FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA THESE APRESENTADA Á BE 7VÍBDIC111J&. DA jiâHIã Em 5 do Novembro de 1912 PARA SER DEFENDIDA PELO PHARMÁCEUTICO J?v ay mun do 3/Cariaao de Ryí altos V; '• NATURAL DO ESTADO DO MARANHÃO Ex-interno de clinica oto-rhino-Jaryngologica Filho legitimo do SenhQr Manoel dos Santos Mattos e D. Roza Maria de Mattos AFIM DE OBTER O GRAU DE DOUTOR EIVE MEDICINA DISSERTAÇÃO o (CADEIRA DE 0T0-RHIH0-LARING0L0GIA) DA OTITE MEDIA AGUDA PURULENTA E SEU TRATAMENTO PROPOSIÇÕES O Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas BAHIA Typograptiia Z. COSTA & C.—R. d AIíandega, 50 1912 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director — Dr. Augusto Cezar Vianna Vice-Director— Secretario — Dr. Mcnandro dos Reis Meirelles Sub-Secretario — Dr. Matheus Vaz de Oliveira PROFESSORES ORDINÁRIOS matérias que leccionam Manoel Augusto Pirajá da Silva . . . Historia natural medica Pedro da Luz Carrascosa Physica medica, Chimica medica, •íulio Sérgio Palma Anatomia microscópica. José Carneiro de Campos . ..... Anatomia descriptiva. Pedro Luiz Celestino. ....... Phvsiologia. Augusto Cezai Vianna Microbiologia, Francisco da Luz Carrascosa .... Chimica Antonio Victorio de Araújo Falcão . . Pharmacologia, Guilherme Pereira Rebelío ..... Anatomia e Histologia Pathologicas Fortunato Augusto da Silva Júnior . , Anatomia medico-cirurgica com Operações e Apparelhos Anisio Circundes de Carvalho Clinica medica Francisco Braulio Pereira Clinica medica. João Américo Garcez Froes ..... Clinica medica Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica Braz Hermenegilcto do Amaral .... Clinica cirúrgica Carlos de Freitas Clinica cirúrgica. Clodoaldo de Andrade Clinica ophtalmologica. Eduardo Rodrigues de Moraes .... Clinica oto-rhino-laryngologica. Alexandre E. de Castro Cerqueira . , , Clinica dermatológica e syphiligra- pliica. Gonçalo Muniz Sodrè de Aragão . . . Pathologia geral, José Eduardo Freire de Carvalho Filho . Therapeutica. Frederico de Castro Rebello .... Clinica pediátrica ehygiene infantil. Alfredo Ferreira Magalhães Clinica pediátrica e orthopedia. Luiz Anselmo da Fonseca ...... Hygiene. Josino Correia Cotias Medicina legal. Climerio Cardoso de Oliveira ..... Clinica obstétrica José Adeodato de Souza Çlinlca gynecologica. Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica >e de moléstias nervosas. Aurélio Rodrigues Vianna. , ... . . Pathologia medica Antonino Baptista dos Anjos .... Pathologia cirúrgica. PROFESSORES EXTRAORDINÁRIOS EFFECTIVOS Egas Moniz Barretto de Aragão . . . Historia natural medica. João Martins da Silva Physica medica. . . . . Chimica medica Adriano dos Reis Gordilho Anatomia microscópica José Affonso de Carvalho Anatomia descriptiva. Joaquim Clime rio Dantas Bião. . . . Physiologia Augusto Couto Maia Microbiologia . . , , Pharmacologia . . . . Anatomia e Histologia pathologicas Eduardo Diniz Gonçalves Anatomia medico cirúrgica. Clementino da Rocha Fraga Júnior, . . Clinica medica Caio Octavio Ferreirra de Moura . . . Clinica cirúrgica . . . . Clinica ophtalmologica Albino Arthur da Silva Leitão . . . . Clinica dermathologica e syphili- graphica Antonio do Prado Valladares Pathologia geral Frederico de Castro Rebello Kock . . . Therapeutica José Aguiar Cosia Pinto Hygiene Oscar Freire de Carvalho Medicina legal Menar.dro dos Reis Meirelles Filho . , Clinica obstétrica Mario Carvalho da Silva Leal Clinica psychiatrica e de molés- tias neiTosas Antonio Amaral Ferrão Moniz Chimica analytica e industriai PROFESSORES EM DISPONIBILIDADE Dr. João Evangelista de Castra Cerqueira Dr. Sebastião Cardoso Dr. Deocleciano Ramos Dr. José Rodrigues da Costa Dorca A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhes são apresentadas. PREAMBULO The se que apresentamos ao levantado juízo da douta, congregação, mister é dizer, vão foi dictada de e sp i ? i to i n nova dor. Confeccionando-a,'tivemos tão somente em vista real- . V çar um assumpto em que mais proficientemente pudéssemos revelar algum esforço pessoal. Interno de oto-rhino laryngologia, conseguimos estu- dar e compi ehender, ao alcance da, nossa intelligencia, aquillo que, de maior importância, palpita na otite media, aguda purulenta. E é o que fita a nossa exposição. Cabe-nos, agora, em prova da nossa alta admiração, agradecer ao mestre e amigo Dr. Eduardo Moraes, o muito com que, nas suas sabias e proveitosas lieçÕes e no devo- tado zelo que lhe á peculiar, contribuiu para esclarecer e nortear-nos o espirito na penumbra immensa das duvidas e incertezas. Por menos (pie nos fizesse, já lhe seriamos eterna- mente reconhecido. CAPITULO I Etiologia, spptoinatologia e diagnostico í estudo da otite media aguda purulenta, sob o ponto de vista etiologico, constitue certamente um dos mais importantes capítulos da pathologia auricular. De uma frequência relativamente grande, e, podendo acarretar, não raras vezes, graves perturba- ções íunccionaes e vitaes, a infecção da caixa do tympano, consoante a opinião geral, se dá, pene- trando o germen infeétuoso por tres vias principaes: por intermédio do systema circulatório, pelo conduc- to auditivo externo e finalmente pela via da trompa de Eustachio ou via tubar. 0 modo de infecção por via sanguínea bem que duvidoso para alguns auctores tem sua explicação racional. Assim é que existindo, como todos sabe- mos, germens morbigenos no sangue dos indiví- duos acommettidos de moléstias infectuosas geraes 2 e nas quaes c> abcesso agudo da caixa tympaníca & uma com plicação com mu m, estes mesmos germens podem, encontrando uma região de resistência en- fraquecida—a orelha media, por exemplo, ahi se installar e produzir as mais variadas perturbações, desde o simples eatarrho tubo-tympanico até á leptomeningite, a mais seria das complicações auriculares, A caixa do tympano também se pode inficionar pelo canal auricular. Múltiplas sendo as causas ex- ternas susceptiveis de determinar a infecção, sua frequência é comparativamente maior que por via do svstema vascular sanguíneo. Mas, para que a infecção oriunda do exterior alcance a orelha media necessário se torna que a membrana tympanica não mais conserve a sua‘integridade anatómica e func- cionalf que seja alterada previamente por uma ei rcumstancia q uaiq tier. Alem do importantíssimo papel que representa no phenomeno da audição, a membrana do tympano ainda constitue, por assim dizer, o baluarte de defe- sa externa da caixa. Desorganizada, porem, essa magestosa muralha defensiva, aberta conseguinte - mente a porta de entrada ás causas mórbidas ex- a infecção poderá então realisar-se, acompanhada de todo seu cortejo de perturbações, Quaes as causas que compromettendo o tym- pano podem originar a otite media aguda? Figuram 3 no primeiro plano, como mais frequentes, as diversas affecções auriculares externas (furunculose do con- ducto, otite externa diffusa, eczema, etc ). A inflam- mação da membrana tympanica consecutiva a um resfriamento pode também ser prologo da otite media. Do mesmo modo, a presença de corpos extra- nlios no conducto, animados e inanimados (insectos, rolhas de cera,, botões, caroços de milho, feijão) e com mais forte razão, sua retirada por mãos inha- beis e inexperientes com auxilio de instrumentos não apropriados e sépticos,como grampos de cabello, palitos (pratica tão commum entre nósj produzin- do facilmente a ruptura dessa membrana delgada, e infecção consecutiva, concorrem para idêntico fim. São numerosos os casos observados por nos de otite media com tal procedência. Afóra as rupturas pro- venientes de imperícia, como acabamos de ver, ha ainda as que sobrevêm em consequência de com- pressões bruscas exercidas na superfície do tym- pano. As pancadas em cheio, as fortes detonações próximas do orgão auditivo, são capazes de, pela força compressiva, romper a membrana e facilitar ainfecção. E obrando per igual um outro agente existe que lesando o tympano pode inficionar a orelha me- dia: referimo-nos á acção mecanica da agua nos banhos salgados. Alem disso, a agua do mar pelos 4 saes que contem, pela sua frialdade e impurezas organicas, offerece ao indivíduo muitas desvanta- gens e inconvenientes. E’ por taes motivos que a otite media aguda é tão frequente entre as pessoas que fazem uso dos banhos de mar. Via interna oa tu,bar.—A trompa de Eustachio estabelecendo communicação directa do pharynge nasal e do pharynge buccal—regiões extremamente sépticas e muito sujeitas a perturbações mórbidas- diversas—com a caixa do tympano, não resta duvida que é a via pela qual mais commumente se faz a infecção desta mesma cavidade. Comprehendida a faeil possibilidade de uma in- fecção da bocca ou da caixa propagar-se, atravez do canal de Eustachio, ao ouvido, vejamos quaes são as infecções principaes Destacam-se, em primeiro logar,' pela frequên- cia, as vegetações adenoides. E’ raro ver-se umacreança debilitada com dores no ouvido, com uma otite aguda, sem que a superfície do seu rhino-pharynge não esteja abrolhada destes botões lymphoides. Maldito abrolhamento! Infeli- zes creanças! Isto que acabamos de asseverar vem em apoio do papel importante que representam as adenoides na etiologia da otite media aguda. Na hypothese destas vegetações não terem ainda determinado a in- fecção tympanica,devemos,como meio prophylactico, 5 evitar o toque pharyngeo ou procedel-o com o maior cuidado antiseptico (principalmente se os tumores estiverem em estado de inflammação aguda); pois tal pratica tem sido factor de muitas explosões auri- culares, consoante affirmam numerosos especia- listas. As am) gdalites, as rhinites atrophicas e hypertro- pliicas, os polypos nasaes, entretendo um certo esta- do de iníecção da garganta e do nariz, por propaga- ção tubar, originam muitas vezes a inflammação da caixa. Do mesmo modo, a eoryza purulenta pode ser causa desse processo morbido. Pelo facto do entupimento nasal em tal affecção, um exagerado esforço que o doente executa com o fim de fazer cessar esse embaraço é capaz de determinar a pe- netração de germens sépticos na trompa, e d’ahi no ouvido. De um modo geral, todas as aífecções que são acompanhadas de alterações rhino-pharyngéas, podem produzir a inflammação da caixa do tym- pano, Por isso é tão frequente a otite aguda nas febres eruptivas, na diphteriar cujas moléstias se caracterisam principalmente por manifestações do nariz e da garganta. A lavagens mal feitas do nariz lançando germens infectuosos no õrificio da trompa, constituem um outro factor de infecção tympanica. Causas predisporientes.—Afóra as causas deter- 6 minantes mencionadas, ha ainda as chamadas causas predisponentes, que, ou inherem ao proprio indivíduo ou não dependem delle. Entre as pri- meiras, temos a idade; a otite é mais frequente nas creanças que no adulto. Laurens explica este facto pela maior riqueza em tecido lymphatico na primei- ra phase da vida. Certos estados geraes (tuberculo- se, escrofulose, etc) figuram igualmente nesta ordem de causas. Como causas predisponentes que não dependem do indivíduo não devemos esquecer as influencias das estações. No periodo invernal, em virtude dos resfriamentos constantes produzidos pela mudança de temperatura, a otite aguda surge com maior frequência, chegando a assumir, algumas vezes, o caracter de verdadeira epidemia ( Lermoyez) II A otite media aguda,em analogia com as demais moléstias, não tem começo sempre idêntico, e, tão pouco, um modo de evolução determinado. Ao contrario, sob este jjponto de vista, obedece a uma extrema variabilidade. Sobrevindo a affecção, não raras vezes, em estados geraes febris diversos, taes quaes, grippe, febres eruptivas, febre typhica, e infecções outras, pode, por esse mesmo motivo, passar completamente despercebido isto é sem nenhuma manifestação auricular que desperte a 7 attenção. A’s vozes, a formação do pús é acom- panhada de uma ligeira ascensão da temperatura. E casos ha em que o doente ou mesmo o medico não é surprehendido por uma affecção auricular senão quando, um bello dia, casualmente, observa um escorrimento purulento pelo conducto ou a presença de manchas no travesseiro (signal de Laurens). A otite aguda pode também manifestar-se de modo progressivo. 