FACULDADE DE MEDICINADA BAHIA THESE APRESENTADA a’ Faculdade de Medicina da Bahia Em 31 de Outubro de 1911 PARA SER DEFENDIDA Pelo Pharmaceutico j3ntonio CropdeÍFO de fOipanda Filho legitimo do Coronel Marcellino Pereira de Miranda e D. Marianna Cordeiro da vSilva Miranda (fallecidos). nascido á 26 de Abril de 1890 no Estado da Bahia. AFIM DE OBTER 0 GRAU DE DOUTOR E/A MEDICINA DISSERTAÇÃO CADEIRA DE THERAPEUTICA Breves considerações sobre a syphilo-therapía pelo 606, de Ehrlich-Hata PROPOSIÇÕES Trez sobre cada uma cias cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas ESTADO DA BAHIA-19U FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director-Dr. AUGUSTO C. VIANNA Vice Director Secretario—Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secretario—Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA PROFESSORES ORDINÁRIOS OS D RS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM Manoel Augusto Pirajá da Silva . Historia natural medica. Pedro da Luz Carrascosa . . . Physica medica. José Olympio de Azevedo. . . Cliimica medica. Antouio Pacifico Pereira . . . Anatomia microscópica José Carneiro de Campos . . Anatomia deseriptiva. Manoel José de Araújo . . . Physiologia. Augusto Cesar Vianna . . . Microbiologia. A. Victorio de Araújo Falcão . . Pharmacologia Guilherme Pereira Rebello . • Anatomia e Histologia patliologicaa Furtanato Augusto da Silva . . Anatomia medico-cirurgica. Anisio Circundes de Carvalho . . Clinica medica Francisco Braulio Pereira . . « « João Américo Garcez Fróes . . « « Antonio Pacheco Mendes . . « cirúrgica. Braz Hermenegildo do Amaral . ♦ « Carlos de Freitas . . « « Francisco dos Santos Pereira . . « ophtalmologica. Eduardo Rodrigues de Moraes . « oto-rhina-laryngologica Alexandre E. de Castro Cerqueira . « dermatológica e syphiligra- phica Gonçalo Moniz Sodrè de Aragão . Pathologia geral José Eduardo F. de Carvalho Filho . Tlierapeutica. Frederico de Castro Rebello . . Clinica pediátrica medica e hygiene infantil Alfredo Ferreira de Magalhães . Clinica pediátrica cirúrgica e ortho- pedia Luiz Anselmo da Fonseca . . Hygiene Josino Correia otias . . Medeeina legal e Toxicologi». Climerio Cardoso de Oliveira . . Clinica obstétrica José Adeodato de Souza ... « ginecológica Luiz Pinto de Carvalho ... « psychiatrica e de moléstias nervosas Aurélio Rodrigues Vianna . Pathologia medica Antoninp Baptista dos Anjos , . « Cirúrgica PROFESSORES EXTRAORDINÁRIOS D.rs Egas Muniz Barreto de Aragão . Historia natural medica João Martins da Silva . . . Physica medica Pedro Luiz Celestino , . . Chimica « Adriano dos Reis Gordilho . . Anatomia microscópica José Affonso de Carvalho . . • deseriptiva Joaquim Dantas Bião . . . Physiologia August* do Couto Maia . . . Microbiolagia Francisco da Luz Carrascosa . . Pharmacologia Julio Sérgio Palma .... Anatomia e Histologia pathologicas Eduardo Diniz Gonçalves . . Anatomia medic.o—cirurgica e Ope- rações e Apparelhos Clementíno Rocha Fraga Júnior . Clinica medica Clodoaldo de Andrade ... ♦ ophtalmologica Albino Arthur de Silva Leitão . « opermatolgoica e syphiligra- phica Antonio do Prado Valladares . « Pathologia geral Frederico de Castro Rebello Koch. Therapeutica José de Aguiar Castro Pinto . Hygiene Oscar Freire de Carvalho . . Medicina legal e Toxicologia Menandro dos Reis Meirelles Filho Clinica obstatrica Mario Carvalho da Silva Leal . • psychiatrica e de moléstias nervosas Antonio do Amaral F. Muniz . Chimica analytica e industrial PROFESSORES EM DISPONIBILIDADE D.rs SebastiSo Cardoso João Evangelista de Castro Cirqueira Beocleciano Ramos José Rodrigues da Costa Dorea Á Faculdade nlo aprova nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhes são apresentadas. Dissertação CADEIRA DE THERAPEUTICA Breves considerações sobre a syphilo-therapía pelo 606, de Ehrlich-Hata H1ST0RIC0 DO 606 Arseno = therapia da syphills a descoberta do “606„ devida aos estudos aprofundados do Professor Ehrlich, de Francfort, abriu-se logar na Therapeutica para um medica- mento novo, de effeito incontestável e de acção prompta e immediata. Revolucionaram-se os scientistas em constantes discussões pró ou contra; movimentaram-se todos os hospitaes do mundo, appressando-se em seu em- prego; successos animadores, de principio, trouxe- ram rezultados victoriozos e o throno da syphillis entregue de ha séculos ao mercúrio, começou a dar logar ao novo rei—o arsénico. Data já de muitos annos o uzo do arsénico na sy- philis; perde-se mesmo nos horizontes da antigui- dade essa therapeutica, e muitos dos seus partidá- rios e experimentadores deixaram seus nomes e suas experiencias dormirem no escuro eterno de um in- cógnito desolador. 6 Desde 1856, Ricord dava o arsénico aos seus doentes na formula do licor de Denovan-Ferran que continha 0,0015 gr. de arsénico. Hahnemann indicava o emprego d’esse metaí- íoide no tratamento da syphilis. As aguas medicinaesde Uriage,Bourboule, Monte Dore, que encerram arsénico, eram constantemente utilizadas para a cura da syphilis. Havia mesmo a pratica banal de combinar a me- dicação hydrargirica á arsenical, para tratamento dos syphiliticos anemiados, escrofulosos e em diver- sas dermatozes. Ahi tinham mais em vista a acção adjuvante do arsénico como reconstituinte. M. Rist provou que a idéa de utilizar a fraca toxidez do acido cacodylico, estabelecida em 1843 por Bunzen, para o tratamento das affecções cuta- neas, da malaria, etc., era muito antiga. (1) Jockein em 1864eRenz em 1865, mostraram-se partidários da mesma idèa, (2) Barthélemy, Danlos, em 1896, empregavam o ca- codylato de sodio nas affecções syphiliticas com exito. (3) Plateau, Meskerki, Mar.amaldi, opinavam pela acção mais prompta do methylarsinato de sodio. (4) (1) E. Enzèry—Avant-propos de la edition francaise de la Chimiothera pie des spirolloses par P. Ehrlich e S. Hata. (2) Idem. (3) A. Manquat-Therapeutique. Tomo I, pag. 145. (4) Idem. Milian obteve bons rezultados com o arseniato de sodio em dózes moderadas de 5 a 15 miigrs. A Gautier, em 1900-02, aproíundou-se no estudo de obter os compostos arsenicaes orgânicos, nos quaes a toxicidez é reduzida ao minimo e a activi- dade notável destes compostos nas moléstias iriíe- cciozas. (5). Fez ver que se podiam empregar o arrhenal e e cacodylato nos accidentes syphilliticos com re- sultados animadores. Até então, essas aifirmações e esses dados não foram bem aproveitados, pois não estava assente a especificidade do arsénico na syphillis. Após os estudos brilhantes, descobertas glorio- zas e experiencias sensacionaes de Béchamp e Sal- mon com o atoxyl, Mouneyrat e Balzer com a he- ctina, Ehrlich e Hata com os seus innumeros preparados do Instituto Speyer, salientando-se den- tre elles a arsacetina, arsenophenylglycina e o dio- xydiamidoarsenobenzol, a syphilotherapia tomou caminho recto em busca do arsénico. Fazendo um ligeirissimo estudo sobre a arseno- therapia da S3rphillis, digamos algumas palavras sobre os compostos acima mencionados : 1.* ATOXYL O atoxyl ou anilarsinato de sodio, descoberto em 1863 por Béchamp, que o chamava sob o nome de 5 Pli. Paguiez-Acíidemie de Medicine-Paris-3 Novembre, 1910. 8 arsenanilide, sómente ha poucos annos entrou na therapeutica fazendo grande sensação. Obtem-se o atoxyl aquecendo até a fuzão o ar- seniato de anilina. Sua formula è: Na H+4 H20 Contém 29 de arsénico. Foi applicado tendo bons rezultados na molés- tia do somno por entidades medicas como Lave- rau em 1904, Thomas e Brenil em 1905-07, R. Kock em 1907, que fizeram admiráveis pesquizas e mos- traram a acção energica do atoxyl sobre os trypa- nozomas. Lassar e Uhlenluth fizeram experiencias com o atoxyl na syphilis, porém empregaram dozes muito diminutas e nada conseguiram. Salmon, lançando mão de dozes massiças de- monstrou a efficacia do atoxyl nas moléstias sy- philliticas. Este facto foi acceito e confirmado por Hallo- peau, Lassar, Hoffmann, Koscher, Emery, etc. A principio o atoxyl teve um periodo de glorias as mais brilhantes, a que succedeu uma queda vio- lenta e penoza; desprestigio esse cauzado não só pela sua grande intolerância, mas também pelos innumeros accidentes oculares que trazia o seu em- prego (6). Cazos houve de completa cegueira; esses factos (6) Steindorf-Berlin. Klin. Woch. 30 oct. 1910 e Progrés Med., Nov. 1910. 9 impressionaram bastante o espirito medico a aban- donar o atoxyl, como perigoso (7). O atoxyl desvalorisou-se e cahiu, mas deixou aberta uma estrada ás pesquizas de novos arseni- caes para o tratamento da syphilís. 2/ ARSACETINA A arsacetina é o sal sodico do acido acethyla- minophenylarsinico. E’ um atoxyl acetilisado. Apresenta-se sob a fórma de um pó branco, so- lúvel em 10 partes d’aguafriae tres d’agua quente. Foi estudado, successivamente, por Ehrlich em 1907, Browning e Salmon em 1908, Neisser e G. Heymann em 1909. E’ menos toxico que o atoxyl e mais activo so- bre os trypanozomas. Foi empregado com rezultados favoráveis no typhus recurrente e nas trypanozomíazes. Muitos auctores discutiram o seu valor na sy- philis, uns achando-a superior ao mercúrio, outros— inferior. O seu brilho therapeutico foi transitório, foi ephemero, porque, sob sua influencia, davam-se perturbações gastricas, como notou Iversen, casos de cegueira que foram observados por Neisser, e Ruette e Judin assignalam casos de atrophia do nervo optico, etc. A arsacetina, offerecendo pois estes inconve- nientes, não é ainda o medicamento que se pro- (7) Sulzer-Soc. de Dermatologie-Nov. 1910. Cecité par 1’atoxyl. 10 cura; não constitué a pedra philosophal da medi- cina moderna, até então não reprezenta a mate- rialização exacta da idéa therapeutica do século 20: matar a syphilis com o arsénico... Vejamos agora a 3/ HECTINA A hectina ou benzosulfono-para-aminophenyiar- sinato de sodio, foi introduzida na therapeutica por Balzer e Mouneyrat e aprezentada ao mundo me- dico na Sociedade medica dos hospitaes de Paris, em 10 de junho de 1909, e no Congresso de Medi- cina em 1910. Contêm 21 de arsénico. 