Faculdade de Medicina da Bahia THESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 27 de Outubro de 1908 PARA SER PERANTE A MESMA PUBLICA MENTE DEFENDIDA PELO ■» Ri Natural do Estado da Bahia Interno de Clinica Ophtalmologica, ex-interno interino do Hospital Santa Izabel, ex-au xiliar da clinica ophtalmologica doDr, Ribeiro dos Santos no mesmo Hospital, ex-director da “Bahia-Medica,” socio fundador da Sociedade de Medicina da Bahia AFIM DE OBTER 0 GRÃO DE DOUTOR EM MEDICINA DISSERTAÇÃO (Cadeira de Clinica Ophtalmologica) ALGUMAS EXPERIENCIAS SOBRE O EMPREGO DO ILICTUIGIL EM OPSITALMOLOGIA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS METAES COLLOIDAES PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas. e cirúrgicas BAHIA Typographia e Encadernação do Lyceu de Artes Prudencio de Carvalho, director 1908 Faculdade de Medicina da Bahia Director —Dr. AUGUSTO CÉSAR VIANNA Vice-Director—Dr. MANOEL JOSE’DE ARAÚJO Lentes cathedraticos OS DRS. MATÉRIAS QEE LECCIONAM 4..« SECÇÃO Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-cirurgica. 2. Secção Antonio Pacifico Pereira Histologia. Augusto C. Vianna Bacteriologia Guilherme Pereira Rebello. . . . Anatomia e physiologia pathologicas, 3. a Secção Manuel José de Araújo Physiologia. José Eduardo F. de Carvalho Filho . Therapeutica. 4. a Secção Josino Correia Cotias. ..... Medicina legal e toxicologia. Luiz Anselmo da Fonseca .... Hygiene 5. a Secção Braz Hermenpgildo do Amaral . . Pathologia cirúrgica. Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes .... Clinica cirúrgica, 1.» cadeira. Ignacio Monteiro de Almeida Gouveia. Clinica cirúrgica, 2.» cadeira. 6. a Secção Aurélio R. Vianna Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho. . . Clinica medica, 1-» cadeira. Francisco Brauiio Pereira Clinica medica, 2.a cadeira. 7a Secção José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. A.. Victorio de Araújo Falcão. . . Matéria medica, pharmacologia e arte de formular. José Olympio de Azevedo .... Cnimica medica. 8. Secção Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. Secção Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica 40. Secção Francisco dos Santos Pereira . . . ' Clinica ophtalmologica. 14. Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira . Clinica dermatológica e syphiligraphica. 42. Secção Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas. JoãoE. de Castro Cerqueira ... j ■Sebastião Cardoso disponibilidade Substitutos OS DOUTORES José Afforiso de Carvalho t." secção Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . . . J Julio Sérgio Palma J z- * Pedro Luiz Celestino 3.a » Oscar Freire de Carvalho 4.a > Antonino Baptista dos An|os .... 5.a » João Américo Garcez Fròes 6.a » Pedro da Luz Carrascosa e José Julio de Calasans 7.a » J. Adeodato de Sousa 8.a » Alfredo Ferreira de Magalhães ... 9.a » Clodoaldo de Andrade 10. » Albino A. da Silva Leitão 11. > Mario C. da Silva Leal 12. » Secretario—DR. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-secretario—DR. MATHEUS YAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva nem reprova as opiniões esaradas nas theses pelos seus auctores. A QUEM LER que sou ao ultimo clegráo da tortuosa escala do curso me dico, cumpro sem recriminações alei, apresentando-vos uma these, prova por demais insignificante imposta ao doutorando, «pedra de toque» das aptidões e do preparo clinico do novel medico, como é considerada por ahi além. A leitura acurada de um sem numero de communicações, artigos, etc., esparsos em outras tantas revistas scientificas, sobre as modernas e já brilhantes acquisições da therapeutica colloidal, prendeu-me a attenção na lucta em que se me debatia o espirito para a escolha feliz de um assumpto. Ao tempo em que julgava de pequena importância a compilação e a critica do que n’essa questão se tem escripto em alguns departamentos da clinica, a opportunidade se me apresentava de satisfazer aos meus inaba- laveis intuitos de, como these de doutoramento, apresentar ideias ou factos ainda que simples, mas timbrados pela iniciativa pessoal, pelo esforço proprio, pela originalidade enfim, parecesse embora aos doutos nulla sua importância. Era o caso que, entre os innumeros artigos que li, entre as dezenas de bibliographias extensas que manusiei, nas poucas theses que compulsei, nem uma indicação se me apresentou de qualquer trabalho re- ferente á therapeutica colloidal, feito no campo da ophtalmologia. Ahi justamente eu desejava terçar as frágeis armas do meu intellecto, tat a predilecção que me inspira tão attrahente quão, importante ramo da medicina. E logo assentei iniciar a applicação racional d’aquelles conhe- cimentos ao tratamento de algumas moléstias infecciosas do apparelho visual, cujos resultados, positivos ou negativos, fossem exarados por conta própria em algumas paginas, a titulo de these. Que se não me attribua entretanto a pretenção de julgar-me o primeiro que d’isto foi avisado. Não me é permittido, pela Bahia ou mesmo pelo Brazil, julgar o que se passa nos velhos centros scientificos. Algumas experiencias sobre o emprego do electrargol em Ophtalmologia, constituiriam minha these: — Um simples capitulo em que expuzesse os resultados de minhas experiencias, e as conclusões que me parecessem lógicas. Entretanto, tal se me afigurou posteriormente sua importância, tão rudi- mentares para não dizer nullos me pareceram os conhecimentos que entre IV nós se tem dos metaes colloidaes, que julguei indispensável precedel-o de um resumo geral do que sobre elles têm escripto os scientistas. E assim ficou dividida esta pequena obra em tres capítulos:—No pri- meiro, que tem o titulo de “Considerações geraes”, encontram-se a historia do colloide, a definição das soluções colloidaes, os methodos de preparação dos metaes colloidaes com os caracteres que imprimem aos respectivos productos, e finalmente o problema de sua estabilisação e isotonisação. No segundo, a titulo de “Propriedades dos metaes colloidaes electricos”, encontram-se seus estudos