0 agente infectuoso, a pouco e pouco, vae adquirindo virulência, de maneira a determinar primeiramente uma otite de natureza catarrhal, á qual succede uma phase purulenta ou otite propriamente dita. Com a transição de uma á outra phase os symptomas, como é natural, se accentuam e caracterisam mais. Conforme acabamos de ver, a otite em casos taes gasta muitos dias para se declarar. Na maio- ria das vezes, porem, ella explúe bruscamente como um verdadeiro relampago, vindo logo acom- panhada de dores locaes intensas e phenomenos geraes manifestos. _ A otite media aguda, uma vez constituída, mani- festa-se por um certo numero de symptomas ou signaes, que, afim de methodisar a descripção, dividiremos em dous grupos: um, comprehendendo os signaes subjectivos, ainda chamados funccionaes 8 ou de probabilidade, e outro, abranjendo os signaes objectivos ou de certeza. Signaes Subjectivos — A dor é o plienomeno ca- pital, o phenomeno por excellencia da otite media aguda. Ella selocalisa principalmente na região pro- funda do ouvido-, porem, apresenta irradiações dolo- rosas intensas para as regiões visinhas, ou ainda, um pouco afastadas. Assim é.que ella pode propa- % gar-se a todo um lado da cabeça, á região mas— toidéa ao pescoço, á espadua, e á metade corres- pondente do thorax (Valleraux.) A dor da ponta da apophyse mastoide provo- cada pela pressão é sempre pronunciada e parece caracteristica da otite media, se bem que, neste momento, não haja invasão da ponta da mastoide propriamente. A “ dor de ouvido ” experimentuda pela maio- ria dos doentes é lancinante e pulsátil, caracter este que os leva a comparal-a a martelladas (coups de marteau dos francezes). Ella augmenta de intensi- dade, á noite, e, principalmente, quando a cabeça e o maxiHar superior são séde de movimentos mais ou menos extensos, o que, aliás, é explicável pela intima connexão do ouvido com a articulação tem- poro-maxillar. A’ proporção que a quantidade de pús accumulado na caixa vae augmentando, essas dores, ipso-facto, tornam-se mais vehementes. Feliz- mente tal estado de causas não se prolonga muito, 9 dura cinco dias, de ordinário. Quando no fim desse prazo o medico não intervem praticando a puncção , do tympano afim de dar franca saliida ao pús -causa um facto importante dar-se-á forço- samente: é a perfuração natural ou espontânea. O exsudato, que, em virtude do accumulo, estava supportando uma enorme pressão, saliirá então em verdadeiros jorros, atravez de tão propicia abertu- ra. As dores desapparecerão como que por um maravilhoso encanto, deixando o doente em pleno socego. A febre é também um signal subjectivo de im- portância, mas offerece variabilidade. A otite irrom- pendo num indivíduo que. esteja acommettido de moléstia infectuosa geral e de natureza febril (facto frequente), sua curva thermica poderá confundir-se com a da moléstia primitiva, passando deste modo despercebida. Mas, assim, não succede sempre. Em alguns casos, a elevação da temperatura se accen- túa de modo tal que desperta logo a attenção do medico assistente, e, quando acontece vir acompa- nhada de dor auricular, não resta duvida que se trata de um phenomeno de inflammacão do ouvido. Se nos casos acima figurados ha probabilidade de passar despercebida a febre otitica, o mesmo não succede se o abcesso da caixa do tympano se eonstitue num indivíduo anteriormente são. Aqui ella é bem manifesta e elevada, attingindo, ás vezes, 10 38°, 39° ou mesmo 40°. A febre é suseeptivel cie acompanhar-se de frio, ligeiros delirios e outras perturbações. Nas creanças notam-se ainda, muitas vezes, convulsões. Em ultima analvse, diremos que a * elevação thermica bem como a dor auricular persistirá en- quanto houver retenção de pús na caixa, e, conse- guintemente, enquanto não se realizar a abertura tympanal ou tympanotomia. A audição, desde o começo da moléstia, dimi- nue consideravelmente. E, quando ha exsudato na caixa, é de regra que ella desappareça por inteiro. Os doentes, de par com essa alteração da tunc- ção auditiva, sentem, em geral, phenomenos subjec- tivos outros, taes quaes, ruidos, sensação de pleni- tude da orelha, autophonia (resonancia de sua própria voz no ouvido doente) e vertigens. Em virtude das relações intimas do apparelho auditivo com os centros nervosos ou psychicos, po- demos ainda observar symptomas diversos (nau- seas, vomitos, insomnia, etc). A sensibilidade gusta- tiva é também passível de perturbar-se numa metade da lingua, devido a reacção da corda do tvmpano (Laurens). Signaes objeclivos.—Do quadro symptomatologico da otite media aguda suppurada são estes os signa- es mais importantes e mais seguros, porquanto vamos observal-os de visu por meio da pratica otos- 11 copica. E sendo a membrana tympanica a séde d’estes signaes é para ella que dirigimos a nossa particular attenção. A otoscopia, constituindo um exame de muito facil execução, está ao alcance de toda a aprecia- ção medica. Não obstante, ha uma certa indifferença, ou melhor, uma refractariedade da maioria dos médi- cos para tal exame. A respeito da otoscopia assim se exprime um auctorisado mestre: « ella não deve ser um monopolio do aurista, todo medico deve saber pratical-a do mesmo modo que a auscultação, o exame do larynge, o catheterismo urethral etc.» De facto, de um momento a outro, um caso de otite ou outra affecção auricular poderá apresentar- se na clinica, e nós, médicos, estamos no estricto dèver de saber diagnostical-a, sob pena de nos di- plomarmos de ineptos. Qual o instrumental necessário para proceder- mos ao exame do tympano? Não precisamos de # nada mais que um speculum auri, um espelho frontal e uma fonte luminosa. Com esta triade de instru- mentos estamos perfeitamente armados para exami- nar essa importante membrana, onde vamos en- contrar os elementos seguros do diagnostico da otite media aguda suppurada. Como o tympano se apresenta com caracteres differentes, antes e depois de realizada a abertura, estudemol-o nesses dous casos: 12 l.°—Ainda não ha perfuração.—A membrana tympanica ainda no começo da otite quasi que não offerece alteração. Apenas uma hvperhemia Som- breia-lhe as partes periphericas. Depois, essa con- gestão até ahi limitada aos pontos limitrophes, se estende por toda a membrana, em cuja superíicie os vasos desenham-se nitidamente em verdadeiras arborisações; dous pequenos ramúsculos marginan- do de um lado e outro o cabo do martello impri- mem-lhe uma còr bem vermelha. Esse aspecto é porem transitório. Dentro em breve, uma modificação sobre modo notável se dá em toda a extensão da membrana que virá a mostrar-se uniformemente vermelha e tumefeita. Nesse momento apenas um ponto ama- rello e saliente representando a pequena apophyse do martello, se distingue no meio da vermelhidão generalizada. Num estado mais adeantado, em consequência do accumulamento do exsudato no interior da caixa, a membrana é fortemente recalcada para fora, e, ao envez de, pelo exame, encontrarmos, .como nas condições normaes,uma superfície ligeiramente côn- cava, vamos, em contraposição, observar uma con- vexidade externa grandemente pronunciada. Este aspecto convexiforme,se me permittem a expressão, é pathognomonico da colleccão purulenta tympa- nica. 13 Algumas tezes, nessa occasião, uma borbulha acuminada apparece num dos quadrantes, annun- eiando imminente perfuração. Ordinariamente, porem, o ponto em que se tem de fazer a extrava- zão do exsudato, devido á infiltração purulenta, toma uma coloração amarello,-esverdinhada sem apre- sentar a bolha saliente. 2.c Ha perfuração. 0 tympano uma vez perfura- do, todos os symptomas, que locaes, quer geraes, diminuem immediatamente. E, se a drenagem do pús atravez da abertura é franca, os symptomas desapparecem por completo. A abertura natural faz-se, habitualmente, no nivel do quadrante antero-inferior, mas todos os pontos da membrana são susceptiveis de perfura- ção. A sua séde depende de circumstancias espe- ciaes. Do mesmo modo que a situação, a extensão da abertura é sujeita a múltiplas variações. Míni- ma, algumas vezes, a ponto de ser observada so- mente com o auxilio de manobras determinadas ( experiencia de Valsalva e Siegle ), outras vezes, ao contrario, é õastante considerável. Nos casos de perfurações pequenas, quando se faz incidir sobre a membrana um feixe de luz, um facto bem inte- ressante e caracteristico desperta-nos a attenção: é o phenomeno denominado reflexo pulsátil. A su- perfície do pús, no nivel da abertura tympanica, 14 reílecte os raios luminosos toda a vez que um pouco de liquido é expellido da caixa ao conducto. E, como o reflexo é synchrono com a pulsação das artérias regionaes (causa da extravazão do pús), recebeu o bem expressivo qualificativo de pulsátil. Se não c sempre facil, consoante o notamos, descobrir-se uma perfuração microscópica, outro- tanto não acontece se a abertura apresenta dimen- sões grandes. Uma verdadeira innundação purulenta invade então o conducto. E, em taes condições, é inteiramente inpossivel fazer o exame do Empano sem uma limpeza prévia do canal. Retirado, porem, este obstáculo, a perfuração torna-se visivel, e apa- nham-se com facilidade todos os seus caracteres. III Diagnosticar uma otite media aguda suppurada não é tarefa, em geral, difficil. E, se, como de ha- bito acontece, vem acompanhada de seus principaes symptomas (dor, febre, diminuição da audição, ver- melhidão e abahulamento do tympano) nenhum embaraço se nos apresenta para sua distincçao. A difficuldade surge, porem, quando a affecção não traz o seu cortejo de symptomas caracteristico, quando é insidiosa. Tendo-se dado já a perfuração do tympano nada mais facil, porquanto a presença de pús no conducto precedida do referido quadro svmptoma- 15 tologico é pathognomonica da otite suppurada. Nenhuma outra afTecção auricular depara tal ca- rácter, tal exteriorização. Na hypothese da perfuração natural apresentar- se com dimensões microscópicas e não haver, como no caso anterior, pús no conducto, é a apre- ciação de outras particularidades que nos servirá de critério para o diagnostico. Assim a existência do um ponto luminoso pulsátil na superfície tym- panica e o sibilo no nivel do mesmo pela passagem do ar na experiencia de Valsalva, são signaes pri- vativos das pequeninas perfurações. Algumas vezes, quando a trompa está obstruida ou o orifício loca- lizado na membrana de Schrapnell, esse ultimo signal falha; o primeiro, porem, é constante, ú caracteristico. Se, ao contrario, ainda não houver ruptura da membrana, a differenciação torna-se menos facil. Uma myringite de igual marcha pode ser confun- dida com a otite media, mas, ao passo que naquel- la a membrana do tympano é apenas avermelhada, nesta tem a mesma coloração e é ainda abahulada para fóra (bombée na expressão franceza). Outra af- fecção, a otite externa diffusa, também pode estabe- lecer confusão com a otite media; na primeira, não ha, entretanto, decrescimento da audição. Dentre as moléstias auriculares externas é a furunculose a mais susceptivel de offerecer duvida, 16 quanto ao seu diagnostico, com o abcesso agudo da caixa. Mas, se nos dous estados morbidos ha symp- tomas que os assimilham, em compensação, outros existem, que os distinguem perfeitamente. Assim é que na otite media aguda, a dor se concen- tra capitalmente na região profunda do ouvido o ao nivel da mastoide, enquanto na furunculose, ella é, por assim dizer, superficial. A demais, nesta affecção, a pressão exercida na altura do tragus e a tracção do pavilhão são meios diagnósticos, em extremo, dolorosos. Na otite media aguda não se observam, em geral, com essas manobras, taes phenomenos dolorosos. Em virtude da localização do furunculo nas proximidades da articulação tem- poro-maxillar, a dor se exaspera com os movimen- tos maxillares. E, ás vezes, é tão considerável e cruel que impossibilita, de alguma sorte, a masti- gação. Alem disso, a furunculose auricular, não raro, vem acompanhada de engorgitamento dos