0 Sua formula é: C6M3-S02-AzH-C6H4-As^oH ONa A hectina é pouco toxica e bem tolerada pelo organismo. Não produz lezões oculares nem outros pheno- menos particulares de intolerância. Com ella se têm obtido beneficos effeitos nas manifestações primarias e secundarias da syphilis. Quanto ao periodo terciário, as curas são resumidas e em vários cazos melhora alguma é notada. E’ verdade que só se tem empregado a hectina em dóses pequenas e talvez seja devido a isso a sua supposta falha em muitos casos. Diz Duhot que se não pódem empregar grandes dóses de hectina porque sobrevirão perturbações do apparelho auditivo. 11 Balzer manda associar-se-lhe preparações mer- curiaes ou iodadas. Hallopeau trata a syphilis por um processo abortivo, com o emprego simultâneo da hectina, do mercúrio e do iodureto de potássio. Ha um composto mercurial da hectina que c empregado contra a syphilis: é o hectrargyrio. O Hectrargyrio é preparado com: Hectina 1,0 gr. Oxyanureto ou benzoato de mercúrio 0,05 Agua distillada esterilisada 10c. c. E’ como a hectina, em relação ao organismo, to- lerável e pouco toxico. As suas injecções são infelizmente immenso dolorosas, o que difficulta o seu uso. Administra-se-o também por via gastrica em 20 ou 30 gottas de solução ao decimo. * * * O Dr. Paul Ehrlich, tendo em vista os resultados dos arsenicaes na syphilis, e alimentando o sonho que abrigava em sua mente desde os tempos es- colares, quanto á afílnidade de certos corpos para alguns germens, estudou o arsénico sobre o ponto de vista parasitotropo (8), tornando-o menos orga- notropo o quanto possiveí. Experimentou uma quantidade enorme de pro- ductos chimicos arsenicaes tendo por base: 1* di- (8) La chimiotherapie espérimentale des spirolloses-por P. Ehrlich et S. Hata, ovec la collaboration de H. Nichols, J. Iversen, Ritter e Drever. 12 minuir o gráo de toxidez do composto; 2‘ augmen- tar suas propriedades spirollicidas; 3* assegurar a sua maior estabilidade possível. Muitas das boas experiencias que continua- mente sobresahiam no Instituto G. Speyer, de Francfort, ficavam residindo em completo olvido, pois os seus observadores não as julgavam dignas de publicação e vulgarisação scientificas. Mas dentre ellas, algumas substancias que se mostraram mais activas e mais acceitaveis, apro- ximando-se um pouco do cume da grande cordi- lheira arsenícal que Ehrlich procurava galgar, tendo por bastão deste alpinismo novo o seu preparo inatacavel e sua perseverança de heróe, saltaram as quatro paredes de um gabinete e os seus no- mes foram logo conhecidos e suas propriedades apreciadas pelos médicos contemporâneos. Citaremos logo aqui a ARSENOPHENYLGLYCINA Este corpo representa o numero 418 das expe- riências constantes deste grande investigador, au- xiliado pelos competentes sábios Drs. S. Hata e Bertheim. Foi applicado nas trypanozomoses, dando ma- gníficos rezultados e parecendo ser o X do pro- blema de Erlich, therapia sterilizans magna, es- copo de seu esforço e de seu talento. Entregou ás mãos de Alt o novo producto para 13 experimentação e continuou no labor de suas ana- lyses. Determinou que a arsenophenylglycina destruía com facilidade os trypanozomas resistentes aos ar- senicaes anteriores. Ficou assentada a cura pelo 418 de Ehrlich das trypanozomiases de Togo, segundo von Raven, na Ilha de Príncipe segundo Ayres Koptke;no Kongo estudadas por Brodpn. Este medicamento não póde ser empregado con- tinuamente, nem mesmo em dóses pequenas de- vido aos accidentes sérios e temíveis que produz. O emprego de pequenas dóses repetidas traz um estado de anaphylaxia, manifestações cutaneas gra- ves e inflammação hepatica. A dóse de 2 grs. em duas injecções é bem sup- portada, ao passo que quantidades muito menores podem ser extremamente perigosas. Esses inconvenientes na pratica e boa marcha das experiencias, fizeram com que Ehrlich reto- masse o fio de suas observações e analyses sobre os arsenicaes, procurando o producto que idéali- sava, esforçando-se por corporisar á luz da scien- cia á sua theze que consistia, como sabemos, na descoberta de um arsenical orgânico pouco toxico e' muito microbicida. O arsenophenol, tetrachlorarsenophenol, tetra- bromarsenophenol, dichlorophenolarsenico deram alguns resultados, porém não tinham todos os re- quisitos exigidos pelos seus experimentadores. 14 Em continuando as analyses e experiencias o Professor Ehrlich viu passar entre seus experimen- tados dedos de chimico e sob o seu conhecimento aprofundado de therapeutista, um grande numero de compostos arsenicaes, alguns de grande poder microbicida, porém incorrendo na falha de estar força parasitotropa na razão directa da sua toxidez. Era necessário encontrar uma combinação na qual o arsénico, perdendo suas propriedades toxi- cas, fosse activamente espiroliicida. Ehrlich encorpora directamente o arsénico en- tre dois núcleos phenyíicos sobre os quaes elle praticou novas modificações e obteve assim o dio- xydiamido arseno-benzol* que recebeu o n. 592 no laboratorio do “Speyerhansr. (9) E' um pó amarello claro, insolúvel n'agua, tendo a seguinte formula: As As yb y\ N Há N Hs \y \/ OH OH O seu sal chlorydrico, solúvel lentamente ifagua, de reacção acida, neutralisavel facilmente pela soda, recebeu o nome “606“, que representa a seu nu- mero na serie das grandes experiencias de Ehrlich. (9) Considerations génbrales, relativas au Salvarsan, d’Ebrliche, par M. R. Lutembacher. Annales de Dnrrnatologie et Syphiligraphie, Julho, 911, pag. 442* 15 A sua formula é: As As X /\ Cl HNH» NHa C1H \y \/ OH OH Foi preferido o sal chlorhydrico para as expe- riências, porque se dissolve com uma quantidade de alcali muito menor que o 592, dando portanto uma solução menos alcalina. As duas substancias são realmente muito com- paráveis no ponto de vista de toxicícida e activi- dade. Como o sal chlorhydrico n. 606, sendo acido não póde ser bem acceito pelo organismo, alcinisa-se-o pela soda e tem-se. então, um preparado sodico do dyoxidiamido-arsenobenzol, cuja formula é: : 0 Ò"H' Como seQèáfea de ver,ONã606„ não é o resul- tado do acaso, é uma descoberta sensacional que revela o producto do grande trabalho e a sobre- 16 natural força de vontade de um homem, para ver surgir, corporificada, uma idéa que seu espirito concebeu. Este numero um tanto mysterioso e com um que de cabalístico, representando o “606„ corpo da série estudada por Ehrlich, testemunha hoje nas paginas da sciencia o seu trabalho immenso e léga á posteridade a sua gloria como medico e como sabio. A sua experimentação, entregue á competência do jovem medico japonez Dr. Hata, auxiliar do Professor Erlich, foi a mais completa possível, em- quanto que a sua synthese foi feita pelo Dr. Ber- theim. Applicando-o nas espirollozes das gallinhas e na febre recurrente, o Dr. Hata verificou o seu grande poder sobre os germens destas infecções, mostrando a sua acção directa e determinando as dóses e os effeitos. Além dos compostos arsenícaes de que já nos occupamos, outros ainda foram experimentados, para que com mais certeza e confiança ficasse as- sentada a superioridade do arseno-benzól. Taes foram : iodarseno-amidophenol, acido arse- nooxyphenylurico, acetaminoarsenophenol, duas combinações do dioxydiartiidoarsenobenzol, a pri- meira com a aldehyde phloroglycinica e a segunda com a aldehyde resercinica, oxydo amido-pheno- arcinico, acido amidophenolarsinico, arsanilado de 17 mercúrio e outros compostos mercuriaes, além dos saes de bismutho, de antimonio, de quinino, do acido salicylico, etc., dando todos estes corpos re- sultados muito inferiores que o “606„ em relação aos espirillos, e, alguns, resultado negativo. Diante dos poderes pasmantes do novo com- posto relativamente ás trypanosonoses, Erlích, au- gmentando o circulo de experiencias e por uma serie de longas deducções, resolveu experimentar a acção do 606 sobre a syphilis. Porque? Vejamos: A descoberta maravilhosa de Fritz Gláudinn, demonstrando que a syphillis é uma infecção pro- duzida por espirochétas; a hypothese emittida pelo mesmo de um estreito parentesco entre os trypa- nosomas e os espirochétas; as esperiencias de Spielmeyer, mostrando certas analogias entre as trypanòsomoses e as infecções syphilliticas; a se- melhança de lesões do systema nervozo central dos cães infectados de Arypanosomoses e as do tabes postsyphilitico; as estreitas ligações que unem as duas afíecções já demonstradas por nu- merosos sabíos; o emprego do arsénico em diver- sas combinações, provando a sua efficacia no tra- tamento da syphilis; resultados lisongeiros do emprego do atoxyl na syphillis e nas trypanoso- moses, tudo isso despertou Erlich e elle entendeu que o seu preparado também devia agir sobre o germen productor da syphilis, mais ou menos di- 18 rectamente, com maior ou menor acção destrui- dora. E assim, começaram as experiencias do 606 sobre a syphilis. Devemos mencionar aqui que já em 1906 os trabalhos de Erlich se voltavam para o tratamento da syphilis, como prova o seu pedido, em 28 de Se- tembro do dito anno, ás usinas chimicas de Charlotten- bourg, para a fabricação do atoxylato de mercúrio. No mesmo anno, elle rogava ao professor Lassar de fazer com a arsacetina ensaios sobre o tratamento da syphilis. Graças aos successos da transmissão da syphilis ao coelho, por Bertarelli, produzindo a kerati te syphili- tica e a syphilis escrotal, Hata volveu-se para estes animaes, muito adaptaveis ás suas experiencias, e so- bre elles desenvolveu grande actividade experimen- tal, apreciando os effeitos do 606 sobre o treponema pallidum de Schaudiun nos coelhos syphiliticos. As culturas de espirochétas injectadas nos coe- lhos, provieram de Pavia, offerecidas pelo Dr. Truffi, por elle proprio retiradas de um syphilitico. A acção do arseno-benzol sobre esses espiro- chétas foi a mais animadora possível, provando Hata que taes germens são facilmente destruídos no organismo dos animaes, sem o minimo prejuízo siquer para estes. Provou assim a capacidade do “606„ na cura da syphilis, Faltavam as experiencias clinicas, que se tor- navam urgentes e necessárias. Deste sério traba- lho foi encarregado o professor Konrad Alt, de Uchtspringe, o primeiro que empregou o 606 no homem, consagrando-lhe todo o seu talento e sua 19 alta competência profissional; conseguiu demonstrar com