physico-chimico, bacteriológico, physiologico e therapeutico, este ultimo acompanhado de uma resenha das observações que conheço, com o fim de justificar suas indicações. No terceiro capitulo— “Do electrargol em Ophtalmologia” — vão as minhas observações em numero de 16, entremeiadas de pequenas conside- rações particulares a cada uma, seguidas de opiniões pessoaes sobre as vantagens prováveis do electrargol em oculistica e finalmente de conclusões suggeridas do que observei. E’ a este ultimo que dou o titulo de minha these, attribuindo aos pri- meiros o papel de introducção — uma especie de exame geral da matéria prima que seria empregada em sua modesta edificação. E assim fica explicado o facto de estar esta these ligada á cadeira de Clinica Ophtalmologica e não á de Therapeutica. Si da summula de tão pallida dissertação alguma cousa se poder colher de util á sciencia a que tão de coração me dediquei, hei por bem recom- pensado o meu trabalho. Que não me sejam negados porem o esforço e a bòa vontade, si foram improfícuos, si nada construí. Seja-me permittido ao terminar estas linhas preambulares, render a ho- menagem de imperecível amizade e profundo reconhecimento que tributo ao illustrado Professor Dr. Santos Pereira, a cujos ensinamentos sapientes, a cujo exemplo edificante, a cuja amizade sinceramuito devo e muito agradeço- Nãopoderei esquecer os reaes serviços que expontaneamente me prestou o provecto oculista Dr. Ribeiro dos Santos, permittindo-me experimentar em seus doentes, ao tempo em que com interesse acompanhava os resultados obtidos do tratamento. Proporcionou-me assim o ensejo de apresentar um numero regular de observações, algumas de doentes de sua clinica particular a mim honrosa- mente confiados, fazendo-se credor de minha affeição sincera e grata. Ao collega Seixas Maia, distincto interno do Hospital, o meu agradeci- mento pela dedicação com que acompanhou as minhas observações,, prestando-me o seu auxilio. [auf DKcdeiros, DISSERTAÇÃO «V (Cadeira de Clinica Ophtalmologica) ALGUMAS EXPERIENCIAS SOBRE O EMPREGO M ILICTHARGOL ESI 0PHTALH0L0GIA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS METAES COLLOIDAES PROPOSIÇOES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas CAPITULO I Considerações Geraes & ’ 5^oi no meiado do século passado, precisamente no anno de 1850, que Graham, depois de uma serie de experiencias memoráveis sobre a diííusão e a dialyse, chegou a uma divisão vaga das substarvcias estudadas em dous grandes grupos: a) Substancias cristallisaveis, diffusiveis e dialysaveis que elle chamou de cristalloides; b) Substancias não cristallisaveis, que não diffundem ou o fazem muito lentamente, que não dialysam ou só em pro- porções minimas atravessam a membrana do dialysador, e que elle denominou de colloides, creando e empregando pela primeira vez o termo. Varias têm sido as modificações trazidas pelos estudos modernos, á maneira de comprehender a essencia d’este se- gundo grupo da classificação de Graham, até chegarmos ao ponto em que os nossos conhecimentos não nos permittem considerar os colloides como substancias differenciadas, per- feitamente definidas. Somos antes levados, pela lógica dos factos, a admittir a ideia de um estado especial da matéria, estado colloidal, a que toda substancia, comtanto que seja insolúvel, é reductivel mais ou menos directamente. Diremos melhor, paraphraseando o Prof. Albert Robin, tem sido substituída a noção de colloide substancia, pela de colloide propriedade. 2 Desde então, chimicos e biologistas embrenham-se no es- tudo detalhado dos colloides, procurando a explicação de um certo numero de phenomenos physio-biologicos ainda mal elucidados. Todo o organismo; na concepção bio-chimica moderna, é considerado um conjuncto de colloides, e os dif- ferentes actos vitaes passam a ser o resultado da acção de colloides uus sobre os outros, das transformações que lhes imprime a presença de electrolytos, etc., etc.. O protoplasma da cellula, seu njucleo, sua membrana de envolucro, são de natureza colloidal; os humores e secreções organicas, os fermentos solúveis são de natureza colloidal; finalmente as toxinas, as antitoxinas, os anticorpos, as preci- pitinas, as agglutininas, as lysinas, as opsoninas, etc., são outras tantas substancias colloidaes. Do estudo meticuloso e systematico da acção d’esses diversos colloides entre si e sobre o organismo, do conheci- mento de suas propriedades bio-chimicas, provirá certamente a solução de muitos problemas até aqui apenas entrevistos. Em prova d’esta asserção citaremos as experiencias im- portantes de Larguier que, mergulhando cubos de albumina coagulada em uma solução de azul de methyleno e em se- guida no sueco pancreatico puro, obteve a sua digestão im- mediata, fora do concurso da kinctse, até então considerada indispensável ao acto bio-chimico. E’ que Larguier tinha chegado ao conhecimento de que a kinase é um colloide posi- tivo, e por este facto poude obter os seus effeitos substituin- do-a por um colloide artificial positivo, o azul de methyleno. Deixando á margem, por não caberem no limitadíssimo espaço do nosso despretencioso trabalho, as brilhantes expe- riencias feitas sobre o assumpto, graças ás quaes os colloides 3 vão ultrapassando os limites da physico-chimica e invadindo com applausos geraes o dominio da therapeutica, entraremos no estudo dos metaes colloidaes que constitue o ponto de nossa dissertação. Somente muitos annos depois dos estudos de Graham, em 1889, appareceu o primeiro trabalho sobre os metaes colloi- daes. N’essa época, em artigos publicados no American Journalof Science, Carey Léa annunciava suas pesquizas chi- micas a proposito de um novo colloide. Estas pesquizas, referentes á prata colloidal chimica, não repercutiram além do estreito âmbito dos laboratorios até que, mais ou menos no anno de 1896, Crédé, medico al- lemão, collaborando com Bayer, fizesse estudos therapeuticos sobre o novo producto e o entregasse ao commercio sob a denominação de Collargol. Os estudos de Crédé repercu- tiram na França, aonde destaca-se Netter, cujo vulto é sem contestação o mais proeminente, com relação ao estudo da prata colloidal chimica. Espirito investigador e altruísta, Netter teve o mérito incontestável de chamar a attenção do corpo medico francez para a nova questão dos colloides sob o ponto de vista geral. Suas pesquizas foram minuciosamente descriptas em uma communicação sensacional feita á Société Médicale des Hôpitaux de Paris, no anno de 1902. A esse tempo, vários outros productos do mesmo genero já se iam tornando conhecidos. O calomelanos, o bismutho e tantos outros eram chimicamente obtidos em estado col- loidal. Cabe porem a Bredig, notável chimico allemão, a prima- zia da descoberta dos metaes colloidaes physicos ou melhor electricos, em 1898. 