ganglios regionaes vizinhos, Como vimos, são numerosos os elementos de differenciacão, mas na maioria das vezes é o exame otoscopico quem nos fornece as bases certas e se- gura do diagnostico. No caso de furunculose, vamos en contrar na porção cartilaginosa do canal auricu- lar uma saliência que sobre vermelha e mais ou me- nos acuminada é dolorosa ao contacto do estylete explorador. Essa saliência, verdadeiro abcesso do 17 Follieulo pilo-sebaceo, não tardará a se abrir espon- taneamente aíim de dar logar á sahida do carnicão. Nem sempre, porem, existe um só furunculo no conducto. Em pontos oppostos das paredes, outros podem surgir, de maneira a difficultarem, por completo, a intromissão do especulo. Nas creanças e, capitalmente, nos recem-nasci- dos, que ainda não sabem gemer e ainda não sabem fallar, os signaes otiticos quasi que passam desper- cebidos. A natureza, porem, previdente como é, annuncia as dores, os soffrimentos desses peque- ninos seres, em casos de tlegmão da caixa, por symptomas convulsivantes geraes, como que cha- mando assim a attenção dos circumstantes. Para terminar estas considerações, diremos com Guizez que toda a vez que uma creancinha fe- bricitante é acommettida de agitação cerebral, con- vulsões de origem ignorada, devemos examinar-lhe systematicamente os ouvidos. CAPITULO II Prognostica e complicações I tluanc^0 nao impossível, na gene- ralidade dos casos, fazer-se um juizo exacto, um prognostico certo da otite media aguda supplirada. A enorme somma de factores susceptiveis de intervir nas suas diversas phases de evolução, dando-lhe esta ou aquella modalidade clinica, corrobora e justifica a nossa affirmação. No tocante ao prognos- tico, devemos não somente considerar o perigo vital inherente á moléstia, e as consequências que delia possam advir para a funcção auditiva, mas ainda a possibilidade de sua passagem ao estado chronico. Se, nem sempre é fácil, dissemos, prognosti- car-se uma otite media purulenta, entretanto po- demos accrescentar que a dificuldade não é senão relativa. De um modo geral, pode dizer-se que uma otite suppurada, de intensidade media, evoluindo num 20 individuo não debilitado, e tratada eonvenientemente, termina no fim de tres ou quatro com- plicação, voltando a funcção auditiva ao seu estado normal (Laurens). Baseando-se o vulgo na cura espontânea da aífecção referida cm grande numero de casos, julga que os cuidados médicos são dispensáveis. Outros ainda dizem: «o humor morbido sahirá com o pús: aguardemos». Se é exacto que a otite se cura com o tempo, também é verdade que, as mais das vezes, não se obtem terminação espontânea. Uma boa therapeutica, muito mais que uma completa indifferença, melhor abriga os otiticos das complicações (Guisez). A formula de Laurens, acima enunciada, pode, porem, por circumstancias especiaes, e, em conse- quência de múltiplas complicações (labyrinthite, matoidite, abcessos cerebraes e cerebellosos, me- ningites, etc)- modificar-se muito e assombriar o prognostico. A não serem estas complicações que estudaremos separadamente quaes são os outros lactares que concorrem para a gravidade da otite media aguda? A natureza do agente infectuoso tem uma im- portância capital. Assim é que a otite de pneumococ- eus é menos grave que a de streptococcus. Por outras palavras, a otite pneumococcica tende á benignidade, ao passo que a streptococcica tende á 21 malignidade. A virulência do agente pathogeno influe igualmente no prognostico. Formas otiticas particularmente graves são observadas em certas epidemias (scarlatina, sarampam,grippe e outras fe- bres infectuosas) onde, pelo facto de inoculações suc- cessivas, naturalmente, o poder virulento dos ger- mens se reforça. O terreno em que evolue a moléstia constitue também um elemento de grande impor- tância para o prognostico. Resumindo, dizemos que toda causa de enfraquecimento da resistência orga- nica representa um factor predisponente para as suppurações do apparelho auditivo. Nos indivíduos albuminuricos e diabéticos, nos lymphaticos, e de modo geral,, em todos aquelles que tem o organismo debilitado por causas mórbidas diversas, o abcesso agudo cia caixa pode assumir um caracter muito mais serio do que quando se installa em organismos fortes e anteriormente sadios. Factos clínicos numerosos assim provam-no. Nos tuberculosos, a otite tem uma evolução lenta e insidiosa. Demais disso, é chronica do começo e, difdcilmente, se cura. O caracter de certos svmptomas também influe no que diz respeito ao prognostico. A persistência da dor e da febre depois de uma larga abertura tym- panica, e a existência cie extensas lesões da membra- na e do quadro osseo que a emmoldura, tornam-no sombrio. 22 Quanto ao prognostico sob o ponto de vista da m funcção auditiva, devemos ter muita reserva. Nada de precipitações; pois que, em geral, só se pode julgar com exactidão do valor auditivo de uma orelha lesada depois de, em absoluto, curada. II Com muito ácerto incluímos no plano do nosso trabalho o estudo das complicações que sobrevêm no curso da otite media suppurada. Com muito acerto, porque estas determinações mórbidas cons- tituem, por assim dizer, o ponto sobre que gravitam todos “os perigos da affecção. Sendo múltiplas as complicações e limitado o espaço que dispomos, descreveremos,e em synthese ligeira, apenas aquellas que se nos afiguram mais importantes, não só com relação á írequencia como sob o ponto de vista da gravidade. Comvem, porem, não esqueçamos que ellas se manifestam tanto mais facilmente quanto mais des- curada for a affecção inicial. Disto resulta, pois, que devemos envidar esfor- ços e actividade afim de as evitarmos. As estatísticas são aecordes em affirmar que, nestes últimos annos, pelo aperfeiçoamento dos co- nhecimentos médicos, o numero das referidas com- plicações tem decrescido de modo notável. Divisão das complicações.—Interessando indiffe- 23 rentemente á mastoide, ao labyrintho, ao cerebro e seus invólucros, aos seios craneanos ou o nervo facial, podem ellas ser classificadas em complica- ções ósseas, cerebracs, venosas ou sinusaes e ner- vosas. Complicações ósseas. Mastoiãite.—E sem duvida a rnastoidite aguda amais frequente, a mais habitual das complicações auriculares-. Antes que tudo, po- rem, bom é que precisemos convenientemente os ter- mos: empvema mastoideò, antrite e- rnastoidite pro- priamente, em geral> considerados como synommos. O empyema, pouco e pouco, vae desapparecendo da íechnologia medica, por isso que é impossível admit- tir-se a existência de pus na apophvse mastoide, no curso de uma otite aguda, no simples estado de passividade, no empyema emfim. À mucosa que ta- peta inteiramente o antro mastoideo se não é infec- tada, desde o inicio, como pensamos, reage secun- dariam ente contra a irritação produzida pelo con- tacto do pus mais ou menos virulento. Quanto á an- trite ou antro-cellulite e á rnastoidite—são estados mastoideos muito differentes da evolução infflamma- toria. No primeiro caso, ha apenas inílammação da membrana mucosa da mastoide sem participação des- tecidos subjacentes, ao passo que, no segundo, a lesão se estende profundamente e vae interessar ao 24 proprio osso, produzindo a osteite. Conseguinte- mente, não é senão a primeira phase da mastoidite ou phase de inflammação mucosa, a qual, pode, por circumstancias especiaes favoráveis ao doente, ter- minar pela resolução ou, em condições contrarias, ir até á inflammação ossea ou osteite mastoidóa—que constitue anatomo-pathologicamente a mastoidite. Assim differenciados os termos em questão, conti- nuemos a dissertação. Está muito em voga a opinião affirmativa de que em qualquer otite media suppurada se encontra pús no antro. Lermoyez abrindo systematicamente a apophyse mastoide de vários otiticos encontrou sempre pús nessa cavidade ou diverticulo osseo. Dr. Labarre tratando nos ”Annalesdes maladies de 1’oreille, . . . J’de alguns casos de mastoidites agudas não precedidas de otite (formas primitivas) sustenta que a participação do antro ao trabalho da suppuração é antes um phenomeno excepcional. Parece-nos, porem, que este notável especialis- ta não tem muita razão ou não tem nenhuma porque se estriba em casos que, como elle proprio affirma, não manisfestaram preludio auricular. Ora, em taos condições, seria contrasenso encontrar-se pús na cavidade antral. Demais disso, essas pretensas for- mas primitivas, salvas as formas osteomvelitica e tuberculosa, não existem realmente. Ha sempre oti- te. A questão é que o periodo inílammatorio, nestes 25 casos,passa tão súbito, a ponto de não o percebermos. Pathogenia.—Phenomenos múltiplos intervêm na pa- thogenia da matoidite aguda. São de ordem séptica, eontitucional, retentiva e anatómica. O agente patliogeno alem de uma particular predilecção a originar osteite, pela intensidade de sua virulência, é capaz de provocar uma infiltração rapi- da,profunda e extensa da mucosa,que fatalmente serà seguida de necrose com destruição dos tecidos sub- jacentes: é esta a causa principal da mastoidite (Jac- ques Fournié). Realmente, a virulência microbiana representa papel importantissimo na propagação do processo suppurativo ás cavidades mastoidéas. As frequentes localizações mórbidas apophysariasque se observam no. curso das epidemias de scarlatina e grippe, com o seu caracter especial de intensivação, demonstram essa grande verdade á luz da evidencia. Luc chega a classificar como otites necrosantes as que se pro- duzem durante essas terriveis epidemias. Tal o seu poder destructivo. Certos estados geraes (tuberculose, diabete) favorerecendo o desenvolvimento e a extensão do processo suppurativo predispõem a taes determina- ções ósseas. Os phenomenos de retenção, conforme a opinião de Jacques Fournié, são devidos, as mais das vezes, á intensidade do trabalho suppurativo (hvpersecreção 26 inflammatoria). Em casos mais raros, a 1'etenção re- sulta de um obstáculo mecânico, já no nivel do con- ducto por um furunculo ou cerumen, já na. pró- pria membrana por uma perfuração insufficiente, emfim no aditus a d antrurn por formações polvpo- sas ou entumescimento da mucosa que reveste este estreito canal. A disposição anatómica das cellulas mastoidéas nas apophyses muito pneumáticas também é um factor de prediposição ás mastoidites agudas. 0 pús antral, em virtude destas condições embaraçosas, não podendo sahir pela via natural do aditus mais facilmente vae insinuando-se atravez dessas peque- nas cavidades (que, como todos sabem, se commu- nicam reeiprocamente) ao mesmo tempo que produz a destruição ossea. Como se reconhece uma mastoidite? Esta af- fecção se manifesta clinicamente por symptomas geraes e locaes. Dentre os primeiros, é a febre o mais interessante, porem, vezes repetidas, passa sem despertar a attençãd. Os demais apparentam menor importância. Symptomas locaes.—São estes muito mais significati- vos. Podem ser divididos em subjectivos e obje- ctivos. A dor da ponta da mastoide constituo o signal subjectivo por excellencia. Muito pronunciada na generalidade dos casos, pode apresentar irradiações 27 a todas as partes circumvizinhas. Sua persistência ou reapparecimento ainda depois de uma larga per- furação tympaniea é caracteristica da mastoidite e, consequentemente, de grande valor diagnostico. Exame objectivo da apophyse mastoide.