seu collega Schreiber, o grande valor thera- peutico do novo composto e sua completa inocui- dade. Foi enviado o novo producto aos especialistas mais conhecidos da Europa e em breve tempo quasi todos elles se mostravam excessíVarnente satisfeitos com os resultados produzidos, chegando alguns a elevado gráo de enthusiasmo, comó o Pro- fessor Salmon affirmando—que diante dos resui- íados que traz o “606„, salta á flor dos lábios o qualificativo—maravilhoso. O professor P. Ehrlich, conseguidas 10.000 ob- servações e o applauso estrondosissimo do mundo scientifico, proclamou o seu producto, a 606.a ana- lyse do Instituto G. Speyer, o dichlorhydrato de dioxydiamidoarseniobenzol, como especifico da syphilis. Como todas as producções de genio, como tudo que é grande e de valor, não faltou quem lhe fizesse a mais encarniçada guerra; o 606 teve grandes inimigos na própria Allemanha e principalmente na França, que não perdôa a gloria de tal desco- berta ser feita brilhantemente, como o foi, por um allemão. A principio increparam o novo medicamento de ser o atoxyl, com simples mudança de rotulo, facto esse que Ehrlich combateu admiravelmente e pro- vou que, apezar de ter sido o atoxyl um de seus pontos de partida nas analyses systematicas, que havia annos se entregava com ardor, o novo com- 20 posto era um corpo muito differente delle, quer na chimica, quer em therapeutica; as suas formulas completamente diversas, seus effeitos infinitamente distanciados. O professor Monneyrat da Faculdade de Medi- cina de Lyon, auctor da hectina, chamando a si a autoria do Salvarsau, escreve no Matin, de Paris, que o 606 é o acido hydroxyminophenylarsinico por elle descoberto em 1908. Essa pseudo-reinvindicação ficou sem guarida no mundo scientifico, porque mesmo se supponha verdadeira a asserção de Monneyrat, os seus es- tudos sobre o facto não elucidaram cousa alguma e Ehrlich em estudos perfeitos, esclarecedores e decisivos proclamou aos quatro ventos da medi- cina o novo medicamento bem conhecido quer o novo medicamento bem conhecido, quer no labora- torio chimico, analysando-lhe as menores proprie- dades, quer experimente, conhecendo-lhe os effeitos. Alguns, procurando depreciar, citam-lhe antecesso- res, empregando o arsénico sob diversas modali- dades, na syphillis. E’ um ponto já batido, sobre que já falamos e que não requer contestação. Não é a condessa de Cinchou que, trazendo a quinina para Allemanha, nem a Pelletier e caven- tou que em 1820 realisaram a sua synthese, nem tão pouco aos indianos que conheciam a acção da casca da quina, que cabe a gloria scientifica, nem o direito de prioridade; é sim a Laveran. 21 Cabe pois esse direito também ao professor P. Ehrlich e seus auxiliares o jovem medico japonez Dr. Hata e o Dr. Bertheim que realiSaram a syn- these do corpo, este na parte chimiCa e aquelle nas partes therapeutica e biologica. Não somos d’aquelles que consideram o 606 como assombroso, qual nova maravilha curativa. para todos os casos. Com a descoberta do Salvarsan não se realisou ao nosso ver, um sonho de Zarathoustra. O que se não póde esconder, o que salta á luz claríssima da verdade, o que é asseverado pela maioria dos especialistas de syphilis do mundo inteiro, é que o seu valor é superior ao do mer- cúrio e ioduretos, e que o throno que Marcus Cu- manus deu ao mercúrio, como rei dos anti-syphi- liticos desde 1459, está oscillando e fraqueia ante a revolta moderna dos arsenicaes, E’ o novo rei*, —o arsenobenzol I Modos à adÉiÉap 1 fes TECH N f C A S Apezar dos aturados estudos em torno do 606, alguns dos seus capítulos estão ainda, não diremos em completa obscuridade, mas em uma semi-duvida, uma especie de incerteza. Nota-se, ora a espectativa por parte do mundo scientiíico, ora o esforço violento por despedaçar essa cortina e tirar a certeza da realidade, dar luz á penumbra que a envolve. Si a efficacia do medicamente é reconhecida pela maioria dos médicos, a doze a empregar, o modo de administração, a techniea a seguir, têm sido assumpto de innumeras discussões. Já vimos no capitulo anterior que o 606 se aprezenta sob a fôrma de um pó íino, amarellado, facilmente alteravel em presença do ar, razão pela qual è necessário que seja dissolvido no momento do emprego. 24 E’ vendido no commercio em ampoulas esteri- lisadas e hermeticamente fechadas. Emprega-se-o em solução ou em suspensão; como se fazem essas soluções ou essas emulsões é que que repousa o grande problema da technica do 606. E é da boa solução d’elle que depende todo o futuro do novo medicamento. O afan de chegar a um resultado mais positivo e mais completo, menos trabalhoso e mais util, levou todos batalhadores ao campo da lucta, tra- zendo cada qual o seu processo. Nos diz Michaelis que brevemente ter-se-hão 606 methodos differentes. Esta sua asserção, que encontramos na obra de Camous sobre o assumpto, creio que se já não está confirmada está muito próxima do algarismo citado. Duhot diz que haverá breve tantos methodos quantos forem os empregadores. Sabemos já que o 606 è um composto chi- mico de reacção acida e que se dissolve mal n’agua. Dissolve-se bem nas soluções alcalinas e desta maneira sua actividode fica augmentada ao mesmo tempo que sua toxidez è reduzida ao mi- nimo. Taes são as indicações sobre as quaes se póde bazear para manipular o producto: d’ahi se concebe facilmente que cada experimentador tenha 25 descoberto e preconisado um processo especial para preparar a injecção do Saivarsan. Nós não poderemos descrever todas as tech- chnicas especiaes conhecidas; seria fastidioso e inútil. O que é preciso saber para que se comprehen- dam os phenomenos descriptos após as ínjecções: dores atrozes, febre elevada ou apyrexia, rapidez ou lentidão de acção, etc., é que há, em summa, dous meios geraes para injectar o medicamento. vSão as injecções solúveis e as insolúveis. As primeiras, mais empregadas na Allemanha, foram preconisadas em primeiro logar por Ehrlich. Sua acção therapeutica é muito rapida, porém sobrevêm dores intoleráveis no logar da picada, febre elevada, sêde intensa, cephalias violentas, infiltração edematosa e mesmo abcessos no local da injecção. O segundo meio consiste em injectar o 606 em suspensão n’um meio aquoso absolutamente neutro. E’ a technica mais adoptada na França e nos parece muito superior á antecedente, pois é indo- lar, quasi nunca traz reacção thermica, não immobi- lisa o doente e raramente dá reacções iocaes; tem também o seu inconveniente: é agir muito lenta- mente, pois ahi a absorpção da massa injectada e a passagem na circulação não se podem fazer se- não pouco a pouco, e por intermédio dos leuco- 26 cytos* como para as injecções mercuriaes inso- lúveis. O prototypo de injecção solúvel de 606 é re- presentado pelo methodo adoptado a principio por Ehrlich e que consiste no seguinte: Misturam-se 0,50 gr. de Salvarsan em pó com 0,50 gr. a 1 gr. de álcool methylico ou ethylico; dissolve-se essa mistura em alguns centímetros cúbicos de agua esterilisada, depois ajuntam-se- ihe 5 a 8 c. c. de uma lexivia decinormal de soda e completam-se com 25 a 30 c. c. de agua esterilisada. Isso para injecções subcutâneas ou intra-muscula- res; para as intra-venosas basta addiccionar 250 grs. de serum artificial. Esse methodo é adoptado e praticado, com al- gumas variantes sobre a dóse do sal, a quantidade d’agua e da soda empregada, por Herxheimer, Iver- sen, Frmnkel, e Grouven, Alt., Fischer, Hoppe etc. Os principaes processos de soluções insolúveis, mais conhecidos e usados são os de Weekselman, Lesser, Blascko. Michaelis. Emery e outros que des- creveremos linhas adiante. Wçchselmann notando a aeção toxica do álcool propõe a sua exclusão nas preparações e apresenta a sua. techniea especial: ajuntam-se á substancia um ou dois cents. cúbicos de uma solução de soda nor- ma!. Tritura-se a mistura em um gral e addiccio- na se um pouco d'agua distillada. Si não está bem neutra, ajunta-se soda; si a alcalinidade é exagge- 27 rada. augmentam-se-lhe algumas gottas de acido acé- tico normal. Não deve descorar os papeis de Tournesol. Der- rama-se um pouco d agua no gral e centrifuga-se após ter despejado em um tubo. Isso feito, retira-se o liquido que sobrenada e Oca então no fundo do tubo a preparação que se dissolve misturando um pouco de solução salina ordinãria. (10) Aspira-se com a seringa e injecta-se.- Blascko emprega a soda caustica para neutra- lisar o 606. Confeccíonou para esse fim um quadro em que se encontra a quantidade necessária de soda para dissolver o peso correspondente do Salvarsan. E’ este o quadro: 606 Soda normal 0,1 gr. 0,42 c. c. 0.4 „ 1,70 „ „ 0,45 „ 1,90 „ „ 0,50 „ 2,10 „ „ 0,60 „ 2,50 „ „ 1,0 „ 4,20 „ Queremos, por exemplo, injectar 0,50 ctgrs. de Salvarsan: tomamos com uma pipeta 2,10 c. c. da so lução de soda e junta-se ao pó 606 que já está no (.10) Dr. 606 Khrlicu, Hata, Anualcs des maladies Vém> rienhes, novemljre, 1V10. pny. 802. 28 gral. Tritura-se certo tempo, addicciona-se um pouco d’agua distillada e esterilisada, Si a preparação não estiver alcalina, junta-se-lhe um pouco de seda. (11) O processo de Emery-Pepin, apezar de levar mais tempo e ser mais minucioso, é muito preciso. E’ mais ou menos o seguinte: Utilisa-se uma bureta para 5 c. c. tendo 1 (X) di- visões; emprega-se uma solução normal de soda a 40:1000. Calcula-se a quantidade de soda theorica- mente necessária para saturar as duas moléculas de acido chlorhydrico do 606. A quantidade de soda necessária vê-se no qua- dro que se segue: (il Louis Camous, Lcs thechniques du 606. AM aloine, edífeur, Í911 pag, 9. 29 Dòsede Peso theoríco 606 a em* de sodaneces Volume de soliiçâo de soda a 40:1000 a congregar pregar sario 0, gr. 30 0, gr. 0547 t c.-c. 40 corresponde a 25 divisões da bureta descripta 0, , 40 0, , 0729 1 c, c 85 , , 34 , . 0, , 45 0, . 