4 Era sabido, em virtude de observações de Tichomiroff e Lidoff, Brugnatelli, de la Rive e tantos outros, que as des- cargas electricas exercem como que uma pulverisação dos electrodos entre os quaes ellas se estabelecem. Levado por essas impressões, Bredig chegou á demonstração de que, fa- zendo-se passar uma fraca corrente electrica entre electrodos de prata, de ouro, de platina, etc., mergulhados na agua distillada, se obtinha uma especie de solução do metal em- pregado. E assím, poz em evidencia os metaes colloidaes electricos, que deviam trazer á therapeutica racional moderna tão grandes impulsionamentos, fazendo sobre elles os pri- meiros e importantíssimos estudos. Conhecida e divulgada que foi a descoberta de Bredig, avolumaram-se as correntes dos experimentalistas no vasto scenario das sciencias medico-cirurgicas. Foi então que surgiram na França, Victor Henri, Albert Robin e G. Bardet, Iscovesco, Mlle. Cernovodeanu, Achard e Weill, Gompel e Stodel, Charpin, entre outros de méritos inegualaveis; na Allemanha, Ascoli e Izar, Kunz-Krauze, Schneider, Lottemozer; nos Est.-Unidos, além de Carey Léa, Withney, Ober, ]. Ch. Blake; na Italia, Foa e Aggazzotti, Galeoti e Todde; em Madrid, CoRTEso;em Vienna, Woyer; e uma pleiade de tantos outros scientistas que, já em artigos profusamente espalhados na imprensa medica periódica, já em trabalhos apresentados a assembléas scientificas notáveis, sustentam discussões calorosas, fazem revelações interessantes a proposito dos colloides metallicos. Entretanto no Brazil, salvo uma ligeira conferencia do Dr. Raul Azeda na Soc. de Medicina do Recife, nenhum tra- balho ha até então que nos conste, digno de especial menção. 5 E’ claro qué quando assim falamos, referimo-nos exclusiva- mente aos metaes colloidaes electricos, visto como a pro- posito da prata colloidal chimica (collargol), conhecemos alguns artigos na imprensa medica do Rio de Janeiro e de São Paulo. Deixando de parte minudencias chronologicas, estudemos as soluções colloidaes de Bredig em seus traços geraes. Encaradas sob o ponto de vista de sua contextura physica, ellas não têm os caracteres proprios ás soluções verda- deiras, sinão apparentemente. O que vem pois a ser uma solução colloidal? Para Iscovesco, uma solução verdadeira « é uma mistura physica homogenea, na qual o ou os corpos dissolvidos, qualquer que tenha sido seu estado anterior, adquirem todas as propriedades cyneticas dos gazes » isto é, suas moléculas não mais se attrahem como as moléculas solidas ou liquidas, porem se repellem igualmente em todos os sentidos como si fossem moléculas gazosas. cc Ao contrario, toda mistura phy- sica tão perfeitamente homogenea quanto se quizer imaginar, apresentando todas as propriedades apparentes de uma so- lução, mas sem que o corpo dissolvido manifeste os pheno- menos correspondentes ás propriedades cyneticas dos gazes, é uma pseudo-solução, uma solução colloidal». Em termos mais claros, diremos: enquanto que uma solução de cristalloide constitue um systema physico homogeneo, uma solução colloidal fórma um systema physico heterogeneo, é constituída por uma massa liquida tendo em suspensão partículas solidas extremamente divididas. O termo solução é pois aqui muito impropriamente em- pregado, sendo preferivel dar a estas suppostas soluções a de- 6 signação de systemas colloidaes ou simplesmente colloidtSy como fazem alguns auctores. Os metaes colloidaes foram definidos por V. Henri de «suspensões de partículas metallicas ultramicroscopicas» ; Le Bosc, para dar uma ideia exacta de sua constituição, de- signou-os como « emulsão de grãos da ordem do millionesimo de millimetro)). Encarando-os comparativamente aos' colloides constitu- tivos dos seres organisados, tem-se-lhes dado, de conjuncto com os hydratos, os silicatos e os sulfuretos metallicos, a de- signação de colloides instáveis, em contraposição á de col-« loides estáveis applicada aos primeiros, classificação esta, que é, a nosso ver, errónea. Fosse-nos permittido, e, subtrahindo aos colloides orgâ- nicos, ou melhor, biologicos o caracter absoluto da estabili- dade, e sobretudo, não negando aos colloides metallicos a possibilidade de se tornarem estáveis mediante certos arti- fícios, chamaríamos aos primeiros de colloides naturaes e aos últimos de colloides artificiaes. Pondo á margem os colloides naturaes para lhes invocar o auxilio somente si no curso da nossa dissertação elle se fizer necessário ao esclarecimento de qualquer ponto, passa- remos ao estudo dos colloides metallicos que formam uma parte dos colloides artificiaes. Têm sido divididos, conforme o processo de sua prepa- ração, em colloides metallicos chimicos e colloides metallicos physicos, melhor denominados por Iscovesco de colloides electricos. Não pareça que, em se tratando de um mesmo metal, seja infundado classifical-o diversamente, segundo sua solução 7 colloidal tenha esta ou aquella origem. O processo de prepa- ração, por si só, imprime a um mesmo metal colloidal pro- fundas differenças de propriedades. E para fírmal-o desde já, ponhamos em destaque a dissemelhança quasi absoluta que vae entre o collargol’ prata colloidal chimica, e o electrargol, prata colloidal electrica, trasladando para a nossa these o seguinte quadro de G. Bardet e sobre o qual A. Robin faz importantes commentarios de que nos dispensamos. 