—Exploran- do-se minuciosamente esta região iremos observar modificações manifestas. Assim éque na mastoidite declarada, os tegumentos da superfície retro-auri- cular são notáveis na sua edemação. Uma ligeira pressão exercida em qualquer de seus pontos deixa uma impressão mais ou menos durável. E se esta experiencia for realizada em phase mais adiantada ainda vamos notar o quer que é de mais impor- tância, como a fluctuacão.O pavilhão da orelha, em consequência do descollamento periostico produ- zido pelo pús, é recalcado para fóra, de geito a tornar-se perpendicular á superfície craneana. Isto logo se observa se houver o cuidado de compa- ral-o com o do lado opposto. Finalmente o trabalho da fistulisação serealisará com todos os seus inconvenientes se o medico ou especialista não intervier a tempo. Mastoidite de Bezold. — A mastoidite de Bezold nada mais é que uma consequência da mastoidite propriamente dita, na qual o pús, em vez de se exteriorisar pela face externa da mastoide, pro- cura a sua parede antero-interna para sahir. Dous factores, alliados eu não, contribuem para a genese 28 damastoidite bezoldiana: do um lado, a existência de cellulas que se prolongam até aponta da apophy- se; e de outro, uma cortical externa muito compacta e resistente. Nas creanças, cujos prolongamentos apophy- sariosnão apresentam ainda nenliumadas condições referidas, esta forma mastoidiana é, em absoluto, excepcional; é própria da idade adulta. Uma outra particularidade da complicação é ter evolução insidiosa. Os seus symptomas são os de um verdadeiro abcesso cervical: empastamento profundo, dor, torticolis, etc. Ha um, porém que é caracteristico, ou melhor, pathognomonico: é o refluxo do pús pelo conducto quando se comprime a tumefaccão. À mastoidite de Bezold tem um prognostico serio, vindo acompanhada, muitas vezes, de pertur- bações eerebraes. Pyo-l\byrynthite.— Não #é raro que a orelha interna também participe do processo inflammatorio da caixa tympanica. Victor Heinsberg e outros con- sideram a suppuração labyrinthica como uma das complicações mais habituares das otorrhéas. Lermoyez baptisa-a acertadamente de meningite localizada. De facto, a pyo-labyrinthite é um passo dado para a meningite. Numa estatistica de Zeroni contendo 40 casos de meningite otogena, 29 succe- deram a uma suppuração do labyrintho. Dalii veio 29 Lermoyez a deduzir então a seguinte formula: a. ore- lha media inficiona as rneninges, por intermédio da orelha interna, numa proporção de 3 para 4. Como reconhecer na otite media suppurada a invasão do labyrintho pelo pús? Duas classes de importantes signaes, asssociados ou não, podem conduzir-nos a tal fim: l.° signaes cõchleares; 2.° signaes vestibulai es. Signaes cõchleares.— Esta ordem de phenomenos observa-se todas as vezes que é attingido o laby- rintho anterior. E, neste caso,é a acumetria qualita- tiva ou quantitativa que nos vem fornecer os neces- sários esclarecimentos. A pyo-labyrinthite revela por meio das provas acumetricas os seguintes caracteres; ausência da percepção mastoideana com o relogio ou diapasão; o Weber é lateralisado do lado são ou do menos doente (na hypothese de lesão labyrinthiea bilateral) ao contrario do que se observa nas lesões da orelha media em que elle é localisado do lado doente ou mais doente, quando ambos os ouvidos são com- promettidos ao mesmo tempo. De g\ ito que, se acompanharmos a infecção na sua rota propagatoria da orelha media às partes profundas (orelha inter- na) teremos que notar o interessante phenomeno da inversão da prova de Weber, que primeiramente lateralisada do lado doente passa, em seguida, ao lado são. 30 A provede Rinne é menos precisa que a pre- cedente. Segundo a lei de Lucee, o Rinne é nega- tivo nas lesões do apparelho de transmissão (orelha externa e media) e positivo nas lesões do apparelho de percepcão (orelha interna). Por consequência, num indivíduo portador de otite media suppurada, o Rinne deve ser negativo; e se a suppuração se propagar à orelha interna, esse mesmo Rinne tor- nar-se-á positivo. Nas lesões do ouvido interno, porem, con- forme observaçãe de um grande numero de espe- cialistas, o Rinne só é realmente positivo nos casos de surdez incompleta, nos em que essas mesmas lesões ainda não destruíram, em absoluto, o orgão essencial da audição— o labyrintho. Contrariamente á lei deLucee, na surdezlabyrinthicaunilateral total com integridade anatómica e funccional da orelha opposta, o Rinne é negativo (Lermoyez). Signaes vestibulares.—Fazem-se as pesquisas destes signaes com o auxilio de varias provas: estaticas, dynamicas e nystagmicas. Por serem muito fallazes os resultados de suas investigações, deixaremos de parte as provas es- taticas e dynamicas; estudaremos unicamente as provas nystagmicas. Provas nystagmicas.—As chamadas provas nysta- gmicas são as mais importantes por isso que nos fornecem fieis e seguros resultados. 31 Que se entende, porem, por nystagmus? Deflne- o Déjerine: «um verdadeiro tremor associado dos globos oculares». Graças ao nystagmus, as subjectividades vagas das affeccões labyrinthieas transformam-se em objectividades precisas, que se inscrevem e leni no globo ocular (Fournié). O nystagmus de origem vestibular, o unico que aqui nos interessa, pode ser espontâneo ou pro- vocado. O primeiro é symptomatico e traduz sempre uma desordem labyrinthica mais ou menos pro- funda; ao passo que o segundo é um phenomeno reflexo, susceptivel de ser provocado por manobras determinada-. Nystagmus espontâneo.—No estado normal não se observa nystagmus. Com effeito, não se excita um só núcleo de Deiters, nas condições normaes, ou antes, os dois se estimulam igualmenle; o tonus muscular nos globos oculares mantem-se, portanto, num perfeito estado de equilibrio. Mas, se por uma razão pathologica qualquer este equilibrio muscular se rompe, o nystagmus apparece, e apparece natu- ralmente do lado do labyrintho cujo tonus é predo- minante. Supponhamos, por exemplo, que o laby- rintho direito seja invadido rapidamente pela sup- puração. Num primeiro tempo, o pús apenas irrita as terminações nervosas das ampolas; estas sendo 32 excitadas determinam uma especie de contractura não contrabalançada pelo tonus muscular do lado opposto: d’abi a apparição do nystagmus do lado attingido. Num segundo tempo, o processo suppu- rativoprogredindo destróe as terminações nervosas, e, do ,mesmo modo, o tonus muscular. A’ pbase de irritação e de contractura succede a phase de des- truição com paralysia funccional. Do lado es- querdo, o tonus continua a existir, mas, como não é mais equilibrado pelo seu congenere do lado con- trario, provoca o nystagmus no olho do mesmo lado. Assim, a irritação súbita do labyrintho, do mesmo modo que sua destruição, se traduz pela genese de um nystagmus: mas, emquanto pela irritação o nystagmus appareee do lado doente (nystagmus homonvmo), nos casos de destruição, pelo contrario, elle se manifesta do são (nystagmus cruzado). Num terceiro tempo, finalmente, desappa- recendo todas as desordens, o labyrintho são ter- mina por diminuir seu tonus normal a ponto deste equilibrar-se com seu congenere do lado opposto. A’ destruição anatómica, suppurativa do labyrintho direito, o esquerdo oppõe uma inhibição funccional compensadora, e assim desapparece o nystagmus espontâneo. Pelo que acabamos de ver nas linhas prece- dentes, o nystagmus espontâneo revela sempre um estado morbido; é por conseguinte, um 33 bom iudice de diagnostico. Precisa, porem, para que elle caracterise uma alteração vestibular, que sejam observadas as circumstancias seguintes: l.° ausência de lesão ocular ou affecção nervosa central; 2.° existência de moléstia auricular em plena evolução; 3.° existência de outros signaes (vertigem, Romberg, etc). Nystagrnus provocado.- -Como sabemos, o nysía- gmus vestibular pode também produzir-se por meio de artifícios especiaes (excitação galvanica, exci- tação pelo movimento rotatorio e excitação thermica) chamados provas nystagmicas. Prova galvanica.—Erb admitte que a corrente galvanica diminue a excitabilidade da metade do cerebro correspondente ao polo positivo e a augu- menta na metade ligada ao polo negativo. A appli- cação do polo positive numa orelha produz, pois, um enfraquecimento da excitabilidade deste lado, e o desequilibrio se traduz por um nystagrnus do lado opposto que se torna predominante. Inversa- mente, a applicação do polo negativo provoca um nystagrnus do mesmo lado. Quando esta prova não faz apparecer o nystagrnus ha abolição funccional do vestíbulo; pelo contrario, a presença do nystag- mus assignala a integridade dos canaes semi-circu- lares. Este meio de investigação reflexa não é, porem, muito fiel. Pode ser negativo em casos de integridade auricular, e, ao contrario, positivo, 34 depois de um esvaziamento completo do labyrin- tho (NeumannJ Por isso, como meio de diagnos- tico, não tem senão um valor relativo, Prova rotatoria—Quando se faz girar, varias vezes, um individuo normal em torno de seu eixo (rotação activa) ou de qualquer eixo vertical (rota- ção passiva) produz-se nesse individuo vertigem precedida ou acompanhada de nystagmus. O mecanismo deste reflexo é explicado facil- mente pela experiencia de Ewald. Na rotação ordi- nária, o liquido endo-lymphatico se desloca do mes- mo modo que a cabeça e o labyrintho; mas, quando se detêm as movimentos de rotação, o liquido, em virtude da lei da inércia dos corpos, ainda continua a se mover. Ha, pois, pela parada, um movimento de liquido nos dous canaes semi-circulares hori- zontaes, cujo sentido não é senão o da rotação. Fa- zendo-se, por exemplo, o individuo volver da direita para a esquerda, o liquido, pelo repouso, continua a girar no mesmo sentido, isto é, da direita para a esquerda. Applicando-se os dados da experiencia de Ewald a este movimento endo-vestibular, veremos que no labyrintho direito o fluxo endo-lymphatico faz-se do arco para a ampola (fluxo efficaz) e pro- voca o nystagmus á direita. Do lado esquerdo, a corrente foge da ampola. Assim, a rotação no sentido dextrorsum pro- 35 voca o nystagmus á esquerda, ao passo que no no sentido sinistrorsum, o produz á direita. Diga- mos, de modo geral, que, para interrogar um canal semi-circular, é necessário rodar o individuo do lado opposto ao canal considerado e praticar o exame ocular desde que cessa a rotação; este é o reflexo denominado post-nvstagmico. O resultado da prova rotatoria será positivo ou negativo conforme esteja ou não integra a via ves- tibular. Prova thermica.—A apparição de tremores nys- tagmicos rythmados consecutiva a uma excitação thermica auricular foi observada successivamente por Barany, Flourens e Babinski. Esta experiencia é ainda chamada, muito justamente, prova de Barany, porque foi quem a imaginou. Repousa sobre o principio physico seguinte: resfriando-se ou aque- cendo-se a parte inferior de um vaso cheio de liqui- do de temperatura dada ( 37° por ex,) determina-se um abaixamento ou uma elevação da temperatura das camadas liquidas inferiores. Desta variação de densidade resulta um movimento molecular que se estabelece de cima para baixo, no caso de resfria- mento, porque as camadas frias sendo mais pesa- das cabem no fundo do vaso, e de baixo para cima, pelo facto do aquecimento, indo as moléculas quentes mais leves para a superfície. Barany trans- portando esta theoria do dominio physico para o 36 campo physiologico explica da seguinte maneira a origem da excitação. Determinando-se por esse mecanismo uma alteração da temperatura do liqui- do endo-lymphatico, constitue-se, em virtude do des- equilíbrio das densidades, uma corrente molecular, a qual, fazendo oscillar os' cilios vibrateis das ampolas dos canaes semi-circulares, termina por excital-os. Esta prova tem uma dupla vantagem; é de fácil execução e cxclue, em absoluto, o labyrintho não interrogado. Também é a que conta actualmente maior numero de adeptos, taes quaes, Baranv, Hautant, Lermoyez, Neumann, Von Stein e outros. Tres hypotheses se podem dar na prova ther- mica: (a) o reflexo produzido é normal; (b) é exa- gerado; (c) é annullado ou negativo. 0 reflexo sendo normal quer dizer que ha inte- gridade do nervo vestibular; o labyrintho perma- nece intacto. Ao passo que estando annullado, a menos que não exista nenhum obstáculo no con- ducto ou na caixa (cerumen, polvpo, cholesteato- ma), pode concluir-se que o orgão é destruído; de onde a abolição funccional dos canaes semi-circu- lares. Quando, porem, o reflexo vem exagerado não lhe devemos dar muita importância. E" isto consequência da acção directa da agua, em virtude de uma larga perfuração tympanica ou outra causa qualquer, sobre a parede labyrinthica. 37 Não se trata de uma hyper-excitabilidade verdadeira. Estudadas, em rapida syílthese, as principaes provas nystagmicas susceptiveis de traduzir a normalidade ou a anormalidade do vestíbulo, pas- semos a outra ordem de considerações do pro- cesso suppurativo labvrinthico. Diagnostico.