se finalmente uma emulsão destas bactérias em solução salina, tal qual a emulsão A, diluindo-se a 13 emulsão mais forte até ficarem as duas do mesmo titulo. Temos portanto um creme leucocytario com egual numero de globulos em determinado volume, temos duas emulsões bacterianas eguaes em quantidade de microbios, differindo somente em B ter sido tratada pelo serum durante 15 minutos a 37°. Se o serum não tivesse effeito algum sobre as bactérias teríamos o mesmo resultado em qualquer das duas. Eguaes volu- mes da emulsão A e do creme leucocytario são mis- turados, aspirados em uma pipeta capillar e incubados a 37° por 15 minutos; fazendo o mesmo de outro lado com a emulsão B. Fazem-se preparações, coram-se pelo Leishman, observam-se com immersão, contam-se as bactérias em 100 leucocytos polynucleares de cada preparação. Uma experiencia desta ordem deu o se- guinte resultado: Emulsão A-10 cocci em 100 leucocytos contados Emulsão 2?=500 cocci em 100 leucocytos contados Houve evidentemente influencia do serum sobre as bactérias, tornando-as mais aptas á phagocytose. Esta experiencia prova também que não exercem as opsoninas acção sobre os leucocytos e sim somente sobre as bactérias. A experiencia fundamental que prova que as opso- ninas agem sobre o microbio e não são um estimulador do leucocyto e muito interessante, foi feita baseando-se na preliminar de que o serum aquecido a 60° por 15 minutos perde as suas opsoninas, como mostraram WRIGHT e DOUGLAS. Cito aqui uma das experiencias originaes destes auctores: A. Serum aquecido (3 vol.) emulsão eitaphylo- 14 coccica (previamente aquecida a 75° C. e resfriada) 1 vol. 15 minutos na estufa a 37°. 4 vols. do liquido acima são ajuntados a 3 vols. de leu- cocytos lavados. Poder phagocytario (30 polynucleares contados, ba- ctérias em media)-4.2 B. Serum não aquecido (3 vols.) -j- emulsão estaphy- lococcica (previamente aquecida a 75 % e resfriada) 1 vol. incubados em mistura durante 15 minutos a 37° C. depois o todo aquecido a 60° C. durante 10 minutos e resfriado. 4 vols. do liquido acima são ajuntados a 3 vols. de leu cocytos lavados. Poder phagocytario (15 polynucleares contados, ba- ctérias em mediaj-31,0. Em conclusão, de facto, se as opsoninas agissem sobre os leucocytos tendo sido destruidas a 60° não deveria haver phagocytose em B o que aliás se dá inteiramente pelo modo contrario, havendo excessiva phagocytose. Para mostrar ainda que o leucocytoé um factor quasi indefierente, sendo só variavel e activo o serum, como affirmou WRIGHT, fizeram BULLOCH e ATKIN expe- riências sobre os papeis relativos da opsonina e do leucocyto na phagocytose. Eis os seus resultados: 8í'ru:n Euriisão Leucocytos Por ieiKOcylo 1. De indivíduo normal + T. B. + De indivíduo normal = 5.7 T. B. <*• " + T. B. -|- De paciente de lupus = 5.4 T. B. 3. " + T. B.+ '* = 5.2 T. B. 4. " + T. B. + " = 5.3 T. B. 5. " paciente de lupus 4- T. B. + " indivíduo normalí = 2.5 T. B. C. " + T. B. + •• = 2.4 T. B. + T. B. + " = 3.2 T. B. BULLOCH e ATKIN também provaram que quando 15 se mistura serum com emulsão bacteriana esta tira rapidamente do serum a opsonina. Modo de acção e natureza das opsoninas.-A maneira exacta por que age a opsonina sobre o microbio não é sabida ao certo. Varias tentativas feitas para provar que havia ahi uma acção bactericida não vingaram. BULLOCH e ATKIN aventam que a acção da opsonina póde ser approximada da de um amboceptor ou fixador capaz de se ligar por um lado ao microbio e pelo outro ao protoplasma do leucocyto, havendo uma alteração physica do microbio. Ainda se discute se o poder opsonico do serum é devido a substancias desconhecidas antes das desco- bertas de WRIGHT e DOUGLAS ou se é simples funcção dos corpos immunisantes cornmuns do serum Pela primeira hypothese se batem WRIGHT e DOU- GLAS, BULLOCH e ATKIN, NEUFELD e TOPFER, BARRAT, KEITH, HEKTOEN e outros. SAVT- CHENKO, BESREDKA e DEAN dão as opsoninas como sendo os proprios amboceptores cornmuns do serum. LEVADITI e INNMANN consideram as opsoninas idênticas aos complementos do serum normal como resultado de suas pesquizas, que eu vou resumir. Con- sideram estes auctores que o serum aquecido a 60° ou conservado durante algum tempo perde suas proprieda- des opsonicas exactamen.te nas mesmas condições em que perde as suas qualidades cytasicas ou complemen- tares; é esta a primeira analogia. Está demonstrado por WILDE e SACHS que o serum fresco perde sua qualidade complementar quando posto em contacto com corpos bacterianos (fixação dos complementos). Repetindo a pesquiza acharam que o serum de coelho, 16 misturado com bacillos typhicos, com estaphylococcos ou com bacillos dysentericos, perde a sua propriedade opsonica não só para as bactérias da especie com que esteve em contacto, mas também para as de outra especie. Outra analogia. VON DUNGERN provou que o complemento é absorvido pela emulsão de orgams contendo cellulas ou detritos cellulares. Succede o mesmo com a opso- nina; o poder opsonico do serum fresco de coelho que era grande para o B. typhico e estaphylococco caiu repentinamente depois de tratado por uma emulsão de fígado. Fica assim verificada a fixação da opsonina nor- mal em contacto com detritos cellulares. Como a alexina do serum normal, a opsonina do mesmo serum tem uma constituição complexa (comple- mento e amboceptor normal) os mencionados auctores observaram que se pode exaggerar muitoo poder opsonico de uma diluição de serum juntando-lhe uma quantidade de serum fresco normal, aquecido a 60° e assim tornado inactivo. Para LEVADITI e INMMANN estas expe- riências demonstram que o poder opsonisante do sangue normal é devido ao complemento e ao ambo- ceptor normal, e que portanto as opsoninas normaes não poderão ser tidas como substancias a parte sem relação com as outras substancias conhecidas do serum. O serum de um coelho que tinha recebido injecção sub-ctt- tanea de serum de cobaio neutraliza não só o poder com- plementar deste serum, mas também sua propriedade opsonisante. Esta acção antiopsonica do serum de coelho preparado é em rigor especifica, como se dá com o poder anti- complementar. A neutralização da opsonina e do comple- 17 mento do serum de cobaio por meio do anticomplemento do coelho dá-se da mesma forma. O precipitado que se forma quando se põem em presença o anticomplemento do coelho e o serum de cobaio absorve não só o complemento e a opso- nina deste serum como o complemento e a opsonina do serum de coelho. O serum de coelho, que recebeu sob a pelle serum de cobaio previamente aquecido a. 6o° por 10 minutos, mostra propriedades anticomplementares e antiopsonicas ao mesmo tempo. A intoxicação phosphorica do coelho provoca uma diminuição no poder complementar (EHRLICH e MORGENROTH) ao mesmo tempo que no poder opso- nisante. (LEVADITI e KCESSLER). Confirmam por fim que a vista do exposto sobre os anticomplementos e as antiopsoninas, verifica-se a hypothese da identidade entre o complemento e a opsonina do serum normal. MUIR e MARTIN creem que a opsonisação depende de duas substancias, uma das quaes se parece muito com o complemento do serum em varias de suas pro- priedades. WRIGHT e DOUGLAS acharam que o serum normal póde ser diluido 24 vezes com uma pe quena differença comparativa do seu poder opsonico comparado com serum intacto concentrado; isto fez criar alguma semelhança entre as opsoninas e os fer- mentos chimicos. Pensam BULLOCH e ATKIN, que a opsonina é um corpo de constituição muito simples, que a acção do calor é destruil-a e não transformal-a em uma modificação não opsonisavel ou opsonoide. HEKTOEN e RUEDIGER partilham das mesmas idéas com exccpção da ultima. NEUFELD eRIMPAU acham que a substancia opsonica do serum não é destruída a M. 3- 18 60° e dizem que a opsonina é um amboccptor comple- mentado no corpo do leucocyto. A opsonina é thermo- labil, c que quer dizer que se destróe pelo aquecimento a 60° por 15 minutos. As opsoninas não são porem destruídas pela desse- cação do serum a 23°, neste serum secco ellas se con- servam activas até depois de 2 annos; é sua propriedade siccostavel. Assim seccas, como os fermentos, ellas são mais resistentes ao aquecimento, as temperaturas de 100°, 120°, 135° e 150° não alteram as opsoninas em estado secco(NOGUCHI). Os complementos também são siccostaveis e preserváveis por vários mezes. O calor secco a 135° reduz, mas não destróe o poder comple- mentar do serum secco. Tanto as opsoninas como os complementos ganham novamente sua original thermo- labilidade quando dissolvidos em quantidade própria de agua. As opsoninas cm estado secco teem reacções e resistência ás altas temperaturas que são propriedades dos fermentos. São bastante sensíveis aos menores augmentos na acidez ou alcalinidade do meio em que estão dissolvidas, agindo mais perfeitamente no meio neutro, ainda como succede com os fermentos. NOGUCHI estabelece algumas semelhanças e diffe- renças entre as opsoninas e os complementos. Asopso- ninas differem de muitos amboceptores bacteriolyticos e hemolyticos porque estes agem em meio acido. As opsoninas excedem os complementos em sensibilidade aos ácidos. As opsoninas são roais activas em meio neutro, os complementos em meio alcalino. Pela neu- tralisação dos meios ácidos as opsoninas voltam a agir, assim os complementos. O chlorureto de cálcio dimi- nue a acção complementar e não altera a opsonica, 19 desde que as suas soluções não sejam de titulo supe- rior a i/io N. As opsoninas são de natureza colloidal, assim resalta das experiencias de YORKE. De facto, filtrando serum normal em uma vela de Chamberland, sob muito alta pressão, elle observou que as opsoninas passaram facilmente nos primeiros minutos, porem depois so- mente traços delias atravessavam as paredes do filtro, accumulando-se nos póros as proteides do serum. O residuo do filtro era composto de serum inalterado e de uma matéria gelatinosa adherida ás paredes da vela e de enorme poder opsonico. Parece pois que ellas não atravessam os filtros, pois que seus póros estão obstruídos pelas substancias proteicas ou pela gelatina. Não sendo dialysaveis como mostraram TAMAR e B1SPHAM, com a confirmação de YORKE, e podendo ser precipitadas pela euglobulina quando o serum está meio saturado de sulfato de ammoniaco, tem qualquer possibilidade a hypothese de consideral-as da natureza das proteides. Só depois de seu isolamento em estado de pureza é que se poderá definir a natureza exacta destas substancias. Relação dasopsoninas com a lencocytose. -A leucocy tose coincide muito frequentemente com as infecções, o que faz pensarem alguma relação entre sua quantidade e qualidade e as opsoninas do serum. BULDOCII e LEDINGIIAM experimentaram muito neste particular e não conseguiram demonstrar relação constante entre estes factos. Com o uso de certas substancias como cinnamato de sodio e tallianina, que produzem grande leucocytose, não se nota nenhum augraento na quan- tidade de opsonina. Usando a nucleina de levadura, 20 encontraram estes auctores em poucas horas, um forte augmento opsonico, sem frequente associação de leu- cocytose. HUGGARD e MORLAND mostraram tam- bém que no homem o uso interno de levadura (Press- hefe, brewer's yeast, Levurosine, ferment de raisin) produz uma elevação opsonica; obsetvaram ao mesmo tempo uma leucocytose muito pronunciada dentro de meia hora depois da administração da levadura. Genese e fim das opsoninas.-Não está ainda liquidada a questão do logar de formação das opsoninas. Parece que a opsonina ou preopsonina não se forma no sangue; não ha relação definida entre a quantidade de opsonina e a leucocytose, nem esta quantidade é alterada pelas moléstias dos orgams hematopoieticos. AELEN mos- trou em animaes e no homem que, se os membros são lavados por via vascular com solução normal salina para tirar todo o sangue, e os musculos são cortados e picados, extrahindo-se seu plasma, o indice desse plasma é maior do que o do serum do sangue para com vários organismos, a despeito de sua diluição pela so- lução salina da lavagem. Em o plasma muscular de uma perna amputada, o indice foi de 1.4 em compara- ção com o serum do doente, para o B. de Friedlander, B. Tuberculose e S. Aurcus. Suspeita se d'ahi que a opsonina é um producto da actividade sub-cutanea ou muscular, passando depois para o sangue. O fim que teem as opsoninas no organismo não é abso- lutamente conhecido. Quer parecer que se eliminam pelas secreções e excreções, pois teem sido encontradas em varias delias. Succede que todos os cxsudatos conteem-nas em tal ou qual proporção. WRIGHT e REID mo Araram que o liquido ascitico da peritonite 21 tuberculosa pode conter pouca ou nenhuma tuberculo- opsoniua. OPIE observou que um exsudato inflammatorio produzido por um microrganismo pode conter muito pouca ou nenhuma opsonina para este ou outros mi- crorganismos. O leite contem opsoninas, um quarto ou um quinto da quantidade encontrada no serum san- guíneo; a creança nasce sem opsoninas no sangue, sendo que as adquire talvez pelo uso do leite materno que as deixará passar pelo intestino para o sangue, o que não se assentou ainda. Teem sido encontradas na urina e no suor. LAWSON mostrou sua presença em quantidade apreciável nestes dois líquidos, sendo observada maior porção na urina. Viu que as opsoninas augmentam na urina no curso de uma phase negativa promovida por inoculação de vaccina bacteriana. DUDGEON experimentou o valor opscnico da urina em relação ao B coli, em casos de infecção da bexiga por este microrganismo e na urina normal. Conclue de seu trabalho, que não ha certeza de haver na urina normal ou pathologica substancia alguma capaz de augmentar ou impedir a pliagocytose, a não ser em casos muito excepcionaes em que se obtera uma pha- gocytose muito parcamente augmentada na urina pathologica, em relação á normal ou á solução salina, que raramente se dá a pliagocytose com urina prove- niente de doentes das vias urinarias por cujo estado é responsável o B. coli, que ha deficiência de substancias opsonicas e não que ellas sejam roubadas pelos bacillos por desopsonização da urina. JAMES MILLER mos- trou, com experiencias feitas com suor e com urina aquecida e não aquecida de indivíduos normaes e tuberculosos, que estas secreções conteem opsoninas 22 em proporção recognoscivel, ás vezes mesmo surpre- hendentemente grande como encontrou em varias amestras de suor, os indices obtidos variando de 0.8 a 1.3 comparando com indices opsonicos de serum do sangue de pessoas normaes. Parece aMILLER que estas opsoninas, tornadas desnecessárias ao organismo, são eliminadas como corpos extranhos, por estas secreções. Relação da infecção com as opsoninas. - Se a infecção se dá porque a quantidade de opsoninas diminuio, ou se pelo facto da infecção se estabelecer foi que diminuíram as opsoninas do sangue, não ficou ainda provado, foi ainda impossível assentar; o que não padece contes- tação porém é que o abaixamento do indice opsonico e a infecção marcham a passo egual. Em um caso de infecção pelo bacillo de Frie- dlander, cuja vaccina tinha sido injectada algum tempo antes o indice era 2.6. Doze horas depois um accesso agudo esboçou-se por espirros c calafrios, logo foi tomado o indice que tinha cahido a 2.0. O facto de ser a queda do conteúdo opsonico do sangue anterior á infecção e não seu resultado acha muita probabilidade de demonstração nas experiências de especificidade das opsoninas e não especificidade de antiopsoninas, e nas seguintes ponderações de ALLEN: Ha pessoas que não soffrendo de acne, teem porém erupções pus- tulosas quando constipadas. E' normal geralmente a resistência destes indivíduos á infecção, seu indice opsonico estaphylococcico normal, mas pela absorpção de toxinas (antiopsoninas) intestinaes póde se considerar que elle se abaixa, permittindo então que a infecção se faça. Se elle per- manece baixo a acne ficará chronica, se porem ergue-se 23 ao normal ou excede o normal, em pouco se dará a cura espontanca. De outro lado a victoria contra uma infecção é seguida pela elevação do indice. Como exemplo, um velho paciente atacado de ca- tarrho chronico, 110 qual se tinha injectado vaccina de B. de Friedlander um mez antes, tinha o indice 1.5; appareceram todos os symptomas de uma infecção aguda, que o doente notou que tinha jugulado em principio, e o indice em 24 horas subiu a 5.8 ficando bom o paciente. As vaccinas quando inoculadas em indivíduos sãos produzem alterações muito pequenas no conteúdo opsonico do sangue, como já está verificado. A queda do indice opsonico é muito limitada era tempo e tamanho, a elevação subsequente do indice também é assim reduzida, especialraente nos casos de infecção pelo bacillo da tuberculose. Estes resultados porem falham com outros microrganismos. Fez-se em um homem são uma inoculação de 250,000,000 de B. Septus mortos, e colheram-se amostras de sangue antes da injecção e depois de 3, 6, 12, 18, 24, 36, 48, 72 e 96 horas em que se pesquizararn os indices opsonicos. São esses resultados que AIAbEN dá em forma de taboa: Serum 1 antes injecção 882 baeillos em 200 leucoeyios. Indice=1.00 " 2 depois 3hs- 544 " " " " " 0.62 " 3 " 6 " 885 " " " " " 1.00 " 4 " 12" 804 " " " " " 0.91 " 5 " 18" 949 " " " " " 1.08 " 6 " 24 " 1,096 " " " " " 1.25 " 7 " 36 " 1,000 " " " " " 1.15 " 8 " 48 " 1,011 " " " " " 1.20 " 9 " 72 " 1,220 " " " " " 1.38 " 10 " 96 " 1,248 " " " " " 1.39 24 Fez-se a mesma experiençia em um segundo indi- víduo normal com a injecçãu de 350,000,000 de Micrococcus catai rhalis com estes resultados: Serum 1 antes injecção 942 cocei cm 200 globulos. lndice=1.00 " 2 depois 3 hs> 722 " " " '' " 0.77 "3 "6 " 580 " " " " " 0.C2 "4 '' 9 " 825 " " " " " ■ 0.88 " 5 " 15 " 1,125 " " " " " 1.20 " 6 " 22 " 1,080 " " " " " 1.15 " 7 " 28 " 1 131 " " '' '' 1 20 Em as duas experiencias notam-se distinctos abaixa- mentos no indice em consequência da inoculação, que persistem porem mais do que nos casos de indivíduos infectados, em que a elevação posterior do índice é muito grande como esclarece a experiençia seguinte: Seru.n 1 antes da injecção. Indice= 1.00 " 2 depois 4 horas " 0.64 " 3 " 8 " " 1.57 " 4 " 12 " " 2.00 " 5 " 15 " " 2.23 " 6 " 18 " " 2-32 (ALLEN). Mostrada assim ligeiramente a differença de acção das vaccinas conforme o organismo inoculado é são ou infectado, neste ultimo caso sendo as alterações da dose ou titulo opsonico do sangue de muito interesse sob todos os seus pontos de vista deixamol-as a estudar em outros capítulos. Pluralidade e especificidade das opsoninas. - BUL- LOCH e WESTERN com experiencias curiosas, de que eu darei rapida descripção, provavam que o serum 25 do sangue continha grande numero de opsoninas, cada qual especifica para um certo microrganismo determi- nado. Ensaiando um serum cm relação ao B. Tubercu- losis e Staphylococcus albus fizeram elles como se segue a experiencia: Misturaram o serum com um ou outro destes microrganismos, depois de incubar por 15 minutos a 37°, centrifugaram a mistura até que todos os microrganismos tivessem ido para o fundo, tomaram então o indice opsonico do liquide tanto para o B. Tuberculose como para o Estaphylococco, achando como resultado que o liquido estava privado de sua opsonina para o microbio com que tinha sido tratado previamente, emquanto conservava a opsonina para o outro microrganismo. Outra experiencia foi assim; ensaiaram repetidamente seruns humanos em relação ao Bacillo da tuberculose e Estaphylococco, inocularam doses de tuberculina e notaram que o indice se elevava somente para o B. tuberculose, não variando para o Estaphylococco e vice*versa. Pleteia também, por esta hypothese, a variação para mais ou para menos que soffre o indice opsonico dos indivíduos iufeccionados quando o ensaio opsonico é feito com o microrga- nismo infectante, emquanto fica invariável e normal para as outras bactérias. Estudos posteriores de YORKE c SMITH veem provar que houve nas experiencias dos auctores B. W. refe- ridas defliciencia na quantidade de microrganismos incubados com o serum, porque experimentando com serum a (pie elles misturaram grande numero de ba- cillos de uma especie determinada e incubaram por espaço de tempo variavel (15,30 e 60 minutos), tal como M. 4 26 fizeram BULLOCII e WESTERN, concluíram que cra impossível retirar de um serum normal uma opsonina, pela mistura c incubação com uma bactéria dada, deixando no serum as opsoninas correspondentes aos outros microbios A duas partes de serum normal A e B misturaram em porções eguaes uma emulsão forte de Bacillus antracis, previamente mortos a 100° por 30 minutos, incubaram A por 15 minutos a 37° e B por 60 minutos, centrifugaram até que se precipitassem todos os bacillos, depois pesquizaram o indice opsonico do liquido com o B. antracis e Staphylococcus, tendo diluido em proporção egual o serum padrão com solução salina a 0,9 % agindo em condições similhantes de emulsão e tempo, com o resultado seguinte: Numero de bactérias pliagocjtadas por 50 lencocytos índice A - I. B. Antracis: Serum padrão.. 40 1.00 Serum. tratado . 8 0.20 II. Staphylococcus: Serum padrão.. 341 1.00 Serum tratado.. 87 0.25 B - I. B. Antracis. Serum padrão.. 48 1-00 Serum tratado.. 2 0.04 II. Staphylococcus: Serum padrão.. 395 1.00 Serum tratado.. 