1. Os collargoes encerram de 85 ° # ft a 90 °/0 de prata metallica. 2. A agua póde dissolver pelo menos 5 °/0 de collargol. 3. A solução de collargol póde ser aquecida impunemente e este- rilisada. 4. O collargol evaporado de suas soluções se redissolve e a nova so- lução tem as mesmas propriedades. 5. O acido nitrico precipita o collargol; o precipitado não contem nitrato. 6. O precipitado precedente se redissolve pelo ammoniaco e o col- largol regenerado póde ser rido. 7. O precipitado obtido por addição do nitrato argentico póde ser retomado e regenerar collargol pela acção do ammoniaco. 1. As soluções de Bredig contêm prata colloidal a 98 °/o pelo menos de metal. 2. A agua não póde dissolver pelo arco electrico sinão traços ín- fimos de metal. 3. A solução de Bredig perde todas as suas propriedades se é aquecida, mesmo a 75°. 4. A solução de Bredig deposita, por evaporação, prata que não póde se redissolver. 5. 0 acido nitrico transforma demoradamente a prata em nitrato. 6. O ammoniaco precipita um oxydo colloidal da solução tratada pelo acido nitrico. 7. O nitrato argentico preci- pita a prata, que não póde ser reto- mada nem redissolvida pelo am- moniaco. Apezar das conclusões contrarias de ChaSsevant e Pos- ternak, resulta das numerosas experiencias de Hanriot que o collargol não é a prata colloidal, mas « um sal solúvel al- calino do acido collargolico, bastante energico para deslocar o gaz carbonico.» Outros auctores consideram-n’o um estado allotropico da prata. 8 Seja como fôr, está provado que, entre a prata colloidal chiinica e a electrica, ha profundas differenças physico-chi- micas que por si sós bastariam para justificar a diversidade de sua acção physiologica, si, ainda sobre este terreno, im- portantes e demonstrativos estudos não tivessem sido feitos. Pensa G. Bardet que « o collargol e os diversos metaes que podem ser apresentados sob estados analogos, possuem propriedades especiaes « que podem fazer d’elles medica- mentos muito uteis, mas estas propriedades não os appro- ximam verdadeiramente » dos colloides electricos. Para A. Robin, até nas doses physiologicas estes corpos differem — «o collargol sendo empregado em doses relativa- mente massiças quando se o compara aos colloides electricos que agem energicamente a 30 millionesimos! » Conhecemos de sobejo as propriedades therapeuticas do collargol, para não lhe negarmos a preciosidade; é entretanto sensível a inferioridade do seu emprego em relação aos col- loides electricos, já no tocante á intensidade de acção, já no que se refere aos inconvenientes e ás difficuldades de sua administração. Referindo-se aos colloides chimicos, diz Iscovesco : — « Não ha duvida que estes corpos contêm, mesmo por causa das substancias utilisadas para sua preparação, uma serie de im- purezas que fazem com que seu emprego possa, em certos casos, dar logar a accidentes, e que se seja obrigado a não se servir d’elles sinão por meio do methodo das fricções cutaneas, methodo um pouco primitivo, ou do methodo intrasanguineo que, como diz Etienne, é sempre um pouco escabroso. Em- pregar em therapeutica no momento actual um colloide chi- mico, enquanto que se tem á disposição colloides electricos, é 9 alguma cousa de absolutamente analogo ao que se faria si se désse a um cardíaco uma chicarade café em logar de cafeina». Era preciso, antes de entrar no estudo dos metaes colloi- daes electricos, differencial-os embora que succintamente do collargol, afim de que, paginas adiante, não houvesse possibi- lidade de confusão, commum aliás em alguns médicos pouco curiosos. Mais interessantes do que essas, são as differenças consi- deráveis, quer scb o ponto de vista physico-chimico, quer sob o ponto de vista biologico, que um mesmo metal, obtido por um mesmo processo de preparação, pode apresentar, segundo as modificações de rapidez, de intensidade, etc., que se passam na reacção libertadora. E sob esse ponto de vista, são conhe- cidas as soluções colloidaes de pequenos grãos e as soluções colloidaes de grossos grãos. Do que ficou dito, já se deprehende que se reduzem a dous os methodos geraes de preparação dos colloides. Methodo chimico.—Foi estabelecido por Trillat, realisa-se por diversos processos e é applicavel não só á preparação dos saes metallicos, especialmente hydratos e sulfuretos, como á dos proprios metaes. Todos os seus processos baseam-se no seguinte principio: provocar em um meio como a agua, uma reacção extremamente lenta, libertando um corpo que se pre- cipitaria se ella fosse rapida. «Assim, por exemplo, si se faz passar violentamente uma corrente de hydrogenio sulfurado em uma solução de acido arsenioso, tem-se um precipitado immediato que cae no fundo do vaso. Si, ao contrario, a reacção é lenta, o gaz não chega á solução sinão bolha por bolha, póde-se obter que o sulfureto de arsénico em estado 10 nascente em logar de precipitar, fique em suspensão no li- quido sob fórma de sulfureto de arsénico colloidal. » Para obtermos por via chimica um metal colloidal, proce- deremos pela reducção: — o collargol é obtido pela reducção lenta de uma solução de nitrato de prata por uma mistura de sulfato de ferro e citrato de sodio concentrada. E’ facil com* prehender-se que o producto assim obtido contem impurezas, constituídas já pelos compostos que entraram na reacção, já pelos que nella se formaram e dos quaes é impossível ex- purgal-o. Methodo physíco. — Creado por Bredig, o methodo physico tem sido estudado por diversos scientistas, entre os quaes destacam-se Rochefort, Bournigault e principalmente G. Bardet. Ao contrario do primeiro, elle é applicavel unicamente aos metaes. Em uma memória lida perante a Société de Thérapeutique em 22 de Janeiro de 1907, G. Bardet descreve-o mais ou menos n’estes termos: — Em uma capsula de porcelana, no seio de uma pequena quantidade d’agua chimicamente pura, faz-se passar uma faisca electrica entre dous electrodos do metal cuja solubilisação se quer obter. Tendo-se