—A pyo-labyrintite se distingue per- feitamente das demais complicações auriculares. O labyrinthismo somente poderá, nos indivíduos nervosos, estabelecer confusão; mas, neste caso, a paraeentese do tympano fazendo cessar a compressão da janella oval—causa das perturbações do equilíbrio nos tirará a duvida que, por ventura, paire no espi- rito. Prognostico.— As suppurações do labyrintho são complicações muito graves da otite media. Abrem a porta á infecção meningéa e produzem muitas vezes abcessos no cerebro e no cerebello (Okada). Demais disso, podem acarretar graves e irremediáveis desordens para a importante funcção auditiva. Portanto, não só sob o ponto de vista vital como ainda funccional, as pyo-labyrintliites têm prognostico muito serio. Complicações cerebraes. — As alterações que se produzem nos cen ros nervosos, deparam-se-nos como serias complicações da otite media suppurada. 38 A infecção pode propagar-se da orelha a ) inte- rior do craneo, secundo dous modos differentes: por contiguidade e por continuidade. No primeiro caso, o osso conservando a sua integridade, a pro- pagação é indirecta: são os vasos vizinhos e os canaliculos osseos que transmittem a inlecção; no segundo, ao contrario, havendo perfuração congé- nita ou pathologica (osteite) do osso intermédio, ó, como se vê, directa. A retenção de pús no interior da caixa e do antro é a causa primordial dessas malfadadas com- plicações. Uma operação incompleta, diflundindo e exaltando, a um tempo, os germens sépticos, pode acompanhar-se de manifestações cerebraes (Lau- rens). Seguindo o curso da infecção nas'differentes partes nervosas, observaremos, successivamente, as collecções sub-duraes, a meningite, e finalmente, os abcessos cerebraes e cerebellosos. Collecções sub-duraes.—As collecções sub-duraes ou extra-duraes, como também são chamadas, sobrevêm commummente ãs otites medias agudas. Elias se installam em pontos diversos do involucro externo cerebral, mas ha, segundo Laurens, tres pontos especiaes de localização, que são: a parte superior do tegmen, o ponto interposto á mastoide e ao seio lateral, e a face posterior do rochedo. No abcesso durai, uma vez constituido, o pús tem naturalmente de procurar uma sabida—regra 39 seguida por todas as suppurações. Este, então liber- tado, poderá dirigir-se ou para a peripheria, o que é larissirno, ou para as partes profundas, onde, por sua vez, originará complicações ainda mais graves, como meningite, abcessos cerebraes e cerebellosos. A svmptomatologia do abcesso sub-dural, em seu inicio, não é nada caracteristica; ao contrario, é susceptivel de confundir-se com a da mastoidite ou mesmo da otite. De mais, é muito insidiosa a sua physionomia—dizem os auctores. Entretanto, quando a collecção, adquirindo um des envolvimento mais ou menos exaggerado, deter- mina compressão cerebral, vamos observar uma serie de signaes importantes (retardamento do pulso, vomitos, ceplialalgia, aphasia, etc). Abandonado a si proprio, o abcesso segue marcha progressiva, e a gravidade cresce na razão directa do seu estádio evolutivo, isto é, o prognos- tico é tanto mais sombrio quanto mais adiantàda a affeccão, quanto mais tarde firmado o diagnostico. A cura espontânea é excepcional. Meningite. Definição.—Chama-se meningite oto- gena a determinação inflammatoria das meninges produzida por mfecção de origem auricular. De ordinário, a complicação meningéa repre- senta o termo final, o epilogo do sensacional drama otico-cerebral. Vezes raras, poderá surgir num dos estádios intermédios da infecção nervosa ascen- 40 dente ou, ainda, constituir-se a primeira das locali- zações intra-craneanas. Até o século passado, aos médicos se lhes deparava a meningite como um verdadeiro phantasma pathologico. E nem poderia deixar de o ser, porquanto, naquella epoca, “affir- mar uma meningite «era pronunciar nma sentença de morte A pseudo-meningite de Bouchut qu,e mais tarde Dupré chamou meningismo, era capaz de lembrarem tudo a meningite, salvo na morte (Lermovez). A incurabilidade desta affecção era, pois, um dogma para os médicos de então. Mas, com o dobar das éras, com o continuo progredir das sei- encias medicas, e, graças aos numerosos casos de cura, as opiniões, a pouco e pouco, se foram mo- dificando, e finalmente, eis que, em nossos dias, baqueia o antigo preceito da não curabilidade, di- ante da portentosa puncção lombar de Quincke. Symptomatologia.—A meningite otogena typica é uma affecção que evolue em poucos dias e apre- senta uma physionomia clinica caracteristica. Eis como a descreve Lermovez: « Elle débute par une période d’excitation. Trois grands symptômes entrent d’abord en scéne: cépha- lalgie, vomissements, constipation, dont le groupe- ment forme le célèbre « trépied méningitique », La fiévre éclate. Appara.it en même temps une hype- resdiésie généralisée, renforcée de pctites secousses 41 convulsives. La tête ae raidit en extension. Le corps se pelotonne en « chien de fusil». Les yeux fuient la lumiére. La bouche laisse échapper lo plaintif «cri hydrencéphalique » de Coindet. Vers le quatriéme jour arrive la période de dé- pression. II y a moins d’hyperesthésie, moins de cris. Les vomissements cessent. La céphalalgie s’adoucit. La somnolence, qui progresse, donne á- 1’entourage 1’illusion du mieux. Mais le médecin ne s’y leurre point qui voit un ventre se creuser en bateau, ou s’accuse la «tache méningitique» de Trousseau, qui regarde sur un visage plus calme passer des bouffóes de rougeur, qui constate Lirré- gularité de la respiration, qui note la dissociation du pouls ralenti et de la température élevée, qui assiste enfin á des crises passagdres d’excitation, contra- ctures des muscles de la nuque et de 1’oeil, con- vulsions souvent limitées á un membro. Quelques jours encore, et voici que la période paralytique améne le dénouement. Des paralysies frappent le corps partiellement, irrégulièrement. La fiévre monte; le pouls s’affole; la respiration s’em- barrasse. Et, dans le coma qui 1 ui masque la mort, le malade succombe á une convulsion brusque ou á une asphyxie lente ». Pois o vimos, este é o tvpo da meningite franca, da meningite de evolução rapida. Os casos dessa natureza são, porem, raros. A vez e vez, ella se nos 42 apresenta como uma moléstia de duração indeter- minada e com um caracter clinico muito differente daquelle traçado por Lermoyez. Alem disso, a meningite não depara sempre a morte em seu ter- mino. Afóra as curas espontâneas, outras ha, em grande numero, que se obtêm, graças a uma pre- coce e conveniente intervenção cirúrgica. Diagnostico.—Distinguir a meningite otogena aguda das outras complicações cerebraes (menin- gite tuberculosa, abcessos, etc) é, em geral, facil. Algumas destas, entretanto, por simularem, ás vezes, verdadeiras meningites, têm sido faetores de muitos erros em clinica. A meningite tuberculosa pode estabelecer con- fusão, mas a existência habitual de prodromos nesta affecção e a presença ou não do bacillo de Kock no liquido cephalo-rachidiano extrahido por puncção lombar exclue qualquer duvida dentre ellas. Na meningite cerebro-espinhal epidemica é ainda o exame macro e microscopico deste liquido que nos fornecerá dados precisos, porquanto a tensão da nuca (raiãeur de la nuqus) e c signal de Kernig (impossibilidade para o doente de estender as pernas quando sentado ao leito) são communs ás duas affecções. O abcesso cerebral caracterisa-se pela sua evo- lução lenta e pelos resultados negativos da puncção. Pela similhanca dos symptomas, o menin- 43 gismo, não raro, tem sido tomado por uma menin- gite. No caso de duvida, a paracentese tympanica estabelecerá o diagnostico differencial. Prognostico.—Por menos grave que se nos pareça a meningite devemos temel-a sempre. Pois, em casos apparentemente benignos, podemos, de chofre, ser surprehendidos por symptomas alar- mantes e mesmo fataes. Em geral, ella nos objectiva maior gravidade, quando a infecção em vez de propagar-se da orelha media ás meninges, por via ossea, o faz por via laby- rinthica. Com effeito, nas suppurações do labvrin- tho, como sabemos, o pús vae, atravez do conducto auditivo interno e do aqueducto do vestíbulo, ter accesso na fossa cerebellosa, onde compromettendo o bolbo—noli me tangere da meningite—produz inhi- bição respiratória e circulatória. Deste facto dedu- zem ordinariamente que uma meningite é tanto mais grave quanto mais próxima é a sua locali- zação do bolbo. As taras individuaes, a idade, a marcha da affecçãoe a natureza dos seus symptomas são outros tantos factores importantes a considerar no que res- peita ao prognostico. Abcesso cerebral.—Unico ou múltiplo, o abcesso cerebral representa uma das mais terríveis compli- cações intracraneanas. Ao contrario da meningite que, quasi sempre, 44 é consecutiva á otite media aguda, elle surge com predominância nas affecções auriculares chronicas. Como explicar este tacto? Muito simples e racionalmente. No primeiro caso, otite aguda, não ha tempo para que se realisem as adherencias meningéas, e, por consequência, a infecção vinda do fóco causal, facil e rapida se cliffunde: constitue-se a meningite; ao passo que no segundo, a organização de taes adherencias impede a propagação, e a mo- léstia fica portanto localizada. A svmptomatologia do abcesso cerebral é muito variavel. A’s vezes, o doente cae bruscamente num estado comatoso, que termina habitualmente pela morte. Em outros casos, aliás mais numerosos, o inicio e o modo de evoluir da affecção são insidiosos. O doente diz experimentar, a principio, dores inde- finidas, mal-estar geral, indisposições, inappetencia. Depois, estes svmptomas, a par de outros que surgem, se accentuam, e o abcesso torna-se claro. Bergmann divide os signaes clínicos do abcesso cerebral em ires grupos: signaes de suppuração, signaes de compressão e signaes de localização. Den- tre os primeiros, merece especial menção a febre por ser constante. Raro, porem é elevada. Os phe- nomenos de proveniência compressiva são repre- sentados por vomitos, vertigens e, principalmente, pela cephaléa—um dos symptomas primordiaes do abcesso. Os últimos signaes da classificação de 45 Beigmann, isto é, os de localização são os mais importantes, porquanto nos permittem determinar o lado da lesão. Assim é que sendo a terceira cir- cumvolução frontal esquerda ou circumvolução de Broca a séde do abcesso, notaremos phenomenos de alto valor clinico, taes quaes, aphasia motora, ce- gueira verbal ou alexia, anosmia e hemianesthesia do lado opposto. Diagnostico.—Para o diagnostico do abcesso ce- rebral devemos, accorde com Luc, considerar um duplo problema: o da existência eo da situação do abcesso. Existência do abcesso. — Uma eephaléa tenaz e in- tensa acompanhada do retardamento das pulsa- ções, febre, paralysias—typo hemiplegico ou para- plégico, num indivíduo otitico, levar-nos-á, natural- mente, a pensar em abcesso. Mas, nem sempre estes symptomas são manifestos. Diagnostico da localização.—Quando o abcesso tem séde na região esquerda do cerebro, é, em geral, muito facil o diagnostico differencial. Por causa da compressão dos centros nervosos locaes e circumvizinhos of doente se nos apre-senta com um especial quadro clinico cerebral (aphasia, surdez e cegueira verbal, jargonaphasia, etc,). 0 diag- nostico do abcesso direito, pela ausência de signaes precisos, é mais cheio de difficuldades; porem, se a existência daquelles signaes caracteriza o abcesso 46 esquerdo, sua ausência, imprescindivelmente, será indicativa do abcesso direito, em casos de sympto- mas outros pathognomonicos. Abcesso cerebelloso.—O abcesso cerebelloso, como seu nome indica, nada mais é que uma deter- minação suppurativa do cerebello. Commummcnte a sécle da affecção é a região antero-externa. do orgão, isto é, a parte que relaciona ao antro e ao la- byrintho. As causas determinantes e predisponentes são idênticas ás do abcesso cerebral. Seus symptomas, entretanto, differem. Os vomitos e as vertigens mos- tram-se mais frequentes e pronunciados; a cephaléa é vehemente, sobretudo, na região do occiput (si- gnal considerado pathognomonico). Alem destes, ha um outro caracter importante das localizações ce- rebelLosas—é o emmagrecimento rápido que apre- sentam os doentes. Sua terminação é sempre fatal. Complicações venosas.