70 0.17 Como esta fizeram outras experiências com egual resultado. D'ahi se infere que a incubação de um numero grande de bactérias de uma especie coin um serum não só diminue as opsoninas para este microrganismo dado como também as opsoninas para os outros microbios; a queda do indice é geral. E' cotnmoda e acceitavel a theoria, que aventa a possibilidade de existir no 27 serum normal um só corpo chamado «preopsonina», que por estimulação adequada promovida por alguma bactéria dará nascimento a uma opsonina privativa de um microbio, especifica. De facto serve para explicar alguns plienomenos, assim quando se ajunta a um serum uma maior quantidade de bactérias de uma especie, ha grande consumo de opsonina especifica a que tem de dar nascimento a «preopsonina» anteriormente existente, esta portanto se reduz muito em quantidade, e d'ahi vem a fo~mação pequena de outras opsoninas especificas quando ao mesmo serum se misturam outras bactérias e se incubam, explica-se assim a queda geral dos indices opsonicos pesquizados. Explica-se a elevação especifica dos indices depois de injecções vaccinaes, considerando que cellulas opsonopoteticas (assim chamo-as eu) ou opsonoformadoras sejam provo'- cadas a formar opsoninas especificas, em vez ou além, da preopsonina geral que estas cellulas lançam normal- mente no serum. Veem dar algum valor mais a esta theoria os resultados obtidos com os seruns antítoxicos e anti-bacterianos; um indivíduo normal injectado com serum antitetanico tem em primeiro logar uma elevação no indice tetano-opsonico, depois ha uma queda geral dos indices dos differentes microbios, o estaphylo- cocico, tuberculoso e tetânico cahiram abaixo da normal (YORKE e SMITH). Uma depressão geral similhante se dá quando se administram os seruns antistreptococcico e anti-diphtcrico, como se vê das pesquizas de R. BRADSHAW sobre o indice tuberculo-opsonico depois de inoculações des erum anti-diphterico. Alguns obser- vadores discordam dos resultados de BRADSHAW, dizendo que ha uma subsequente elevaçao opsonica bem 28 pronunciada, até porque algumas melhoras teem sido notadas em pacientes tuberculosos nos quaes se injectou serum antidiphterico. HEKTOEN e RUEDIGER confirmam, com suas experiencias, que as ínjecções destes seruns promovem a formação de antiopsoninas especificas; verificaram também que varias substancias, chloruretos de bario e de cálcio, bicarbonato de sodio, álcool e acido láctico são antiopsoninas não especificas. O facto de produ- zirem, estas antiopsoninas especificas e não especificas, uma queda geral no poder opsouico do sangue, apoia a hypothese de que o serum normal tem uma prc- opsonina de que derivam as varias opsoninas que não são nelle provavelmente em grande numero, distinctas e preformadas já. No serum do sangue de indivíduos iufeccionados parece que as opsoninas especificas existem de facto, a maior therrnostabilidade que possuem as opsoninas dos seruns imtnunes (imtnune sera) em relação ás do serum normal vem mesmo fortalecer esta concepção. WRIGHT expende a identidade das opsoninas dos seruns normaes e immunes; não está porem absoluta- mente liquidado este ponto importante. Distribuição das opsoninas no organismo infectado. -Os trabalhos de WRIGHT sobre a tuberculose, sobre as substancias tuberculotropicas, provam que as opso- ninas acham-ae diminuídas ao uivei das lesões tuber- culosas, emquanto são em maior quantidade na circulação geral, Elle pesquizou os iudices do sangue tirado do dedo dos pacientes e da lympha dos fócos de infecção. Influencia da diluição do serum sobre seu poder opso- 29 nisante.-As recentes contribuições de DEAN e SI- MON, LAMAR, BISPHAM, chamaram a attenção para a importância da diluição do serum sobre o seu poder opsonisante. Uns acharam resultados differentes dos outros. Transcrevo somente as conclusões do bom trabalho de W. E- MARSHALL (Lister Institute) sobre o assumpto. A diluição do serum fresco não aquecido do boi e do coelho causa uma diminuição gradual no seu poder opsonico. Os pontos correspondentes a 4/s, !/4, 1/16 e U32 das diluições destes seruns normaes ficam em uma curva logarithmica que mostra que a phagocytose é uma funcção linear do logarithmo da concentração. A diluição do serum de um animal iinmunizado contra o S. p. aureus não é acompanhada por uma queda notável no poder opsonisante, mesmo na 32* diluição do serum. CAPITULO III OPSONOMETRIA. - O índice opsonico, sua determinação. Avaliação do poder opso- nico do sangue por outros meios O £ÇARA conhecer-se a quantidade de opsonmas contidas em uni sangue, usa-se conimumente do processo de WRIGHT da pesquisa do indice opsonico. Ha porem outros meios posteriormente propostos que apontarei no fim do capitulo, sendo o methodo de WRIGHT o mais importante e diíficil. Entendi dar á avaliação do poder opsonico o nome de opsonometria. O indice opsonico é o resultado obtido pela divisão do mumero de bactérias apanhadas por Jeucocyto em presença de um serum dado, pelo numero apanhado por Jeucocyto na presença do serum de um indivíduo normal, sendo este ultimo considerado como unidade* (W. BULLOCH). Ex: Coccos por leucocyto na presença de um serum dado = 16 Coccos por leucocyto na presença de um serum normal = 20 fazendo a proporção; 20; 16;; 1: x ='- AL= 0.8 (Indice opsonico) O indice opsonico c. a resultante da divisão do coefficiente phagocytario de um indivíduo dado pelo de um indivíduo normal. 32 O coefficiciite phagocytario é a media das bactérias englobadas por leucocyto contado, obtida por numera- ção de grande quantidade de phagocytos. Resulta o coefficienic da divisão do numero total de bac- térias pliagocytadas pelo de leucocytos contados. Assim Bacillos phagocytados - 400 Phagocytos - 20 20: 400:: 1: x - 20 (coefficiente phagocytario) AllEN define de uma fôrma eschematica e interessante o indice opsonico: Op sonic content of unit volume of the patienP s blood ser um A normal person' s Obtem-se a determinação do indice opsonico pela mistura de: a) um liquido contendo leucocytos vivos; b) uma emulsão perfeita de bactérias; c) serum a en- saiar, mistura que se faz permanecer na estufa e depois contam-se bactérias e leucocytos em preparação adequa- damente feita. A pesquiza é feita comparativamente com um serum padrão tirado de um indivíduo são. E' um processo relativo, em que os resultados referem-se a um indivíduo normal, porque não seria possível em varias pesquizas com differeutes emulsões obter resul- tados comparativos; feito como elle o é, o ensaio pôde ser verificado pelos resultados obtidos com o serum de um indivíduo normal nas mesmas condições de emulsão bacteriana o creme leucocytorio. O Indice normal é arbitrariamente considerado igual a 1.0. / Technica.-O processo não é facil, requer do inves- tigador muita paciência e bastante habito. Não havendo porem para elle necessidade de apparelhos especiaes pode ser tentado por qualquer. O material seguinte é preciso: 33 1. Quantidade sufficiente do serum sanguíneo do paciente. 2. Serum da pessoa sã tomado como padrão, ou mis- tura do de varias pessoas (pool). 3. Uma emulsão de bactérias da especie em relação á qual o indice opsonico do paciente tem de ser deter- minado. 4. Uma emulsão de leucocytos vivos e lavados. 5. Tubos de vidro de 3/16 pollegada (4 í/a millimetros) e 5/16 pollegada (8 millimetros) de diâmetro externo- os maís finos para a colheita de sangue, os mais cali- brosos para as determinações opsonicas. Com os pri- meiros preparam-se pipetas das differentes formas usadas em bacteriologia, que podem servir para a colheita do sangue para obter o serum. Melhor será, porem, usar para este fim dos tubos de WRIGHT, em forma de J. (WRIGHT'S blood capsules), que se podem fazer no laboratorio com algum costume, ou obter dos fornecedores de materiaes de laboratorios bacterioló- gicos por baixo preço. Um tubo de WRIGHT é o que mostra a fig. 2, melhor do que qualquer descri- pção. Seu modo de usar será descripto quando eu tratar do meio de obtenção do serum. Com os tubos de maior diâmetro fazem-se as pipetas de WRIGHT, do se- guinte modo: cortam-se pedaços de tubo de cerca de 4 pollegadas (10 centímetros) de comprimento, mantem-se um desses pedaços pelas duas pontas, a porção central sendo amollecida em um bico de BUNSENou chamma de maçarico, sendo CT 0 í*4 34 movido sobre seu eixo todo o tempo., quando perfeita- mente molle o tubo é tirado da chatnma e as extremi- dades puxadas com força e continuamente até que a porção amollecida tenha-se transformado em um tubo fino, da espessura de uma agulha de aço de costura ou pouco menos e do comprimento de um pé (0,35 centí- metros) ou mais, assim se obterão 2 pipetas e para scpara!-as põe-se a parte central em uma chamwa pequena como de um phosphoro de cera e quando o vidro estiver molle puxam se as duas pontas. A pipeta de WRIGHT completa é como representa a Fig 3. Fig. 3 6. Peras pequenas de borracha, (bicos de mamtna- deira, cautchús de conta-gottas,) lima, lapis dermogra- phico. 7. Centrifugador com pertences. 8. Laminas de vidro desengorduradas. 9. Vidros de relogio, haste de platina. 10. Soluções estereis etn agua distillada, sem lios, poeiras e pêlos, obtidas por centrifugação: 1. 1.5 a 2% de citrato de sodio neutro 2. 0.8% de chlorureto de sodio 3. 0.1 % de chlorureto de sodio (ALLEN). Differentes teem sido as modificações feitas nos títulos das soluções. VON EBERTS propõe para as emulsões bacterianas communs solução salina a 0.85 %, para o B. Tuberculose a 1.5%. WHITFIELD manda usar para a emulsão bacteriana solução salina a 1.2%, e para a preparação dos leucocytos solução citratada a 0.5%. 35 11. Estufa ou opsonisador mantido a 37° C. 12. Álcool methylico para fixar, alcool-ether, formob álcool, álcool absoluto, solução' saturada de bichloru- reto de mercúrio ou outro fixador. 13. Soluções corantes apropriadas - LEISIíMAN, thiouina pheuicada, corante de JENNER, ZIEHL, azul, hematoxylina etc. 14. Vasos para fixar e corar. 15 Microscopio com lente objectiva 1/12 immersão hornogenea, oleo, platina movei, etc. 1 - Colheita do sangue para obter o serum.-Faz-se uma picada com uma agulha ou lanceta n'um dedo do paciente ou melhor no lobo da orelha, depois de uma simples lavagem com sabão, sem o uso de anti- septicos, porque o menor traço delles poderia alterar o resultado; de um golpe, decisiva será a picada. Tratando do dede, applica-se-lhe uma fita de cautchú na base ou euvolve-se-o por uma atadura a começar da base para congestional-o, faz-se a picada na base da unha. Faz-se sair uma gotta de sangue que se des- preza, recolhendo as seguintes pondo-as em contacto com a extremidade do lado curvo do tubo de WRIGHT por onde ellas correm ligeiras por effeito da capillari- dade até que se tenha a quantidade de sangue neces- sária, metade do tubo em geral. Leva-se então a ponta do ramo recto á chamma de uma lampada d'alcool ou de um phosphoro para fechal-a. O ar que está preso do lado fechado, contrahindo-se pelo resfriamento, faz subir o sangue para o corpo do tubo, que pode ser invertido, tendo o cuidado de não fazer isto sem que o tubo resfrie, porque o serum perde de suas propriedades opsonicas quando aquecido. Se não se for intentar o 36 processo immediatamente deve-se fechar também a outra extremidade do tubo á lampada para prevenir a evaporação. Quando coagulado o sangue, com uma lima corta-se a ponta do tubo e remove se com uma pipeta o serum para usar; se maior quantidade de serum é precisa põe-se o tubo a centrifugar pendurado pela sua curvadura em gancho. Com as outras pipetas, o sangue se colhe da maneira commum e classica em bacteriologia, tendo em vista sempre que a 60° as opsoninas são destruídas. Pela mesma maneira o sangue é tirado do indivíduo normal, approximadamente ao mesmo tempo e tido nas mesmas condições, pois as opsoninas tornam- se inertes gradualmente. Usa se também por vezes uma mistura de serum de diversas pessoas sãs, ao que chamam os inglezes «pool». Ha para A. WHITFIEED uma elevação no poder opsonico de um serum pouco depois de tirado e poste- liorrnente queda. VON EBERTS aconselha fazer a pesquiza dentro de 6 horas, depois de 24 horas ha uma queda de cerca de 50 %. KNORR dá como por elie verificado que «o serum perde metade de seu poder opsonico em 24 horas; não ha praticamente depois desta perda alguma nas 24 horas seguintes. O valor cae então rapidamente, porem comtudo não desappa- rece totalmente até depois de 5 dias.» 2-Preparação da emulsão de bactérias.-A emulsão tem de ser preparada na occasião de usar e com culturas novas, com excepção da do B. Tuberculose. Os microrganismos novos em edade coram-se melhor e mais uniformemente do que os velhos, deve-se por- tanto servir de uma cultura tão recente quanto possível, mesmo porque ha rnicrobios que começam a involuir 37 muito rapidamente, como o B. de Morax-Axenfeld antes de 18 horas. WR1GHT aconselha usar emulsões feitas com culturas das bactérias não somente da espe- cie microbiana que produziu a moléstia no caso que se examina, mas ainda emulsões feitas com culturas obtidas das próprias lesões do paciente. Culturas de 12 a 16 horas devem assim ser usadas, feitas em meio apropriado como gelose para Staphylo- coccus, Streptococcus, B. coli, etc., gelose-sangue para Gonococcus, etc. WRIGHT, para o ccli-bacillo e os coccos que não tomam o Gram, manda usar de culturas de 4 a 10 horas, as mais novas que se puderem obter. Se o desenvolvimento da cultura é muito grande tira se uma porção com a agulha de platina e emulsiona-se cora cuidado em um vidro de relogio com uma pequena quantidade de solução salina a 0. 1 %; se porem as colonias microbianas são pequenas põem-se algumas gottas da solução no tubo de cultura e emulsiona-se. A emulsão assim feita contem muitos agglomerados (clumps) de que se a livra pelo repouso demorado (WIIITFIELD). ou por centrifugação, 1 ou 2 minutos de centrifugação podem bastar mas, é muito util fazer esta operação por mais tempo, porque o apparecimento destas massas bactcrianas nos frottis inutilizam toda a serie de trabalhos feitos para obter um índice, que será para repetir-se. A experiencia ensinará muito sobre a diluição das emulsões. A opacidade de certas emulsões deve ser maior, como do gonococco, do que do estaphylococco eu bacillo de Friedlander, para dar a mesma couta normalmente; uma concentração que der uma contagem de cerca de 150 a 250 bactérias em 100 globulos de sangue normal poderá satisfazer. As 38 emulsões muito fortes dão em resultado um numero incontável de germens phagocytados; as emulsões deverão ser de aspecto fracamente opalescente. No caso do B. da Tuberculose emprega-se uma emulsão de bacillos mortos em solução normal salina. Para preparal-a toma-se uma cultura em caldo glycerinado, incuba-se por dous mezes, ferve-se para matar os ba- cillos, filtra-se em papel commum de filtrar, lava-se com solução normal salina que se faz cahir no filtro, deixa-se a massa bacillar seccar quanto possível, depois põe-se em um tubo esteril que se mergulha em agua a ferver por 1/2 hora; a massa bacillar amarellada assim obtida conserva-se indefinidamente e servirá para muitas pesquizas. Toma-se uma pequena porção desta massa, tritura se-a em um gral de vidro ou agatha pequeno, juntando-se solução normal salina ás gottas até cerca de 2 c. c. continuando a triturar; obtem-se assim uma emulsão de bacillos isolados e agglomerados que se fazem precipitar pela centrifu- gação durante 3 ou 4 minutos. Esta emulsão póde ser conservada em tubos fechados á lampada, para ser servida quando se necessita, bastando para isto sac- cudir o tubo e depois centrifugar por alguns minutos para evitar as massas microbianas. E' preciso aquecer a emulsão a 100° para evitar a tendencia a agglutinar (WHITFIEED). 3-Preparação dos leucocytos lavados.-O sangue para esse fim não deve ser retirado de um indivíduo que soffra do systcma lymphatico. Deve ser retirado asepticamcnte para evitar a contaminação por germens que se dcsenvolviriam rapidamente prejudicando a contagem final. Póde ser retirado do proprio paciente 39 na occasião mesma cm que se o recolhe para obter o serutn; ou então tira-se de qualquer pessoa sã do laboratorio. Faz-sc a colheita em pipetas commuus a que se adapta um cautchú de contagottas com o qual se colhe um pouco da solução citratada para prevenir a coagulação, e depois uma porção de sangue, que se põe em um tubo contendo maior quantidade da solução, em proporção de 1 para 5 de porem se prepara a emulsão leucocytaria pondo em um tubo de centrifugador 10 c. c. da solução citratada, que se leva á estufa a 37°, deixa-se cahir então dentro do tubo o sangue directamente do dedo ou da orelha até que um centímetro cubico ou mais tenha sido recolhido, põe-se o tubo no centrifugador, muito exactamente contra- balançado, centrifuga-se até que todos os corpúsculos tenham ido para o fundo e o liquido fique inteiramente claro. Uma velocidade grande, 10,000 revoluções por minuto, será para desejar, pois assim os globulos vão rapidamente para o fundo, escapando portanto á deterioração. Note-se que os globulos brancos são mais leves do que os vermelhos e que ficam na superfície do centrifugado em uma camada embranquiçada, até cujo apparecimento deve-se continuar a centrifugação para maior facilidade na contagem dos leucocytos, que assim ficam em maior numero. O liquido limpido que fica acima do centrifugado é então retirado tanto quanto possivel por meio de uma pipeta munida de cautchú, sem comtudo revolver a camada de globulos brancos. Põe se depois no tubo uma porção de solução normal salina que se mistura bem com os globulos, centrifuga-se de novo. Póde-se concentrar o creme leucocytario removendo a camada superior para outro 40 tubo, centrifugando de novo o primeiro tubo e reti- rando lhe a camada superior para o segundo tubo. A lavagem pela solução normal salina é repetida 1 ou 2 vezes, é vantajosa esta lavagem pela solução normal salina porem não é imminentemente necessária. A camada superior de leucocytos e o quarto superior da columna de globulos vermelhos que também contem leucocytos é retirada para um tubo pequeno, misturada até homogeneidade perfeita, por aspiração em uma pipeta; a maior porção que se puder retirar da solução salina deve ser regeitada; o tubo será coberto, até o momento de usar, por um tampão de algodão esteri- lizado para evitar a penetração das bactérias do ar. A presença dos globulos vermelhos de mistura no creme é muito vantajosa. Em todos os tempos da preparação dos globulos lavados é para evitar-se a centrifugação prolongada, até producção de uma bem definida «buffy coat», porque assim o creme fica de superfície enrugada, os leucocytos ficam compactos e retorcidos, perdendo muitos a funcção (VON EBERTS). O creme será preparado pouco antes de usar porque depois de 4 horas grande numero de polynucleares deixa de func cionar; também para maior garantia deve se deixar um pouco da solução salina até antes de servir se. -Tomam-se tantas pipetas capillares, quan- tos forem os seruns a examinar, estas pipetas devem ser escolhidas de calibre egual quanto possível. Será de previdência esterilizal-as .a secco com a pouta sellada á lampada e com um pouco de algodão na outra extre midade. Corta-se a ponta capillar de cada uma com uma fina lima; com um lapis gorduroso ou com penna e 41 tinta faz-se nina marca transversal a 1 centímetro da extremidade (ALLEN) ou 1 pollegada (2 1/2 cent.) (EMERY). O volume de liquido contido no tubo entre a ponta e a marca é considerado como a unidade. Applica-se na outra extremidade da pipeta um cautchú de conta-gottas, e cada pipeta é numerada correspon- dentemente a cada serum. Pondo-se deante o serum, o creme leucocytario e a emulsão bacteriana, toma-se a pipeta pelo cautchú entre os dedos pollegar e indicador da mão direita, comprimido o cautchú, faz-se immcr- gir a ponta da pipeta no creme leucocytario bem mis- turado e homogeneo, diminuindo-se ligeiramente a pressão da borracha deixa-se subir na pipeta uma unidade de liquido, isto é até a marca exactamente, retira-se a ponta do liquido, deixa-se entrar uma pequena columna de ar por diminuição de pressão no cautchú, o que é facil se a ponta é boa, senão é difficil, quasi impossível porque o liquido oscillará violenta- mente ou deixará de subir. Aspiram-se assim mais um ou dous volumes de creme, cada um separado por uma columna de ar do seguinte, depois colhe-se da mesma maneira um volume de emulsão microbiana e iinalmente dous volumes do serum. Tem-se então na pipeta, contando do cautchú para a ponta, 1 volume de creme leucocytario, uma bolha de ar, um segundo volume de creme, uma columna de ar, terceiro volume de creme, columna de ar, 1 volume de emulsão, columna de ar, 1 volume de serum, ar, segundo volume de serum. (Fig. 4). Fig. 4 42 K' este o modo mais conimumente usado, porem si se desconfia que a emulsão é ihuito fraca, faz-se então uso de 2 vols. de creme, 1 vol. de emulsão e 1 vol. de serum, ou então como originariamente 1, 1, 1, volume de cada (WRIGHT). A ordem-leucocytos, bactérias, serum-será sempre observada, porque assim se evita não só que se dê a mistura de bactérias com o creme leucocytario, como também a iutroducção na emulsão das opsoninas do serum. Por augniento na pressão exercida sobre o cautchú faz-se sahir todo o contendo da pipeta para a super- fície de uma lamina muito limpa, mistura-se bem o contendo, puxando-o e regeitando-o varias vezes seguidas por meio de manobras adequadas do cautchú, o que é indispensável a uma boa avaliação. Aspira-se então todo o liquido na pipeta, deixando uma columna de ar entre o liquido e a ponta do instrumento, fecha-se á lampada a extremidade. (Fig. 5). Fig. 5 Repete-se esta operação com todos os seruns; as varias pipetas são cuidadosamente etiquetadas, e postas em uma estufa (opsonisador) a 37° durante 15 minutos. O serum padrão deve ser manejado da mesma maneira exactamente que o do paciente, com as mesmas emul- sões bacteriana e leucocytaria. Quando não está á mão uma estufa apropriada pódc-se servir de um vaso com agua aquecida, com pouca variação durante o tempo necessário. Quando se tem esgottado o tempo de incubação, 43 corta-se a ponta de cada pipeta com a lima, o conteúdo é bem misturado do modo por que eu disse acima, c procede-se então ao arranjo das preparações. Metade do conteúdo da pipeta é posto em uma lamina e metade em outra, procede-se ao espalhamento, que