o cuidado de manter a corrente relativamente fraca, vê-se a cada faisca formar-se uma pequena nuvem metallica que rapidamente desapparece na massa liquida. Esta vae-se corando pouco a pouco e de mais a mais se carregando. Os melhores resul- tados são obtidos com uma corrente de 3 ou 4 amperes sob 110 voltas e ainda com a condição de que o circuito não tenha uma capacidade electrostatica muito considerável, susceptivel 11 de modificar os caracteres da faisca electrica que deve ser pequena Si quizermos porem obter soluções colloidaes no álcool e no ether, como fez Svedberg, empregaremos as correntes de forte voltagem. Recommenda ainda G. Bardet a prévia esterilisação do material empregado na preparação dos metaes colloidaes e que as soluções, depois de promptas, passadas em filtro de papel delgado. E’ impossível carregar as soluções além de certo ponto, porque a nuvem metallica não mais se dissolve, os grãos que a constituem tornam-se centros attractivos e o metal se depo- sita total ou parcíaímente. (1) V. Henri e M.lle Cernovodeanu demonstraram que a actividade physiologica e therapeutica de um metal colloidal está sob a dependencia da grossura dos grãos da solução e que uma relação estreita se estabelece entre a grossura dos grãos e a coloração do producto. Tomando como exemplo uma so" lução de prata colloidal electrica, podemos observar que fazendo variar as circumstancias da preparação — intensidade da corrente, grandeza da faisca, comprimento e fórma doselec- trodos, temperatura, duração da operação, etc. — faremos ipso facto variar a grossura dos grãos e com ella a cor da so- lução. E assim, ter-se-a soluções de cores vermelho-escura, escura, escuro-esverdinhada, verde oliva, verde acinzentada, á proporção que augmentar o diâmetro dos grãos metallicos. Somente um estudo meticuloso, de par com uma pratica (1) Para abreviar, dá-se aos productos assim obtidos as denominações de electraryul, electrourol, electropalladiol, etc. segundo se refere á prata, ao ouro, ao palladio, etc. em solução colloidal electrica. 12 pertinaz, poderá conduzir o experimentalista a uma prepa- ração profícua, valendo-se sempre, como critério de notável importância, da cor das soluções. E só com uma fabricação rigorosamente scientifica elle poderá obter productos activos e idênticos em seus effeitos. Eis ahi o grande obstáculo que, nos primeiros annos, en- controu o emprego clinico dos metaes colloidaes, obstáculo que se tornava quasi insuperável ante a grande instabilidade inherente a tão preciosos agentes therapeuticos. As soluções puras de Bredig não supportam absolutamente a presença dos electrolytos, precipitam em pouco tempo ao simples con- tacto do vidro de uma ampoula esterílisada; á semelhança dos fermentos solúveis, ellas morrem a uma temperatura elevada. «A instabilidade fastidiosa que apresentavam estas solu- ções)) levou Netter a renunciar em 1906 o seu emprego. Era, pois, de urgente necessidade, promovera conservação d’esses productos por um tempo compatível com a sua facil applicação clinica. Como conseguil-o? V. Henri, depois de acurados estudos, chega á conclusão de que « certos colloides estáveis naturaes têm a propriedade de conferir ás soluções colloidaes de Bredig uma verdadeira immunidade contra os agentes precipitantes » e consegue estabilisal-aspelaaddcição á solução de uma minima quantidade de gomma esterílisada. Vencida entretanto a primeira difficuldade, uma outra se apresentava: A injecção hypodermica ou intramuscular das soluções colloidaes era muito dolorosa; sua introducção nas veias absolutamente impossível, em virtude de suas proprie- dades hemolysantes demonstradas por Iscovesco. Tornava-se indispensável remediaro inconveniente; imagi- nou-se a isotonisação das soluções. As soluções puras de 13 Bredig, precipitando em presença dos electrolytos, tornavam o problema de impossível solução, pois que a addicção de um electrolyto, chloreto de sodio, era necessária á isotonisação, A solução estabilisada entretanto, torna possível e até facil a isotonisação, que por sua vez conserva ao producto suas propriedades. Surgiu então A. Robin, secundado por G. Bardet, con- demnando a estabilisação que a seu modo de ver altera as vir- tudes da solução electrica inicial. Diz o Prof. Robin : «E’ necessário chamar particularmente a attenção dos médicos para a impossibilidade de utilisar com proveito na pratica so- luções chamadas estabilisadas ..,Depois de algumas outras considerações, conclue—« Na realidade, a addicção de um es~ tabilisante, a isotonisação e a esterilisação que têm por fim permittir a conservação e a mais facil administração das so- luções metallicas, não têm como consequência sinão diminuir ou extinguir sua actividade ». De outro lado Ascoli e Izar, baseados em experiencias feitas no homem, sustentam que «o emprego dos metaes col- loidaes electricos não estabilisadosé absolutamente inactivo». Fôa, em uma serie de trabalhos, chega ás mesmas conclusões. Iscovesco demonstra, em uma serie de experiencias, que «o serum sanguíneo precipita instantaneamente os metaes elec- tricos não estabilisados)) emquanto que não precipita, ou raramente no fim de 25 a 48 horas, os metaes estabilisados. Já no anno de 1902, Galeotti e Todde annunciavam que as soluções de Bredig « provocam nos animaes diminuição de peso e uma cachexia grave. » E, como si não bastassem estes factos de incontestável valor, para demonstrar o exag- gero e d’ahi o erro do velho e eminente mestre Robin, ahi 14 está a brilhante serie de experiencias e observações clinicas de Achard, Charrin, Mlle. Cernovodeanu, David, Etienne, Gompel, V. Henri, Gaillard, Joltrain, Laurens, Monnier- Vinard, Rosenthal, Stodel e tantos outros, feitas com as soluções estabilisadas e isotonicas. Enthusiasta das ideias que inspiraram a essa phalange de notáveis scientistas, trabalhos extraordinários que assignalam uma época na historia da medicina, estudaremos succinta- mente os metaes colloidaes electricos estabilisados e isoto- nicos, especialmente o electrargol. Não é que