0820 2c. c. 10 , _ , 39 , , 0, , 50 0, , 0911 2 c. c. 35 „ , 42 , „ „ 0, a 60 0, „ 1093 2c._c.80 ,, „ 51 „ „ „ „■ 0, , 80 0, , 1458 3 ç. c. 70 • „ „ 69 „ „ 1,gr.00 0, „ 1822 4c. c.65 ,.88 ,, „ Após triturar durante algum tempo o pó com a sol. de soda, addiccionanvse 2 ou 3 c ra.a. d:agua esterilísada quente. Verifica-sé a reacçào depositando 30 sobre uma placa de porcellana branca, uma gotta da preparação e collocando ao lado uma gotta de solução de phenolphtaleina. Si a preparação è acida, não se produz no ponto de contacto das duas gottas mudança alguma de co- loração, do contrario, produz-se uma reacção que vae do roseo pálido ao violeta. Desde que se obtenha a tinta rósea clara, que é signa! do meio estar ligeiramente alcalino, aspi- ra-se e injecta-se. (12) Este processo è 6eguro e dá uma solução rela- tivamente pouco espessa, facilitando assim o em- prego de uma agulha de calibre fino. Resalta aos olhos doobservador que este processo é adaptação melhorada da technica de Blascko. O methodo do professor Lesser, de Berlim, é ba- seado na solução do 606 na paraffma liquida este- rilisada. Um decígrammo de Salvaram exige uma gramma de paraffina. A technica de Michaelis é esta: Toma-se um tubo graduado de capacidade de 50 centímetros no qual despeja-se a quantidade de- sejada de Slavarsan. Addiccionam-se 2 c. c. de ál- cool e agita-se com bagueta de vidro. E’ desneces- sário lembrar que todo o material deve ser previa- mente esterilisado. Ajumtam-se 5 c. c. de solução de soda a 4:100. Agita-se até dissolver tudo bem, feito o que deixam-se cahir no tubo algumas got- tas de plenolphtaleina a 1 :1000. (12) Note sur la Pliarmaeologie du 60(5, por m. ra.Drs. E. Ernery e C. Pe- pin Annales des Maladies Venerienncs, Octobre 1910, pags. T32-T33- 31 Trata-se o todo com acido muriatico a 3,6:100 até que o reactivo se descore completamente. Caso a reacção esteja acida, usam-se algumas gottas de soda. Prefere-se uma reacçâo alcalina fraca ou neutra, que é na occasião em que o phenol-phtaleina está para ficar vermelho. Mistura-se todo conteúdo com 5 vezes o volume de soda e faz-se a injecção. Kromayer estudou um processo que applicou em chimica com magníficos resultados, principal- mente quanto á dor que se manifesta após as in- jecções. Elle dissolve o 606 em uma emulsão de paraffina de 10:1000 eoleo de olivas, L. Martin e H. Darré, em communicaçâo feita á Société Medicale des Hopitaux de Paris, em 4 de Novembro de 1910, expõem a sua technica: Dissolução do arseno-benzol em uma solução concontrada de soda, mistura-se com agua salgada physiologica a 7:1000, de modo a diminuir tanto quanto possível, a alcalinidade da solução que deve ficar todavia perfeitamente limpida e por conse- quência ligeiramente alcalina. Filtra-se depois em velas de Chamberland. (14) Levy-Bing e Lafay injectam a preparação em suspensão em uma parte de lanolina e noVe partes de oleo de papoulas. (14) Presse Medicale, 9 Novembre 1010. A Civatt.e. (15) C. Crinon, Revue des Medieaments Noveaux, pag. 318. 32 Essa preparação age e elimina-se vagarosamente, mas não é dolorosa. (16) O Dr. Duhot, cheíe do serviço de urologia e dermo-syphiligraphia da polycliniea central de Bru- xellas, estudou muito succintamente a questão das technicás de injecçoes do 606 e formulou um pro- cesso facil e ligeiro para preparar a solução. Consta do que se vae ler: Abre-se a ampoula do 606, derrama-se o pó em ura gral que já contem anteriormente 1j2 c. c. de álcool methylico, tritura-se com cuidado e ajun- tam-se 4 c. c. de soro artificial. (16) Obtem-se uma solução muito limpida. Esta preparação é acida, que é a preferida por Duhot. O Dr. Karl Taege adopta o mesmo processo de Duhot, com a diíferença que em vez do álcool elle usa a glycerina. O serviço bíologico da Geòrg-Speyer, de Fran- cfort, tem a seguinte technica: Trituram-se n'um gral a quantidade de 606 e a dose correspondente de lixivia de soda a 15 I., que se saberá no quadro especial. Addiccionam-se 5 a 10 c. c. d’agua esterilisada, gotta a gotta, a principio, A reacção deve ser neu- tra que se pesquisará com o papel azul de tour- ! 16) I>r. Duhot, dês injéettons'swJnbles du gOé, Quluzaloe Tha* rapeutíque, 10 Novembro 1910 (!1) ln<líeo<;ôf'8 dos laboratorlos ehimleòs de Meteter "Loeius e BrOoiiiff» i 11 kft n V i a rrk 33 nesol, emprégando-sé para chegar a esse fim a solução de acido chlorhydrico a 12 *|» ou mais al* gumas gottas de soda. (18) l9to é para injecçôes intra-musculares; para aã endovenosas a reacção será alcalina. Linhas abaixo segue o quadro indicador das doses para a preparação; Salvarsan Solução de soda caustica a 15 I. Gramma3 Grammas C. eubícoa corresp. a gottas 0,05 0,045 0,038 1 0,10 0,090 0,076 14-2 0,20 0,18 0,152 1+4 0,25 0,225 0,19 4 0,30 0,27 0,228 4—5 0,40 0,36 0,304 6—7 0,50 0,45 0,38 8 0,60 0,54 0,456 9—10 0,70 0,63 0,532 11—12 0,75 0,675 0,57 12 0,8 0.72 0,608 12—13 0,9 0,81 0,684 14—15 1,0 0,9 0,76 16 M, L. Tissier derrama o conteúdo da ampoula em um gral de vidro, ajunta 15 a 25 gottas de so- lução normal de soda a 4 *1. e minunciosamente tritura, até que não forme grumos. (18) M. L. Tlssier, Fraitemente de la syphilis quar la méthode d' Ehrlic, dioxydiamida.-asseno, benzol 6Q6, Socicté de Therapeutique, 7 de Decembre lplO. fresee mediealc, 1*7 Decembre. 34 Addicionam-se depois, pouco a pouco, conti- nuando a triturar, 5 a 10 ç. m. ctide agua distil- lada fervida. Depois de bem emulsionado, pesquiza-se a re- acção com o papel de tournesoi. que deve ser ahi acida. Deixa-se cahir gotta a gotta a solução de soda até. que a reacção se torne neutra. Usa-se aqui o papel de phenol-phtaleina, e desde que. uma cor ligeiramente averme- lhada a operação está terminada. Si, por engano, se passa da solução de soda, tçm-se á mão o acido clhorhydrico para fazer che- gar á reacção procurada. Está prompto o liquido a injectar que é leve- m.eníe alcalino. (19) A. Marie e G. Guelpa, diluem o pó do 606 em 20 c. c. de agua esterilisada quente. (Os auctores especializam a dóse de 0,40 ctgrs. de Salvársan). Juptarn-se 2 c. c. de lixívia de soda e depois 20 e. c. de se pum physiologico. Decanta-se e íiltra-se (20). . Herxheimer toma 0,gr. 50 de .Salvarsan, tritura no.gral, com 113 de c. c. de uma solução de soda caustiça a 20:100; continuando a trituração ajunta, por pequenas porções, IQ c. c, d’agua e qnjecta-se ímmediatamente para não formar, grumos (2o), > iiá muitos me titios pa ra a - solução (19) Maiu et G. Guelpa, Sur le dixydiámidoaràenobenzol, Prease medieale n. 101 H Decembre 1910) ' •' (20) E Emel-y, La preparatiou 606', pag. 5. 35 do 606 para injecções endovenosas, mas destes constam apparelhos especiaes, inventados por di- versos experimentadores, que procuraremos des- crever no capitulo dessas, injecções. Acabamos de passar em revista muitos proces- sos especiaes de preparação injectavel do 606, quer sob a forma de solução acida ou alcalina, quer emulsões ou suspensões neutras. ' Prompta a preparação por qualquer dos proces- sos que se adopta, vejamos como se deve inje- ctal-a. Esse medicamento tem sido administrado por vias intra-muscular, subcutânea, endovenosa e cu- tanea. Sobre o valor de qualquer d’esses modos de administração do producto, varieis são as.opiniões divergentes que se encontram efn lucta, que se batem, que se chocam, porém que pouca luz, como reziduo pratico da batalha deixam. Para as injecções intra musculares a opinião maís generalisada e também a melhor acceita é que Se as deve fazer na região glútea. . . .. . Ahi, se terá o maior cuidado em affastar-se quanto possível da visinhança do Sciatico. e inje- ctar has camadas superíiciaes dos musculos. Emèry nos conta que viu um grave caso de nevrite sciatica em consequência de uma injecção •do Hata praticada nas. proximidades deste nervo. 36 A pratica de injectar nas camadas superficias dos musculos tem a conveniência de em casos de com- plicações inilammatorias ou esphacelicas, as con- sequências serem poucò temiveís. Michaelis quer que a injecção intramuscular seja profunda. Wechselmann, depois dè haver introduzido a agulha, aconselha movimentos lacteraes com esta, para melhor diffuzão do liquido. L. Tissier condemna as injecçôes subcutâneas quer sejam dadas nas regiões interescapular, pei- toral, quer abdominal; acha que se tendo cuidados de asepsia, conservação do doente no leito 4 a 5 dias, a injecção intramuscular é preferivel, deven- do-se depois faser a massagem para espalhar o liquido. Diz elle que a região de escolha é a glútea e o ponto de eleeção recahirá nos logares clássi- cos, ahi, para injecçôes dos saes insolúveis; o lhor é praticar a injecção no meio da linha que une o vertice do sulco intergluteo e a parte mais ele- vada da cristã illiaca. Nas instrucções que acompanham o Salvarsan, preparado sob as vistas da secção biologica do Instituto Speyer, hã as seguintes considerações sobre as injecçôes intra-musculares: “As injecçôes intra-musculares fazem-se na parte externa e su- perior dos glúteos. A injecção deve ser profunda, mas lentamente conduzida de forma a não se produsirera lacerações 37 e homeorrhagias. A solução injeçtada, quer sub- cutânea, quer intramuscular deve ser espalhada por meio de massagens, applicando-se depois, um penso húmido. E conveniente que os doentes se conservem no leito 2 a 3 dias após a injecção sob os cuida- dos médicos. O Dr. R. Duhot, que se tem occupado do 606 com particular interesse, e que magistralmente dis- serta sobre este capitulo, tendo por base a sua competência e experieneia inatacaveis, preconisa o seguinte ponto de elecção : Traça-se uma linha indo do vertice da dobra interglutea para o meio da cristã illiaca. O ponto de elecção acha-se acima da união do terço infe- rior e do terço médio desta linha, dois dedos abaixo da cristã illiaca. Manda elle que se divida em duas porções a solução preparada e injecte-se uma na parte superior de cada fossa illiaca. (21) Ter-se-há o cuidado de não injectar no tecido cellular subcutâneo, nem immediatamente contra o periosteo. Os pontos importantes desta maneira de uso residem na concentração do medicamento e na situação muito elevada do ponto de operação, im- pedindo d’est’arte quaesquer nevrites sciaticas— tão dolorosas. 21 E. Emery, Traitement de la Syphilis, par le dioxydiamido-arscnoben- zol, pags. 26 e27, 1911, e Quinzaine Therapeutique. 10 Nov. 1910. 