póde ser feito de qualquer dos modos usados em hematologia, parece que é o mais expedito puxar um bordo polido de uma lamina segurada cm angulo agudo sobre a superfície da outra em que a gotta da mistura foi collocada. A espessura das preparações depende não só da pressão empregada no espalhamento como da inclinação da lamina movei, as posições mais verticaes da lamina movei dão as preparações mais finas, e os ângulos mais agudos as preparações mais espessas. Para uma bôa preparação deve-se exigir que os leucocytos não se toquem, que estejam separados uns dos outros, os protoplasmas dos leucocytos ficam assim maiores e se destinguem melhor os microbios depois da coloração. As preparações com o B. Tuberculose podem ser feitas um pouco menos finas que as demais devido ao meio de coloração que torna os microbios mais visíveis. Obteem-se os melhores espalhamentos empregando bastante firmeza e sustentando a lamina que espalha a 60° sobre a outra. Os leucocytos, devido a sua maior viscosidade, tendem não só a accumular-se na extre- midade como nas margens da preparação; para apro- veitar esta propriedade, que perturba o espalhamento commúmente, propõe ALLEN usar de uma das me- tades de uma lamina cortada ao meio longitudinalmente por um diamante, fazendo cair uma gotta pequena do liquido em uma lamina, espalha-se com uma das 44 metades cortadas, a que se dá movimentos interrom- pidos em vez de contínuos, obtendo-se assim uma preparação com as margens perto das da lamina e com partes mais finas e correspondentes ás interrupções do movimento, onde se encontram em grande porção os leucocytos. Observando com attenção o processo, obtem-se preparações fáceis de contar. Depois de seccas as preparações são fixadas, guardando-se uma para caso de accidente, são depois coradas. Fixam-se pelos differentes meios usados para o sangue, álcool methy- lico por 15 minutos, pelo licor de HOFFMANN ou NIKIFOROFF (alcool-ether p. e), formol álcool, álcool absoluto, bichlorureto de mercúrio, etc. No caso do bacillo da tuberculose é preciso fixar, lavar, corar pelo methodo de ZIEHL-NEELSEN, podendo corar-se os núcleos pela lietnatoxylina (DELAFIELD ou outra) como peio azul de methyleno ou toluidina. E' neces- sário obter protoplasmas bem claros e definidos, para isso usa-se um corante electivo. Comas demais bactérias, estaphylococcus, pueumococcus, etc., basta usar sem previa fixação o corante deJENNER ou deLEISHMAN; ou fixar por qualquer dos meios e corar pela thio- nina phenicada ou pelo corante de WRIGHT ou G1EMSA. Examinam-se as preparações com «uma objectiva de immersão homogenea, com platina mecha- nica, coutam-se as bactérias contidas nos leucocytos polynucleares até 100 por grupos de 5, sendo que a avaliação uão é perfeita si o numero de bactérias de um grupo não se approxima do dos outros. Commutn- mente faz-se a contagem somente de 50 globulos, porém si se quer ter confiança na pesquiza deve-se contar nunca menos de 100 phagocytos. O apparecimento 45 de massas bacterianas, agglomerados (clumps), em uma preparação inutiliza-a completamente impedindo levar em boa conta o resultado da prova que se deve repetir; ás vezes também apparecem ag-glomerados leucocytarios que aniquilam o valor da experiencia; essas irregularidades dão-se porém raramente, quando ha manifesta falta de cuidado na preparação das emul- sões e cremes. O índice acha-se dividindo o numero de bactérias encontradas em 100 leúcocytos do paciente pelo numero das encontradas em 100 do normal, que se considera como a unidade. Seja o primeiro numero encontrado 75 o segundo 150, temos que o índice será 75-4-150-0.5. Tentou-se ultimamente usar nos ensaios tuberculo-opsonicos emulsões de bacillos da tuberculose corados previamente com fuchsina phenicada, que a experiencia logo mostrou que davam resultados nada rigorosos, a coloração modifica o microrganismo de tal maneira que a centrifugação que precipitaria os agglomerados, basta também para precipitar os bacillos isolados. Tem-se criticado enormemente o methodo de WRIGHT de avaliação opsonica em relação ao rigor de seus resultados; algumas criticas judiciosas, outras absurdas e apaixonadas, umas levando a varias pre- cauções e cuidados, no exercício da teclmica, outras não conseguindo, pela sua insufficiencia, em nada tirar a importância que se conquistou a technica opsonica. A estas criticas quizera eu dar exposição aqui ao fim do capitulo, tenho-as escriptas e discutidas, publi- cal-as-ei em outra parte si o não puder fazer aqui. Outros processos têm sido propostos para avaliar o poder opsonico do sangue. SIMON nos Estados Unidos 46 usa e publicou a technica seguinte: fazem-sc diluições de sangue em proporções variaveis, de 10 a 30 vezes, e depois de incubar com uma emulsão bacteriana de concentração forte, compara-se a porcentagem de leucocytos que phagocytaram na amostra de sangue ensaiado com o, numero obtido por igual operação com uma amostra de sangue normal. Dá a este o nome de «percentage índex», indice de porcentagem, e adopta o processo, como sendo mais simples, dando para elle resultados excellentes. Eu não dou opinião absoluta- mente sobre elle, não o exerci, não lhe sei os resultados. Eu tinha ideado um processo modificado do de WRIGHT, com vistas clinicas, de execução portanto muito ao alcance dos não especialistas do assumpto, isto em Outubro do auno passado (1907); em Março porém deste anno de 1908 li em o Journal of Pathology and Bacteriology numero de Janeiro, 1908, extrahido de uma these da Universidade de Edinburgh de Agosto 3, 1907, um processo com egual fim apresentado por M'LEOD VEITCH, baseado no primitivo processo de EEISHMAN; como este processo me parece uti- lizável vou transcrever-lhe a tetlinica segundo seu auctor, fazendo depois uns pequenos reparos que elle merece. Eis a technica do «methodo modificado» como lhe chama o auctor, que eu dou para uso clinico, não tirando ao methodo primitivo de WRIGHT sua excel- lencia e vantagem classicas e imeomparaveis. «Consiste em misturar uma quantidade definida de sangue, solução citratada e emulsão bacteriana, incubar a mistura por um tempo definido em um tubo capillar, subsequente- mente espalhar e corar a preparação pelo meio ordinário. 47 Em vez do cautchú de conta gottas, um tubo de borracha com boccal é applicado á ponta larga, e por este meio as quantidades de sangue necessárias, etc., são aspiradas na porção capillar da pipeta. Este por- menor foi adoptado de preferencia ao cautchú de conta- gottas, porque, para medir, as quantidades serão mais facilmente verificadas por este meio. O sangue é tirado do dedo ou da orelha da maneira commum. Dois volumes são aspirados na porção capillar da pipeta, a marca previa servindo para medir os volumes, seguindo immediatamente a aspiração de 2 volumes de uma solução de citrato de sodio a 1.5% e 1 volume da emulsão de bactérias em solução a 1.25 % de chlorureto de sodio, isto é, a emulsão bacteriana ordinaria. Estes ingredientes são medidos do modo ordinário, uma pequena bolha de ar sendo introduzida entre cada um dos volumes. O todo é immediatamente regeitado em uma lamina de vidro bem limpa e misturado aspirando e regeitando na lamina por varias vezes. E' finalmente aspirado na porção capillar da pipeta, cuja ponta é sellada á chamma e o todo collocado no incubador a 37° C. por 15 minutos, no fim do tempo quebra-se a ponta da pipeta c o conteúdo é regeitado em uma lamina limpa e bem misturado e espalhado da fórma usual. A preparação é fixada pelo calor e corada pelo Jcnner ou Ziehl-Neelsen no caso do bacillo da tuber- culose. Como no rnethodo usual, um ensaio é feito em cada caso exactamente da mesma fórma com um sangue i ormal, o gráo de phagocytose assim obtido sendo tomado como unidade. Tal é o processo adoptado cm os casos cm que é possível obter o sangue directa- mente do paciente e operar logo. 48 Quando isto não é possível unia ligeira modificação é necessária. Neste caso o sangue é aspirado e imine- diatamente misturado com a solução de citrato só, isto é, sem a addição de emulsão bacteriana. Aspira-se então na pipeta capillar, sellando-se-lhe a ponta. Esta mistura não coagula e portanto póde ser guardada quanto tempo fôr preciso, e subsequentemente mistu' rada com a emulsão bacteriana. Quando se vae fazer isto, corta-se a ponta fechada da pipeta, e o contendo é regeitado em uma lamina limpa e bem misturado. Uma nova pipeta é tomada e 4 volumes da mistura de sangue e citrato medidas do modo usual e 1 volume da emulsão bacteriana ajuntado, e o todo tendo sido de novo misturado é finalmente aspirado na porção capillar da pipeta, fechada a ponta é collocada no incubador a 37° C. por 15 minutos. Quando se adopta este processo o sangue padrão será tirado na mesma occasião e do mesmo modo que o do paciente. Os dois são marcados então e conservados nas mesmas con- dições até que se misture com a emulsão bacteriana immediatamente antes de incubar. Esta precaução é necessária porque a demora dá um poder phagocytario diminuído; se as duas amestras de sangue são tidas nas mesmas condições e pelo mesmo tempo, a diminuição c igual em ambos os casos e o resultado final não se altera de modo algum.» VEITH adduz experiencias que provam por comparação com o methodo clássico que o «methodo modificado» é rigoroso e bom, não havendo em uma serie de muitos casos differenças praticamente notáveis entre os índices obtidos pelos 2 processos. Emquanto pelo methodo de WRIGHT observa-se somente o valor opsonico de um 49 serum dado, por este outro methodo faz-se uma ava- liação englobada, avalia-se o poder phagocytario do sangue com todas as suas substancias constituintes. Pela sua rapidez de tcchnica, que pouco mais demora do que a dê um exame licmatimetrico commum tem todo o valor e merece o apoio devido a um processo clinico. Empreguei este processo, com as pequenas modifi- cações que me pareceram uteis, obtendo resultados sempre aproveitáveis. Ao envez de aspirar sangue, solução citratada e emulsão bacteriana e depois mis- tural-os, colho somente os dois primeiros ingredientes e misturo-os logo, pois assim é mais facil obter que o sangue não coagule, depois então aspiro na pipeta a emulsão microbiana e completo o processo. Julgo pre- fcrivcl o uso do cautcliú de conta-gottas ao do tubo e boccal que tornam, parece-me, mais movei e vacil- lante a columna liquida, perturbando a operação. Outras modificações ligeiras fiz que são as que cada observador cria para seu uso, que são inteirameute pessoaes, mas sem interesse para publicação. ' CAPITULO IV índice opsonico pliysiologico e patliologico; importância diagnostica e prognostica das avaliações opsonicas; o indlce como guia do tratamento; variações do indice pelas diversas causas iQ acicmente se comprehende que o indice opsonico normal, como estabelecido pelo Prof. WRIGHT, igual a 1.0 é de valor puramente especulativo, porque sendo tantas as condições organicas particulares e pessoaes capazes, se bem que em limites definidos e reduzidos, de modificar as propriedades subtilissimas de defeza do sangue, assim com ellas variará c indice opsonico para mais ou para menos. Os limites, porem, destas variações são já estabelecidos e por estudo das medias tiradas pelos diversos investigadores, assenta-se«lhes um máximo e um mínimo que não distam absurdameute um do outro, permittindo um juizo firme e precio- samente instructivo. BULLOCH fez uma serie de observações interessantes neste sentido, tomou o indice tubérculo opsonico a 34 estudantes de medicina e a 32 enfermeiros de hospital, os resultados apreseu- 52 taram uma muito pequena variação, de um minimo de 0.8 a um máximo de 1.2, comparando com o serum do observador. A media do total destes 66 casos foi de 0.95. URWICK em 20 casos examinados obteve a media de 1.006. JOHN C. IIOLLISTER, de Chicago, examinou o indice tubcrculo-opsonico de 5 indivíduos uormaes em intervallos variaveis, com os seguintes resultados: - Nimer ) de rezes em que foi tomado o índice. Media entre 3 indices consecutivos Caso 1 71 0.9 - 1.1 2 95 0.9 - 1.1 Uma excepção 0.8 3 82 0.9 - 1.1 4 51 0.9 - 1.1 5 59 0.9 - 1.1 A media de cada um destes indivíduos respectiva- mente foi 1.0. Em outra serie de 100 indivíduos uormaes obteve índices entre 0.8 e 1.2, com 6 excepções. Em duas destas excepções foram encontrados estigmas clínicos de vitalidade diminuída e historia de tubercu- lose na família. IIOLLISTER concluo que o índice tuberculo-opsonico normal será entre 0.8 c 1.2. A media de índicos uormaes de WRIGIIT e DOUGLAS foi de 0.85 a 1.2. THOMAS obteve a media de 0.75 a 1.25. POTTER, DITMAN c BRADLEY consideram, por effeito de suas investigações, os índices uormaes de 0.81 a 1.18. LAWSON e STEWART cm 25 casos acharam como media 1.0. Tem-se portanto estabelecido que o indico tuberculo- opsonico pbysiologico çscilla entro 0.8 c 1.2 pelo estudo das medias geraes obtidas. O indico opsonico estaphylococcico, pesquizado por 53 BULLOCH cm 25 adultos sãos, foi em media 1.0; ALDERSON em uma serie de pessoas sãs encoutrou-o superior a 1.0; outros observadores obtiveram resul- tados similhantes sendo porem as variações muito menores do que as do indice tuberculo-opsonico. Muitas observações com outras bactérias mostraram que as variações são sempre pequenas no estado physiolo- gico, de 0.8 a 1.2. URWICK provou que o indico é praticamante cons- tante nos indivíduos sãos; estudou o indice de uma pessoa normal durante vários dias comparando com o do seu serum. Novembro 1 = 1.1 Dezembro 5 = 0.9 " . 8 = 1.0 " 8 = 0.9 " 12 = 1.0 " 13 = 1,0 " 30 = 1.15 " 14 - 1.0 19 = 1.0 Algumas causas porem provocam pequenas variações no indice physíologico. VARNEY observou que a perda de somno tem como consequência o abaixamento do indice, assfm como as excessivas fadigas e a menstruação. O exercício grande, feito por uma pessoa sã de hábitos sedentários, causa por vezes uma elevação de 1.0 a 1.2 ou 1.3 no dia seguinte, segundo FRENCH. ELLETT objecta que esta phasc positiva foi antece- dida por uma negativa. A abstinência alimentar ou o exercício excessivo não parece ter como effeito immediafo um abaixamento do indice. ALLEN dá parte de uma variação diurna do indice muito parecida com a que se observa na carta de temperatura. Vê-se isto pela taboa seguinte, que eu transcrevo, o micror- ganismo usado foi o B. de Friedlander. 54 Data 8 h. m 0 h. m 11 h. m 4 A. t 13 h. noite 3h.m Maio, 15, 1906 1 1,06 1.14 - - - Maio, 18, 1906 1 1.11 1.20 - - - Maio, 29, 1906 1 1.08 1.08 1.2 1.26 - Junho, 6, 1906 1 - 1.07 - 1.18 1.0 Junho, 12, 1906 1 1.10 - - 1.14 Vê-se que o indice é máximo entre 4 horas da tarde c meia noite elevando-se pelos processos activos da vida, cahindo rapidamente á unidade depois do recolhimento ao leito.URWICK achou o índice notadamente abaixado na mulher durante a menstruação. As primeiras investigações do indico opsonico nas moléstias tuberculosas localisadas feitas pelo Prof. WRIGIIT mostraram um geral abaixamento do indice que era inferior ao normal. Em uma serie de 17 casos de tuberculose pulmonar encontrou indices variando de 0.4 a 0.85 com uma media de 0.64 para os 17 casos. Em 54 casos de infecção tuberculosa, alguns sendo de infecção pulmonar, observados por URWICK os resul- tados foram differentes, o indice foi encontrado muitas vezes acima do normal, as variações de 0.3 a 2.6. Em 33 casos, que elle também observou, de tuber- culose pulmonar cm os vários períodos, obteve indices acima do normal (1.0) em 25, abaixo de 1.0 cm 7 casos e igual a 1.0 em um só caso. BUEEOCH pes- quizou os indices de 150 pacientes dc lupus, de todas as formas, desde as mais benignas até as mais graves, chronicas e intratáveis, achando a media de 0.75 como se vê discriminadamente deste quadro que eu transcrevo, 55 índice opsonico Numero de casos Porcentagem Entre 0.2 e 0.3 3 2 % " 0.3 " 0.4 3 2 % " 0.4 " 0.5 21 14 % " 0.5 " 0.6 29 19.6 % " 0.6 " 0.7 33 22 % " 0.7 ■' 0.8 22 14.8 % " 0.8 " 0.9 18 12 % " 0.9 " 1.0 7 4.6 % " 1.0 " 1.4 14 9.3 % Em 17 casos de tuberculose pulmonar TURTON achou iudices de um mínimo de 0.62 a um máximo de 1.63. LAWSON e STEWART encontraram índices abaixo de 1.0 oscillando entre 0.5 e 1.0 em 2,000 e 3,000 observações de tuberculose apyretica. Em casos de tuberculose cirúrgica chronica, das articulações, da bexiga, dos rins ou dos ganglios os indiccs são geralmente baixos, BULLOCH em 11 casos achou uma media de 0.6 e FRENCH em 9 casos obteve como media 0.8. Com o fim de julgar da natureza tuberculosa do lupus erythematoso BUNCIí procurou o índice tubérculo- opsouico em 10 casos desta moléstia, tendo como resul- tado, em 3 casos um índice baixo, em dois destes era abaixo do limite physiologico normal, em um era immediatamente acima deste limite; nestes 3 casos havia na familia dos pacientes uma historia clara de tuberculose. Os outros 7 casos tinham índices dentro dos limites normaes physiologicos. O numero de casos estudados foi pequeno, mas serve para provar que, em certo numero de casos de lupus erythematoso, não ha 56 fócos tuberculosos activos, nem as lesões são a preva de tuberculose no paciente. Em uma serie de 20 casos de lesões estaphylococcicas localisadas, Sir WRIGIIT encontrou o indice variando de 0 1 a 0.88 com uma media para os 20 casos de 0.62. BULLOCH cm 25 casos de lesões estaphylococcicas localisadas, não complicadas, encontrou o indice abaixo do limite normal, constantemente. Em um caso de diabetes com antrazes porem, o indice foi 1.4. Na sycose, um caso de COLCOTT FOX deu o indice opsonico estaphylococcico de 0.84, outro caso de SCHAMBERG deu 0,6 para o S. aureus. Dois casos de acne pustulosa deram, respectivaroente o indice 0.5 para o S. aureus (SCHAMBERG) e 0.63 para o estaphylococco (PERNET e BUNCH). No ecthyma foi encontrado por PERNET e BUNCH o indice 0.83. Num caso de furunculose chrouica, de SCHAMBERG e outros, o indice foi 0.5. O valor diagnostico do exame opsonico é enorme. Estabelecido, corno ficou o indice normal, com suas variações limitadas, qualquer variação alem destes limites é para levar-se á couta de alterações mórbidas dos individuos examinados. Quando o indice é baixo, tres liypotheses se apresentam, ou o indivíduo está predisposto á infecção ou está infeccionado ou tem sido curado de pouco tempo da infecção. Temos como prova do primeiro caso o facto de indivíduos, notavelmente enfraquecidos por outras moléstias, apresentarem Índi- ces inferiores sem comtudo estarem infeccionados pelos microrganismos em ensaio; Dr. EYRE quando dirigia a Comrnissão sobre febre do Mediterrâneo em Malta, contrahiu a moléstia de forma grave, pouco depois 57 viu-se que seu índice tuberculo-opsonico estava abaixo de 0.4 não obstante ser normal antes de sua partida da Inglaterra, permaneceu assim baixo durante varias semanas e só voltou-ao normal demoradamente; elle não tinha porem signal algum de infecção tuberculosa. Um caso também igual foi o do Dr. C. PRYCE JONES depois de contrahir a febre de Malta. Nas infecções agudas em geral, o indice é quasi sempre baixo para com a bactéria causadora da molés- tia, sendo normal para as outras (Emery). Nos casos agudos e recentes de tuberculose, e em indivíduos não tuberculosos mas, de poder de resistência enfraquecido o indice é baixo. Nos casos em que a moléstia já tem alguma duração e em que alguma reacção therapeutica benefica se dá, o indice póde estar acima da normal, porque o' doente tenta proteger-se contra o microbio (Emery). Por isso no lupus grave e terebrante o indice é baixo e nos casos chronicos que obedecem ao tratamento elle é commumente alto (BULLOCH). Nos casos antigos de tuberculose pulmonar o indice muitas vezes eleva-se gradualmente acima da normal, ao mesmo tempo que a moléstia progride; explica-se isto porque neste periodo tardio as lesões dos pacientes são antes devidas a outros microrganismos (estreptococco, estaphylococco, etc.; do que ao proprio B. da tuberculose. Na tuberculose miliar o indice é muitas vezes alto, e muito variavel em pouco tempo. O indice é baixo ainda, por vezes, muito tempo depois da infecção ter sido curada. BULLOCH cita a observação de um eminente scientista que depois de curado de uma M. 8 58 pleurisia tuberculosa em 12 mezes de ar livre e trata- mento medico, tinha o indice 0.4 em varias pesquizas. Não se pode dizer, com segurança por emquanto, si o indice baixo é a causa ou o effeito da infecção. A determinação do indice em famílias notoriamente predispostas á tuberculose seria um possível auxilio na solução desta questão, como bem lembra BULLOCH. E' muito para acceitar-se que um indice baixo preceda a infecção e seja talvez devido a qualquer imperfeição adquirida ou hereditária do mechanismo pelo qual se elaboram as antitropinas. (BULLOCH). Uma queda na quantidade das substancias bacteriotropicas bastará para determinar a infecção em certos casos. Nos casos suspeitos de tuberculose em que se encontram indices baixos, com symptomas clínicos visíveis, a tuberculose é muito provável. Em 14 casos de tuberculose tratados, nos seus primeiros períodos, em sanatórios, BULLOCH encontrou sempre indices baixos variando de 0.4 a 0.86. LAWSON e STEWART em 25 casos semelhantes examinaram o indice; em 5 o indice era de 1.1 a 0.9, e nos outros 20 era 0.8 ou menos. Estes resultados, comparados com a enorme quan- tidade de casos em que se diagnostica tuberculose curada pela autopsia em face especialmente de cicatrizes pulmonares, em indivíduos nunca considerados antes tuberculosos, dão razão á opinião de WEST que em todos os casos em que os indices baixos não teem explicação, são sempre a prova de uma tuberculose activa ou curada. Emfim um indice inferior a 0.8 é tido pelos mais hábeis estudiosos do assumpto como anormal (WRIGHT, BULLOCH, HOLLISTER etc.) Um indice alto é, de outro lado também, denunciador 59 de infecção activa, um indice-1.3 ou mais alto é grandemente suspeito. Os altos indices opsonicos encontrados por URWICK e outros investigadores são de muito interesse; vários individucs são muito sen- ♦ siveis a pequenas doses de tuberculina, como se sabe, e quando a moléstia está a progredir bem se póde conceber que a toxina tuberculosa seja absorvida, mormente por orgam tão prodigamente vascularisado como o pulmão, promovendo uma vaccinação parcial e elevação consequente do indice opsonico. Por varias pesquizas feitas em semelhantes casos, URWICK encontrou uma successão de phases positivas e nega- tivas, indices altos e baixos. Não se deve dar valor absoluto a uma só determinação do indice opsonico; para um resultado valioso é preciso pelo menos 2 determinações (ALLEN), deve-se fazer 3 investigações pelo menos (WH1TF1ELD) antes de firmar qualquer diagnostico. Sob o ponto de vista diagnostico um indice baixo, alto ou oscillante é prova de infecção pela bactéria em questão. Deve-se fazer uma serie de investigações opsonicas, sempre que não bastem 2 ou 3 pesquizas; nesse caso quando ha variações continuas póde-se com certeza affirmar a infecção. Contrariamente quando não ha um indice alto ou fluctuante deve-se afastar a hypothese da infecção pelo microrganismo supposto. AEEEN traz uma lista de affecções em que o indice tuberculo-opsonico póde contribuir para sua differeii- ciação com muita justeza e proveito, tomo a deliberação de transpol-a para aqui. Tuberculose renal de câncer do rim ou cálculos renaes. Moléstia de ADDISON de anemia perniciosa. 