—Em vista das suas estrei- tas relações de vizinhança com as cavidades do ouvido, o systema venoso intra-craneario é mente susceptivel de ser attingido pela infecção otica. Dentre os canaes sanguíneos cerebraes, o seio lateral é onde mais facilmente se repercutem as determinações infectuosas auriculares. Alem de re- 47 lacionar-se com o antro e as cellulas mastoidéas, este seio ainda recebe numerosos affluentes vindos dessas mesmas regiões. Pelo que a infecção sinu- sal se faz tanto por contiguidade (processos de os- teite, etc) como por continuidade (neste caso, os germens sépticos sendo arrastados pela corrente V sanguínea dos ramos anastomoticos regionaesj. Como quer que seja o modo de contaminação, podem dar-se duas hypotheses: ou o seio reage formando um thrombus no ponto de invasão, o qual interrompe parcial ou totalmente o curso d° sangue neste departamento vascular; ou não reage, e a infecção se generaliza, diffunde por todo orga- nismo. Dahi, portanto, duas variedades de pyemias otogenas: uma localizada—a pyemia com throm- bose; outra generalizada—a pyemia sem thrombose do seio lateral ou septicemia. Pyemia com thrombose. — Como* vimos, é o seio lateral que,* nas affccções auriculares, constitue a séde habitual da formação do thrombus. Este, uma vez originado, augmenta, a'pouco e pouco, de vo- lume e termina, como de ordinário, pela obliteração e parada consecutiva da circulação em seu interior. Symptomatologia. — Os symptomas da thrombose sinusal são extremamente variaveis e é com fre- quência que surgem de chofre. O doente começa por experimentar na parte rnais recuada da apo- phvse mastoide dores acompanhadas de cephalalgia 48 e elevação thermica. Dias depois estes accidentes se acc,entuam:a febre augmenta e toma o cara- cter do.s accessos palustres com as suas phases de frio, calor e suor; a cepbalalgia é intensa. Um signa! muito importante da thrombo-sinusite é a presença, no nivel do antro mastoideo, de um ponto dolorosissimo, ào qual deu Laurens a deno- minação de grito ãa pyemia (signalconstante). Se o processo se estende tios outros seios e o thrombus obsta completamente o curso sanguíneo, diversos se nos apresentam de accordo com a parte obliterada. A propagação da thrombo-phlebite â veia jugu- lar interna é facil de ser reconhecida clinicamente. Pela palpação do vaso, nota-se a presença de um cordão endurecido e doloroso; ha torticolis do lado correspondente. A auscultação dá resultado negativo, isto é, não revelá o sopro venoso que se observa nas condições normaes (signal de Voss). A parada do sangue na jugular interna deter- mina também para o lado da jugular externa certas modificações que variam conforme o thrombus na- quclle vaso se estende á sua parte superior ou in- ferior. No primeiro caso, a jugular externa encontrando maior facilidade para sua evacuação, torna-se me- nos perceptivel que do lado são; ao contrario, apre- senta-se anormalmente turgescente se o thrombus 49 desce até ao ponto de emboecadura da jugular in- terna na sub-clavia. Do mesmo modo que a jugular, os seios cavernoso e longitudinal podem ser attin- gidos pelo processo morbido. A localização, ou melhor, a formação do throm- bus no interior destes canaes sanguíneo é revelada clinicamente por symptomas especiaes, variaveis com a região compromettida. Assim é que, em vir- tude da communicação do seio cavernoso com os vasos da orbita e da face, a thrombose do referido seio se traduz, objectivamente, por alterações na altura destes or-gãos (turgidez das venulas retinia- nas, exophtalmia, edema palpebral e frontal, etc). Quando, em contraposição, é o seio longitudinal séde da lesão, vamos então observar um plieno- meno interessante a—turgescência dos vasos do couro cabelludo (signal de Lermoyez), resultante do obstáculo opposto pelo thrombus á circulação venosa nesta parte. As metastases constituem um outro signal im- portante das thrombo-phlebites. Resultam do trans- porte á distancia e a pontos múltiplos, pela torrente circulatória, de partículas infectuo.-as que se des- aggregam dos vasos thrombosados. Os pulmões re- presentam, por assim dizer, o receptaculo, a séde de predilecção destas embolias sépticas particular- mente graves e desastrosas. 50 A thrombo-phlebite do seio lateral não sendo tratada termina, em geral, pela morte. Entretanto, isso não succede, se o medico intervindo, desde cedo, institue o tratamento apropriado — que deve consistir na abertura e drenagem cuidadosa do seio. A proposito, citamos um caso fatal de compli- cação venosa observado em junho deste anno. (1) Pyemia sem thrombose do seio lateral. — Esta varie- dade de pyemia, não menos frequente, apresenta-se com symptomas clínicos muito semelhantes aos da pyemia com thrombose. Distinguem-se, entretanto, por alguns signaes especiaes. E’ assim que naquella não se observam (1) Trata-se de um individuo marítimo, preto, 35 annos, que se apresentara no hospital, queixando-se de fortes dóres no ouvido direito, cujo orgâo sentia o doente a modo que cheio d’agua Antecedentes: tinha por habito, attenta sua profissão, exercer funcções de mergulhador — motivo que o levara a crer que a agua do ouvido provinha dalii. Diagnosticou-se uma otite media aguda catarrhal, marcando-se para o dia imme- diato a paracentese do tympano. Não se realisou, porem, esta intervenção, por isso que o paciente deixara de comparecer no dia determinado, só o fazendo tres dias depois, quando já se tinha dado a ruptura natural. Instituindo-se um tratamento apro- priado, correu tudo de geito que o paciente, julgando-se curado, não mais voltou a fazer curativo. Resultado: nova retenção de exsudato com propagação do processo, desta vez, aos orgãos vizinhos. Em virtude das dores resurgirem terríveis, o pobre doente ficou impossibilitado de vir á terra, morrendo a bordo da barça, poucos dias após. Enviado o eadaver pela policia do porto ao Instituto Nina Rodrigues, procedeu-se á respe- ctiva autopsia ( Dr Oscar Freire) verificando-se como causa mortis: hemorrhagia em consequência dc ruptura do golfo da veia jugular interna direita. 51 phenomenos de obliteração vascular, o que, aliás, é um caracteristico desta ultima. Outra particulari- dade: ao passo que a thrombo-phlebite, quasi sem- pre, provem de affecções chronicas, a pvemia sem thrombose, ao contrario, surge no curso das affec- ções agudas. Na septicemia otogena também se produzem accidentes metastaticos por embolias, mas estas, em vez de se deterem no nivel dos pulmões--o que constitue regra nas thrombo-phlebites, vão loca- lizar-se em pontos mais afastados (musculos, arti- culações, etc). Este facto singular resulta disto que, no primeiro caso, os êmbolos (fragmentos de coá- gulos) sendo volumosos, não c onseguem atravessar as ramificações ultimas do pulmão, e ahi ficam; enquanto, no segundo, as embolias que são repre- sentadas pelos proprios microbios, se insinuam, graças ás suas dimensões microscópicas, atravez das mais finas arborisações e passam, em seguida, ã circulação da arvore arterial. Dahi, tomando as direcções mais variadas, podem originar metastases múltiplas e, de preferencia, periphericas. O prognostico mostra-se relativamente benigno; pois, a cura é frequente. Complicações nervosas. — São particularmente fre- quentes no curso das otites agudas e, em particular, 52 das affecções cbronicas da orelha media, as alte- rações que se dão para o lado do nervo facial, que, como sabemos, entretem importantes relações com a caixa do tympano e do qual apenas está separado por uma delgada lamina de tecido osseo. Um sim- ples accumulo de pús nessa cavidade ou a necrose das suas paredes, é capaz de, ou por compressão ou por inflammação do nervo, determinar desde a inhibição transitória até á paralysía definitiva. Por ahi podemos avaliar a seria gravidade da determinação mórbida. Symptomatologia.—Os signaes provenientes da paralysia do facial variam de accordo com a sédc da alteração. E" assim que sendo, por exemplo, a lesão localizada do lado direito, vamos, em conse- quência do desequilíbrio do tonus muscular, obser- var o desvio da bocc-a para o lado opposto, isto é, á esquerda. Em virtude da inactividade do mesmo nervo, as palpebras correspondentes ao lado doente não mais se aconchegam como no estado normal. Conforme ainda o nivel do nervo em que se assestou a lesão, no seu trajecto do conducto au- ditivo interno ao buraco stylo-mastoideo, svmptomas outros se nos apresentam, taes quaes, modificação do sentido gustativo e da secreção salivar (alteração da corda do tympano), zunidos e surdez na para- lysia do musculo do estribo; e se o ganglio geni- 53 culado chega a ser attingido pelo processo imflarn- matorio, notaremos ainda a paralysia do véo do pa- ladar. O prognostico é tanto mais grave quanto mais accentiiada a paralysia. A demais, este phenomeno paralytico constitue, nas affecções da orelha media, um signal de alarma serio, indicativo da transpo- sição, pelo processo, delimite do campo oto-mastoi- deo, e que, portanto, será facil encaminhar-se pelas vias do conducto auditivo interno e do hiatus de Fallope, directamente ao cerebro, e comprometter as meninges. Na paralysia facial de procedência otica, Lau- rens é de opinião que o especialista deve, com a maxima previdência, intervir cirurgicamente: por uma paracentese se a otite é aguda, por uma tre- panação se a mastoidite é recente e, finalmente, por um esvaziamento petro-mastoideo se a otorrhéa é chrdnica. Realisadas, a tempo, estas intervenções, evita-se a incurabilidade. OcuTo-motor externo.—O nervo oculo-motor ex- terno ou abducens pode também apresentar phenome- nos de paralysia, no curso da otite media aguda pu- rulenta. Um caso muito interessante foi observado e publicado por Luigi Feto, em abril de 1911 (Bol- letino deite malattie delVorecchio). CAPITULO III Tratamento medico e cirúrgico pelas complicações intercorrentes, grave ainda por suas múltiplas consequências, a otite media aguda suppurada é uma affecção que re- clama do medico e, em particular, do otologista, ex- cessivo cuidado e absoluta attenção. Não é, como vulgarmente se pensa, moléstia de pequena impor- tância, estado morbido banal que desapparece sem- pre por si e sem deixar traços na sua passagem. Verdade é que, em determinados casos, a otite pode curar-se independente de qualquer intervenção me- dica, porem a cura espontânea e absoluta, isto é, não acompanhada de perturbações funccionaes, im- mediatas ou mediatas, constitue um facto puramente excepcional. Em grande copia de casos permanecem vestí- gios de alteração — possível prologo de uma surdez 56 futura. Entretanto, assim não suecede, se.se instituo, do começo ao fim da moléstia, uma therapeutica apropriada e racional. O abcesso agudo da caixa do tympano provindo, as mais das vezes, como sabemos, de infecções do território rhino-pliaryngeo, é logico e evidente que um tratamento prophvlactivo ou preservativo, que- remos dizer, um tratamento que e vi-te ou restrinja as possibilidades de contaminação tympanica tam- bém tem importância palpitante, Estudaremos, pois, successivamente, o trata- mento prophvlactico e o curativo. Tratamento prophylactico. — Para prevenir o des- envolvimento de uma otite o medico deve ter em mira não só os factores accidentaes ( resfriamentos) mas ainda os factores morbidos diversos. As correntes de ar frio constituindo causas fre- quentes de coryza devem ser, quanto possível, evi- tadas, pois, esta aífecção é capaz de originar a otite. O mesmo agente physico actuando directamente sobre a membrana tympanica produz idêntico re- sultado. Factores morbidos. — 0 tratamento liygienico con- vém ser instituído igualmente nas affecções do nariz, do cavum e do pbarvnge buccal. Ao medico, cum- pre, por conseguinte, tratar