38 Após a operação retíra-se a agulha bruscamente, para evitar que fiquem na superfície partículas do Salvarsam Complicações múltiplas são devidas á irritação produzida, nas partes mais superficiaès do caminho aberto pela agulha, pelo medicamento que ahi se deposita. Devido a este facto o Dr. Benario (22). assis- tente do professor Ehrlich, inventou um apparelho muito pratico que é constituído de uma agulha de grande calibre e de ponta perfurante, na luz da qual passa outra não perfurante, de calibre mais reduzido, porém que se adapta exactamente ao diâmetro da primeira, e pela qual passa a so- lução. A injecção acabada, retira-se a agulha menor, depois então a maior. Evitam-se assim os phenomenos dolorosos, im- putáveis. corno já sabemos, á presença de partícu- las do medicamento nas camadas superíiciaes. pois a agulha maior não soffreu contacto algum com a solução. (23) O Dr. Paul Ravault, em um resumo sobre as experiencias feitas com o 606 no fh) pitai Saint Louis, diz que, apreciando os effeitos nas regiões glútea, lombar e escapular, prefere a primeira por exclusão das ultimas; qve na região interescapular 2V 1C. Kmery-: Obra citada, paga. 13 o 14. 23 Tcclinique des injeotions intra-musculares e intra-veiuenses de 1’arsenó- benzol 606. 39 succedem-se dôres constrictivas peniveis durante horas; na região lombar, as injecções intramuscu- lares se acompanham de sensação de peso abdomi- navel e cólicas horrorosas. E’ verdade que na região glútea pódem apare- cer dores, porém essas são pequenas; o auctor da memória que citamos, manda attenuar os pheno- menos dolorosos, addiccionando movocaina á so- lução. Muitos costumam usar ether. morphina, etc. como anesthesicos locaes, é aconselhável o inte- resse de se procurar outros corpos que não alte- rando a composição do Salvarsan e sua estabili- dade. eliminem ou façam desapparecer os acci- dentes dolorosos consequentes ao seu emprego. A asepsia para essas injecções deve ser ri- gorosa. Costuma-se desinfectar o local para injecção com a tinctura de iodo. Ha muitos cuidados que estas operações para o emprego do 606 requerem mas, como não escre- vemos para leigos deixamos de falar sobre esses pequenos factos, para o leitor tão conhecidos, das injecções intra-musculares e subcutâneas de qual- quer medicamento. Injecções intravenosas.—A principio custou-se muito a empregar o 606 pela via endovenosa com 24 M. Ravault Presse Medicale, 28 dec. 1910. N, 104. 40 receios de accidentes mais ou menos sérios, tendo em vista as perturbações funecionaes tão frequen- tes na syphilLs, inda mesmo precoce. Aconselhava-se de não injectar nas veias de indivíduos de mais de 50 annos, porque após essa edade geralmente não se conta com um coração, comme il faut. \ Acreditava-se que os elementos toxicos do Sal- varsan, de que não se sabia julgar a importância, sendo introduzidos nas vias circulatórias produzi- riam ahi effeitos particularmente perigosos. Todas estas apprehensões desappareceram após os estudos práticos de Iversen, de Shreiber e Wein- traud, dando tão bons resultados e eliminando por completo a dor que se nota nas injecções intra- musculares ou subcutâneas. Ainda ha a vantagem de entrar logo para a corrente sanguínea toda dose que se empregou, agindo i m medi atam e n te sobre os treponemas. Não tem o inconveniente de formação de ab- cessos, endurecirnentoi. escaras, necroses no local da injecção. Muitas vão de encontro á via endo-venosa no emprego do 606 accusando a febre que apparece após. Mas essa accusação hoje não tem mais razão de ser, pois está provado que a febre não é de- vida á acção directa do medicamento. O propri.0 sôro physiologico quando introduzido no organismo eleva a temperatura. 41 A febre também é explicada como urna reacção . muito lisongeira e benefica do organismo denun- ciando a acção immediata e violenta do Salvarsan sobre os espirochetas e suas toxinas. Está provado também que essa febre só é de maior elevação nas syphilis recentes, havendo uma infinidade de casos em que não se nota a menor manifestação febril. Nós temos assistido muitos doentes nestas con- dicções. Uma causa (pie ia de encontro ao processo en- dovenoso era a possibilidade da entrada de bolhas de ar na corrente circulatória; está porém de lado esta razão, já se não tem o temor antigo pois com os appareíhos empregados para injecções endove- nosas do Salvarsan é completamente banida a idéa de injectar-se ar na veia. E’ mais trabalhoso e um pouquinho mais diffi- cil, não ha duvida, mas de resultados muito mais superiores e muito mais positivos. Já muitos são os processof experimentados para injecções intravenosos de Salvarsan. Procurarei citar aqui alguns mais conhecidos e fiiais generalisados. A principio Iversen propoz um methodo que consiste em injecções por meio de uma garrafa armada, tal como se emprega na injecção de serum physiologico aos cholericos; este processo não foi bem acceito porque se não podia assegurar durante 42 o trabalho se a agulha realmente estava introdu- zida na veia, podendo no caso contrario haver o perigo da infiltração do medicamento. As injecções por meio de seringas, como appli- caram Schreiber e ultimamente Stiihmer, apresen- tam vantagens evidentes sobre o methodo prece- dente. Esta» têm vantagem até ao nosso entender, so- bre os processos de Weintraud e de Assmy, que se serviam de irrigadores, pois com a seringa se póde a cada instante assegurar, pela aspiração de um pouco de sangue, a posição exacta da agulha. Wechselmann, adoptando a technica de Schrei- ber, e conhecendo algumas falhas também neste processo, modificou-o bastante, inventando um ap- parelho e dá-nos então um processo mais ou menos completo para injecções intravenosas do 606. O apparelho é composto mais ou menos do se- guinte: Um tubo de vidro graduado até 200 grs, cuja parte superior tem duas aberturas que se fecham com duas tampas de nickel. Um pequeno braço de vidro partindo acima da primeira abertura conduz a agulha; outro partindo da segunda abertura liga-se á seringa. Estas com- municações para a seringa e agulha são feitas por pequenos tubos de cautchouc. O tubo de cautchouc que liga á agulha tem no seu centro um pequeno tubo de vidro. 43 Aspira-se a solução do Salvarsan, que já deve estar prompta em um copo graduado, automati- camente por meio da seringa, abrindo-se então o orifício inferior. Vae-se injectar: Introduz-ss a agulha na veia, abre-se o orifício superior e faz-se a operação. E' necessário notar-se que este apparelho abso- lutamente não deixa entrar a menor particula de ar. Isto affirma o seu auctor, Dr. Wechselmann, após um emprego continuo e de já grande pratica com o seu processo (25). Este apparelho além de simplificar facilmente a technica, tem a vantagem de poder ser esterilisado facilmente pela ebulição, Para que se faça a injecção o auctor manda ope- rar do seguinte modo: Colloca-se n’um frasco de Erlmeyer a dóse do Salvarsan, ã qual juntam-se 10 a 30 c. c. de solu- ção physiologica a 0,9 q, distillada e esterilisada, á 40- c. Demora-se 5 minutos para adiccionar a soda normal em proporção de 0,7 para 0,1 de Salvarsan. Quando se começa a deixar cahir a lexivia de soda produz-se perturbação de côr no liquido; logo que o liquido esteja claro cessa-se de despejar a soda. Ac- crescenta-se em seguida, solução,physiologica de sal marinho na proporção de 50 c. c. para 0,1 de Sal- •25 W. Weehselman, Le traitement de la syphilis par le dixydiamidoarse- nobez: Pags: 160 e 161: 44 varsan ,e filtra-se sobre algodão esterilisado. Enche- se a seringa e injecta-se. O auctor recomménda de mandar-se o doente arriar o braço, fechando bem a mão; aperta-.se bem o braço com um garrote de cautchonc, fixando-se esse com uma pinça forté. As veias ficam salientes e endurecidas. Weckselmann escolhe a veia que passa sobre o procesSus st violde do radio e que vem do pollegar até acima da articulação do punho, por ser de pare- des muito resistentes e estar muito fixada sobre a camada sul>jacente. Os Drs. Alfred Leoy-Bíng e Louis Duroeux apre- sentaram um appareiho também muito correcto e de facil manejo. Consta de dois tubos de crystal graduados com capacidade de 250 c. c. cada, cujos partes superio- res são fechadas com rolhas atravessadas por tubos de vidro cheios, em cima. de algodão para filtrar o ar. Os dois tubos são presos por um supporte me- tálico. A’s extremidades inferiores são ligados dois tubos de caoutchouc que se unem em um terceiro para se adaptar á agulha. A preparação da solução de Salvarsan é mais ou menos como faz Weckselmann. Enche os dois recipientes com serum physiologico a 9:1000 e deixa abrir as valvulas dos tubos de cautc- houcaté chegar na divisão 100 com o fim de retirar o ar. Feita a solução do medicamento em 100 c. c. de 45 serum tépido com a lexivia de soda, derrama-se em um dos tubos e pode-se hijectar, suspendendo o appa- relho a um metro de altura. O doente fica deitado com o braço direito sobre o leito. Introduz-se a agulha n’uma veiada dobra do cotovello d’esse braço; quando o sangue escôa fran- camente no orifício da agulha adapta-se esta ao appa relho e deixa-se introduzir uma certa quantidade de serum physiologico, abrindo a valvula do tubo que só contêm serum. Si este penetra bem sem produzir entumescimen- to nem dor, fecha-se essa valvula e abre-se a outra correspondente ao tubo que contém a solução de . Salvarsan; quando todo medicamento foi injectado deixa-se escoar maís 20 a 30 c. c. de serum para lavar o tubo e a agulha, evitando assim a acção irritante do medicamento no tecido cellular(26). Antes da operação todo o apparelho será esteri- lisado no autoclave. O local da injecção será asepsia- do com uma solução de partes eguaes de álcool e ether. t Emery em Novembro de 1910 communicou áSoci- eté de Dermatologie, a descoberta de um apparelho seu muito pratico, para injecções endovenosas do 606. Nós conhecemos este apparelho e deixamos de dar aqui a sua descripção por ser inútil e fastidioso. Nas columnas da ”Presse Medicale” de 17 de De- (26) A. Levy-Bing' et L. Dnreux. Les injections intra-veinenses de Salvar- san Annalcs. des maladics Venerieun.es. Juillet, 1911. 