60 Peritonite tuberculosa do câncer do peritoneo. Laryngite tuberculosa do câncer da larynge. Pleurisia tuberculosa da cancerosa ou de outras for- mas de pleurisia. Arthrite tuberculosa da syphilitica e blenorrhagica. Adenite tuberculosa da moléstia de HODGKIN (lym- phadenia aleucemica). Endocardite tuberculosa das outras formas de endo- cardite. Keratite e irite tuberculosas das rheumaticas e sy- philiticas. Epididymorchite tuberculosa das formas syphilitica, adenomatosa ou maligna. Cystite tuberculosa da devida a cálculos, tumores, hypertrophia prostatica, etc. Salpingite tuberculosa da gonococcica. Ovarite tuberculosa da kystica ou cancerosa. Endometrite tuberculosa da cancerosa, etc. Lupus de syphilis ou ulcus rodens. Isto nos limites da tuberculose; nas suppurações, inflammações, estaphylococcicas, estreptococcicas, co- libacillares, pneumococcicas, etc. em grande numero de infecções emfim, o mesmo resultado profícuo se poderá obter com o fim diagnostico. DOYEN, em muito recente trabalho, aconselha para o diagnostico dos tumores malignos internos incipientes, a pesquiza do indice opsonico com o micrococcus neoformans. Ha meios outros por que se pode aproveitar a pesquiza do indice opsonico como base diagnostica. Na tuber- culose articular, a auto-inoculação artificial provocada pela movimentação é utilizada do modo seguinte: toma- se primeiramente o indice, imprimem-se movimentos 61 passivos á articulação, e fazem-se determinações novas do indice depois de 3, 6, 12 e 24 horas; si não ha infecção as variações são muito pequenas no indice, si ha porém, os indices revelarão phases positivas e negativas bem definidas. A phase negativa pode-se mostrar em 3 horas ou não se apresentar. Tomo a ALLEN o traçado abaixo, que é de um caso de uma creança de 6 annos, de tuberculose coxo femural suspeita, que ficou assim diagnosticada com segurança. (Fig. 6.) Fig. 6 Outro meio de mais largo emprego é o seguinte. Dá-se uma pequena dose de tuberculina ao paciente supeito de tuberculose, T. R. (0.0002 a 0.0004 milli- gramma) ou T. O. ( 1/2 milligramma a 1) e observa-se o indice cuidadosamente. Nos indivíduos sãos si ha phase negativa esta é limitadíssima, de algumas horas no máximo, a positiva é também como ella e os limites de queda e elevação do indice excepcionalmente exce- dem 0.2 ou 0.3. LAWSON e STEWART, entretanto não observaram phase negativa, e em uma vez uma 62 elevação de 1.0 a 2.1 em poucas horas. Nos infeccio- nados a coisa é muito diversa, as phases negativas e positivas são evidentissimas e demoradas, a negativa pode durar de alguns dias até 15 e a positiva de 1 a 3 semanas. Em alguns casos porem não se produz a phase negativa o que não permitte que se exclua a possibilidade da tuberculose. Ainda se usa de um terceiro meio, que deriva da observação já estabelecida de que nas mulheres infe- ctadas por uma bactéria o inicio da menstruação provoca uma queda notável do indice em relação a tal bactéria; o fim da menstruação dá logar a uma pronunciada elevação. Nos casos suspeitos fazem-se determinações opsonicas 2 dias antes do começo da menstruação, no fim do periodo, e 2 ou 3 dias depois o que revelará a existência de phases negativas e positivas notáveis. Ha ainda a prova da thermostabilidade, baseada no facto já exposto de que as opsoninas do serum dos animaes imrnunizados ou atacados da moléstia não são inteiramente destruidas pelo calor a 60°. Tomando o indice de um serum depois de convenientemente aquecido, pode-se julgar do estado do paciente, mas somente no caso de ser positiva a prova; um serum que depois de aquecido provoca ainda a phagocytose revela ou uma infecção ou immunidade pelo uso de vaccina. LAWSON opina que uma phase negativa, depois de uma dose minima de vaccina, seja prova de infecção, com o que também concorda WHITFIELD. A pesquiza do indice opsonico é de grande valor como elemento prognostico. Quando uma cura espon- tânea se opera é acompanhada por e devida apparente- mente a um augmeuto no poder opsonico do sangue; 63 assim mostrou, por exemplo, MACDONALD na pneu- monia em que o indice é baixo até que a crise se mostre, depois ha uma rapida ascensão acima da normal e o paciente fica por um certo periodc mais resistente do que um homem são. De um modo geral, quando uma tendencia para a cura se dá o indice sobe. E' possível que o indice opsonico varie conjunctamente com o da immunidade e seja um verdadeiro indice do poder de resistência do indivíduo. Si para muitos casos é assim, ha comtudo excepções, WHITFIELD dá a observação de um paciente em que a moléstia progredia e novos fócos se formavam ao tempo que o indice mantinha-se alto e firme. WHITFIELD discorda de Sir WRIGHT que assevera que o indice alto associado a uma infec- ção não se mantém e é uma phase das oscillações. A primeira pesquiza do indice é do maior interesse prognostico para um caso dado, si elle é baixo a inoculação é quasi sempre proveitosa. Com real inte- resse prognostico deve-se tomar o indice em períodos successivos, pois só assim é que se poderá fazer um exacto juizo do verdadeiro modo de reagir do paciente contra a infecção. São frequentes os casos de tuber- culose não diagnosticavel clinic imente, em que o indice é porém denunciador ou da infecção activa ou mesmo de um infimo poder de resistência, em ambos os casos a pesquiza opsonica é de ura valor prognostico inestimável, perraittindo uma therapeutica precoce, uma prophylaxia benefica, que jugulará a infecção incipiente ou evitará e previnirá a possível e itnmi- nente infecção. Si o estado chronico das infecções em geral deter- mina a existência de um indice baixo, e si o fim do 64 tratamento pelas vaccinas é elevar o índice acima da normal, é racional concluir-se que os casos que são mais favoráveis são os de indice alto emquanto que os de indice inferior tendem ao estado chronico. Em relação á tuberculose MEAKIN e WHEELER pensam que os casos de indice abaixo de 1 são os que ficam chronicos, que curam limítsdamente, mas que só podem manter este gráo de cura continuando o tratamento de sanatorium; contrariamente os casos de indice firme de 1 ou mais são os que curam completamente si condições favoráveis são conservadas durante o tempo necessário. Estas opiniões referem-se porem aos tratados sob o regimen de sanatorium. Em relação ás tendências á recidiva, que teem os pacientes de indice baixo, não se está perfeitamente instruído, os differentes especialistas porem aconse- lham elevar artificialmente o indice em todos estes casos. Nos casos de lupus em que a pelle é secca e escamosa WRIGHT considera a tuberculina de pouco effeito. Em relação a outras infecções tuberculosas como adenites, peritonite, arthrites, cystite, etc., não ha regras espe- ciaes, os casos de indice alto melhoram em geral, os de indice fluctuante são peores e os de indice baixo tendem muito pouco á cura. O estudo do indice opsonico é a base do tratamento de WRIGHT pelas vaccinas bacterianas. E' pelo indice que o clinico se póde guiar na dosagem das vaccinas e na opportunidade de seu emprego. As injecções de vaccinas produzem primeiramente uma queda no poder de defesa do paciente, depois é que vem a elevação do pode opsonico; é preciso pois saber quando tem termi- 65 nado a primeira phase, porque uma nova injecção feita durante esta phase negativa, por effeito de uma accumulação, tenderia a prolongal-a prejudicando o doente. Em capitulo particular a este assumpto trato o com a largueza precisa, o que não devo fazer aqui. O indice tem tido outras varias applicações que dão a elle a sua inestimável importância. Na verificação da relação de causa a effeito, entre as diversas bactérias e as affecções que se supponhem produzidas por ellas, tem sido o indice muito proveitosamente empregado. Já referi as investigações de BUNCH a proposito da natureza tuberculosa do lupus erythematoso, que lhe deram em resultado a prova de que, em certo numero de casos, não ha fócos tuberculosos activos nem são as lesões a prova de tubercnlose do paciente. M. MARIE (de Villejuif) querendo verificar a espe cificidade do bacillus paralyticans de F. ROBERTSON e LANGDON, como causa da paralysia geral, pesqui- zára o indice opsonico obtendo resultados que revelaram que esse microrganismo será talvez acausa de uma complicação infecciosa e não da paralysia geral. Alem das variações do indice opsonico, devidas ás inoculações de vaccinas e productos microbianos outros, a que darei expansão em capitulo particular, ha também as produzidas por varias substancias chimicas e outras a que darei lugar agora aqui. O apparecimento frequente de erupções pustulosas nos casos de iodistno levou WESTERN (de Cambridge) 66 a verificar a influencia do iodureto de potássio sobre o serum, ou limitando-lhe a producção das opsoninas ou tendo o poder de combinar-se com, ou neutralizar estes corpos quando uma vez formados. Basea suas tentativas nos factos idênticos das modi- ficações que outros diversos saes fazem nas opsoninas, de sorte a privar oue estas actuem sobre as bactérias. Neste sentido fez experiencias: (a com sangue de pacientes antes e durante a administração de iodureto de potássio; (b com serum de homem normal ajuntan- do-lhe in vitro soluções isotonicas deste sal. Conclue da sua serie de casos e experiencias que: (1) A administração do Kl não tem influencia sobre o indice opsonico do serum. (2) Uma erupção iodica não é necessariamente asso- ciada a um indice opsonico baixo. (3) A addição de iodureto de potássio ao serum, in vitro, não intervem no seu poder opsonico. Procurando verificar o valor da administração da levadura no tratamento da tuberculose, HUGGARD e MORLAND fizeram um interessante estudo, em 25 casos, das variações determinadas no indice opsonico em relação ao B. T. pelo uso desta substancia. Em vinte casos o indice elevou-se, em 1 permaneceu sem variação e nos outros 4 cahiu abaixo do limite primitivo. Em 2 casos elles estudaram oseffeitos de uma dose de levadura sobre o indice. Em ambos uma queda notável foi regis- trada quando o sangue foi examinado 2 dias depois da dose; esta queda porem foi seguida depois de 4 ou 5 dias por uma elevação acima do nivel anterior. Em 1 dos casos uma segunda dose foi usada, dando os mesmos resultados, porem em gráo muito mais exaggerado, 67 como mostram as cartas que acompanham o artigo e de que eu transporto uma para aqui. (Fig. 7). Fig. 7 Os mesmos auctores notaram que os indices mais baixos eram encontrados nos grandes fumadores. BULLOCH demonstrou que injecções hypodermicas de acido nucleico, derivado de levadura, augmentão as opsoninas para o estaphylococco. VARNEY fez observações acerca do effeito do uso do álcool sobre o indice opsonico verificando que promove uma queda decidida e prolongada. CAPITULO V O opsonesto, suas oscillações, opsonesto ne- gativo, positivo e máximo; pliases da curva da immunidade, seu estudo na vaccinotherapia Theartof immuniaation consisti in deve- loping the optimum condition for maximal amitropic formation, and, unless accurate Information is obtained of the immunity curve, the aims of the inoculator are easily frustrated. W. Bulloch. iujecção de uma dose de vaccina (e WRIGHT considera como vaccina toda a substancia capaz de produzir corpos defensivos 110 organismo a que se administra) produz variações na quantidade de opso- ninas do sangue, como nos revela g estudo do indice opsonico dos inoculados; estas variações não se dão porem desordenadamente, obedecem a paradigmas curiosos, cujo conhecimento é da mais incontestável necessidade. Depois da inoculação ha um periodo, de duração maior ou menor conforme as condições parti- culares de dose e modo de reacção organica, em que se dá a diminuição das opsoninas, a que Sir WRIGHT chamou *phase negativa*, durante este periodo a sus- ceptibilidade do paciente á infecção augmenta. A esta phase segue-se uma de augmento das opsoninas, a que 70 o mesmo WRIGHT chamou «phase positiva», em que o poder de defesa do paciente se acha grandemente augmentado. Depois de uma duração também variavel desta phase ascensional, o indice opsonico mantem-se íirme no «alto gráo da immunidade» (WRIGHT), cahindo depois com rapidez variavel. E' muito feliz a comparação que fez WRIGHT destas alternativas opsomcas; comparou-as ao movimento das marés, a «phase negativa» é o refluxo (reflow) a «positiva» °'o fluxo (flow) da maré da immunidade. (Fig. 8). . .. IlUCtrl 4-1** A/ivtl Pá aí! P<íí r • 35t JV e (.l l/À Fig. 8 A este movimento de descida e subida no poder opsonico, achei conveniente para a clareza do assumpto, dar o nome de «opsonesto» que encima este capitulo, e que significa maré opsonica, derivando do radical- opsono e de cestas, us maré. Digo assim pois «opsonesto negativo», «opsonesto positivo» e «opsonesto máximo». Os dous primeiros são a phase negativa e a positiva 71 de WRIGHT e o que eu chamo «opsonesto máximo» é o alto nivel da immunidade. Tenho por feliz a introducção do termo opsonesto, já porque não é de creação defeituosa, já porque não é antipathico nem desagradavel ao ouvido, é simples, curto, exacto, inconfundível e proprio. Acho-o melhor do que a locução consagrada, assim usal-o-ei por aqui adeante. Pela fig. 8, está claramente mostrada a acção da vaccina sobre a curva de immunidade. E' preciso considerar o opsonesto negativo como o intervallo que vae desde o começo da queda no indice, até quando o indice se eleva á altura ao nivel de defesa organica anterior á injecção, a partir d'ahi começa o opsonesto positivo. O opsonesto positivo depende, como o nega- tivo, da dose de vaccina e do modo peculiar de reagir do organismo do paciente. A curva de immunidade é pois representada por um refluxo (the ebb) opsonesto negativo, um fluxo (the flow) opsonesto positivo, um declínio da curva (the backflow) e o alto nivel de immunidade (high tide of immunity) opsonesto máxi- mo, Durante o opsonesto negativo o paciente apresenta aggravamento de certos symptomas clinicos, ha um simples enfraquecimento geral, um malestar, uma senl sação de cansaço, dôr, prurido no ponto affectado etc. Muito singularmente ha grandes symptomas, variação na temperatura, respiração ou pulso. Logo que começa porem a phase positiva, ainda mesmo antes do indice haver chegado á altura que tinha antes da inoculação, o doente começa a melhorar e diz mesmo que se sente bem. Não succede porem na pratica que o opsonesto, a curva de immunidade, seja exactamente como ficou 72 figurado como typo e exemplo. Quando se fazem mais frequentes e precoces pesquizas do indice um facto se mostra praticamente constante, E' uma elevação passageira inicial que precede o opsonesto negativo. Pode-se comparal-a a uma pequena onda que vem antes do refiuxo, que precede a grande onda da na phrase expressiva de Sir WRIGHT. Esta elevação pequena e sua posição são representadas na figura n. 9. Fig. 9 Não é somente porem por este molde que se fazem todas as respostas do organismo a um ictus immuni- satorius; quando é administrada uma dose de vaccina que é exactamente a necessária para produzir o effeito, o opsonesto negativo é supprimido e só se observa um opsonesto positivo. O opsonesto positivo neste caso n o sobe tão alto nem se mantém por tanto tempo quanto nos casos em que uma maior dose de vaccina é administrada. Quando se usa uma dose excessiva de vaccina (por dose excessiva entende-se uma que nroduz symptomas geraes graves) o opsonesto negativo e proporcionalmente augmentado e demorado. Quando a 73 quantidade de vaccina é desmedidamente grande, o conteúdo opsonico do sangue póde ser reduzido durante varias semanas; a vinda do opsonesto positivo em vão seria esperada indefinidameute em tal caso. Estes opsonestos negativos prolongados, devidos a dosagens grandes, são raros de observarem-se, a não ser em pacientes não habituados ainda ás inoculações, porque depois de inoculações repetidas em geral, mas não em absoluto, um excesso de vaccina póde ser bem tolerado. Quando, por effeito de administração exces- siva de vaccina, não vem a mostrar-se o opsonesto posi- tivo é desnecessário esperal-o por longo tempo depois da injecção, consegue-se a volta á normal reinoculando uma dose minima de vaccina. A pequena elevação no indice que se dá antes do opsonesto negativo, como ficou dito, também póde se apresentar nos casos em que a dose de vaccina é excessiva, WRIGHT explica que tal elevação corresponde á reacção do organismo a uma fracção, que é logo absorvida, da dose total da vaccina. E' muito necessário o estudo da intensidade e du- ração do opsonesto negativo, positivo e máximo. Baseando-se nesses dados é que se póde iutentar um tratamento proveitoso e racional contra a infecção. E' preciso saber pela investigação do indice quando con- vém uma inoculação vaccinal e qual a grandeza delia. WRIGHT obteve em 24 horas opsonestos positivos, c que se considerava como um esforço raro; em os 12 mezes últimos (elle escreve em 24 de Agosto de 1907) obteve, em casos muito numerosos, provas de augmento do poder opsonico do sangue 1 hora depois da injecção M. 10 74 de vaccina T. R. conjunctamente com o apparecimento de melhoras clinicas. Na furunculose também 1 hora depois da inoculação da vaccina estaphylococcica elle obteve já resultados de melhoras clinicas dos sym- ptomas. Ha casos, como foi dito, em que o opsonesto negativo é muito ligeiro ou mesmo póde ser supprimido (LEISH- MAN); uma apparente suppressão póde ser devida porem a sedar um grande intervallo entre as differentes phases opsonicas, succedendo commumente que ha uma queda extraordinariamente rapida da quantidade de opsoninas e que pode de novo desapparecer em poucas horas. Sobre a duração do opsonesto negativo na tu- berculose são estes os resultados de LAWSON e STEWART: Falta de opsonesto negativo em 15 casos, Opsonesto negativo persistente em 21 casos. Opsonesto negativo durando- 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 dias, em 14, 12, 10, 5, 7, 4, 10, 4, 4, 3, 4, 1, 1, Scasos. Total 84 casos. Por ahi se poderá julgar que, em 41 % dos casos, o opsonesto negativo excede uma semana. Um opsonesto negativo persistente depois de uma primeira injecção de tuberculina, para não falar das outras vaccinas, tem muita significação, ou indica que o caso em questão não é susceptivel de ser tratado por este meio em virtude do exgottamento do mecanismo da immunisação, ou indica que a dose primeira foi muito grande, ao que já me referi anteriormente, ou póde ainda indicar um phenomeno peculiar que ALLEN observeu varias vezes especialmcntc em casos chronicos 75 de infecção gonococcica. São casos em que não ha exgottamento reaccional, nem as doses são excessivas, mas em que o indice baixa seriamente e permanece assim durante semanas em um nivel inferior. A repe- tição da dose inicial provoca uma reacção muito satis- factoria, assim como as injecções posteriores. Nesses casos aconselha ALLEN repetir a dose inicial, excepto em casos indiscutivelmente máos. Quando o opsonesto negativo mantem-se, convirá esperar algumas semanas, depois recomeçar as injecções de doses um terço ou um quarto menores do qne a precedentemente usada. Mesmo em casos que vão melhorando e que soffrcram já varias inoculações, a dose usualmente empregada póde produzir um inesperado opsonesto negativo per- sistente e grande, de 3, 4 ou 5 semanas, emquanto o paciente continua a melhorar apparentemente. AEEEN é de opinião que se não deve apressar nunca em inocular prematuramente, antes deve esperar-se mais longo tempo. Uma inoculação feita durante o opsonesto negativo, provocado por uma vaccina, produz um abaixamento do indice a um nivel ainda mais inferior, dá-se uma accumulação do opsonesto negativo, (Fig. 10 B) e um tratamento que não evite tal accidente será defeituoso e improfícuo. O mesmo succede com o opsonesto posi- tivo, (Fig. 10 A) e a accumulação do opsonesto positivo, bem se vê, é o ideal era matéria de immunisação, é o fím do tratamento opsonico, pois assim o indice poderá ser mantido em um nivel muito alto. Com as inocula- ções vaccinaes successivas, ainda permanece real o principio, de que o primeiro effeito de uma vaccina é produzir um opsonesto negativo e depois um positivoj 76 a Fig. 10 eschematica, mostra muito claramente esta successão dos opsonestos. A. Accuinnlaçâo do opsónesto positivo. Bom