no nariz — as rhinit.es agudas, as rbiniEs cirro nicas (trophicas c hvper- trophicas) e os tumores polypoides ou de outra 57 natureza; no cavum—retirar, por curetagem, as ve- getações adenoides ; e no pharynge—fazer a ablação das amygdalas volumosas e infectadas, ou a sua discisão, nos casos de âmygdalites crypticas la- cunares ou amvgdalites caseosas. Tratamento curativo. — O tratamento da otite me- dia comporta indicações que differem conforme o periodo evolutivo em que se nos apresenta. Na sua primeira phase, ou melhor, na phase de inflam- mação aguda da mucosa tympanica, pode-se pres- crever racionalmente uma therapeutica, a um tempo, calmante, resolutiva e antiseptica. Este tratamento, denominado abortivo, consiste no emprego da gly- oerina phenicada quente (1 gramma para 20), em instillações, no ouvido, duas ou mais vezes por dia. A inocuidade de uma solução tão concentrada pa- rece, â primeira vista, illusoria;-mas não, é real. A glycerina, quando de mistura com o phenol, tira-lhe a acção irritante e caustica: eis ahi uma das suas importantes propriedades. Prescrevem-se também applicações de compressas húmidas quentes no ni- vel do pavilhão e da apophyse mastoide. E, se isto não é sufficiente para calmar os phenòmenos do- lorosos, recorre-se ainda ás applicações permanen- tes de gelo encerrado em saccos de borracha, ten- do-se, porem, o cuidado de evitar penetração de agua gelada no conducto. O frio não deve ser em- 58 pregado senão externamente: calor initis, frigor extra, tal é o critério therapeutico. br, Eduardo Mor*aes tendo em vista as proprie- dades, ao mesmo tempo, calmantes, emollientes e antiseptieas da ouataplasma de Langlebert, vae em- pregado com vantanjosos resultados na clinica civil e hospitalar. Uma medicação derivativa (purgativos) com o fim de descongestionar a cabeça e uma boa anti- sep.sia do nariz e da garganta (pomada mentholada) auxiliam em grande parte a resolução. Tratando destas prescripções que, na verdade, são efficazes, convém'que lembremos ou mesmo insistamos sobre o que não se deve fazer. As lavagens de infusos de malva e outras subs- tancias vegetaes, as celebres soluções boricadas, tão preconisadas pelo povo e pelos médicos igno- rantes e rotineiros* bem como o emprego de leite de peito !, balsamo tranquillo, oleo de camomilla, amên- doas doces, etc, devem ser repellidas terminante- mente, porque, alem de não exercerem accão. cura- tiva de especie alguma, constituem vehieulos certos deinfecçào. Quando muito, com o fim exclusivo de manter um certo estado de antisepsia do çonducto auricular, podemos prescrever irrigações de agua oxygenada pura. Se, n. despeito de todos os cuidados therapeu- ticos que acabamos de aconselhar, a affecção pro- 59 gride e a suppuração se estabelece, uma nova indi- cação virá impor* a sua'opportunidade : é a paracen- tese tympanica. Constituindo a otite media aguda purulenta um verdadeiro abcesso quente da caixa, a incisão da membrana do tympano não é, em summa, senão a applicação a um caso particular deste principio de cirurgia geral que todo abcesso deve ser aberto o mais largamente possível. Devemos esforçar-nos por combater e dissuadir o povo do absurdo preconceito de que a incisão do tympano produz surdez. E’ a não-abertura, ao eon- trario, que prolongando a retenção do pús e facili- tando sua propagação ã orelha interna, mais facil- mente originará essa alteração. A paracentese é uma operação adiniravel e providencial; pois, por si só, pode salvara vida de um doente. A demais, calma instantaneamente as dores mais atrozes e previne a diffusão do pús, causa das complicações. EI la dá bons resultados mesmo quando já existem ameaços de mastoidite ou mastoidite franca, como veremos pelas observações. Por isso são exagerados todos aquelles que, sem outra intervenção (paracentese), praticam immedia- tamente a trepanação da mastoide). Indicações da paracentese do tympano. — Esta pe- quena e delicada operação tem por hm dar sabida ao pús contido no interior da caixa. 60 Segundo o professor Laurens, é sabiamente indicada: l.° se ha phenomenos geraes (febre) ou meningeos persistentes, 2.° se a.s dores são violen- tas e provocam insomnia; 3.° se os signaes locaes (recalcamento ou saliência do tvmpano, sensibili- dade e tumefaccão da mastoide) são muito accen- tuados; 4.° nas otites provenientes de moléstias infectuosas geraes; 5 0 se lia perfuração, natural ou artificial, porem insufficicnte pela sua exiguidade ou situação (parte superior da membrana). Preparativos cirúrgicos. —Antisepsia. Anesthesia. A desinfecção do campo cirúrgico é uma ope- ração preliminar inteiramente indispensável. Ver- dade é que nunca se obtem (mormente se o doente tem feito uso de panacéas sépticas, como sejam, bál- samos, oleos e infusos vegetaes) a asepsia absoluta do conducto ainda mesmo praticando uma rigorosa antisepsia. Mas, se uma asepsia completa é irrea- lisavel, uma esterilidade relativa todavia é possível. Em primeiro logar, desembaraça-se, por meio de pequenos tampões em estyletes porta-algodão, o conducto do cerumen ou pús que d’acaso exista; depois banha-se a orelha, durante cinco ou dez mi- nutos, com um pouco de agua oxygenada, e enxu- ga-se do melhor geito possível. Feito isto, pincella-se toda a superfície do conducto auricular com tintura iodada, procedendo-se em seguida á anesthesia. Diversas soluções ou misturas tem sido cons 61 tantemente empregadas com o íim de insensibilisar a membrana do tvmpano (séde da operação). A solução de cocaína a 10 ou 20 *°/0, a mistura de Gray (chlorhydrato de cocaina, álcool a 90° e oleo de anilina) produzem satisfactorios resultados, po- rem o anesthesico ideal, aquelle que possue acção mais prompta e efficaz é, não ha duvida, o liquido de Bonain, assim formulado: Chlorhydrato de cocaína . . . Menthol Acido plienico aná 1 gramma 0 anesthesico de Bonain applica-.se, ás gottas, no fundo do canal auricular, ou, como é melhor, embebendo-se na mistura tampões de algodão es- terilisado, que se deixam em contacto com o tvm- pano, durante cinco minutos, pelo menos. Sob a acção do liquido, a membrana toma uma cor branca especial—indicadora da anesthesia. Pessoalmente, na clinica hospitalar, temos ob- servado, variadas vezes, a efticaeia e as vantagens do Bonain. Os doentes, quasi sempre, não experi- mentam senão uma dor minima, perfeitamente to- lerável. Instrumental.—No momento da operação o me- dico deve ter ao seu alcance, rigorosamente esteri- lisados, todosos instrumentos necessários (especulo, pinças, estyletes porta-algodão, agulha de paracen- tese, etc). Para um bom exito operatorio é indispen- 62 sável que a pequena lanceta, denominada agulha de paracentese, tenha a poíita bem afilada. Assim se evita a possibilidade de o doente sentir maiores do- res, e a operação faz-se com extraordinária rapidez. Technica operatória. — Collocado o doente em po- sição de exame otoscopico, um auxiliar apoiará fortemente a cabeça do mesmo, afim de evitar que nos seus movimentos instinctivos de defeza, o ci- rurgião tira involuntariamente o conducto. Feito isto, depois, bem entendido, da anesthesia do tym- pano e do cumprimento fiel de todos os preceitos da antisepsia, o operador introduzirá no conducto um especulo, largo quanto possível (com a mão esquerda no ouvido esquerdo e com a mão direita no ouvido direito), e de modo a conseguir uma illu- minação conveniente de toda a superfície tympanica. Num outro tempo, a membranajá estando alumiada, o cirurgião toma a agulha de paracentese e realiza a incisão. E’ excusado lembrar que esta, salvo cir- cumstancias imprevistas, deve sei* praticada de baixo para cima e no ponto mais declivoso do orgão tym- panico. 0 quadrante postero-inferior constitue o logar de predileceão para a tympanotomiapois, não só é esta a parte mais inferior e accessivel da mem- brana como igualmente é a mais distanciada do promontorio, e, por consequência, a menos perigosa. Se no momento de consultar o medico, já existe» 63 como de habito acontece, perfuração espontânea do tympano, este necessariamente’ deparará ou com uma abertura sufficiente ou insufticiente. Considera-se sufticiente uma perfuração : 1.® se tem séde num ponto interior da membrana e a dre- nagem é franca; 2.° se não lia dores espontâneas; emfim se a ponta da mastoide não ó sensivelmente dolorosa á pressão. Km contraposição, uma dre- nagem do pús mal assegurada, a persistência das dores espontâneas, a dor á pressão da ponta da apopbyse, o empastamento mastoideo são signaes que traduzem uma abertura insufticiente e, por- tanto, retenção. Somente neste caso compete ao medico intervir com a cirurgia: ou para augmentar a perfuração já existente ou para fazer uma outra abertura em situação mais declivosa. Cuidados therapeuticos consecutivos á paracentese do tympano. — Em seguida á abertura cirúrgica ou es- pontânea da membrana tvmpanal, devemos ter o máximo cuidado, afim de evitarmos nova retenção de pús e inffecções secundarias diversas. E’ neces- sário, conseguintemente, de par com uma perfeita antiscp.sia, assegurar uma franca evacuação do ex- sudato purulento — o que sè consegue introduzindo no conducto mechas de gaze aseptica, o ectogan, por exemplo, ou de algodão esterilisado. Este penso que se renova todos os dias, uma ou mais vezes, de accordo com a abunda ncia do pús, será prece- 64 dido de lavagem com agua oxygenada, ou melhor, utilisando o iodo nascente que provem da mistura do iodureto de sodio em solução a 30°/P com a agua oxygenada, conforme, desde o anno passado, pre- conisa o professor Castex. Este notável especialista manda applicar, suc- cessivamente, depois de uma limpeza previa e cui- dadosa do conducto, tres gottas da solução de iodu- reto de sodio e tres de agua oxygenada. Do contacto desses líquidos resulta um desprendimento de iodo, cuja acção therapeutica se aproveita no tratamento da otite. No momento agudo da moléstia devemos proscrever, como inefficazes e prejudiciaes, as du- clias de ar, reservando-as unicamente para o periodo de declínio onde são múltiplas as suas vantagens. Laurens, Lermoyez e outras aconselham fazer, de dous ou de tres em tres dias, o exame otoscopico da membrana, de modo a se certificai d :> estado bom ou mau da evolução mórbida. . Se a moléstia tende á chronicidade, é necessá- rio alterar e alternar o tratamento, empregando-se, revezadamente, álcool absoluto boricado, nitrato de prata (10 ou 15°/o), em instillações, agua oxygenada só ou com iodureto de sodio, glycerina phenicada e outras medicamentos. Cumprindo-se, á risca, estas principaes indica- ções therapeuticas, a otite media aguda suppurada, salvo quando evolue em terreno debilitado (tuber- culose, escrofulose, diabete), cura-se, em geral, no fim de duas ou tres semanas. OBSERVAÇÕES I (CLINICA CIVIL DO DR. MORAES) R. S. S., 36 nnnos, casado, empregado de E. de Ferro. An- tigos soffrimentos nasaes (rhinite svphilitica com larga perfu- ração do septo). Com ma's ou menos ('uidado fazia, a conselho medico, lavagens do nariz. Rouco tempo depois de iniciado este tratamento começou a sentir dores no ouvido direito, dores estas acompanhadas de surdez e sensação de plenitudedomesmo lado. Nos dias subsequentes, ellas augmentaram consideravel- mente com propagação á mastoide. Ao exame: antro e vertice da apophyse muito dolorosos á pressão. Tympano bastante sa- liente com apagamento completo dos seus caracteres normaes. Febre elevada e somno irreconciliável. No mesmo dia: para- cenfese ao nivel do quadrante postero-inferior. Melhora im- mediata depois da sabida de grande quantidade de pús san- guinolento. Dores e phenomenos geraes cederam. A suppu- ração durou cerca de oito dias. Cura completa sem alterações auditivas. I i (CLINICA CIVIL DO DK. MORAES; M. G., 4 mezes. Em segwida a um resfriamento e forte coryza, surgiram manifestações auriculares no lado esquerdo. Atrozes dores traziam a innocentinha em constante agitação entrecortada de gemidos e gritos. O exame inspectivo externo e interno (otoscopico; revelou edema mastoide, e saliência do 66 tympano com uma perfuração