46 zembro de 1910 encontramos também um processo bom de L. Tissier, para o mesmo fim. Ravault tem um apparelho que è composto de um balão, cujos polos abrem-se, um. para communicar-se com uma bomba aspiro-premente e outros para ligar-se a um tubo de cautchouc de I m. 50 que termina por uma seringa de vidro munida de agulha .(27) M. Gastou em publicação feita nos “Aiuiales des Maladies Vénèfiennes’'. estampa o seu processo, mui- to aproveitável. Ha uma infinidade de diversos apparelhos. como ' já dissemos, e nada adiantam aqui as suas des- cri pções. As injecções endovenosas, como as intra-mus- cular e subcutânea, podem causar accidentes os mais variaveis e inesperados; isso veremos linhas adi- ante. * * * Accidentes—Ningtiem contestará actualmente o poder ás vezes surprehendente, do 606, no trata- da syphilis; o (pie também não poderá passar des. percebida, é a sua acção algumas vezes desastro- sa, são os accidentes quer locaes. quer geraes con- sequentes ao seu emprego. Como observador imparcial, que somos, não es- quecemos, ao lado de suas glorias os seus peque- nos revezes. Os accidentes locaes. como sejam a formação j'&) Dr. Paul llavault, Presse Medi cale, 28 Deeeinbrc lpíO 47 de escaras, abcessos, gangrenas, dores violentas* nevralgias sciatieas etc, consecutivos ás injecçôeã intramusculares e subcutâneas, já quasi nao se no- tam hoje. pelo abandono desses methodos. Introdu- zido na circulação para evitar as reacçoes locaes que sobrevêm ás administrações acima vistas, o 606 determina pertubações geraes sobre alguns ap- parelhos, mostrando que esse producto póde ser no- civo; não existe, porem, analagia entre essas perturbações e as de mais alta gravidade causadas pelos primeiros arsenicaes orgânicos, principalmente o atoxyl. Certos accidentes sobrevindo durante uma iujec- ção intravenosa, são manifestamente ligados a um erro de technica na preparação ou injecção da solu- ção. A perfuração da veia. a diffuzão do liquido no tecido cellular subcutâneo explicam as dores, edema, infiltrações etc, A alcalinidade insufficiente, tonicidade imperfei- ta, incompleta dissolução do medicamento, podem provocar syncopes, p- rturbações respiratórias, acces- sos de suffocação, ligados sem duvida á producção de verdadeiras embolias. Mesmo após injeções as mais perfeitas e melhor conduzidas se podem notar, com variavel intensida- de. certos phenomenos seguintes: elevação de tem- peratura. calafrios, salivação, lacrimejamento, for- migamentos nas extremidades, vermelhidão da face, 48 (los tegumentos, vomitos, diarrhéa, cephaléa, in- somnia. etc, perturbações essas que raramenie per- sistem mais de 24 horas. Devem-se incriminar o gráo d‘alcalinidade, a qua- lidade do producto, ou reconhecer effeitos toxicos do 606? Todos estes factores intervêm talvez; nos parece impossível fechar actualmente a questão. Entre- tanto. á medida que a fabricação do Salvarsan e a technica das injeçções se aperfeiçoam, estes acci- dentes são mais raros e menos violentos. Têm apparecido casos de icterícia e albuminú- rias após o emprego do 606, Ao lado das erythémas passageiras se podem notar outras tardias, de typo morbilliforme, escar- latiforme e parecendo ter origem toxica. Os accidentos que mais ferem a observação são os que attacam osystema nervoso e os apparelhos ocuiar e auditivo. As paralysias attingindo o facial o trigemeo, e sobretudo os nervos oculomotores, contribuíram lar- gamente para pôr cm duvida a inocuidade absoluta do 606. Qual a cauza destas paralysias? • Falou-se, á principio de uma fixação electiva do 606 por um verdadeiro neurotropismo sobre o te- cido nervoso. EhrJich considera estas paralysias comoneuro-reincidencias, como accidentes denature- syphilitica os quaes o 606 não poude impedir o ap- 49 parecimento, pelo contrario; até facilitou. Por um phenomeno analogo á reação de Hérxeimer nas le- zões mucosas e cutaneas, a posta em liberdade de ume grande quantidade de endotoxinas sob a acção espirollicida do Salvarsan, e sua fixação sobre os troncos nervosos explicariam as paralysias. Algumas observações parecem provar que o 606 exerce uma acção hemorrhcigipara manifesta. Em um doente de Jacquet, attingido de ulcera do esto- mago, a injecção de 606 foi seguida de uma gastror rhagia, mortal; em outro de Verchere que era uma mulher menstruada, as regras durante 3 dias trans- formaram-se fuma metrorrhagia assustadora. Hematúrias têm succedido á injecções endoveno' sas. Milian explica o facto das hemorragias nesses indivíduos portadores de fontes hemorrágicas como sejam cancerosos, ulceras estomacaes, tuberculosos com hemoptyses, etc. devido á acção vaso dilatado- ra do 606. Elle vae de encontro a nocividade do producto, lezando o apparelho ocular, dando como causa des- sas lezões a syphilis e não o Salvarsan; diz elle: Le 606 est peut-être le seul de tous les seis arseni- caux dont on sait stir qu’il est incapable de produi- re des troubles da la vue. (28) Concluindo affirma, que a sua inocuidade é ab- soluta. (28) Millau, La dermatologie e la syphili grapliiê' Ipll. Paris medicai n. 1-1. 50 Entre os accidentes do 606, os casos de morte, que são julgados como os mais importantes, nós consideramos como de pequeno valor, porque são devidos a erros de theçhnica, são injecções dadas a indivíduos cacheticos mais ou menos tarados e as vezes em syphilitieos completamente desenganados, por bem dizer, á beira do tumuio. Os adversários de Ehrilch e de sua genial des- coberta aproveitam-se de alguns d’estes factos para lançar-lhe o descrédito e fazer rolar o prepara- do pelo descambamento negro dos prejudiciaes. Mas, a critica sã fará a necessária justiça, ser- vindo de parapeito ao seu real valor e como um forte caes, deixando que nelle se arrebentem e se desfaçam as ondas da inveja e do odio contra o me- dicamento de Etvhch-Hata. Dose—Sobre o capuulo da dóse a se empregar de 606, ha muito desencontro de opiniões. E até certo ponto é justificável este facto, porque não se pôde exigir de um medicamento recentemen- te introduzido em títerapeutica, uma dosagem i.mme- diatamente exacta e definitiva. No mundo scientifico actual, não se confiam ao acaso certas asserções de valor; o que traz a luz. a pédra de toque de todas as duvidas, é a experien- cia. é o emprego continuo e o trabalho incansável dos competentes, Assim é, que citando opiniões de uns e outros 51 médicos, de nomeada e real valor, poderemos che- gar a. uma approximação exacta das dóses do Sal- varsan a ser empregadas. Estas devem variar conforme o estado de robus- tez ou enfraquecimento orgânico do indivíduo, con- forme a idade, moléstias, sexo, etc. A principio Ehrlich recommendava empregar a menor dóse capaz dc trazer effeito therapeuiico; foi esta fixada em 0,30 ctgrs. Muitas reincidências appareceram,pois esta quan- tidade não era bastante para esterilização completa dos treponemas. Louis Camous munda injecfar de 45 a 60 ctgrs. em adultos. Nas creanças a dóse deve ser muito menor. Michaelis injecta 80 a 85 ctgrs. em homens vi- gorosos e 2 112 centgrs. em creanças. Elle nos cita dois casos graves de syphilis terci- ária em mulheres que se curaram radical e rapida- mente com uma injecção de 45 ctgrs., de 606. O dr. Duhotcalcula em I4 milligrs para cada ki- logramma do indivíduo # cuja resistência organica seja mais fraca. Nas creanças a dóse é de 8 milligrammas a 1 ctgr. porkylo. Baseado nestas asserções, dá M. Duhot o quadro das dóses do 606, que estampamos abaixo: 52 Creanças 0,008 a gr. 0.01 Homens: —Adultos fortes 70 a 95 kgrs.—1.0 a gr. I.ÍOf , r „ „, . t , 55 a 70 -0|70 a gr. M0Ímédla-gr- °-014 P°r W» fracos 70 a 80 „ —0.701 „ „ 65 a 70 „ —0,60! média—gr. 0.01 por kylo „ „ 50 a 65 ,. —0,50j Mulheres: mulheres fortes 70 a 80 „ 1.0 j „ f „ 50 a 70 „ 0 6o a gr. 0.80j—gr. 0,012 por kylo „ „ „ 45 a 50 „ 0,50 a gr. 0,60J „ „ fracas 60 a 70 „ 0,60f „ „ „ 50 a 60 „ 0,50anedia—gr. 0.01 por kylo „ 40 a 59 „ 0.401 53 Logo após o apparecimento do 606, os poucos médicos que o empregaram, injectavam timidamen- te 0,30 ctgrs. Esta dóse é actualmente julgada insuficiente, Ehrlich, em cartas que dirigiu a diversos médicos allemães e írancezes que experimentaram o seu producto para depois communicar-lhe os resul- tados, já insiste para que a dóse seja no minimo de 45 a 50 centgrs. para os homens. Alt que foi o primeiro experimentador do 606, diz que a dóse não deve passar de 50 centgrs.. mes- mo em indivíduos robustos, porque além dessa dóse elle nota perturbações organicas como sejam tachy- cardia, arythmia cardíaca,'syncopes, nauzeas: pheno menos esses que elle considera como signa! de alarma. Esta opinião não é acceita pela maioria dos au- ctores e actualmente se empregam dòses de 70, 80 centgrs.e até como Fraenkel e Grouven 1,20. Tversen combina a injecção intra muscular á in- jecção endovenosa. Dá primeiramento uma injecção endo-venosa de 40 n50 ctgrs e vinte e quatro horas mais tarde dá intra-muscular da mesma quantidade. Calcula-se, portanto em uma gramma approxima- damente de arseno-benzol. Wechselman épardidarío dasd sesfraccionadas,po- rém repetidas. Elle espera que a primeira dóse seja completa mente elliminada para dar outra mais forte. 54 Schreiberque è adepto deste modo de uzar o 606, acha que as injecções devem ser feitas por via venosa, porque a eliminação é mais prompta; e assim não se temerá a intoxicação por accumulo fío medicamento no organismo, Weintraud aconselha uzar-se a dóse de 0,80 ctgrs., e de injectar-se de uma só vez por via en- dovenosa. após se ter assegurado que o paciente gosa de um estado geral satisfactorio. EI le antes notava reincidência de manifestações syphiliticas em alguns salvarsanados, reincidências essas, que julga devidas á pequena dóse que em- pregava: 0,30 a 0,50 ctgrs. (29) M. Treupel costuma usar em injecçõs intra- musculares ! gr. e em injecções venosas 0,60ctgrs.(30) Tissier propõe dóses massiças nos casos de in- fecções graves e generalisadas, quando a marcha dos accidentes é rapida. Nestes casos nos diz elle, assistem-se a verda- deiras res su rre i ç Ões. Este methodo de altas doses é por elle prohi- hido nos casos de paralysia geral ou lesões arte- 1‘iaes. Para um doente bem constituído, a dose média, diz elle. deve ser de 1 centigrammo para cada kilogr. do indivíduo. As doses de menos de 0,50 ctgrs. não chegam para prevenir reincidências. (30). tág; Weintrauil ( oninumicação fei(;i á ‘ Societé do Medeoino de Franefort sur le Mein“ IS Setembre, 1910- (0) 'IYea,j%I- 'rlAua líMtui1 m-jdiziuiácbe w »•honsvlft, n. 1 *5 Outubro • 910. 