tratamento. B. Accumulação doopsonesto negativ°. Mau tratamento, Fig. 10 No caso das iniecções de tuberculina não se pode senão raramente conseguir a accumulação do opsonesto positivo, e cada inoculação deve ser considerada como urn tratamento aparte, como um acontecimento inde- pendente, só se continuando o tratamento quando teem cessado os resultados da primeira injecção (WRIGHT). Ha casos porém em que, por estudo continuado do indice, se póde conseguir a accumulação. Praticamente, com a tuberculina, costuma-se deixar exgottarem-se 77 os effeitos produzidos por um opsonesto antes de fazer nova inoculação, o que equivale a um intervallo de cerca de 3 semanas entre as inoculações. Com as outras vaccinas o procedimento é sempre de accumulação do opsonesto positivo, para isso injecta-se nova dose emquanto o indice está alto, a melhor occasião é quando elle attinge ao máximo ou 1 a 2 dias depois, de preferencia a quando o indice começa novamente a descer. Nem só as injecções de vaccinas podem produzir estas oscillações opsonesticas, as auto-inoculações arti- ficialmente provocadas também produzem os mesmos resultados, assim pela massagem ou movimentação das articulações tuberculosas, assim como no rheumatismo blenorrhagico, obtem-se a alternativa dos opsonestos. Na tuberculose pulmonar, em que a respiração está continuadamente a mobilisar os fócos, dá-se o mesmo facto, auxiliado pela riqueza vascular do orgam. E' o que justifica a expressão consagrada de WRIGHT que «os tuberculosos do pulmão vivem n'uma continua alternativa de phases positivas e negativas.» As applicações de calor agem talvez augmentando o poder opsonico do serum. assim o methodo de BIER de tratamento por congestê.o passiva, a nucleina hypo- dermicamente e a levadura por via gastro-intestinal (HUGGARD e MORELAND), como ficou dito em outra parte , teem os mesmos effeitos. (Fig. 11J E nem por outro motivo se usa tão frequentemente da levadura nas erysipelas, furunculoses, acnes etc: Esta acção para MALDEN é devida ás nucleo-albu- minas que ella contem, Estudando o effeito do serum anti-tuberculoso de 78 MARMOREK sobre o indice tubérculo cpsonico em 5 casos, BOSANQUET e FRENCH encontraram os opso- nestos negativos e positivos succedendo-se, donde se julgará com propriedade que, em certos casos, os effeitos produzidos pelos antiseruns são, pelo menos cm parte, devidos á elevação do indice opsonico que clles provocam. Fig. 11 Ja referi que a inoculação de serum anti-diphterico produz uma queda opsouica seguida de uma elevação em relação ao B, da Tuberculose. O exercicio produz alterações na curva opsouica dos indivíduos tuberculosos, porque provoca auto-inocula- ções- E' o exercicio a base do metbodo de tratamento da tuberculose pulmonar de que usa PETERSEN e a que eu me refiro mais largamente em outra parte. ROSS publicou a observação de um caso de tuberculose com variação opsouica, provocada por exercicio de 79 passeio durante 1 hora, como mostra a carta seguinte ;Fig. 12). Fig. 12 MEAKIN e WIIEELER, em doentes de sanatorium, fizeram o estudo das variações opsonicas devidas ao exercício, dou aqui as cartas de 4 casos, dois que sof- frcram exercícios (Fig. 13J e dois que ficaram em re- pouso (Fig. 14J; o que se possa colher de ensinamento desses casos mostram perfeitamente os graphicos, que provam que ha pelo passeio, que foi o exercicioempr e- gado, uma auto-inoculação franca, Fig. 13 Pelos graphicos dos casos tidos em repouso vê-se que 80 0 indice é sempre o mesmo, sem variações no correr do dia. (Fig. 14). Fig. 14 São estas curvas simples, representadas por uma linha quasi sem interrupções. CAPITULO VI As v iccintis, preparação, titulagem, conser- vação, dosagem e administração palavra vaccina, é derivada de Vacca, animal de que se extrahiu, em primeiro logar, um material capaz de produzir imraunidade contra uma moléstia, a variola; esta palavra tem perdido actualmente seu limite primi- tivo e estreito, estendendo-se a todos esses productos microbianos capazes de produzir a imniunidade activa. Foi PASTEUR quem deu o nome de vaccinas aos materiaes obtidos de culturas capazes de produzir iminunidade. WRIGT1I define a vaccina-«qualquer substancia chimica que, quando introduzida no corpo, produz ahi uma elaboração de substancias protectoras.» Já não mede mais poisa palavra vaccina esclusivamente sua dimensão etymologica. As vaccinas eram substancias somente usadas com fim preventivo; o uso propriamente therapeutico da vaccina foi iniciado com as pesquizas de Sir WRIGHT, c constitue seu methodo de tratamento das moléstias. As vaccinas bacteriatias, usadas no tratamento das M. 11 82 moléstias pelo methodo de WRIGIIT, são em geral suspensões de bactérias em solução salina, mortas e estereis. Nas infecções tuberculosas porem o uso que se faz é das tuberculinas, e cabe a WRIGHT, talvez a mais bonita conquista do methodo opsonico, o ter provado que, longe de serem substancias inúteis, as tuberculinas são remedio precioso quando sabiamente empregadas. As vaccinas usadas são, geralmente, as ditas homologas y isto é, preparadas com germens da mesma especie microbiana que produziu a infecção. Estas vaccinas devera estar sempre á mão, ou adquiridas dos fabricantes ou feitas pelo proprio experimentador, em quantidade sufâcieute e diversas dosagens são chamadas pelos inglezes vaccinas «stock»; serão em- pregadas do modo porque indicarei já. Está coratudo averiguado que as que produzem os mais proveitosos effeitos são as obtidas com as culturas feitas das lesões do proprio paciente, são as chamadas auto genicas. Ila casos ein que se é forçado a usar as vaccinas «stock» por varias occurrencias, cujas principaes vou enumerar. Quando a moléstia, ainda mesmo localisada, tem tendências destruidoras e faz rápidos e irremediáveis estragos si a intervenção não é immediata. Como exemplo, a coujunctivite gonococcica do adulto que por 2 ou 3 dias de demora pode causar a perda da vista, assim nesse caso deve-se inocular a vaccina «stock» logo que se tem feito o diagnostico. Quando o isolamento da bactéria é demorado c difficil a ponto de ser preferível prescindir-se das vantagens que se poderiam obter; para exemplo servem asaffecções tuberculosas em que o isolamento do bacillo é difficil, por meio de inoculações em animaes, o desenvolvi- 83 mento das culturas é demorado e a preparação das tuberculinas é operação particularmente delicada, perdendo-se ao todo nisso 2 ou 3 mezes. Mesmo assim TURTON aconselha preparar a tuberculina, usando porem a «stock» emquanto ella não fica prornpta. Nas infecções já muito chronicas, de virulência bem decrescida; nas osteomyelites já muito tratadas cirur- gicamente, gonorrhéas chronicas e salpingites, etc. Quando as bactérias parecem formar entidades definidas e não grupos aparte, como se dá com o estreptococco. Como por exemplo, o pnçumococco que não tem variedades; comtudo mesmo nesse caso é preferível a preparação de uma vaccina especial, sempre que lôr possível. A preparação das vaccinas começa-se pelo isolamento das bactérias productoras das infecções, o que se faz pelos methodos geralmente usados em bacteriologia. O methodo empregado variará conforme as infecções são simples ou mixtas, o que se verifica pelo estudo das preparações coradas pelo Grani, etc. Tratando-se de infecções por um só microbio faz-se logo a semeadura no meio de eleição; nas infecções mixtas é preciso ter sempre em vista que se deve fazer o menor numero possível de sub-culturas para o isolamento, pois só assim se obterá uma cultura de grande virulência o que é absolutamente preciso para a preparação das vaccinas. Estes trabalhos de isolamento das bactérias são feitos pelos modos geraes bacteriológicos o que me dispensa de grandes promenores aqui, por isso só direi algumas particularidades, referentes ás culturas, que muito immediatainente interessem á preparação das vaccinas 84 oti que não sejam bastante correntes cm technica microbiologica geral. Estaphylococco-Nos casos de sycose, acne e furun- culosc acha-se em estado de pureza, bastando por isso, desinfectar a pelle ao nivel da lesão e expremer o pús que se semeará logo do modo usual, 24 horas depois de estar na estufa a 37? replanta-se o numero de tubos necessário. Nas periostiles e osteomyelites, em que cm geral ha mistura de bactérias outras, semeia-se caldo e com elle, ou-directamente ou depois de incubação, fazem-se placas de gelose onde se escolhe uma colonia que se transplanta. Estreptococco-Póde ser extrahido do sangue, exsudato fibrinoso ou pús, conforme o caso, si se verificou que se acha em estado puro fazem-se logo as culturas, siuão faz-se a separação por meio das placas de gelose de Petri. As colonias desenvolvidas são tão pequenas que é preciso fazer muitas culturas em tubos; melhor será semear placas de gelose com um bordo de lamina o que augmenta a superficie de cultura com proveito. Para fazer as culturas do sangue, tiram-se por puneção aseptíca, como de costume, cerca de 5 c. c. de uma das veias da dobra do cotovello, semeiam-se 3 tubos de caldo de 10 c. c., o primeiro com 2 c. c. de sangue, o segundo com 1 c. c. e o terceiro com 0, 5 c. c., levando á estufa a 37? por 24 horas, dos coágulos que se formam, e onde se desenvolveram as colonias, tira-se com pipetas material para semear os tubos necessários ou placas. B. da tuberculose,-No caso do B. da tuberculose é imprescindível fazer a inoculação do coelho ou cobaio com os productos tuberculosos, sejam pús, tecidos, 85 glanglios, centrífugos de urinas, etc., logo que o ani- mal morre, ou que sc o ma+a pelo chloroformio quando já ha massas coseosas formadas, colhe-se asepticamente o material e semeia-se prodigamente nos meios glyce- rinados usuaes; no fim de 6 a 8 semanas a 37? na estufa as culturas são abundantes para a fabricação da tuberculina. Pneumococco. - Facilmente se obteern as culturas puras, nos'casos de empyemas, otites medias e conjun- ctivites, pela primeira semeadura. Nas endocardites pneumococcicas faz-se a cultura do sangue do modo usual. Dos escarros é mais difficil a cultura, que se deve fazer depois de inoculai o sob a pelle de um coelho ou rato, semeando o sangue do coração do animal logo depois da morte. Este microrganismo perde tão depressa sua virulência que c preciso aproveitar logo a primeira sut-cultura para fazer a vaccina. Gonococco.-Nas conjunctivites o gonococco existe em estado quasi purc sendo assim facil sua cultura em seus meios predilectos; nas urethrites, ás vezes é muito difficil c quasi impossível em vários casos, em alguns é inteiramente impossível, usa-se nesses casos vaccina «stock». E' bom notar que o pús seroso e mão o grumoso é que contem mais bactérias. Colibacillo.- E' facilmente isolado pelos meios litmados, (turnesolados) encontra-se em estado puro nos abcessos appendiculares e extraperitoneaes, nas suppurações dos conductos biliares e das trompas de Fallopio, nos abcessos peri-renaes e endocardites. De parceria com outros microbios se o encontra nas pyelites e cystites, 86 Meningococco.-O diplococcus intracellularis meningi- tidis (WE1C1ISELBAUM) é obtido do liquido cephalo- rachidiano por puucção lombar ou quando isso é impossível do mucus nasal, sendo preciso nesse caso diaguostical-o cuidadosamente dos outros rnicrobios do mucus nasal, micrococcus catharrhalis e cocci pseudo- catarrhalis. Micrococcus catarrhalis.-Isola-se melhor do mucus pharyngiano ou nasal, sua differcuciação dos outros rnicrobios pseudo-catarrhaes é bastante difficil, por isso dou alguns caracteres differenciaes; o M. catanhalis não se desenvolve nunca em cadeias, mas sim em grupos de 2 ou 4 elementos; não produz ácidos nos caldos de cultura contendo saccharose, maltose, glycose ou galactose emquanto outros fermentão estes assucares; os pseudo-catarrhaes são rnais uniformes e menores em tamanho e reacção corante. Pneumo-bacillo de Friedlander.-E' facil de isolar porque impede o desenvolvimento de outras bactérias semeadas conjunctamente, o material usado será pús ou mucus nasal. Bacillus lacunatus. - Isola-se o Diplo-bacillus de Morax-Axenfeld da secreção serosa das coujunctivitcs tomada ao nível da caruncula. O desenvolvimento é pequeno, si se necessita maior porção de vaccina é preciso semear vários tubos. Bacillus septus ou coryzce segmentosus. - Pôde ser facilmente isolado do mucus nasal ou pharyngiano, é preciso porém differencial-o muito cuidadosamente do B. diphtherioe, B. de Hoffmann e B. xerosis. Micrococcus melitensis, -Obtem-se a cultura por 87 semeação de polpa do baço obtida por puncção durante a vida do paciente. Obtidas as culturas puras, começa-se por preparar a emulsão bacteriana. Tendo culturas de 18 a 24 horas da bactéria no meio apropriado (excepção feita do B. T.), emulsionam-se-as o melhor possível com uma haste de platina, na própria agua de condensação, quando esta não é sufficiente ajuntam-se 4 ou 5 gottas de uma solu- ção de chlorureto de sodio a 0,1 por cento e faz se a emulsão nos 2 ou 3 tubos de cultura egualmente; junta-se um pouco mais da solução salina e põe-se tudo em um pequeno frasco de Ehrlentneyer forte com 2 ou 3 bolas de vidro esterilizadas; lavam se os tubos com algumas gottas mais da solução salina, juntando ás primeiras porções.Vascoleja-se o frasco durantes alguns minutos para completar o emulsionamento dos micror- ganismos o que é favorecido pelas botas de vidro. A emulsão de cerca de 5 c. c. é então posta em um tubo do centrifugador, contrabalançando-se com egual vo- lume d'agua no outro tubo, depois de alguns minutos de funccionamento do apparelho a emulsão c posta livre do sedimento em um outro frasco de Ehrleumeyer e está prompta para ser titulada. A titulagein da vaccina póde ser feita por vários meios, por pesagem dos microrganismos dessecados, por opacidade, por diluições e culturas e pelo processo de Sir WRIGHT. Pelo methodo do peso das bactérias, depois de preparada a emulsão, depois do aquecimento porem antes de ajuntar o lysol ou acido phenico, sepa- ra-se uma pequena porção delia, ccmmumente 20 c. c. promove-se a dessecação das bactérias e faz-se a pesada, si por exemplo nos 20 c. c. se acham 5 milligrammas do microrganismo, cm 1 c. c. existirão 0,25 de milli" 88 gramma e assim nas outras concentrações relativamente. Este é um bom meio. A titulagem, por meio da opacidade da emulsão» seria muito pratica si não fosse tão imperfeita, a meu ver. GUTHR1E Mc CONNELL (de St. Louis) considera este o melhor meio de graduar a concentração bacteriana das vaccinas, não lhe vejo razão seria. Para avaliar o gráo de opacidade das vaccinas usa-se a escala de SNELLEN, ou então o nephelometro de Mc. FAR- LAND. Pelo processo de diluições e culturas, toma-se uma amostra de 5 c. c. da emulsão frescamente feita, com uma pipeta graduada dilue-se 50 vezes, e isto de novo se faz mais 2 vezes da mesma maneira, obtendo-se uma diluição de 1 em 6,250,000. Com 5 c. c. destíi alta diluição f iz-se uma placa de cultura, contam-se as colonias no fim de alguns dias, multiplica-se seu numero pelo gráo de diluição (6,250,000) e tem-se assim a quantidade de bactérias contida em 5 c. c. da vaccina, dividindo por 5 tem-se o numero por 1 c. c. Suppotiha- mos que o numero de colonias contadas foi 160, temos 160 X 6,250,000 - 1,000,000,000 por 5 c. c., ou 200,000,000 por 1 c. c. Este não é um meio máo, é um pouco demorado, mas é bastante rigoroso sendo bem feito. O methodo mais usado porem, e que dá resultados acceitaveis, podendo servir bem , até por ser mais expe- dito, é o proposto por Sir WRIGHT e que é muito curi- oso. Toma-se uma pipetacapillar, munida de um cautchú de conta-gottas e com uma marca a meia pollegada (13 millimj de sua ponta; pica se o dedo no dorso, colhe-se na pipeta do modo usual 4 ou 5 volumes de 89 Solução citratada a 2 %, depois um volume de sangue e finalmente 1 volume da emulsão a titular, mistura-se o todo em cima de uma lamina limpa, do modo por que se faz na technica opsonometrica; feita a mistura cui- dadosamente, põem-se partes iguaes delia em 3 laminas bem limpas e faz-se o espalhamento bem cuidado e uniforme com o bordo polido de outra lamina, seccam" se as preparações ao ar, coram-se pelo LEISHMAN ou GIEMSA, JENNER, WRIGHT ou outro processo. Procede-se então á contagem; com um lapis dermo- graphico traça-se na lente ocular dois diâmetros em angulo recto de modo a dividir o campo em 4 quadrantes para facilitar a contagem. A preparação é dividida hypotlieticamente em 9 areas eguaes como na figura junta. Em cada angulo mostrado na figura conta-se um campo microscopico inteiro até completar os 16; o numero de globulos vermelhos visto em cada campo é anotado em papel em uma linha vertical, o de bactérias em outra posta ao lado da primeira, assim com os 16 campos; faz-se o mesmo na outra lamina c juntam-se os resultados, ao todo 32 campos que dão já sufficiente rigor de avaliação. Sup- ponhamos que foram contados 600 globulos vermelhos e 1,500 bactérias; si um millimetro cubico de sangue Contem 5,500,000 globulos vermelhos e tomamos 90 Volumes eguaes de sangue e emulsão, um millimetro cubico de emulsão conterá portanto X 1,500 ~ 600 -- 13,750,000 elementos ou 13,750,000,000 por c. c. Querendo-se ter doses de 125, 250, 500 e 1,000 milhões de bactérias em cada 1 c. c. ou 1/2 de liquido será preciso diluir, é claro, a emulsão; diluindo-se com solução salina a 0,1 por cento na dose de 1 c. c. para 13,75 c. c. de solução teremos doses de 1.000,000,000 por 1 c. c. Titulada a vaccina, passa se a fazer-lhe a esterili- sação. Ajunta-se á emulsão, logo depois de titulada, quantidade sufíiciente de acido phenico, tricresol ou lysol, para fazer uma solução de 0,5 % do primeiro ou 0,2 % de qualquer dos outros dois, o que evita a repro- ducção dos germens e destróe qualquer esporo do ar que tenha penetrado na emulsão. Põe-se então o frasco que contem a emulsão em um esterilisador apropriado, mantido por 1 ou 1 1/2 horas entre 56° e 60? conforme a resistência da bactéria. Quanto menor puder ser a temperatura empregada com segurança, tanto mais activa será a vaccina obtida. Tendo resfriado a vaccina, faz-se o seu encerramento em ampolas de vidro. Para isto é preciso ter quantidade sufíiciente de ampolas de vidro esterilisadas de 1,5 a 2 c. c. de duas cores, brancas e azues por exemplo. Monta-se em um supporte uma bureta esterilisada, graduada em décimos de c. c., na sua extremidade inferior applica-se uma agulha hy po- dermica esterilisada por meio de uns 10 centímetros de um tubo de borracha também esterilisado, que será comprimido por uma pinça adequada que obstará a sahida do liquido. Põe-se a vaccina na bureta, afrouxa-se a pinça até que uma gotta appareça no extremo da 91 agulha, enchem-se então as ampolas brancas com 1 c. c. e as outras com 1/2 c. c., as brancas conterão doses de 1,000,000,000 e as outras 500,000,000. Fecham-se as pontas á chamma de um bico de Bunsen. O resto da vaccina é posto novamente no frasco de Ehrlen- meyer e ajuntado de 3 volumes da solução salina com lysol ou acido phenico na proporção usada, mistura se e põe-se nas ampolas do modo já dito, cada c. c. contem 250,000,000 e cada 1/2 c. c. 125,000,000 de bactérias. Temos assim doses de 125 milhões e seus múltiplos. Semeiam-se tubos de gelose com um pouco da vaccina, para verificar sua esterilidade. No dia seguinte as am- polas são postas novamente a esterilisar a 60? durante 1 hora. Não se deve fazer terceira esterilisação, a não ser no caso de desconfiança da esterilidade da vaccina, porque isto enfraqueceria muito o seu poder immuni- sante. Para evitar qualquer possibilidade de erro, as ampolas serão marcadas a lapis de diamante com o nome da bactéria e a quantidade de elementos. Ha casos clínicos que se acham complicados de infecção superajuntada, variando conforme os orgams atacados, e em que não dá todos os resultados uma vaccina do microrganismo da infecção primitiva, fazem-se então vaccinas combinadas ou mixtas. Para a preparação dessas vaccinas é precisa, em primeiro logar, tomar-se conta das bactérias das lesões em qua- lidade e quantidade relativa umas ás outras, para isto fazem-se preparações microscópicas do producto mor- bido eliminado. Estas preparações são feitas do modo usual, córadas pelos processos habituaes, Gram, etc, Reconhecem-sc as bactérias existentes c seu rclativQ 92 tramero deve ser estabelecido. Fazem-se culturas, identificam-se as bactérias cuidadosamente, e das culturas mixtas póde-se proceder logo á preparação da vaccina. Melhor porem é isolar as especies por meio de placas de gelose, e das subculturas preparar as varias vaccinas que devem scr tituladas e misturadas em proporção relativa á dos microbios nas lesões em 1/2 c.c. da mistura. As applicações e os resultados destas vaccinas mixtas serão melhor falados no capitulo do tratamento das moléstias pelas vaccinas. Tuberculinas.-Propositadamente deixei para tratar agora das vaccinas empregadas no tratamento da tuberculose, das tuberculinas, que beir. merecem um paragrapho proprio e um pouco dilatado. Varias teem sido as tuberculinas propostas até então, de algumas, as mais importantes sob o ponto de vista clinico, direi mais algumas palavras, das outras simplesmente farei menção. Tuberculina T.