diminuta, onde o pús porejava difficilmente, Feita a necessária intervenção (paracentese y,houve melhora rapida com restabelecimento completo ao fim de doze dias. Prescreveu-se igualmente um antiseptiro nasal. III (CLINICA CIVIL DO DR. MORAES I A. B. P., 7 annos. Dez dias depois de uma influenza, ma- nifestaram-se sofírimentos para o lado do orgão auricular. A principio, fôra tratada com lavagens de agua boricada (!). Gra- ças, porem, á perfuração natural do tympano, dias depois, houve grande evacuação de pús seguida de um periodo de allivio e calma A abertura tornando-se insuffieiente, os sym- ptomas reappareceram de modo intensivo — denunciando nova retenção. Apczar disso, continuaram-se as irrigações boricadas. Sobrevindo depois perturbações outras (dores e edema da re- gião mastoidéa, febre de 39° ) a doentinlla pro< ura então o con- sultorio — onde, no mesmo dia, foi indicada e praticada a pa- racentese. Após á operação, sentiu logo melhoras sensíveis. A’ noite, a criança, que, ha tres dias, não conciliava o somno, dormiu tranquilla. Dahi em diante, tudo derivou bellissima- mente, e a trura foi completa dentro de dez dias. O toque retro-pharyngeo revelou vegetações adenoides, sendo proposta a operação. I V (CLINICA CIVIL DO D1L MORAES) A. C, P., ‘J.3 annos, casada. Após uin prologo de coryza, começou de sentir dores uo ouvido esquerdo. Não dando, po- rem, ao caso, a importância necessária, contentou-se com ap- 67 plicar os vulgares infusos de folhas da costa e outras panacéas. Como de esperar, tal tratamento nenhuma melhora trouxe á doente. Antes, tudo se aggravou: vindo uma surdez completa perfazer o quadro symptomatologico. Ao exame otoscopico, depois de cinco dias:—inílaminação geral da membrana com notável saliência, ao nivel do quadrante antero-inferior. Pra- ticada, incontinente, a paracentese, sobreveiu uma admiravel melhora, dormindo a doente, perfeitamente tranquilla, nessa noite. Dous dias depois, sendo verificado que a abertura era insufíiciente, visto como havia ainda embaraço á drenagem do pús, procedeu-se ao alargamento e o eíTeito benefico não se fez esperar. A suppuração prolongou-se por alguns dias, lindo os quaes a doente se restabeleceu por completo, voltando a audição ao seu estado de normalidade. y (CLINICA CIVIL DO D1L MORAES) A. S., tíO annos, russo, portador de um ligeiro catharro naso-pharygeo, tinha por costume fazer insuflações pelo nariz com a mesma agua que lhe servia para as abluções do rosto. Este mau habito, nunca combatido por aquelles que conheciam os seus desastrosos effeitos, foi o sufíiciente para que, trans- portando partículas sépticas, atravez da trompa, á orelha me- dia, produzisse uma forte imflammação, vindo logo acompanhada de dores e perturbações funccionaes. Consultando um medico, a respeito, furam os seus incommodosdiagnosticados de sim- ples nevralgia, pelo que este se limitou a prescrever uma medi- cação analgésica. Continuando a moléstia a evoluir, ao cabo de poucos dias, a surdez era completa e as dores intoleráveis. O doente não podia socegar um só instante, e, muito menos, dor- 68 mir. Poríim, convencendo-se de que os medicamentos, até ahi ministrados, nenhum e Afeito produziam, resolveu consultar um especialista, que verificou tratar-se de uma intensa otite media aguda suppurada,complicada de antrite. Realisada,incontinente, a paracentese tympanica., sobrevieram alguns allivios e o pa- ciente dormiu um pouco, á noite. Esta tranquillidade foi, porem, de curta duração, porque a abertura tornando-se insufficiente, os symptomas se accentuaram, com propagação á região mas- toidéa (edema, dores, etc). Em vista disso, nova paracentese— melhoras diminutas. O edema, nessa oceasião, já eraconside-' ravel, e começava de se formar um abcesso sub-periostico no nivel do antro. Insistiu-se ainda numa terceira paracentese, mas, desta vez, com excisao de um pequeno retalho da membrana, que deu optimos resultados. Depois desta ultima operação, os phenomenos alarmantes deeappareceram, seguindo-se então um periodo de calma. Por final, incisou-se, profundamente, o abcesso, no nivel do sulco retro-auricular e a cicatrisação efife- ctuou-se em 15 dias. Alguns catheterismos vieram completar a cura—com restabelecimento da audição (voz baixa a 5 metros de distancia^. VI (DÁ CLINICA OTO-RHINO-LARYNGOLOGICA DO IIOSPITAL S. IZABEL) J. S. P., 57 annos, branco, viuvo, apresentou-se ao hospi- tal, no dia 22 de Junho, com inquietantes dores localizadas na mastoide e em toda a região auricular, dores estas que se ex- acerbavam á noite. Disse mais: ter começado a moléstia, ha dez dias, por uns ruidos, vindo em seguida dores intensas e sensação de orelha cheia. Pela inspecção e palpação, obser- 69 vou-se um certo empastamento e grande sensibilidade da apo- physe mastoide. Pelo exanie otoscopico: tympano abahulado, sobretudo,no segmento postero-inferior. Praticando-se,no mesmo dia, a providencial operação da paracentese, sobrevieram, ra- pidamente, sensíveis allivios, e d’ahi em diante, houve dimi- nuição sempre crescente da intensidade dos symptomas ma- nifestados, retirando-se o doente para o interior do estado, dias depois, quasi restabelecido. VII ( DA CLINICA OTO-RHINO-LARYNGOLOGICA DO HOSPITAL S. IZABEL) J. C., pardo, solteiro, 16 annos, soffrendo de febres palus- tres, procurou o refugio hospitalar. Com a medicação especiiica, que lhe foi ministrada, taes febres desappareceram, por com- pleto. Tudo ia assim em bom caminho, quando começa a sentir, nos ouvidos, dores e surdez. Passaram-se tres dias sem que o doente chamasse a attenção do medico assistente, de sorte que, ao ser examinado pelo especialista, já existiam em ambos os lados duas pequeninas e insufficientes perfurações. Como'é na- tural, os symptomas não cederam senão transitoriamente, sendo então preciso intervir cirurgicamente, afim de se alargarem as aberturas existentes. Apezardo estado de grande enfraquecimento • \ do doente, a cura se realizou, no fim de doze dias, mais ou menos. Fez-se, tres vezes, o eatheterismo da trompa. VIII DA CLINICA OTTO-RHINO-LARYNGOLOGICO DO HOSPITAL S IZABEL A. M., 15 annos, solteira, preta. Pouco tempo depois de uma forte coryza manifestaram-se no ouvido esquerdo gran- 70 des dores acompanhadas de alteração febril, insomnra e sur- dez. Ao exame otoscopico: tympano bem saliente quasi a abrir-se, ao nivel do quadrante postero-inferior. Praticou-se, im- mediatamente, uma paracentese: pouca melhora. Dois dias de- pois, nova paracentese inda mais larga. Com esta segunda incisão tympanicaos symptomas desappareceram e acura so- breveiu. completa, ao cabo de duas semanas. PROPOSIÇÕES HISTORIA NATURAL MEDICA 1— As bactérias são organismos elementares, de estructura simples e dimensões microscópicas. 2— Os coccus são unidades da importante familia das ba- ctérias de forma espherica ou globular. 3— O streptococcus ( coccus unidos em cadeia ) e o staphy- lococcus /'coccus em cacho de uva), principaes productores das infecções auriculares, prendem-se áquella familia. RIIYSICA MEDICA 1— No estado normal, o ar do interipr da caixa do tym- pano supporta pressão igual á da athmosphera exterior. 2— Este equilíbrio é a condição primordial para o funccio- namento regular do orgão. 3— Desde que, por uma circumstancia qualquer ( obstruc- ção tubar, por exemple/), a pressão da athmosphera interior se torna menor que a da athmosphera exterior, ha um recal- camento para dentro da membrana do tympano e da cadeia dos ossinhos e, ipso-facto, compressão do liquido labyrinthico com todas as consequências. CHIMIGA MEDICA 1— O chlorhydrato de cocaína é um sal de grande solu- bilidade. 2— Entra na composição da mistura ou liquido de Bonain. 3— mistura de Bonain é o melhor anesthesico para as operações tympanicas. 72 ANATOMIA DESCRIPTIVA 1 A orelha media ou caixa do tympano ,é uma pequena cavidade em forma de tambor, limitada externamente pela membrana tympanica e internamente pelo labyrintho. 2 Estão nell.a contidos os tres ossinhos do ouvido: mar- tello, bigorna e estribo. 3 Estes, articulados entre si, apoiam-se de um lado á janella oval e do outro á membrana do tympano. ANATOMIA MICROSCÓPICA 1 A estructura da membrana do tympano não é homogénea. 2— Compõe-se de tres camadas: a externa ou cutanea, a media ou fibrosa e a interna ou mucosa. 3— A camada media, sendo a mais resistente, eonstitue, por * aessim dizer, o esqueleto da membrana. PHYSIOLOGIA 1— O ouvido é o orgão da audição. 2— As ondas sonoras recebidas pelo pavilhão são transmit- tidas á orelha interna, atravez do conducto auricular e da caixa tympanica. 3— O ouvido serve, igualmente, para manter o equilíbrio do corpo. MICRO BIOLOGIA 1— A flora microbiana das suppuGições auriculares varia muito. 2— O streptoeoccus, o stapbylococcus e o pneumococcus são os germens liabituaes. 3— Podem estar ou não associados. 73 MATÉRIA MEDICA, PIIARMACOLOG1A E ARTE DE FORMULAR 1— O acido phenico ou phenol tem facil dissolução na gly- cerina. 2— Chama-se glycerina phenicada ao composto resultante. 3— glycerina phenicada (1/10 e 1/15) é empregada como calmante e antiseptico nas otites agudas. ANATOMIA E HISTOLOGIA PATHOLOG1GAS 1— antro mastoideo tendo communícação franca com a caixa,por intermédio do aditas a d antrum, participa do processo suppurativo desta. 2— Não ha otite media suppurada sem antrite. 3— Pode existir, no entretanto, inflammação do antro sem ser acompanhada de mastoidite propriamente dita. PATHOLOGIA GERAL 1— A collecção de pús na caixa do tympano é uni simples abcesso, de localização especial. 2— manifestações são idênticas ás dos abcessos, em geral. 3— Por isso, a denominação de phlegmSo, dada igualmente á otite media aguda, tem sua razão de ser. ANATOMIA MEDICO-CJRURGICA, OPERAÇÕES E APPARELHOS. 1— A membrana tympanica divide-se, sob o ponto de vista da anatomia clinica, em quatro segmentos ou quadrantes. 2— Dos quaes, dous são superiores (antero-superior e postero- superior) e dous inferiores (antero-inferior e postero-inferior). 3— E’ no nivel destes que se pratica, ordinariamente, a pa- racentese. 74 THEHAPETJTICA 1- oxygenada é um hemostatico e um antiseptico de primeira ordem. 2- tal é largamente empregada em otologia. 3- Na otite media aguda suppurada a agua oxygenada pro- duz etfeitos curativos maravilhosos. Gygiene í—Surdez éa diminuição ou abolição completa do sentido auditivo 2— Segundo estatisticas extrangeiras 20 2— A syphilis adquerida ataca a orelha media em todos os seus periodos de evolução. K 3— As suppurações da caixa do tympano observam-se, porem, sobretudo, na phase das manifestações secundarias. CLINICA GYNECOLOGICA 1— Denominaram-se vulvites as lesões inllammatorias da vulva. 2— O prurido é um dos seus svmptomas mais incoramo- dantes. 78 3—E’ necessário ter muito cuidado com os dedos que o co- çam, afim de não se transportarem germens sépticos a outros pontos, particularmente, ao ouvido. CLINICA OBSTÉTRICA 1 — Fórceps é um instrumento destinado a agarrar e extrahir a cabeça do feto. 2— Compõe-se de dous ramos articuláveis. 3— A orelha fetal representa importante ponto de reparo para sua applicação. CLINICA PSYCHIATHICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS 1— A hysteria pode manifestar-se na orelha e simular uma affecção organica. 2— Em casos suspeitos, para evitar erro de diagnostico, é necessário examinar com cuidado e systematicamente a região, procurando os estygmas da nevrose. 3— Nas matoidites hystericas as dores são mais vivas e superficiaes. VISTO. M Seczetazia da Faculdade de Medicina da Bahia, 5 de Novembzo de igi2. 0 Secretario, Dr. Menundro dos Reis Meirelles. 1LGU.U4S RECTIFICA0FS PAG. LINHA EM VEZ DE LEIA-SE 5 25 A lavagens As lavagens 8 3 Signaes Subjectivos Signaes subjectivos 8 28 estado de causas estado de cousas 16 23 quem que 21 19 * assim provam-no provam-no 42 24 sentado ao leito sentado no leito 43 4 que se nos que nos 46 S ao antro e ao laby- c«tn 0 antr.o e com 0 rintho 'labyrintho 58 6 empregado v empregando-a 63 7 emfim 3.- emfim 65 26 edema mas.toide edema mastoideo 69 26 otto-rhino-laryn- oto-rhino-laryn- gologico gologica