55 File nos dá um quadro de doses, que variam conforme a via a se empregar e o sexo do pa- ciente. (31) Por via sub-cutanea ou intra-muscular a dose média no homem deverá ser de 0,60 a 0,70 ctgrs. e na mulher de 0.40 a 0.50 ctgrs. Para as injecções intra-venosas a dose será mais fraca. Applica em geral 0.40 ctgrs. no homem. 0,30 ctgrs. na mulher e 0,1 a 0,10 ctgrs. nas creançaS. (32) O Dr. íversen, de S. Petersburgo. injectano sangue do doente 0.40 a 0,50 ctgrs. do preparado; após quarenta e oito horas de ter feito essa in- jecção venosa elle faz uma intra-muscular de 0,30 a 0.40 eentgrs. do 606. Por este processo, diz elle, assistiu a maravi- lhosas curas. Os germens da syphilis desappareciam após a primeira injecçâo e dias depois dava-se a cicatriza- ção das ulceras mais profundasse feridas purulen- tas constantes. (33) Finalmente, no Congresso de Koenigsberg, a maioria dos experimentadores adoptou a dóse de 0,60 gr. como o minimo a injectar de uma só vez. <31) M. Tissier, Dosagpe et imlicalious du 606, Societè de Theurapetique de Paris, 12 doOctobre 1910. 32 Paul Girard e Michel Dick L’Avarie et 606 pag\ 55 e 56. (33) M. L. Tissier Traitement de la sypliilis par la raethode d'Elirlicli, dioxydiamido-arseno-benz£>l 606,Societé de Therapeutique eLa Presse Medicale, n, Hl 17 Decembre 1010 56 Varias mjecções poderiam mesmo ser feitas com um certo numero de dias de intervallo. isso quer dizer que a dose minima e a dose maxima inda não estão no momento actual bem fixadas e que ò não serão emquanto não haja uma experiencia bastante larga com o novo producto. Nòs pensamos entretanto que se deva ter como dóse média 0.60 gr. A dose deve ser proporcional ao peso do doente e á gravidade da moléstia? Isto parece racional; todavia ha sobre esse assumpto opiniões as maís eontradictorias. São questões importantes, sobre as quaes não ousamos emittir a nossa opinião e silen ciando a nossa palavra esperamos para o futuro a voz autorisada dos competentes. Indicações e conte-indicações Apòs os primeiros tempos de paixão e enthu- siasmo que succederam á apparição do 606 no theatro clinico, depois também dos ataques viru- lentos e injustificados, das polemicas aridas, dos- panegyricos estereis, vezes múltiplas provocados por moveis extra-scientificos, com o fim de fazer tom- bar no escuro desdenhoso do descrédito o prepa- rado de Ehrlich, aos olhos dlaquelles que não po- diam formar uma opinião pessoal, veio o periodo de calma, a critica sã e justa actuoufazendo o Sal- varsan retomar os seus direitos, predizendo-lhe uma longa vida e brilhante futuro para si, e gloria para seu autor. A idéa de Ehrlich—therapia sterilisans magna, não poude ser bem firmada, nem o seu excesso, considerando o 606 como especifico hyper-idéal da syphilis é totalmente acceito. Si para todos os casos de syphilis o medica- 58 mento não póde agir como se desejava, trazendo a cura completa, na maioria elle é optimo, traz resultados bellissimos,ás vezes até admiráveis. Não devemos procurar aqui justificar, nem dis- cutir a acção do Salvarsan sobre a syphilis, por- que esse assumpto já está por demais analysado e conhecido do mundo scientifico. Nem o nosso pequeno e despretencioso trabalho poderia conter a svnthese desses resultados, por menor que ella fosse. Diremos somente de um modo geral que a sy- philis adquirida, em todos os estados, è justificável do 606. Accrescentaremos que quanto mais re- cente é a infecção, tanto mais victoriosa è a acção do medicameeto. A’ medida que a syphilis envelhece, áproporção que suas manifestações se accentuam e se conden- sam, vae creando tanto maior resistência ao poder espirollicida do Salvarsan. Podemos resumir do seguinte modo: no estado inicia! da syphilis a acção do 606 é prompta;no perío- do secundário é vantajosa; no terciário ainda pode ser util. Apezarde agir energicamente quando o mercúrio falha, não quer dizer que se deva por completo des- prezar o mercúrio no tratamento da syphilis. Ha actualmente a idéa de se juntar os dois para o mesmo fim, trazendo curas com exito brilhante. Seria bastante longo estar aqui a citar observa- 59 ções e mais observações próprias e alheias, pois alem de julgal-as iuteis, não traduzem a verdade do íacto, porque as recidivas poderiam apparecer,e eu estaria a contar as curas. Já hoje mais de 100.000 individuos tratados pelo 606 attestam a eííicacia deste producto e seria pre- tensão nossa com uma meia duzia de observações querermos por ellas ajuisar. Para falar das manifestações da syphilis em que o 606 obra com proveito, seria necessário escrever um tratado. Diremos aqui em duas palavras, quaes os casos em que elle deve ser rejeitado, temendo as suas consequenciás. A’ princicipio Ehrlich fixou as seguintes con- tra-indicações para o 606: infecçõ®s, estado cache- tico, affecções do systema nervoso, affecções car- díacas, renaes e visceraes. Estas contra-indicações affirmam simplesmente a falta de experiencias completas n’aquelle tempo com o Salvarsan, pois as mesmas se extendem a todos os medicamentos que não são acceitos em forto dose, que têm limite em seu poder toxico. Nada têm de especial. A fraqueza e a desnutrição não contraindicam absolutamente o 606, pelo coíltrario é util e se de- vem augmentar proporcionalmente as doses. Em tratando das demais affecções dos diversos apparelhos a contra-indicação não é absoluta; re- 60 pouza sobre manifestações serias e phenomenos alarmantes. Janselme e Touraine lembram o seguinte qua- dro de contra-indicações, como sendo geral e pra- tico : I' Insufficiencia renal: nephrite grave e uremia; 2' Insufficiencia hepatica: cirrhose avançada, icte- rícia grave, etc.; 3' Lezões adiantadas do apparelho circulatório: moleslias organicas não compensadas, degenerescencia do myocardio, aneurysma aortico, arterio-sclerose, etc.; 4' Degenerescencias graves do systema nervoso: hemiplegia antiga, paralysia geral e tabes confirmado. # Nos velhos, nos diabéticos, nos (pie tem ulce- rações gastro-intestinaes, nas mulheres na época do menstro, a maior prudência é necessária. A primeira infanda apresenta grande intolerân- cia para com o Salvarsan. O estudo do arsenobenzol e recente ainda, para que se possam ter contra-indicações formaes e ab- solutas; entretanto estas tendem a decrescer á me- dida que melhor se saiba empregar e manejar o medicamento. Uma cousa para qual se deve chamar attenção é o tratamento ambulhnte pelo 606 que muitos médicos costumam fazer. O doente deve ficar no leito 4 a 5 dias em observação, sob o exame medico das suas secreções 61 e excreções, reparando qualquer symptoma reve- lador de uma complicação. Antes de começar o tratamento, o medico se deve assegurar pelo interrogatório do doente, pela auscultação do coração e exames do figado, rins, systema nervoso, orgãos sensoriaes e analyses das urinas, se o syphilitico está exempto de taras or- ganicas capazes de o incompatibilísar com o 606. Affastar-se desta linha de conducta è marchar ce- lere para um desastre provável. Alèm do seu emprego 11a syphilis, o 506 é' ac- ceito para o tratamento de muitas outrás molés- tias. que procuraremos lembrar aqui muito succin- tamente. Castaigne estudando este assumpto, do emprego do 606 nas moléstias não syphiliticas, ' divide-as em 3 grupos: \' espirollozes, trypanoso- miases e moléstias de protozoários; 2’ moléstias microbianas outras; 3' moléstias que pedem thera- peutica arsenical. No 1' grupo citam a febre recurrente. Esse estudo já foi precisamente feito por Hata e demonstrado que o 606 é 0 medicamento prompto para jugulaba. A angina de Vincent, segundo os estudos de Achard e Flaudin, Rumpel etc., que provaram a ac.ção therapeutica do 606, è curável por esse me- dicamento. O mesmo se dá para com algumas estomatites 62 e es pi ri II em ias. segundo Thiroloix/ Durand e Mi- lian. A moléstia do somno. destruivel pelo 606 nos ratos conforme as experiencias de Yakimof, foi depois apreciada no homem por Browen que con- seguiu fazer desapparecer os trypanosomas do sangue. Ehrlich, Iversen, Nocht, Werner etc., experi- mentaram o Salvarsan na malaria; viram que elle tem grande poder contra o hematozoario, mas que vmria conforme o genero de febre. Foi assentada a sua eííicacia nas febres terçãs e Ehrlich bazeado nisso procura uma substancia nova que unida á quinina institua uma therapeutica ma is energica. Na lilariose a acção do 606 deu rafeultados bri- lhantes. O botão de Biskra foi tratado por Nicolle e Manceaux trazendo a cura em 20 dias com uma só injeeção de 0.60 gr. de arsenobenzof. I ivemos occasião de apreciar um facto desses, na clinica do nosso professor Dr. Alexandre Cer- queira. com a cura perfeita do botão dOriente com o 606 em pomada. No kala-azar, Cortesi e Levv ainda não chega- ram a rezultados concludentes. No grupo de moléstias microbianas, o 606 foi ensaiado dando resultados contradictorios no typho exanthêmatico e na variola. Nas estrêptococcias e estaphylococcias a acção do 606 traz a melhora e a cura. 63 A lepra, que tem sido por muitos, tratada com o 606, parece não ser sempre curável por esse producto, segundo nos affirma Ehler. . Entre o 3' grupo nós vamos encontrar a choróa tratada pelo 606. As anemias foram debelladaS pelo arseno-benzol, as benignas; sendo que na ane- mia perniciosa o seu effeito é desastroso. Isaac, keiss, Czerny, experimentaram o Salvar- san nos tumores, vendo curas interessantes nos sarcomas. Nos carcinomas a sua acção é somente levantando o estado geral. Voltando á syphilis nós concluímos que o 606 póde ser utilisado em todas as manifestações acti- vas da syphilis. Seu poder e sua rapidez de acção fazem d'elle um tratamento de assalto que se impõe todas as vezes que se queira ferir ligeiro e forte. A sua applicação nas outras diversas moléstias não tem esse valor que muitos lhe emprestam, ou por sympathia á causa, ou então, vaidade de crear nomeada em torno de uma questão scientifica. E‘ um medicamento perigoso, não resta