-Em 4 de Agosto de 1890 KOCII apresentou a sua celebre tuberculina, chamada primi* tivamente lynipha de KOCH, que causou um sensacional reboliço, tanto no meio profissional, como no leigo, e que deu origem ás mais encarniçadas criticas, cahindo por fim em um descrédito enorme, aliás não merecido pois é uma substancia de valor e LANDOUZY sabia- mente chamou sua descoberta «une des inventions les plus puissantes de la médecine moderne». Pelas investigações e pelos estudos mais modernos, espe- cialmeute pelos trabalhos profundos de WKIGHT, conclue-se com facilidade que a invenção foi genial e que seu uso é que foi inconscieutemente perigoso. £sta tuberculina é um liquido obtido por filtrarão dç 93 unia cultura, otn caldo gtycerinado, de bacillos da tuberculose evaporada em banho-maria ao decimo do seu volume. Não insisto no seu estudo pcis que está seu emprego, no ponto de vista que me interessa, quasí abandonado. Em 1897 publicou KOCH novos resultados obtidos com outras especics de tuberculina, T. A, tuberculina alcalina, T. O. e a T. R. tuberculina residual, as primeiras sem grande importância, esta ultima já bastante usada como se verá em o capitulo do trata- mento, o que me levará a tratal-a mais dilatadamente. KOCII ainda propoz uma 0xytuberculina, e uma T. Dr. muito toxica, a mais toxica. KLEBS, em 1891, apre- sentou uma substancia a que deu o nome de Tubercu- locidin, que diz não ser tão toxica como a original de KOCH pois não contem substancias alcaloidicas. MAKSUTOW, em 1897, apresentou uma Tuberculose- toxina, que é um extracto de tecidos tuberculosos de cobaios, que elle diz ser capaz de produzir irnmunidade em animaes em cerca de 3 mezes. LANDMAN, em 1898, exhibiu um Tuberculol, que é uma mistura de extractos de bacillos tuberculosos feitos em tempera- turas differentes. BOUCHARD em 1905, no Congresso Internacional da Tuberculose, também deu conta de uma tuberculina, bactericida in vitro e curativa e immunisante nos animaes e no homem. BEHRING, em 1905, deu conhecimento de sua Tulase, que contem a substancia soraatica do bacillo da tuberculose, que se córa pelos methodos de ZIEHL-NEELSEN e de GRAM, seu methodode preparação é muito complicado. Produz immunidade tuberculosa e hypersensibilidade á tuber- culina de KOCH. Ha a tuberculina T. J, de JACOBS (de 94 Bruxelles), ha a T. O. A. do Instituto OSWALDO CRUZ (Manguiuhos) ha a de DENYS ou de Eouvain, a T. Bk de BERANECK e varias outras. Duas tuberculinas porém, julgo merecerem mais attenção, são as mais applicadas e applicaveis na clinica a meu ver, a T. R. de KOCH, e a T. Bk, tuberculina de BERANECK. T. R. - Prepara-se de culturas muito novas e muito virulentas, dcsecadas no vacuo, trituradas perfeita- mente, o pó obtido assim é misturado com agua dis- tillada, centrifuga-sc a emulsão, separam-se assim duas porções, uma liquida muito semelhante á T. O. e outra solida que se emulsiona coin succcssivas quantidades d'agua e é a nova tuberculina ou T. R. tuberculina residual, que é vendida cm vidros contendo 10 milli. grammas de substancia bacteriana solida por centímetro cubico. WRIGHT verificou depois por informação dos fabricantes que cada c. c. não encerra 10 milligrammas e sim somente 2 milligrammas o que importa em dividir por 5 todas a dóses referidas pelos differentes observadores que empregaram a T. R., e assim pede que se faça WRIGHT para com as suas próprias affirmações das dóses em seus artigos referidas A T. R. contem somente as substancias insolúveis na glycerina, e por isso diz se que ella está livre dos productos toxicos da T. O. Segundo KOCH a T. R. coutem todas as substancias immunisantes da T. O., e um immunisado pela T. R. não reagirá a uma dose elevada daT. O. AT. R. é fabricada por Messrs, MEISTER, LUC1US, AND BRUNING em Hochst desde 1897. Para usar é preciso diluil-a, ao titulo requerido para a injecção, com uma solução de glycerina, etu agua a 20%. WRIGHT usa-a em doses de .i. de 95 ttiilligramma a ... de milligramtna, dose que elle não excede nunca. T. Bk.-A tuberculina de BÉRANECK é formada de uma mistura de partes eguaes de toxinas extra- cellulares contidas num caldo não neutralizado e não peptonado, e de toxinas intra-cellularcs extrahidas do protoplasma dos bacillos pelo acido orthophosphorico a 1 esta mistura é diluída a 1/20 (solução mãe), desta derivam as demais em numero de 15. Não teem nenhum antiseptico. BERANECK prepara a sua tuberculina de cultura de virulência sempre constante. As 15 soluções são designadas pelo symbolos: -râ-. rrr» A, B, C, D, E( F(G, H. A solução mais fraca é a mais forte H. A relação respectiva de concentração das soluções é a unica reve- lada, a quantidade absoluta de tuberculina fica descon- hecida. Cada solução é concentrada do dobro da precedente, que é só o que importa ao clinico, sendo a primeira diluição perfeitamente inócua. Designan ■ do se por T. Bk. a solução mais forte, é a seguinte a escala das diluições, segundo SAHEI, em ordem decrescente: II - TBk (Tuberculina Béraneck pura) G = TBk/2 A/2 = TBk/256 F z= TBk/4 A/4 =TBk/512 E=TBk/8 A/8 = TBk/1024 D = TBk/16 A. 16 ~ TBk/2048 C-TBk/32 A/32 - TBk/4096 B - TBk/64 A/64 - TBk/8192 A - TBk/128 A/128 - TBk/16384 etc. Esta escala pode ser a vontade augmentada por 96 diluições maiores applicaveís em casos de doentes muito sensíveis á tuberculina ou nas creanças. Com esta escala de concentrações, reduz-se ao minimo o risco da passagem de uma concentração a outra, e como se augmenta de uma injecção a outra 1/20° de cent. c. a dose será somente augmentada de 1/20° de seu valor. Começa-se o tratamento injectando uma dose de 1/10° ou 1/20° de c. c. de uma concentração fraca, augmentando-se progressivamente, até a con- centração mais forte. Quanto á dosagem a T. Bk é a que realisa as melhores condições dentre todas as tuberculinas usadas. Quem se interessar mais pelo assumpto consultará com o maior proveito «Le trai- tement de la tuberculose pai la tuberculinc» pelo Prof. H. SA1ILI. Dosagem.-Não lia um meio seguro de calcular prcviamente a quantidade de vaccina a ser inoculada em um dado caso, a pesquiza do indice não póde bastar, pois que um paciente de indice mais baixo póde reagir melhor do que um de indice mais alto, ou vice-versa, não ha nada de definitivo entre o nivcl opsonico anterior e a quantidade de vaccina a ser inoculada. Começa-se o tratamento pelas menores doses, até chegar-se ás mais convenientes, tendo como guia o indice opsonico. As doses variam conforme as especics dc bactérias, delias eu darei as respectivas medias no capitulo sobre o tratamento das moléstias. ALLEN guia-se na dosagem das vaccinas da seguinte maneira; supponha-sc uma dose administrada em dada occasião depois de se ter encontrado um indice subnormal, faz-se uma determinação do indice 24 horas depois da injecção e outra 7 ou 10 dias depois, 97 os vários resultados possíveis e conclusões são como indicam o seguinte eschema: Indice li horas depois da injecção Ligeira queda Ligeira elevação Ligeira queda Indice 7 ou 1« dias depois Queda ulterior Muito pouco alterado Notável elevação Conclusão Dose muito grande Dose muito pequena Dose correcta WRIGIIT serve-se do seguinte meio guiador no usar as vaccinas. Quando, diz elle, um exame feito 24 horas depois de uma inoculação de vaccina mostra que o indice foi consideravelmente reduzido, eu concluo que uma dose menor seria apropriada. Quando o exame do sangue 24 horas depois da inoculação mostra que o indice foi elevado, e quando depois de um intervallo de 1 semana ou 10 dias o indice cahiu ao nivel que tinha antes da inoculação-não tendo o paciente sof- frido durante este tempo nenhuma perturbação geral- eu concluo que uma dose maior podia ter sido adminis- trada apropriadamente. Quando, em associação com uma ligeira queda inicial depois da inoculação, o indice, depois de 1 semana ou 10 dias, acha-se mais alto do que era no começo, eu concluo que uma dose apropriada foi administrada.» As doses só devem ser augmentadas quando a sua administração não promover mais a elevação conveniente do indice. As ideas primitivas de administrar as vaccinas, em doses crescentes em porporção geométrica, são absurdas e conduzem fatal- mente a um desastre, como doutrina WRIGIIT. A approximação do fim da infecção é indicada pela elevação firme do indice que chega á unidade ou fica mantido um pouco acima. Administração.-Assentada a dose da vaccina que, eu proclamo, é melhor errar no sentido de usar uma 98 muito pequena do que uma muito grande, vae-se fazer a inoculação. O logar considerado como melhor para a injecção é o tecido cellular frouxo sub-cutaneo do flatico, comtudo também se a faz nas costas ou na parte superior do braço. Nas paredes abdomiuaes flacidas a reacção é em geral minima, comtudo não se póde predizer o apparecimento de uma reacção local, varias injccções podem não produzir reacção alguma e a ultima produzir uma grande Quando se dá reacção local, forma-se na parte um entumecimento do ta- manho de uma noz e a pelle fica avermelhada e quente, ha grande dôr quando o doente respira ou tosse ou movimenta de qualquer fórma a parede abdominal. Para evitar estas consequências aconselha AUJEN seguir as seguintes regras: (1) Não injectar no lado sobre o qual o paciente se deita; (2) nas mulheres, não injectar nos pontos em que os colletes apertam; (3) evitar as veias e assim a producção de um hematoma; (4) não injectar tão longe que qualquer inflammação se asseste no bordo do musculo recto do abdómen; (5) lembrar-se que, si uma grande dobra da pelle for feita e a agulha bem introduzida, o inoculo assestar se-á, talvez, a 2 polleg-adas do logar da picada. BASSET-SMITH fez 101 injecções com vaccina do Micrococco, da febre de Malta sem nenhum signal de suppuração local, havendo só raramente ligeira irritação por 24 horas. Um bom ponto para a inoculação é a meia pollegada para cima e para dentro da espinha illiaca anterior e superior do lado direito. A pelle deve ser bem lavada com sabão e agua quente, depois com uma solução de bichlorureto Hg ou outro antiseptico, lysol por exemplo 99 a 2 %, álcool, ether; a injecção será feita pela teclinica usual, com seringa hypodermica comtnum esterilisada, sem bolhas de ar, etc., collodio na picada. As condições de asepsia devem ser rigorosas, nunca são em excesso para evitar uma infecção que concor- reria para desacreditar a therapeutica opsonica deante do publico mal instruído. A questão do logar da injecção de vacciua merece toda a importância; uma reacção local é até certo ponto favoravel, assim as iujecções intravenosas produzem menos effcito porque as opsoninas se produzem ao nivel do logar da inje- cção. WRIGHT obteve resultados magníficos fazendo as inoculações ao lado das lesões em relação com os ganglios lymphaticos da parte; também fez inoculações em anel em um caso de ulcera tuberculosa que, ao tempo que curava ao centro, espalhava se pelos bordos que ficaram calosos, isto fez elle com o maior resultado. Alem da administração hypodermica das vacciuas ha um processo, ultimamente proposto pelo Dr. ARTHUR LATHAM em collaboração com os Drs. SPITTA e INMAN, de administração das vacciuas pela bocca ou pelo recto diluidas em solução salina ou em serum normal de cavallo. Referem 25 casos ao todo, especial- mente de infecção tuberculosa, estaphylococcica e pneumococcica, estudados com o uso das vaccinis apropriadas dadas em occasiões differentes das de administração dos alimentos. O numero de casos estu- dados foi muito reduzido de maneira a não permittir conclusões serias a respeito deste modo de usar as vacciuas. Resalta porem destes estudos que a tubercu- Hub T. R. e assim outras vaccinas podem ser absorvida! 100 pcío canal alimentar com fim therapeutico, mas resta provar que este methodo exceda em valor ao das injecções hypodermicas. Os auctores aventam a possibilidade de generalisar-se assim mais o uso do tratamento por meio das vaccinas, porque são muitos os pacientes que se negam ás injecções. CAPITULO VII Tratamento opsonico das moléstias, trata- mento das infecções medicas e cirúrgicas e das moléstias da pelle <•/•) este capitulo vou expor o que ha feito, o que ha para esperar, em matéria de tratamento pelas vaccinas das diversas infecções dos vários orgams da economia. Começarei pela tuberculose tratando da tuberculose pulmonar, tuberculoses cirúrgicas e outras, deixando para um paragrapho particular sobre as infecções da pelle, posto ao fim do capitulo, as tuberculoses cutaneas. Tuberculose.-Tendo por fim o tratamento opsonico augmentar a quantidade de opsoninas localmente e geralmente, em especial no ponto infectado, e remover as anti-opsoninas que possam existir, todas as medidas que deem taes resultados serão para ser observadas. Assim todos os meios therapeuticos capazes de pro- mover a utilisação das opsoninas, sem comtudo gene- ralisar a infecção, devem ser recommendados. As inoculações vaccinaes serão feitas no tecido cellular subcutâneo e não nos vasos porque assim haveria 102 o risco de intoxicação pela addição da vaccina aos venenos bacterianos já existentes. Quanto mais é localisada a infecção e quanto menos tem sido utilisado o mecanismo de immunização tanto melhor é o caso para o tratamento opsonico. Nos casos em que ha pyrexia, o que indica continuas auto-inoculações, o pri- meiro cuidado é supprimil-a, e isto se faz pelo repouso physico e mental, porque está provado que a auto inocu- lação se faz por exercicios desta natureza. WRIGHT referiu dois casos de pacientes que dansaram, cujos índices antes nunca foram inferiores ale que cairam a 0.12 e 0.33 respectivamente, etc., estes effeitos dos exercicios sobre o indice estão já tratados no logar competente. Uma temperatura pouco elevada e regular e um indice opsonico fixo indicam a localisação da infecção e conveniência para começar o tratamento. Quando não se consegue esta queda e estabilisação da temperatura é que se dá o contrario, não se faz a lecalisação do processo infeccioso, o tratamento não convém. A melhor tuberculina a ser empregada é a nova tuberculina de KOCH, T. R. cujos riscos de infecção, por causa de bacillos ainda vivos, acham se afastados pela descoberta de WRIGHT de que ella pode ser aquecida a 60° durante 1 hora sem se deteriorar, e de que pode ser addicionada de tricresol a 0,2 %. A1em da T. R. que é a recommendada pelo Prof. WRIGHT, pode-se usar qualquer das outras, T. Bk de BÉRANECK sendo a que me parece melhor. Um ponto também muito importante na escolha da tuberculina, infeliz* mente muito controverso ainda, liga-se á origem intestinal da tuberculose e á relativa importância dos 103 typos bacillares bovino e humano. Chocatn-se neste sentido as opiniões de KOCH e de BEHRING-, tão conhecidas de todos. RAW toma uma posição inter- média e considera possiveis no homem as infecções pelos dois typos, o bovino e o humano, typos de uma especie original unica, bastante differenciados para produzir lesões diversas no homem, assim para elle as tuberculoses miliares. a tuberculose intestinal primi- tiva, infecções tuberculosas das membranas serosas em geral nas crianças, lupus, tuberculose ganglionar e articular, são devidas ao typo bovino, emquanto que a tuberculose pulmonar, á excepção da forma miliar, é devida ao typo humano. Sendo assim, também refor- çando estas idéas as opiniões de WEST, Mc CONKEY e MAC FADYEN, comprehende-se a importância da origem da tuberculiua a ser usada. Dada a possibili- dade da iafecção fazer-se indilferentemente pelos dois typos, o caminho verdadeiro a seguir é empregar tuberculinas feitas com culturas do proprio paciente, como é regra primordial em therapeutica opsoiiica. E' diffici 1 de facto no caso particular do B. da Tuberculose a obtenção da vaccina autogenica, não é porém impos- sível. Um bom e recommendavel procedimento será começar o tratamento com T. R, de origem humana ordinaria, si no fim de 3 ou 4 injecções não houver melhoras, con;iuuar-se-á o tratamento usando T. R. de origem bovina. Começa-se o tratamento pondo o doente nas melhores condições de hygiene, ar puro e boa alimentação, e tornando apyreticos, pelo repouso conveniente, os casos que não o forem, sempre que se puder conseguir isto. Nas fôrmas agudas o indice será frequeutemente 104 determinado até que pela sua estabilidade possa-se concluir pela localisação da moléstia. A dose de inicio será minima de -j-J-- a de milligramma, conser. va-se o paciente em repouso para evitar novas auto-ino- culações, pesquiza-se o indice, pois só assim a dosagem póde ser scientificamente avaliada, si não ha o opso- nesto positivo que se espera a dósc será gradativamente augmentada até o effeito desejado, esta dóse será repetida 2 ou 3 vezes e só será augmentada cuidadosa- mente tendo como guia as pesquizas do indice feitas de 7 em 7 dias ou de 3 em 3 o que é preferível, attin- gindo-se assim ao máximo de 0,01 de milligramma. E' difficil obter-se um opsonesto positivo accumulado na tuberculose, para tentar este resultado dois ou tres dias depois que o indice chegou ao máximo faz-se nova injecção. A perfeição do tratamento attinge-se quando as injecções de doses augmeutadas não conseguem fazer grande perturbação no indice elevado, quando se obtiver isto as doses serão diminuídas e espaçadas. Não é preciso manter o doente no leito no dia da injecção e nos seguintes nos casos de tuberculose incipiente, póde se permittir pequeno exercício, comtauto que não haja auto-inoculações, para isso toma-se o indice frequentemente, que é o unico critério seguro, os symptomas clínicos são infiéis para indicar a injecção, eu insisto. LAWSON e STEWART são de opinião que o trata- mento de sanatorio deve ser auxiliado pelo uso da tuberculina, porque os casos apparentemente curados, mas de indice baixo não devem ter alta sendo aptos ás recidivas. Pelo quadro seguinte poder-se-á avaliar o 105 effeito da tuberculina nos 23 doentes que elles obser- varam . Casos índice antes da injecçâo índice depois da serie de injecçôes Num. de injecçôes 1 1.0 1.1 1 <•) 0.9 1.4 3 3 0.9 1.4 3 4 0.9 1 2 3 5 0.8 1.4 3 (5 0 8 1.0 4 7 0.8 1.3 5 8 0 8 1.1 1 9 0.8 1.0 3 10 0-8 1.2 o 11 0.7 1.1 4 12 0 7 1.5 3 13 0.7 1.0 2 14 0.7 1.3 3 15 0.7 1.3 4 16 0.7 1.2 3 17 0.7 1.3 3 18 0 7 1 3 4 19 0.7 1.3 4 20 0 5 1.1 5 21 0.5 0.8 2 22 0.5 1.5 4 23 0.5 1.1 5 Muitos teem sido os casos de tuberculose pulmonar referidos como tendo sido tratados pelo methodo opào- nico. TURTON em um bom escripto sobre o assumpto dá a relação de 17 casos tratados dos quaes 12 foram satisfactorios, os outros 5 não o aproveitaram, talvez devido ás más condições em que se achaiam. ROSS tratou uns 14 casos pelo mesmo methodo com resul- M. 14 106 lados muito animadores. NATHAN RAW refere 16» casos muito satisfactorios. Ha ainda os numerosos, casos de WRIGHT, HARRIS, MOLLER, TRUDEAU LAWSON e STEWART, etc., o que seria longo enumerar, que formam uma estatística bastante inte- ressante sobre o valor do tratamento opsonico. São bastante curiosas as experiencias de PATERSON sobre o tratamento da tuberculose pulmonar por meio das auto-inoculações produzidas por exercicio graduado e como se trata de uma modalidade do methodo opso- nico, dou aqui um resumo destas observações. Baseando-se na noção já adquirida e vulgarisada de que os movimentos activos ou passivos, produzidos nos fócos de infecção, promovem auto-inoculações das toxinas elaboradas pelos organismos microbianos productores das lesões e consequentemente reações immunísantes correspondentes, especialmente na tuber- culose pulmonar, cujos pacientes vivem «em uma suc- cessão de phases negativas e° positivas» no bom dizer de WRIGHT, mesmo sem exercícios, recolhidos ao leito, baseado n'isto M. PATERSON, do Bompton Hospital Sanatorium, propõe á «Medicai Society of London» em 13 de Janeiro de 1903 um methodo de tratamento da tuberculose por meio de exercícios graduadamente augmentados, verificando e dosando, por assim dizer, as auto-inoculações por meio da pesquiza do indice tuber- culo-opsonico. O methodo consiste em uma serie de esforços em razão ascendente a que teem de submetter-se os doentes, sendo os exercidos de andar de 1/2 até 10 milhas diariamente, conduzir carros com terra ou outro material; fazer uso de uma pequena pá; fazer uso de grande pá; fazer uso de um alvião; trabalhar 107 com um alvião durante 6 horas no dia. etc. A observa- ção da temperatura, do appetite etc., e especialmente do indice opsonico feita por seu collaborador A. C. INMAN, guiaram PATERSON no tratamento, esta- belecendo a quantidade e intensidade do exercício a prescrever, o indice opsonico dando conta da tuber- culina auto-inoculada. Quando o paciente não melhora com um exercício, prescreve-se-lhe outro mais forte, que produzirá o abalo necessário do organismo doente á inoculação de sua tuberculína. Chegou PATERSON á conclusão de que este methodo de tratamento posto ao lado do ar puro, da superalimentação, abreviam o tempo de estada dos doentes no sanatoiium, muito favoravelmente. INMAN, em uma communicação á mesma sociedade, recommenda para o bom resultado deste tratamento: (l.° Instituir a mais cuidadosa graduação do exercício; (2.° observar constantemente a temperatura, sendo o exercício parado logo que appareça a febre. O indice opsonico observado mostrou que, nos pacientes tratados pelo methodo, o estimulo necessário para produzir a auto-inoculação artificial é provocado pelos exercícios methodicos e regulados. E' um methodo de bases scientificas, que dá, ao ver de INMAN, os melhores resultados, porque apressando o tratamento, os doentes são despedidos e dão ao sauatorium capacidade de tratar maior numero delles. Discutindo esses dois trabalhos WRIGHT, na sessão da sociedade a que elles foram apresentados, observou judiciosamente que, admittindo a possibilidade do uso do tratamento da tuberculose pelo methodo da auto- inoculaçãu, achava que o uso da tuberculína permittia 108 começar por doses minimas e augmentar a quantidade quando fosse necessário, assegurando assim mais garan- tia de verificação do que a auto-inoculação. Já, em logar opportuno, me referi ao methodo recen- tissimo de administração buccal ou rectal da tubercu- lina no tratamento da tuberculose, e como não é assumpto ainda perfeitamente esclarecido não direi delle mais nada. Nas tuberculoses cirúrgicas o tratamento opsonico tem sido de resultados muito grandes, como se vae ver. ROSS dá conta de vários casos tratados com successo, curados pela tuberculina, casos de tuberculose do rim, epididymite e orchite, tuberculose ossea e articular, peritonite. Dá a observação de um caso de cystite, de symptomas intensissimos curado completamente em 9 mezes. BULLOCH tratou 1 caso de tuberculose do testículo e da próstata, que tinha sido julgado incurável cirur- gicamente, ficando bom o doente em tempo relativa- mente curto. Muitos são os casos de adenite tuber- culosa tratados com resultado por Sir WRIGHT. ROSS descreve 2 casos brilhantes de cura de adenite tuberculosa cervical. Dr. FRANK DUNNE tratou 2 doentes de tuberculose articular com o melhor resul- tado pela tuberculina de DENYS, e também vários casos de tuberculose ganglionar. RAW tratou 23 casos de adenites tuberculosas com os mais extraordinários resultados, 27 casos de arthrite tuberculosa também foram tratados pelo auctor com real successo, abcessos e fistulas, peritonites, meningites tuberculosas também foram tratadas. JOUSSET louva o tratamento opsonico das tuberculoses laryngéas e ganglionares. 