em nosso espirito se agasalhe a ideia de renegar a obra de Robin. A’ semelhança de alguns poucos auctores dos que citaremos no correr do seguinte capitulo, acatamos as opiniões que se contrafazem ; continuamos a acreditar na efficacia das soluções puras de Bredig, ao tempo em que procuramos, descrevendo as propriedades das soluções iso- tonicas, demonstrar com numerosos scientistas a perfeita integridade de seus effeitos physiologicos e therapeuticos. E tanto é assim, que, não raro, citaremos conjuncta e in- distinctamente A. Robin ou V. Henri, G. Bardet ou Isco- vesco. CAPITULO II Propriedades dos metaes colloidaes electricos I — Estudo physico-chimico as differenças intimas, estructuraes, que se- param uma solução verdadeira de uma solução colloidal metallica, vejamos como estas se podem caracterisar por suas propriedades physico-chimicas. a) Cada metal apresenta-se em solução colloidal com uma coloração própria, que, como já vimos, é variavel com a gros- sura e o numero dos grãos em suspensão. Restringindo estas considerações aos metaes colloidaes de pequenos grãos, únicos usados em therapeutica, observamos de uma maneira constante as seguintes cores: vermelho-escura—prata; cin- zenta— platina e palladio, sendo a primeira mais escura, violeta — ouro; etc., etc.. Seu aspecto porem varia segundo se as examina por trans- parência, e neste caso são límpidas, ou pela reflexão, e são opalescentes. Esta opalescencia tem aqui a mesma explicação que o muito conhecido phenomeno physico designado por phenomeno de Tyndall, quem primeiro b estudou. Examinados ainda que no campo dos mais potentes mi- croscópios, os metaes colloidaes se nos apresentam com a limpidez candida das soluções verdadeiras. Si, porem, fi- zermos o esclarecimento lateral da preparação com a luz 16 emanada de uma fonte poderosa e diffundida por um prisma de reflexão total, (é o que constitue o ultramicroscopio de Siedentopf e Zsygmondy) veremos atravez da gotta exami- nada myriadas de pontos luminescentes semeados em um campo negro. Os francezes têm muito bem comparado a preparação ao « céo estrellado », porque, difíundindo a luz que lhes vem do prisma, as finas partículas metallicas da ordem do millione- simo de millimetro, em suspensão, e animadas de movimentos brownianos, movimentos vibratórios de intensidade tanto maior quanto são minimas suas dimensões, refulgem, scin- tillam, como si fossem «estrellas em um céo negro.» E entre esta vida dos grãos metallicos (movimentos brow- nianos) e a actividade biologica da solução, G. Bardet estabeleceu uma correlação, affirmando que «o exame ao ultramicroscopio permitte seguir a vitalidade do fermento metallico ». b) Os grãos ultramicroscopicos de uma solução colloidal são carregados de electricidade, variando de signal e de quan- tidade de um colloide a outro. Ha colloides electro-positivos e colloides electro-negativos, e sua carga electrica goza pro- vavelmente de importante papel em muitos phenomenos biologicos. Os colloides que nos occupam são todos electro- negativos. As soluções metallicas estabilisadas, como as soluções puras de Bredig, oppõem forte resistência á passagem de uma corrente electrica, e esta resistência tem sido conside- rada igual á da agua distillada. Ainda sob o ponto de vista de suas propriedades electricas, ha differença perfeita entre um colloide e uma solução verda- 17 deira. Dos bellos e modernos estudos de Van de Arrhenius, deduz-se claramente uma classificação das so- luções verdadeiras, segundo permittem ou não a passagem impune de uma corrente electrica, em soluções electrolyticas e soluções anelectrolyticas. No primeiro caso, trata-se de uma substancia encerrando duas cargas electricas oppostas e permittindo a passagem da corrente, mediante a dissociação de suas moléculas em ions positivos e ions negativos que se deslocam em sentido contrario; no segundo caso, éa solução de uma substancia não gozando de propriedades electricas e por isso não permittindo a passagem da corrente. De modo inteiramente diverso passam-se as cousas com relação aos colloides. Elles encerram uma só carga electrica e, não permittindo a passagem da corrente ou pelo menos oppon iodhe forte resistência, deslocam-se em um sentido ou em outro, segundo o signal de sua carga. E assim, si em um tubo em U encerrando uma solução col- loidal metallica isotonica, fizermos passar uma corrente elec- trica, veremos um dos ramos se descorar enquanto o outro se tinge mais e mais, em virtude do transporte* dos grãos para este. Todo colloide tem pois, quando em estado puro, sua carga electrica determinada e unica, c) Das propriedades electricas dos colloides, dependem estrictamente suas propriedades chimicas, como demons- traram Lalou, A. Mayer, Hardy, entre outros, Os inetaes colloidaes podem soffrer chimicamente a acção de electrolytos, de anelectrolytos, de outros systemas col- loidaes. Os electrolytos, como já vimos, precipitam os colloides e o poder precipitante depende directamente do signal electríco 18 cTestes. Os colloides negativos são precipitados mais pode- rosamente pelos grupos básicos e os positivos pelos grupos ácidos dos saes. O poder precipitante de um sal augmenta, segundo Picton e Linder, parallelamente á valência do seu radical básico para o colloide negativo, á do radical acido para o colloide positivo. Si o electrolyto tiver uma carga de signal idêntico ao do colloide, não gozará de propriedades precipitantes. Este poder precipitante manifesta-se exclusivamente sobre as soluções puras de Bredig, os colloides estabilisados e iso- tonicos gozando de immunidade quasi absoluta contra a acção dos electrolytos. Os anelectrolytos, não gozando de propriedades elec- tricas, não tem acção sobre os metaes colloidaes. Segundo V. Henri, a addição da glycerina augmentaria até sua estabili- dade. Os systemas colloidaes têm sobre os colloides metallicos acções differentes, segundo o signal de sua carga electrica. Os colloides de jpignal electrico idêntico são entre si inactivos; e esta noção tem sido utilisada (V. Henri, Lalou, A. Mayer, etc.) quando se confere estabilidade aos metaes colloidaes pela mistura com um colloide estável natural de signal idên- tico. Os colloides de signal opposto actuarn diversamente segundo a proporção empregada, mas sempre formando com- plexos com propriedades novas. Em grandes proporções, ha formação de um precipitado, electricamente indifferente. Si porem um dos colloides entra em quantidade minima, não ha precipitação, mas diminuição de estabilidade, demons- trável pela juncção de um electrolyto, que precipitará a mis- 19 tura em quantidade muito inferior á necessária para precipitar os componentes separadamente. E’ a esta formação de complexos que se tem attribuido a acção intensa exercida pelos colloides sobre o organismo. « Quando se 'introduz no organismo um colloide qualquer, este ultimo forma complexos com os differentes colioides que constituem os líquidos orgânicos e o protoplasma cel- lular. Estes complexos terão propriedades novas que, segundo os casos, se manifestarão, seja por um augmento das oxyda- ções intraorganicas, seja por uma elevação das trocas nutri- tivas, seja por um exaggero das funcções de clefeza contra as toxinas, seja enfim por um augmento das secreções e da funcção de eliminação. » O estudo da acção reciproca dos colloides é de maxima importância para o biologista e para o medico, visto como os novos conhecimentos adquiridos no campo da observação por experimentalistas da mais alta nomeada, levam-nos a crer que são d’esta categoria todas as reacções que se passam no organismo. Iscovesco, tendo minuciosamente estudado as matérias proteicas e os humores do organismo sob o ponto de vista de seus constituintes colloidaes, os exsudatos normaes e pathologicos, as toxinas, as antitoxinas, as precipitinas, etc. e todo este conjuncto de acções a que se dá o nome de me- chanismo da imtnunidade, affirma que a solução de todos estes problemas « não póde vir sinão do estudo aprofundado da acção dos colloides sobre os colloides. » d) Uma das propriedades mais importantes dos metaes colloidaes é incontestavelmente sua acção catalytica, isto é, o poder de, por simples presença, sem tomar parte na reacção, 20 sem augmentar nem diminuir de peso, provocar profundas modificações na constituição dos corpos com os quaes entram em contacto (Ostwald). Esta propriedade, que lhes é commum com os pós de carvão, a esponja de platina, etc., não depende da especificidade de sua substancia, sinão do estado particular em que ellase acha. A intensidade de suas reacções mantem-se em uma relação desproporcionada com o peso de substancia em actividade, mas em relação directa com a sua extrema divisão, ou melhor com a grandeza em extensão de sua superficie livre. Para o Prof. Sabatier, « os metaes catalisadores intervêm nas reacções por suas superfícies: sua actividade chimica é pois proporcional á extensão d’estas. Sua acção util não po- derá se exercer sinão si estas superfícies são muito extensas em relação a sua massa. » Apresentando-se os metaes colloidaes em estado de tão grande divisão que as suas soluções encerram dous milhares de milhões de grânulos por miilimetro cubico e sendo a su- perficie de contacto total de seus grânulos calculada em 600 metros quadrados por centímetro cubico, é natural que em torno d’esses se dê uma condensação muito maior do que com os catalysadores até então conhecidos e por consequên- cia gozem de propriedades catalyticas muito mais consi- deráveis. Estas propriedades são para A Robin. funcção da energia potencial de suas partículas infinitamente finas, animadas de movimentos vibratórios muito intensos, hypothese idêntica á emittida por com relação as diastases, que elle con- sidera (c em um estado vibratório capaz de communicar ás substancias em contacto um abalo apto a pol-as em estado 21 de actividade chimica. » Também estas reacções são absolu- tamente comparáveis ás dos fermentos, dos venenos e das toxinas. Estudando physiologicamente os metaes colloidaes, A. Robin diz que elles são infinitamente divididos em suas soluções, seus átomos são de alguma sorte libertados, auto- nomos em sua actividade e suceptiveis de desenvolver toda a sua energia, e compara essa extrema divisão ao estado da matéria contida nos tubos de Crookes. « Não é o ouro, a prata, etc., que agem, é a matéria no estado colloidal ou radiante, ab- solutamente como na ampôlla radioscopica pouco importa que o gaz contido seja o ar rarefeito, o oxygenio ou o hydro- genio ». O poder catalytico de um metal colloidal varia na razão inversa da grossura dos grãos metallicos e constitue o critério absoluto para se aquilatar do seu estado physico-chimico. Para determinal-o, ou melhor medil-o, avalia-se a acção decomponente que as soluções colloidaes exercem sobre a agua oxygenada, o que equivale á medida da intensidade de sua acção oxydo-reductora. Utilisando-se a agua oxygenada concentrada e perfeita- mente pura, mede-se a velocidade de sua decomposição e exprime-se o poder catalytico dos metaes colloidaes por um numero que representa a proporção d’agua oxygenada, ava- liada em centésimos, decomposta pelo colloide em um mi- nuto, á temperatura de 37? Em condições idênticas de concentração e de grossura de grãos, entretanto, a observação tem demonstrado que, the- rapeuticamente, o colloide mais activo não é o de maior poder catalytico. Colloides de poder catalytico inteiramente diverso podem gozarda mesma actividade therapeutica, sendo 22 empregados na mesma dose. Entretanto, de duas preparações colloidaes, tendo uma seu poder catalytico máximo normal e a outra um poder mais fraco que o normal, podemos af- firmar que a primeira é mais activa do que a segunda, mesmo no caso que, em valor absoluto, seu poder catalytico seja inferior ao d’esta ultima. Expliquemo nos:—-A prata em pequenos grãos tem como poder catalytico máximo normal 25, enquanto que o poder catalytico normal é de 250 para o palladio em pequenos grãos. Segue-se pois, que si consideramos uma solução col- loidal de prata com poder catalytico 25, esta