duvida e o qual só devem empregar pessoas "competentes e familiarisadas com o seu manejo. Si bem que Ehrlich não realisasse o seu intento completo, de esterilisar definitivamente o organismo com o sei: novo producto, conseguiu para a medi- cina e para a humanidade o melhor guerreiro para luctar contra a syphilis, procurando ora. attenuar os 64 seus damnos, ora destruir a sua acção prejudicial, aniquilando a sua marcha ascendente para desgraça dos que attinge. Não restará a menor duvida no espirito daqucl- les que acompanham a trajectoria brilhante e glo- riosa do 606, nos laboratorios, nos hospitaes, nas clinicas, nos jornaes, revistas e obras, que o Sal- varsan è o melhor especifico para a syphilís, pois age onde o mercúrio falha, emprega-se onde este è contra-indícado, tem acção prompta e immediata e o tratamento requer muito menor espaço de tempo. Terminando, reconhecemos que foi muito pequena e resumida a nossa dissertação sobre o ponto, mas este foi o nosso proposito e para íazel-a melhor, não davam as nossas luzes. Sejam as nossas ultimas palavras um hymno de louvores a Paul Ehrlich em nome da humanidade soffredora; uma corôa de glorias ao horóe da actualidade scientifica, sagrado assim pelo mundo medico; uma canção enthusiastica ao sabio que como Hypocrates. Pasteur e outros, assignala a sua época deijftmdo uma esteira de luz em torno do seu nome, um rosário de bênçãos em derredor á sua obra! Gloria áquelles que trabalham por uma crença em busca de um ideal, tanto mais quanto este ideal é cu beneficio da saúde e vida dos que pe- nam. (piando nesta batalha se têm, por estandarte a flammula branca da Caridade, e o sol da sciencia a illuminar-lhes os passos, guiando nas trevas, con- tra o mal da Morte pelo bem da Vida!... Salve Ehrlich-Hata! Proposições Trez sobre caclci urna das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas Proposições Anatomia descriptiva 1— A aponevrose glútea, attingindo o bordo anterior do grande glúteo divide-se em trez folhe- tos: superficial, medio e profundo. 2— Elles correspondem successivamente ás fa- ces, externa do grande glúteo, interna do mesmo e externa do medio glúteo. 3— E’ inconveniente injectar-se o 606 directa- mente sobre esta aponevrose; afasta-se a agulha ou introduz-se no interior do musculo. v Anatomia medico-cirurgica 1— O grande nervo sciatico, continuação do plexus-sacro, situado para fòra da artéria ischia- tica, segue o mesmo trajecto d’esta artéria. 2— Os derramens sobre o musculo grande glú- teo, podem trazer a compressão d’esse nervo, pro- duzindo nevrites sciaticas muito dolorosas. 3— E' esse o inconveniente das injecções intra- musculares do 606 na região glútea. Histologia 1— A affmidade da cellula para certos corpos é denominada chimiotaxia. 2— Quando a cellula attráe o corpo, chama-se 66 çhimiotaxia positiva; quando repelle—chimiotaxia negativa.- 3—O 606 gosa de propriedades chimiotaxicas positivas, *> * Bacteriologia 1— Estaphylococcia e estreptococcia são infe- cções cujos germens responsáveis são o estaphy- lococus e o estreptococus. 2— Estes germens agem por si e pelas toxinas que elaboram. 3— Lueksch observou que o 606 de Ehrlich-Hata curava essas moléstias por seu grande poder anti- - toxico microbieida. Anatomia e physiologia pathologicas 1— «A morte dos elementos cellulares e dos te- cidos pode succeder á uma Sezão inicial das cel- lulas ou ser falta de irrigação sanguinea. 2— Em geral essas necrobiozes são indolores, aseptiças e inodoras. 3— Podem apparecer após injeeções intra-mus- culares do 606, ne '.robozes limitadas pequenas, (pie se reabsorvem. O exame anatomo-pathologico demonstra a existência de ieucocytos e arseno- benzob .Physiologia 1—As causas que augmentam a temperatura humana são externas ou internas. 67 3—As internas são devidas á excitação ner- vosa sem alteração dos humores, ou á perturba- ções nervosas subordinadas a alteração dos humo- res do organismo. 3—O 606 é considerado como um thermogeno interno. Therapeutica 1— A eliminação urinaria do arsénico após uma injecção do Salvarsan começa no fim de uma meia hora (Greven). 2— Dura quatorze a dezoito dias após uma in- jecção intra-muscular e durará vinte e cinco si se fizerem fricções mercuriaes. (J. Dumont). • 3—A administração do iodureto de potássio accelera a eliminação. Hygiene 1— O casamento de um syphilitico é um atten- tado ao futuro da prole. 2— Todos os paizes civilisados têm leis para a prophylaxia da syphilis, menos o nosso. 3— Esta prophylaxia terá breve, como esteio, o arseno-benzol de Ehrlich. O Medicina legal e Toxicologia 1— Era corrente até pouco tempo, que o arsé- nico retardava a putrefação dos cadaveres. 2— Experiências modernas mostram que tal não se observa. 3— Co]ji o 606 dá-se o mesmo. 68 Pathologia cirúrgica 1— Ulcera é toda perda de substancia, persis- tindo e crescendo, sem tendencia á cicatrizar. 2— Podem ser locaes, simples ou idiopathicas e diathesicas ou geraes. 3— As ulceras syphiliticas são de diagnostico differencial difficil, ajudando muito neste caso a me- dicação; o 606 aqui, presta maravilhosos ser- viços. Operações e apparelhos 1— Avtoplastia é a operação que tem por fim preencher uma perda de substancia com um reta- lho, trazido ao local, do mesmo individuo. 2— Heteroplastia é a mesma operação, sendo os retalhos tirados d’outro individuo. 3— Estas operações são muito applicadas ás ul- ceras, pelo processo de Thiersch, de Leipzig. Clinica cirúrgica (Ia cadeira) 1— As propriedades cicatrizantes de 606 se ma- nifestam com extraordinária intensidade. 2— tecido gra, .omatoso soííre uma irritação íibroblastica que exalta a funeção collagena dos elementos conjunctivos. 3— Quanto rnais recente é a ferida syphilitica, tanto mais rapida é a cicatrisação. 69 Clinica cirúrgica (2.a cadeira) 1— As phymosis, tendo por origem cancros, tor- nam o prepucio edemaciado, infiltrado e volu- moso. 2— Essas phymosis são muito dolorosas e eram consideradas irreductiveis. 3— J. Sabrazes e E. Dubourg apresentam muitos casos de completa redueção com uma só injecção endovenosa de 606. Pathologia medica I —A moléstia do somno, que reina endemica- mente na Á frica, e cujo nome aborigena é—na ga- na, tem por causa um hematozoario transmittido pela mosca tsè-tsè. 2— Yakmof experimentando o 606 contra essa moléstia nos ratos, viu que a sua acção sobre os germens é prompta e rapida. 3— Brown applicou ao homem conseguindo a cura. Clinica propedêutica 1— Os ruidos normaes do coração soffrem mo- dificações em numero, sède, intensidade, timbre e rythmo. 2— ruido de galope, modificação do rythmo, é pathologico e representa um signal commum de esclerose renal, 3— Este ruido constitue um signal de contra- indicação do Salvarsan. 70 Clinica medica (1.a cadeira) 1— -A angina de Vincent é lima amygdalite ul- cero-membranosa, devida a uma svmbiose fuso- espirillar. 2— doente tem hálito fétido, os ganglios se engorgitam, há febre e dôres na garganta. 3— Achard e Flandin assignalam a cura dessa infecção com o 606 em pó e em soluções alcalino- acidas. Clinica medica (2.a cadeira) 1— O paludismo ou inalaria, que reina endémi- ca mente nos Jogares pantanosos, tem por germen responsável o hematozoario de Laveran. 2— 0 606 possue uma alta efficacia contra o hematozoario, porém esta varia segundo o genero da febre. 3— Ehrlich, Iversen e Notch, affirmam que a acção do 606 é prompta sobre a febre terçã. Matéria medica, pharmacologia e arte de formular 1— De todas as vias de absorpção dos medica- mentos, a de resultados mais promptos, éavía en- dovenosa. 2— Esta tem a vantagem de levar á circulação toda a dose que se emprega. 3— E’ o meio mais moderno do emprego do 606. 71 Historia natural medica 1— trypanozoma gambiense, responsável pela moléstia do somno, é um protozoário, 2— Pertence ao ramo dos iníuzorios, classe dos llagellados e ordem dos euílagellados. 3— Não resiste á acção destruidora do Sal- varsan. Chimica medica 1— O arsénico—As—é um metalloide que se encontra na natureza, em estado nativo ou em combinação. 2— Também se encontra em um certo numero de aguas mineraes e em alguns tecidos e liquidos animaes. 3— 0 Salvarsan, dioxydiamido-arsenobenzol, con- tem 34 q. de arsénico e tem por pezo ato- mico 439. Obstetrícia 1— Aborto ou movito é a expulsão do feto, an- tes que este seja viável. 2— Póde ser natural ou provocado. 3— 606 em grandes dóses é considerado abor- tivo. Clinica obstétrica e gynecologica 1 —0 estado de gravidez não se oppõe ao trata- mento pelo 606. 72 2— As injecções feitas sem circumspecção pódem trazer hemorrhagias e aborto (Duhot). 3— As doses fraccionadas do Salvarsan em mu- lheres gravidas syphiliticas tem dado bons resul- tados para si e seus filhos. Clinica pediátrica 1— A heredo-syphilis precoce é uma contra-in- dicação ao uzo directo do 606. 2— Muitos recem-natos succumbem á reação violenta que se segue á injecção; na segunda in- fanda a medicação de Ehrlich já pode ser instituída. 3— Taege propoz injectar á mãe o 606, para medicar a creança syphilitica, no periodo de alei- tamento. Clinica ophtalmoiogica 1— Os novos arsenicaes têm produzido compli- cações no apparelho ocular. 2— O atoxyl, hectina e arsacetina trouxeram amblyopias, gotta-serena, atrophia do nervo optico, etc., etc. 3— O 606 é empregado na syphilis ocular com optimos resultados. Clinica dermatológica e syphiligraphica 1—O botão de Biskra também é conhecido por botão d’Oriente, botão dos Zibans, cancro do Sa- hara, botão dos paizes quentes, impetigo annua, pustula de Bassora, prophlyctide endemica, etc. 73 2— E’ contagioso, inoculavel, é auto-inoculavel e se assesta sobre as regiões descobertas. 3— E’ curável pelo 606. # Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas 1— A paralysia geral, meningo-encephalite dií- fusa progressiva, é uma moléstia chronica e de marcha ascendente, dos centros nervosos. 2— .Tem geralmente por causas: a syphilis, he- reditariedade nevropathica ergastenia cerebral e alcoolismo. * 3— Constitúe contra-indicação formal ao emprego do 606 de Ehrlich-Hata. C%'sfe. Secretaria da Faculdade de Medicina da 'Bahia, em 31 de Outubro de 1911. O Secretario, Dr. Menandro dos Reis Meirelles..