109 BUCHANAN curou um caso de meningite tuber- culosa com injecções de T. R. no canal rachidiano (1 4000 milligr). THOMSON WALKER refere muitos casos tratados pelo methodo opsonico de affecções tuberculosas genito-urinarias. Os casos de tuberculose do apparelho urinário tratados por PARDOE não podem servir para julgar do methodo opsonico porque este auctor usou grandes doses e sem certas precauções, a sua estatística é não obstante de 24 % de curas, 20 % de grandes melhoras, 28 % de casos não melhorados e 28 % de mortes. Elle considera que a tuberculina não deve ser usada quando os dois ureterios estiverem com- promettidos. Outros investigadores obtiveram resul- tados mais importantes pelo methodo opsonico, nessas fôrmas de tuberculose uro-genital. Caries do maxillar de origem tuberculosa, synovite tuberculosa grave do joelho foram curadas completamcnte em 6 mezes, com perfeita mobilidade da articulação. No tratamento das tnberculoses cirúrgicas a associação dos tratamentos cirúrgicos clássicos ao uso da tuberculina é muito recommendavel, já abreviando o tempo do tratamento, já fazendo-o mais seguro e activo. Os methodos de BIER, de KLAPP, as operações diversas, etc., são meios nunca desprezíveis. Nas adenites tuberculosas em que houver signaes de suppuração a ablação cirúr- gica deve ser feita sendo seguida pelo uso da tubercu- lina para evitara recidiva eassegurar a bôa cicatrização. Nas tuberculoses oculares os resultados teem sido tão completos que o Prof. von HIPPEL diz que o uso correcto da T. R. pôde curar os casos mais graves de tuberculose ocular. ROSS dá conta de um caso, em ama creança de 12 armas, de irite tuberculosa dupla 110 complicada de keratitis punctata. curado pela T. R. BROWN publicou também um caso de irite tuberculosa curado completamente em 6 mezes do mesmo trata- mento. CLARKE e MAYOU publicaram um caso de irite complicada de keratite, tratado durante 1 anuo com 21 injecçõcs de T. R. ficando o olho praticamente normal. CLARKE ainda publicou um caso de tubérculo* conglomerados e confluentes da iris com resultado maravilhosamente completo pelo mesmo tratamento- ALLEN tratou 3 casos de irite tuberculosa, como também vários de keratite com resultados muito bons. Infecções pelo estaphylococco.-Tratarei agora das iti. fecções estaphylococcicas dos vários orgams exceptu- ando as de pelle que, como já fiz ver, serão tratadas no ultimo paragrapho. O staphylococcns aureus e albus são responsáveis por inflammações esuppurações em todas as partes do orga- nismo. As doses de vaccina variam de 100,000,000 a 1,000,000,000. As affecções que teem sido tratadas pela vaccina estaphylococcica são, periostite, osteomyelite, endocardite ulcerativa estaphylococcica, endometrites, pleurisia, peritonite, meningite, abcessos, etc. ROSS refere casos de osteomyelite, panarícios, feridas sépti- cas, infecções da orbita, tratados com excellentes resultados. ALLEN tratou proveitosameute ulceras da cornea de origem estaphylococcica. RITCHIE tem curado abcessos nos primeiros pe. riodos, e usa das vaccinas para fazer abortar os abcessos e abreviar-lhes a cura. Os furunculos das palpebras, os abcessos das glandulas de Meibomius são f ivoravel- meute influenciados pelo tratamento opsonico. Infecções estreptococcicas.-O estreptococco dá logar 111 a grande nmnero de infecções nos differentes orgams, inflammatorias e suppurativas, e infecções geraes, as septicemias. As doses de vaccina são geralmente baixas, 50,000,000 como inicial maxima indo até 250,000,000; nas septicemias 10,000,000 é a dose commum a ser repetida frequentemente. Os indices opsonicos nas infecções estreptococcicas são muito variaveis. ás vezes muito altos, tem-se registrado até 10,0. Varias teem sido- as affeeções tratadas com successo, infecção puerperal, erysipela, periostite, pyemia, dacryocystite, endocar- dite estreptococcica, septicemia, empyema. ALLEN refere casos de dacryocystite chronica e erysipela da face tratados com muito proveito. ROSS publicou casos de pyemia e infecção puerperal, fistulas consecutivas a laparotomias tratadas com resultado muito lisongeiro. WRIGHT curou uma erysipela post* opcratoria com tres injecções de vaccina estrepto- coccica. Nas art hrites e nos empyemas estreptococcicos são bem favoráveis os resultados obtidos até agora. Casos de septicemia e endocardite teem sido publicados por Sir JAMES BARR e outros DOUGLAS, SUTC- LIFFE e BAYLY, com bom resultado, WRIGHT publicou 6 casos sendo 3 desfavoráveis, THOMAS HORDER publicou 2 casos sem resultado grande. Também teem sido tratados por vaccina estreptococ- cica casos de complicações de escarlatina, nephrite, angina e adenite. As vaccinas contra as infecções estaphylo e estreptococcica também podem ser usadas como agentes preventivos em cirurgia, quando não podem ser tomadas perfeitas medidas asepticas e anti- septicas, ou quando a vitalidade do paciente está enfraquecida e é provável uma infecção secundaria; 112 tias operações da bocca onde não se póde evitar a infecção secundaria é prudente levantar o gráo de defeza do paciente contra o pús antes de empreheuder a operação, nos diabéticos e albutninuricos evitar-se-ão assim os insuccessos operatorios, na abertura dos abcessos tuberculosos para evitara infecção secundaria delles, em feridas accidentaes de asepsia duvidosa e quando a mutilação dos tecidos torna quasi fatal a suppuração. (BERGEY). Infecções pneumococcicas.-As affecções produzidas pelo pneumococco são varias, pneumonia, otite, me- ningite, arthrite, conjunctivite, pericardite, pleurisia, peritonite, empyema, endocardite, abcessos, periostite, nephrite, perinephrite, pyemia, metrite, salpingite, heratite ulcerosa, cystite, etc. As doses de vaccina variam de 10 a 50,000,000. As pneumonias curam em geral por crise depois de 1 a 2 injecções de vaccina. Em quasi todas estas affecções os resultados obtidos pelo methodo opsonico são muito satisfactorics; dos resultadosobtidos pelos vários investigadores queria eu dar aqui conta, não me permitte o limite a que teuho de cingir-me neste trabalho; no falar das outras infecções a pobreza que se nota neste livro de documentação demonstrativa é também sempre devida a este motivo, sendo que só me faço mais explicito nos pontos exces- sivamente importantes. Infecções gonococcicas.-São urethrites, periurethrite, prostatite, vesiculite, epididymite, orchite, arthrite, cystite, conjunctivite, endocardite, endometrite, sal- pingite, peritonite, septicemia e pleurisia. O trata, mento opsonico, si bem que difficil em se tratando 113 destas infecções por causa das culturas do gonococco que são delicadas, tem dado resultados muito bons e animadores especialmente nas urethrites, arthrites, septicemias e conjunctivites dos adultos de que é o melhor tratamento sem duvida. As doses do gonococco em vacciua são pequenas 50,000,000 tendo como máximo 250,000,000, devido a suas toxinas serem muito poderosas. Havia ainda muita coisa interessante a escrever a proposito das infecções gonococcicas, pelo menos um relatorio demonstrativo de casos tratados. Infecções pelo B. ccli communis.-Das affecções pro- duzidas pelo B. coli são mais communs as seguintes: appendicite, abcessos appendiculares, cystite, ure- thrite, peritonite, cholecystite, ínfíammação dos duetos biliares, enterite, perityphlite, abcessos renaes e perirenaes, fistulas abdominaes ect. Dose 25,000,000 a 200,000,000. Infecção pelo Micrococcus inelitensis.-Na febre de Malta tem se usado o tratamento opsonico com vanta- gens, WRIGHT, REID e BASSET-SMITH (47 casos) trataram muitos casos com a vaccina de M. meliteiisis. Dose inicial de 50.000,000 que é raramente excedida. Infecções por outras bactérias.-No catarrho nasal, tracheal e dos sinus accessorios, teem sido usadas as vaccinas, simples ou mixtas conforme os casos, de B. Friedlander, B. Infiuenzce, B. septus, Micrococcus catarrhalis, etc. em doses de 150,000,000 ou 200,000,000 com resultados muito notáveis. (ALLEN). Foi tentado o tratamento opsonicc da paraiysia geraj pelas vaccinas de B. Paralyticans de ROBERTSON M. 15 114 e MC RAE, os resultados não são porem bem deter- minados. As vaccinas de Micrococcus neoformans (DOYEN). foram experimentadas no tratamento dos tumores malignos sem o proveito que deveria se obter no caso de ser este microrganismo a causa destas lesões. O London Câncer Hospital não dá valor a esta vaccina. Reserva-se seu uso para os casos inoperáveis, consi- derando que, si bem que não seja o agente causal da moléstia, elle existe quasi sempre associado ao câncer. A meningite cerebro-espinhal tem sido tratada pela vaccina de meningococcus em doses de 200,000 a 500,000. Os casos publicados são em pequeno numero, de modo que não se póde fazer conclusão seria sobre o assumpto. O Dr. CARMALT-JONES deu conta á Harveian Society (sessão de 13 de Fevereiro) de 27 casos graves de asthma bronchica, que haviam resistido a todos os tratamentos usuaes, tratados por inoculação de vaccinas preparadas com um microrganismo especial isolado do escarro; destes 24 casos 16 tiveram muito grandes melhoras e 11 melhoras apreciáveis. Como se vê, teve por fim, este paragrapho, somente dar algumas noções do tratamento das affecções mais importantes, doses medias etc. e uma como relação de casos que é a mais completa que pude fazer, attentas as condições todas deste trabalho. Moléstias da pelle,-Nas moléstias da pelle tem sido applicado o methodo de WRIGHT de tratamento opsonico com resultados muito satisfactorios e cons- tantes em umas, emquanto que em outras os resultados- são inferiores. 115 Data o tratamento opsonico das moléstias da pelle de 1902, quando WRIGHT apresentou seu trabatho sobre o tratamento do furunculo, acne e sycose pelas vaccinas. Nas moléstias de natureza estaphylococcica, especi- almente na furunculose os resultados desta tlierapeutica teem sido grandemente animadores, como passo a mostrar. Furunculose.-VARNEY (Detroit) communicou em Junho de 1907 á American Medicai Association, as observações do tratamento de 5 pacientes que soffriam de furunculose, tres dos quaes soffriam já por vários mezes. A primeira paciente depois de duas vaccinações autogenicas restabeleceu-se completamente, sendo que depois da primeira injecção não appareceram novos furunculos e os outros desappareceram rapidamente. No segundo caso, de furunculose múltipla, seguindo uma serie de 4 abcessos do recto, os furunculos e abcessos deixaram de apparecer depois que foram feitas vaccinações autogenicas. O terceiro caso foi o de um homem que tinha tido furunculos múltiplos das mãos, e também eczema papuloso chronico, que existia continuameute, havia dois annos, a despeito de trata- mento cuidadoso, depois de 3 inoculações de vaccina autogenica, não havia maís novos furunculos, e o eczema depois curou-se. Os outros dous casos foram também favoráveis, e não houve recahida da moléstia até depois de vários mezes. Não foi feito entretanto nenhum outro tratamento. Para VARNEY o desapparecimento total espontâneo dos furunculos, depois que os pacientes estão desil- ludidos de todas as medicações e que as abandonaram,. 116 é devido a que se effectuam no organismo inoculações naturaes de toxinas que actuam, como uma verdadeira vaccinação, augmentando a resistência opsonica do paciente. Os resultados obtidos com os meios mecâ- nicos, como a hyperemia passiva de BIER, os raios X e a luz de FINSEN, diz elle, são devidos a auto- inoculações de productos bacterianos promovidas por esses meios, que augmentam as opsoninas, provocando a cura. Em 4 casos de furunculose de BULLOCH 3 curaram completamente e 1 recahiu, eram alias casos antigos que resistiram a todo o tratamento anterior. ALDERSON relata uma observação de um caso de furunculo-e em que os furunculos foram evacuados e eauterisados pelo acido phenico sendo o doente ino- culado com 439 milhões de estaphylococcos, tendo desapparecido todas as lesões em 3 semanas, não se sabendo se houve qualquer repetição dos furunculos pois o doente não foi mais visto. ROSS tratou 11 pacientes de furunculos, 9 curaram-se ©os outros 2 melhoraram muito. Em sua memória apresentada ao 6? Congresso Inter- nacional de Dermatologia (New-York 1907, 9-14 de Setembro) WHITFIELD, de Londres, declara que o tratamento opsonico dos furunculos tem tido em suas mãos o mais completo e brilhante successo, e todos os casos de que teve noticias posteriores foram de curas permanentes. O maior numero de injecções usadas foi de 8 e a dose de 250 a 1,000 milhões de estaphylococcos. Somente um ou dois doentes tiveram um furunculo depois de começado o tratamento porem o grande, numero não teve mais nem um depois da primeira 117 injecção. E conclue que o tratamento opsonico dos furunculos é sempre favoravel e é a unica fórma de tratamento que deve ser usada na furunculose genera- lisada. SCHAMBERG, GILDERSLEEVE e SHOEMAKER (Philadelphia) em memória apresentada ao mesmo Congresso, referem tres casos de furunculose tratados por este methodo. O primeiro caso, de furunculose chronica datando de vários annos, foi curado com 6 inoculações de vaccina, sem outro tratamento a não ser a evacuação do pus. Tendo começado o tratamento a 19 de Junho 1907 terminou a 20 de Agosto. O segundo caso, de furunculose aguda, foi curado cóm uma injecção de 300 milhões de S. p- aureus. O terceiro caso, de furunculose chronica, de 2 anncs de duração, em um medico, melhorou sensivelmente desde a pri- meira injecção, tendo tomado tres, está ainda em tratamento ao tempo da communtcação. Concluem elles que na furunculose o resultado deste methodo de tratamento é raais constantemente favoravel do que nas outras moléstias; e este meio de levantar o poder defensivo do. paciente contra a invasão do estapny- lococco parece ser o unico tratamento scientifico desta moléstia. THORNE refere um caso de furunculose rebelde, de 3 annos de duração, curado por 6 injecções de vaccina estaphylococcica. OHLMACHER também dá conta de um caso de furunculose- chronica em uma creança de 2 annos curado pelo methodo de WRIGHT. PARK e BIGGS proclamam também a excellencia do tratamento opso-nica da furunculose e acne. 118 Resalta das opiniões transcriptas destes diversos especialistas, entre elles havendo-os do maior mérito- como A. WHITFIELD de Londres, que é tão bem conhecido, que a opsonotherapia da furunculose toma verdadeiro caracter especifico e eleva-se á altura de um tratamento de escolha. São poucos os casos en> que elle não dá resultados satisfactorios, é o trata- mento mais racional e scientificamente recommendavel nesta moléstia. Com a generalisação deste methode, os antigos meios de tratamento da moléstia passarão a ser de uma importância muito inferior, porque não dão resultados tão seguros como elle, são infiéis e impotentes as mais das vezes. Sycose. - COLCOTT FOX refere um caso de Sycose coccigenica que envolveu todas as regiões cabelluda, da face por 10 mezes, e que elle considera curados ao apresentar á Secção de Dermatologia da « Royal Society of Medicine» de Londres, pelo uso de vaccinas estaphylococcicas de que só fez quatro injecçôes de 8 de Outubro a 28 de Novembro de 1907. Fm dois casos tratados por VARNEY cs resultados são: em um caso muito imperfeitos, em outro são excellentes, porque uma forma rebelde de sycose, de 6 annos, resistindo a todo o tratamento, foi curada por 3 injecçôes de vaccina autogenica. Um caso também de sycose rebelde foi curado pelas vaccinas autogenicas, sendo precisas somente duas inoculações, por SCHAMBERG. Para WHITFIELD a sycose é mais resistente ao tratamento do que outras affecções da pelle, sendo muito apta ás recahidas, especialmente nos casos 119 <ru que ha corrimento nasal e ' frequência de coryza comtnutn. Tem elle combinado o tratamento com a depilação pelos raios X com declarada vantagem, aconselha continar o tratamento por muito tempo em proporção com a duração da doença. BUELOCH tratou dois casos de sycose sendo um curado e o outro recahiudo tempo depois. SCHAMBERG, GILDERSLEEVE e SHOEMAKER, dão nove observações de sycose tratada pelo methodo opsonico. O primeiro caso, de uma sycose de 5 mezes, que havia resistido aos tratamentos locaes empregados, loções e pomadas de enxofre, mercúrio e ichthyol e raios X, e que curou com 2 injecções de vac- cína em 18 dias, sem outro tratamento empregado concomitantemente, sem recidiva até cinco mezes depois, ficando a pelle inteiramente.sã, sem uma unica pustula. O segundo caso foi tratado durante cerca de 3 1/2 mezes, tendo soffrido uma injecção só, e tendo melhorado sensivelmente ficou quasi cuiado. O ter- ceiro era de um?, sycose de 11 annos, limitada ao iabio superior, que com uma só injecção ficou quasi boa, a placa permaneceu um pouco vermelha e esca- mosa, mas sem pustulas. O quarto era um caso muito grave de todo o bigode e barba de ambos os lados. Com seis inoculações de vaccina apresentou melhora muito pronunciada, ficando ainda em trata- mento. O quinto, sycose do labio superior, de cinco annos de duração, com tres injecções, melhorou grande- mente e parece estar quasi bom. O sexto, recebeu sete injecções em doze semanas, porem continuou a ter recahidas e não se pode dizer que melhorou. 120 O sétimo era um caso de sycose rebelde do labio e queixo de quatro annos de duração, soffreu quatro inoculações, seguidas de melhora, depois recidivando a affecçQO, de maneira que não pode ser julgado satisfactorio. O caso oitavo com duas injecções não teve nenhuma melhora. O nono e ultimo caso de sycose vulgar, de dois annos de duração, com 4 injecções mostrou-se melhorado porem o resultado não foi tão compensador como em alguns dos outros casos. E' impossível explicar porque casos de syco-se curam-se com uma ou duas inoculações emquanto qne outros resistem a sete; nenhum tratamento deu nas mãos de e seus collaboradores melhor resultado na sycose rebelde do que a opsonotherapia, a não serem talvez os raios X que não obstante pro- duzem uma atrophia definitiva dos folliculos pilosos, que é desfigurante. ALDERSON cita, como observação de WRIGHT, um caso de sycose, com tratamento opsonico, um mez depois de começar o tratamento estava bom, havendo porem uma recahida seis mezes depois. TURTON e PARKIN referem ura caso de Sycose. que ficou quasi bom» em quatro mezes. ROSS acha a sycosis barbos muito facilmente curável pelas vaccinas estaphylococcicas, e cita um doente que elle tem em tratamento que está quasi bom, e que tinha uma sycose de quatro annos de duração. Não se póde dizer qne o tratamento opsonico da sycose simples seja infallivel e seguro, mas em uma moléstia tão impertinente e que tanto resiste aos trata- mentos diversos já é um valioso auxilio therapeutico, um methodo que dá cerca de 50 % de casos favoráveis. 121 Demais, este tratamento pode ser auxiliado de meios que lhe augmentem o valor, como a hyperemia passiva, os raios X actuando como agente depilatorio e hyperemiante, etc. Os resultados obtidos já são de maneira a não permittirem que seja desprezado o tra- tamento opsonico da sycose. Acnç.-Ha na literatura dermatológica uma serie não muito pequena de casos tratados pelo methodo opso- nico, esses casos vou recordal-os. VARNEY, em uma serie de sete casos tratados com «stock vaccine» obteve melhoras pronunciadas em começo, ficando estacionários depois de tres a cinco injecções, não havendo cura completa em nenhum caso do grupo. Em um grupo de cinco casos foram empregadas vaccinas autogenicas sendo quatro curados, o que demonstra a superioridade e valor da vaccina autogenica. Em outro grupo de 21 casos, 9 dos mais extensos e antigos foram tratados por vaccinas autoge- nicas, reguladas pelos indices, seis foram curados, um interrompeu o tratamento, e dois necessitaram a com- binação de outro tratamento para uma cura completa. Das notas de WHITFIELD vê-se que cinco casos foram curados brilhautemente, depois de experimen- tados sem resultados todos os outros tratamentos. Em outro grupo um melhorou pouco, outro recidivou, 3 casos tratados por vaccinas autogenicas não melhora- ram, um outro também não melhorou nada. Estas observações levaram WHITFIELD a concluir que o tratamento opsonico da acne é incerto, em alguns casos brilhante, em outros sem o menor proveito. Von EBERTS, em um caso de acne indurata depois 122 da 1* injecção de vaccina não notou nenhuma melhora. PERNET e BUNCH apresentam um. caso de acne vulgar da face e nuca, refractario ao tratamento opso- nico, pois teve uma serie de recahidas. Em cinco casos de acne facial BULLOCH obteve outras tantas curas. ROSS tratou 5 casos de acne vulgar conseguindo curar uns e melhorar serianiente outros. SCHAMBERG e seus collaboradores dão sete obser- vações de acne tratada pela opsonotherapia. O primeiro tinha um anno de duração., acne indurata et pustulosa da face, recebeu sete injecções, tendo melho- rado muito, sem tratamento local e ficou em tratamento. O segundo, de dois annos de duração, da mesma fórma clinica, recebeu seis injecções sem ter melhorado muito. O terceiro, com pequenas lesões papulo-pustu- losas da face, de sete annos de dnração, recebeu quatro injecções sem desapparecirnento das lesões de acne, somente melhorando da vermelhidão diffusa que se poude dar como curada. O quarto, de onze annos de duração, com tres injecções teve uma ligeira melhora somente. O quinto, de duração de cinco mezcs, tres injecções sem proveito. O sexto, de duração de doze annos, recebeu quatro injecções em dois mezes, me- lhorou graudemente. O sétimo, de duração de 8 mezes, melhorou consideravelmente depois de uma inoculação de 400 milhões de S. albus e aureus misturados. Os resultados de SCHAMBERG são muito incompletos, considerando suas notas de casos quasi sem curas registradas. FRENCH refere que dois casos de acne extensa e 123 rebelde em dois estudantes de medicina melhoraram muito com a opsonotherapia. Diz OHLMACHER que dois casos de acne grave foram quasi curados, notando que dcsappareceu a seborrhea oleosa associada. AEDERSON, refere um caso em que depois de 3 injecções a acne começou a melhorar devagar, e outro em que as lesões melhoraram muito em uma semana de tratamento não sendo mais visto. Refere também, como observações de WR1GHT, tres casos curados «de acne chronica de typo aggravado» assim classificados e sem outro tratamento auxiliar. TURTON e PARK1N dão as notas de dois casos de acue, um muito melhorado era 21 semanas, outro cu- rado em 13 semanas. SCHAMBERG, discutindo uma communicação de VARNEY, apresenta um caso de melhora de acne pustulosa sob o tratamento opsonico. O tratamento da acne pelo methodo de WRIGHT, não pode ainda ser definitivamente julgado, porque não ha ainda numero bastante de observações. Mao em alguns casos, pois não deu resultado nelles, um tanto aproveitável em outros, pois nelles, produziu algumas melhoras. Si elle não é muito animador e mesmo de grande valimento, é certamente porque está imperfeitamente estudado, pois não sendo a acne vulgar produzida por S. pyogenus somente, sendo que estes parasitas são de uma infecção secundaria da pelle em suas glandulas, e só se fazendo uso de vaccinas estaphylococcicas, não se póde conseguir mais do que remover a suppuraçâo destas lesões acneicas o que de facto se dá na maioria dos casos. Quando se fizer uso 124 também, das vaccinas dos microbips tidos como pro- ductores da moléstia, microbacillo, ou bacillo da acne de GILSCHIRST ou outro, como parece ter experi. mentado VARNEY, os resultados certamente serão de fórma a não se desdenhar. Ecthyma, erupções bolhosas, impetigo, suppurações e abcessos da PERNET e BUNCH trataram dois casos de ecthyma pelo methodo opsonico. Um caso de lesões muito espalhadas nos quatro membros, depois da primeira vaccinação com 600 milhões de estaphylococcos misturados, melhorou sem sivelmente, recebendo varias outras até ficar curado na opinião dos auctores. O outro caso é de resultado incompleto porquanto as lesões não sararam inteira- mente por terem como causa a syphilis. Também citam, tratados pelo mesmo methodo, os mesmos auctores, dois casos de erupção bolhosa, de natureza infecciosa, devida como elles verificaram ao estreptococco, mas com infecção secundaria pelo estaphylococco. O primeiro melhorou pelas injecções de vaccina, porem ficou ainda em tratamento. O segundo foi curado com duas injecções de vaccina estreptococcica preparada com as suas próprias culturas. WHITFIELD publicou 1 caso de dermatite séptica que muito approvcitou com o tratamento opsonico, o que o levou a concluir que este methodo de tratamento das ulceras e dermatites sépticas é de grande valor pelo menos como um auxiliar. VON EBERTS tratou dois casos de impetigo, ambos curaram-se ao cabo de uma semana com uma só injecção de vaccina. 125 Mc CLINTOCK tratou pela opsouotherapia 18 casos de affecções purulentas da pelle, curando 10 casos. ROSS tratou um caso de «suppuração grande das mãos» com proveito pelas vaccinas estaphylococcicas. São de TURTON et PARKIN os seguintes casos: um classificado «pustulas na face», com cura e reca- hida; outro classificado igualmente, quasi bom em 16 semanas; um outro de «pustulas nos punhos e mãos», curado em tres mezes; um de anthraz curado completa- mente em cinco semanas. Nas erysipelas os resultados são excellentes. ROSS tratou um caso de anthraz, com resultado favoravel, tendo desapparecido toda a dôr em 48 horas e a inflammação em 1 semana. Apresentou GALLOWAY á «Royal Society of Medicine» um caso de psoriase, com suppuração das placas tendendo a invadir os glanglios lymphaticos, tratado pelo methodo opsonico, com algum resultado quanto á suppuração que, não obstante, deu recidivas. Nas suppurações da pelle em geral o tratamento opsonico é bastante aproveitável, porque na maioria dos casos, por meio de inoculações de vaccinas esta- phylococcicas e estreptococcicas, consegue-se remover o elemento pús. E' de valor inegável e deve ser em- pregado não só nos casos rebeldes, mais também nos de menor importância, porque não se póde fazer uma estatistica seria com os casos perdidos somente. psoriase.-SCHAMBERG deu conta de um caso de eczema pustuloso tratado com successo pela vaccina estaphylococcica, porque sendo removida por este meio a suppuração ficou mais apto ao tratamento. Refere também a tentativa de tratamento feita em um 126 caso de psoriase que melhorou temporariamente com o uso de injecções de vaccina preparada com staphylococcus albus obtidos por cultura das escamas do paciente. Teberculose da pelle.-As tentativas de tratamento das affecções tuberculosas da pelle, ou tidas como taes, teem sido feitas com relativa frequência pelo methodo opsonico. Vou recordar a literatura do assumpto. Lupus vulgar.-PERNET e BUNCH referem tres casos. O primeiro foi tratado cinco annos em Hospital da especialidade em Londres, com pouca melhora, tinha algumas 20 placas espalhadas pelo pescoço, nuca e membros e outras mais recentes em varias regiões. Depois de começar o tratamento por injecções de T. R. não appareceram novas lesões, nenhuma das existentes augmentou em tamanho ou dureza por menos que fosse, as mudanças soffridas foram todas no sentido de melhora, está ainda em tratamento. O segundo caso de lupus da orelha, do nariz e têmpora esquerda, tra- tado pela T. R. e vaccinas estaphyiococcicas, porque o indice estaphylo-opsonico era baixo, melhorou o aspecto clinico e continua em tratamento. O terceiro, de lupus maligno, tratado por T. R. melhorando o estado geral, as areas affectadas ficando mais pallidas e menos duras, melhorando muito porem a placa que ficou junto do local das injecções. NATHAN RAW tratou 24 casos de lupus vulgar, e declara que foi esta a affecção em que obteve melhor resultado com a tuberculína, em todos os períodos de evolução o lupus responde rapidamente ás injecções, não usou tratamento auxiliar nem mesmo escharificação ou medicação interna, só em 2 casos houve recidiva, as cicatrizes são firmes. 127 Todos os casos tratados por WHITFIELD puderam ser julgados como tendo parado a evolução da moléstia, excepto um, combinou elle também com proveito o emprego dos Raios X. Von EBERTS tratou dois casos pela tuberculina, um melhorou a principio, no outro uma lesão do labio superior curou completamente depois de tres mezes de tratamento. Um caso de lupus foi tratado por G. ROSS com successo, elle porem pensa que o lupus é refractario ao tratamento pela tuberculina, emquanto a dermalitis tuberculous (sic) responde mais satisfactoriamente ás injecções. WHITFIELD apresentou á «Royal Society of Medi- cine» (21 de Maio de 908) uma rapariga com lupus disseminado com lymphangite chronica da face e osteo- arthrite das mãos que melhorou sob o tratamento com- binado da tuberculina e vaccina estaphylococcica. Ha os casos de WRIGHT que já não são em pequeno numero, com resultados satisfactorios; BULLOCH tratou 7 casos; GRAHAM LITTLE, B. HARRIS TURTON e PARKIN, G. ROSE, EBERT HILL, REYN e KJER-PETERSEN, todos trataram maior ou menor numero de casos. Moléstia de Bazin.-Tratou WHITFIELD dois casos de erythema induratum pela tuberculina com resultado incerto, de algum valor embora. Ulceração tuberculosa.-WHITFIELD julga de grande valor o tratamento opsonico das ulceras tuberculosas. Lupus erytkematoso. - SCHAMBERG e outros trata- ram um caso de lupus erythematoso, com resultados 128 ainda não interpretados, continua em tratamento, pela T, R. de KOCH. BUNCH apresentou á «Royal Society of Medicine» (sessão de 16 de Julho de 908) um caso de Tuberculide anómala que elle está tratando pela T. R. e Raios X. Na tuberculose da pelle, eu concluo, os resultados do tratamento opsonico são reveladores de um futuro brilhante para este methodo therapeutico; no lupus vulgar os successos são innumeros, como ligeiramente mostrei, nas ulceras tuberculosas então elle é, póde-se quasi dizer, maravilhoso. PROPOSIÇÕES PROPOSIÇÕES primeira (Secção ANATOMIA DESCRIPTIVA I. -O nervo grande sciatico é o mais longo e o mais volumoso do corpo humano, extendendo-se da raiz da coxa até o losango popliteu, onde se bifurca dando o sciatico popliteu interno e o externo. II. - Sae da bacia pela parte inferior da grande chan- fradura sciatica, para fora dos vasos ischiaticos e pudendos internos, abaixo do pyramidal. III. Na coxa, o grande sciatico dá ramos aos tres musculos da região posterior e ao grande adductor. ANATOMIA MEDICO-CIRURGICA I. -O diverticulo de MECKEL é uma porçã,o do intestino, analoga aoappendice vermicular docoecum, implantada na parte inferior do iléon. II. -Este appendice póde ser a sede de infecções; a sua inflam mação tem o nome de divertícullte, é compa- rável á appendicite. III. Quando o diverticulo é muito desenvolvido, pode ser a causa de um estrangulamento intestinal enrolando-se em torno de uma porção vizinha do intestino. (Segunda (Secção HISTOLOGIA I.-A cellula cartilaginosa caracterisa-se pela pre- sença, em torno de seu protoplasma, de um envolucro chamado capsula. 132 II. - A cellula cartilaginosa tem a forma approxi- mada de um ovoide ou de uma esphera, e tem de diâmetro 4 a 30 micra. III. -A sua multiplicação faz-se por divisão indirecta ou caryocinese. BACTERIOLOGIA I. -A therapeutica preventiva da infecção typhica é obtida pelo serum anti-typhico do Professor CHAN- TEMESSE e pela vaccina de Sir WRIGHT. II. -A vaccina de WRIGHT, que fez suas provas nos exercitos coloniaes inglezes, é uma cultura do bacillo, esterílisada a 65°, que se usa em doses de 0,50 a 0,75 de c. c. III. - A duração da immunidade promovida por esta vaccina não excede um anno. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS I. - Ha duas variedades de angiomas: simples e cavernosos. II. -Nos angiomas simples os vasos neoformados em nada differem dos normaes quanto a sua consti- tuição, as alterações são somente de numero e dimensão. III. -Na forma cavernosa dos angiomas os vasos são substituidos por um systema lacunar analogo ao dos orgams erecteis. gere eira (Secção PHYSIOLOGIA L -A pelle intervem poderosamente para manter a temperatura constante do corpo humano. II. - Esta funcção é despertada pela excitação, que põe em actividade a sensibilidade thermica, que dá 133 origem a um refllexo em que entram em acção os nervos vaso-motores e os excito-sudoraes. III. - Os vaso-motores agem determinando cons- tricções ou dilatações vasculares, productoras de anemia ou hyperemia, que vão lutar contra ou a favor da perda de calor, modificando sua irradiação; os excito-sudoraes determinam a estimulação das glân- dulas que assim secreta m e excretam maior quantidade de suor que, evaporado ao contacto do ar, provoca grande perda de calor. THERAPEUTICA I. -A agua do mar levada á isotonia organica (plasma de QUINTON) tem sido ultimamente muito usada no tratamento de certos estados morbidos. II. Assim, na gastro-enterite infantil ccnstitue uma medicação muito própria. III. -Nas perturbações menstruaes, na tuberculose, nos estados neurasthenicos, nos estados cacheticos, seu emprego vaese generalisando. Quarta <Seação MEDICINA LEGAL I. -A prova de das precipitinas, é de todo o valor na distincção e reconhecimento das manchas de sangue em medicina judiciaria. II. - Sabe-se que as soluções do serum humano postas em contacto com o serum de um animal immu- nisado com o sangue de homem dão um precipitado, o que não acontece com as soluções do serum de um animal de especie differente. III. -A technica do processo é muito simples: trata-se a mancha a estudar por uma pequena porção 134 de solução normal salina, á solução limpida juntam-se algumas gottas de serum verificador, de coelho immu- nisado cóm o sangue humano, em um tubo de ensaio pequeno de DURIIAM, sendo que a formação do pre- cipitado revela que o sangue da mancha é humano ou de animal deespecie muito próxima, como o macaco. HYGIENE I. - A dança da nossa sociedade não póde, absoluta- mente, ser considerada como um exercício util sob o ponto de vista hygienico- II. Ella é prejudicial, fatigante e deprimente, exercida como é em espaços confinados e grande- mente aquecidos. III. A dança ao ar livre, nos jardins etc., não pra- ticada em excesso, o que entre nós é raro, seria porem tolerável. Quinta (Secção PATHOLOGIA CIRÚRGICA I. -Para o diagnostico dos kystos hydaticos é de muito auxilio a prova das precipitinas, proposta por FLEIG e LISBONNE. II* A persistência da reacção, algumas semanas de- pois da operação, indica a existência ainda do parasita. III. ~A reacção positiva é independente da situação e da natureza do conteúdo do kysto, como provaram WELSH e CHAPMAN. OPERAÇÕES E APPARELHOS I -A laryngotomia intercricothyroidiana é a incisão da membrana deste nome, somente possível no adulto, e destinada a substituir a tracheotomia. II. - Esta operação praticada pelo processo de 135 RICHELOT é inegavelmente a melhor que se tem a aconselhar, já pela sua rapidez, já pela simplicidade technica e pela pouca gravidade. III.-Pelo processo de RICHELOT toda a operação está terminada em menos de um minuto, porem em rigor si se quizer agir com maior presteza, basta punccionar com o bisturi a membrana, atravez da pelle, em um só tempo e introduzir a emula. CLINICA CIRÚRGICA (l.a CADEIRA) I. -Não se deve fazer a resecção articular, nos casos de ankylose causada por arthrite infectuosa, post trau- matica e rheumatismal, sem recorrer previamente aos outros meios therapeuticos. II. - Entre estes meios therapeuticos ha um de ver- dadeiro valor, éa esclerolyse obtida pelo ioniochloro. IIL-Especialmente na ankyloses do joelho a escle- solyse tem dado resultados reaes e animadores, por isso deve sempre ser tentada antes de qualquer intervenção cirúrgica- CLINICA CIRÚRGICA Í2.a CADEIRA) I-- A exerese ainda é o melhor meio de tratamento dos tumores malignos da pelle. II. *-Para maior garantia da operação pode-se tratar a cicatriz pelos raios X. III. A meu ver, somente os casos absolutamente inoperáveis, por suas condições particulares, devem ser entregues aos outros meios de tratamento que não os cirúrgicos. (Sexta (Secção PATHOLOGIA MEDICA I.-Entre as causas responsáveis pela gastrite chronica salienta-se o alcoolismo como a mais fre- quente e importante. 136 II. -O regímen láctico é de muito boa indicação na gastrite chronica, produzindo quasi sempre melhoras visiveis e mesmo a cura. III. -Quando porem, esta moléstia vem associada á cirrhose hepatica, ao mal de BRIGHT, sua marcha é sempre progressiva, a gastrite é incurável. CLINICA PROPEDÊUTICA I. - A formula hemoleucocytaria da appendicite re- presenta uma hyperleucocytose polynuclear. II. - O estudo desta formula permitte o diagnostico entre a appendicite e as affecções dolorosas em que não ha suppuração, kysto ovariano, obstrucção intes- tinal, rim movei, etc. III. -A formula hemoleucocytaria serve para dis- tinguir a appendicite de certas febres typhoides de inicio anormal, em que ha diminuição dos polynucleares CLINICA MEDICA (l.a CADEIRA) I. -LANDOUZY considera a camptodactylia como um estigma orgânico do arthritismo muito precoce. II. Pelas indagações feitas por este auctor este signal foi encontrado desde a segunda infancia. III. -A camptodactylia fica incluída no grupo desses pequenos sígnaes de que o clinico póde deduzir con- clusões importantes sob o ponto de vista do tratamento e prognostico. CLINICA MEDICA Í2.a CADEIRAS I. - O unico meio seguro para o diagnostico de ectopia renal é a palpação do rim no estado de tumor movei, com os caracteres deste orgarn, situado fóra de sua posição normal. II. Não é porém sempre facil obter este symptoma, sendo necessário muito geito e habito; uma palpação bi-manual e sempre util. 137 III.-O tratamento do rim movei sae dos limites da clinica medica, deve ser cirúrgico, o único radical. cBetima (Secção HISTORIA NATURAL MEDICA I. -O Sporotrichum é um cogumello da ordem dos hyphomycetos, que parasita o homem e certos animaes, dando logar ás varias formas da esporoírzcAose. II. -Teem sido descriptas varias especies muito próximas: S> Beurmanni, 8. Schenkii. 8- Dotí. Este cogumello é formado de um emaranhado de filamentos mycehanos, compridos, pouco ramificados, divididos por septos, de 2 micra de diâmetro, com esporos de 3 a 5 micra isolados ou agrupados por 3 a 30. III. -A esporotrichose foi encontrada no Brazil por LUTZ e SPLENDORE (S. Paulo) que publicaram 5 casos humanos, um só sendo verificado pela cultura. MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR I -O atoxyl se apresenta sob o aspecto de um pó branco crystallino, sem cheiro, de gosto ligeiramente salino- II -A agua dissolve-o a frio na proporção de cerca de 16 % de seu peso, a quente até 20 %, depositando-se em estado crystallino pelo resfriamento cerca de 2 %. III-- Suas soluções são neutras, não agem sobre o papel de turnesol, comtudo tornam-se ligeiramente acidas quando abandonadas a si mesmas. CHIMICA MEDICA I. - O exame chimico do sueco gástrico é um poderoso auxilio para o diagnostico das moléstias do estomago. M. 18 138 II. A analyse qualitativa das substancias contidas nesta, secreção é de interesse muito pequeno. IH. Somente pela dosagem exacta destas substan- cias é que o clinico poderá tirar do exame chimico do sueco gástrico conclusões diagnosticas e therapeuticas de maior valor. fitava §8cção OBSTETRÍCIA I.-A palpação é o meio diagnostico mais importante em obstetrícia. II. "Pode-se, na grande maioria dos casos, fazer um diagnostico de apresentação e posição simplesmente por este meio. III.-Os outros meios de exame são puramente de verificação. CLINICA OBSTÉTRICA E GENECOLOGICA I. rupturas do perineu são, na maioria dos casos, verdadeiros descuidos clínicos- II. meios de protecção perineal, durante o trabalho, são bem escrupulosa mente applicados os riscos da ruptura reduzem-se ao minimo. III. -A perineoraphia deve ser porem feita immedia- tamente no caso de não ter sido evitado o accidente. $ona §ecção CLINICA PEDIÁTRICA I.-Com a descoberta da ophtalmo-reacção muito aproveitou a clinica de moléstias das crianças, especial- mente sob o ponto de vista prophylatico. II-"A oculo-reacção, perraittindo um diagnostico íacil da tuberculose materna, dá cabimento a que se 139 possa afastar a criança, evitando assim um contagio que seria muito provável, quasi fatal. HL-Deve-se usar deste meio de diagnose, também como meio de prophylaxia, em todos os estabeleci- mentos em que se reúnem grandes grupos de crianças, como sejam os asylos infantis, collegios, etc-, para evitar a propagação da tuberculose. tgecima 'Secção CLINICA OPHTALMOLOGICA L -Os metaes colloidaes electricos são agentes the- rapeuticos de muito valor nas infecções oculares. IL-D'entre os metaes collodiaes electricos o mais commummente usado é a prata. III.-Sob a forma de collyrios estes medicamentos são de uso muito facil e simples. (gecima primeira Secção CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPIIILIGRAPHICA I. Penso que se pode, simplesmente pelo exame dos symptomas clinicos, fazer o diagnostico de Botão endemico tropical, na quasi totalidade dos casos. II. -Não obstante, como um meio de verificação e como critério indiscutível, convirá pesquizar sempre o piroplasma de WRIGHT (Leishmania furunculosa, Helcosoma tropicum, etc.) que é considerado actual- mente seu agente causal. III. -Encontrei, constantemente, nos casos por mim observados uma monucleose bem definida tanto no sangue da circulação geral como local, sendo por 140 isso para aconselhar-se o exame heraoleucocytario como um esclarecimento a mais nos casos duvidosos. gscima segunda, Secção CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS I. -'-São frequentes as perturbações da motilidade (caimbras) de origem profissional. II. -Entre ellas avulta a caimbra dos escriptores (gra- phospasmo, mogigraphia) que BENEDIKT designa corno uma nevrose profissional da coordenação. III. -O seu prognostico nem sempre é dos mais favoráveis, levando muitas vezes o doente a mudar de profissão. Í5ÍO §)ecxeiazia ba eFacufòaòe bc SJRebi- ciida bct 31 be òe 1908. O Secretario, ,Br. Jtienandro dos fieis fiíeirelles ERRATA Pags. Linhas Onde se lê Leia-se 14 8 ™ % C. 14 31 normal 1 normal 15 16 se batem batem-se 27 30 des erum de serum 31 9 mumero numero 31 16 16_-H 20 16_X1 20 43 19 destinguem distingue m 48 26 VEITH VEITCH 61 13 supeito suspeito 81 9 WRIGTH WRIGHT 94 19 a doses as doses 94 29 AND and 95 12 pelo symbolos pelos symbolos 115 2 trabatho trabalho 118 15 cabelluda, cabelludas 118 16 curados curado 120 15 que não obstante que, não obstante 120 23 quasi bom» «quasi bom» 133 1 refllexo reflexo 136 33 e é 138 22 perineoraphia periueorraphia 139 28 monucleose mononucleose Estas são as incorreções que ja encontrei, outras muitas haverá de certo que, em rapida leitura, não puderam ser achadas.