solução é tão activa quanto a de palladio de poder catalytico 250 e muito mais activa que a de palladio de poder catalytico 125. O poder catalytico depende, em ultima analyse, da gros- sura dos grãos e como tal serve de contra prova da actividade das soluções. II—Estudo bacíerioiogico A acção bactericida do electrargol tem sido demonstrada por múltiplas experiencias, umas in vitro sobre culturas, outros in vivo sobre animaes inoculados. Charrin, Monnier-Vinard e V. Henri estudaram a acção da prata colloidal electrica sobre o bacillo pyocyanico, sob o triplice ponto de vista de sua actividade reproductora, da mobilidade de sua funcção chromogena e de sua morphologia. Cultivando-o sobre gelose e addi.cionando quantidades mí- nimas de electrargol de pequenos e grossos grãos, notaram em primeiro logar, que a solução de grossos grãos é quasi inactiva. Com a solução de pequenos grãos, elles verificaram que os tubos de cultura addicionados na proporção de 1/50.000 fi- 23 caram absolutamente estereis. Reduzindo em dous tubos a quantidade de prata a 1/100.000, um dos tubos ficou também esteril enquanto que o outro apresentou uma pequena colonia desprovida de pigmento. Sob a influencia do electrargol o bacillo tende a se alongar, apparecem alguns elementos en- curvados c( e sobretudo nos tubos contendo 1/100.000 encon- tra-se essas formas esphericas, maís volumosas que um estaphylococco » e que elles consideram com Guignard « uma das formas de involução do bacillo pyocyanico ». Chirié e Monnier-Vinard estudaram a acção do elec- trargol em pequenos grãos sobre o pneumococco in vitro e in vivo. Tubos contendo 10 c. c. de caldo, semeados com igual quantidade de cultura de pneumococcos (IV gottas), foram addicionados gradativamente de II até XXX gottas de prata colloidal: — até X gottas houve vegetação, menos abundante todavia que nos tubos testemunhas, tendo porem os pneumo- coccos perdido a propriedade de guardar o Gram; a partir de XII gottas (1/80.000 de prata) os ficaram absolu- tamente estereis. In vivo, experimentaram sobre o camondongo e o rato branco. Com o camondongo observaram que quando a viru- lência do germem matava o animal testemunha em 30 ou 40 horas, os animaes que recebiam a dose diaria de 2 c. c. de electrargol isotonico sobreviviam definitivamente. Quando porem os animaes testemunhas morriam em 16 a 18 horas, os animaes tratados pelo electrargol também morriam, sobrevivendo 20 a 40 horas aos primeiros. Com os ratos, observaram resultados analogos : enquanto que o animal testemunha morria em 6 dias com uma peritonite de falsas membranas e pneumococcos em grande abundancia em todos 24 os orgãos, animaes inoculados com a mesma quantidade da mesma cultura, mas tratados por injecções de electrargol, be- neficiavam de uma cura completa. Mlle. Cernovodeanu e V. Henri estudaram a acção de todos os metaes colloidaes conhecidos, fazendo resaltar a im- portância do modo de preparação e da grossura dos grãos do colloide. Dos seus estudos in vitro e in vivo sobre a Bac- tetidia carbunculosa, Bacillo de Eberth, Colibacillo, Phleola, Sta- phylococcos dourado e branco e Bacillo dcc dysenteria. de Flexner, tiraram as seguintes conclusões: D A pv ata colloidal de grãos finos exerce* sobre os microbios uma acção muito mais forte que a de grossos grãos. A proporção de 1/50.000 de prata de finos grãos, que impede o desenvol- vimento do bacillo do carbúnculo, não é bastante para pro- duzir o mesmo effeito com a de grossos grãos. 2'c} A acção sobre os microbios é devida d prata no estado col- loidal e não d prata dissolvida. Filtrando a solução colloidal em sacos de colfodio, elles notaram que o filtrato é inactivo. 3* As differentes especies microbianas são muito desigualmente sensíveis d prata colloidal O colibacillo é o menos sensível; a proporção de 1/50.000 de prata de finos grãos produz ligeira diminuição da cultura. A bacteridia carbunculosa e o staphy- lococco vêm em seguida; naquella porporção ha apenas desenvolvimento de colonias isoladas. Emfim o b. de Eberth, a Phleola e o Flexner são muito mais sensíveis; não ha absolutamente desenvolvimento áquella proporção. Os auctores chamam attenção para este caracter differen- cial entre o bacillo de Eberth e o colibacillo. A despeito dos insuccessos de alguns auctores, é inconteste 25 o poder bactericida considerável de que gozam os metaes colloidaes, especialmente o electrargol. « Les différences ob- servées dans 1’intensité des propriétés bactericides de cet argent colloidal suivant les modalités de la préparation sont peut-être de nature à nous éclairer sur les discordances des résultats obtenus par les cliniciens qai ont utilisé ce produit en 1’empruntant à des sources multiples, correspondant elles- ínêmes vraisemblableinent à des préparations quelque peu distinctes. Les recherches que nos poursuivons sur 1’animal sont faites pour confirmer cette façon de voir... Ces expé- riences nous permettent de dire que les résultats trèsencoura- geants que nous avons obtenus sont dus au colloide à petits grains ; le produit àgros grains, à beaucoup près, ne semble pas aussi efficace ». (1) Este corpo, diz o prof. Charrin referindo-se ao electrargol de pequenos grãos, é infinitamente mais nocivo para as bactérias que os saes de mercúrio. Reputados muito an- tisepticos in vitro, estes saes têm uma actividade anti-micro- biana vários milhares de vezes mais fraca. Isto posto, restava demonstrar que os metaes colloidaes não eram perigosos ao organismo infectado e que o velho aphorismo «qui vise le mícrobe abat le pacient» não lhes era applicavel. — E’ o que vamos ver. III—Estudo Physiologico Depois dos relevantes estudos de V. Henri, Gompel,, MUe. Cernovodeanu, Iscovesco e outros muitos sobre a acção physiologica dos metaes colloidaes, é que elles foram sendo mais livremente iniciados em therapeutica. (1) Charrin, V. Henri e Monnier-Vinard — Société de Biologie, Tome LXI, pag. 120. 26 Os metaes colloidaes electricos, introduzidos no organismo, são absolutamente inoffensivos. Provaram-n’o V. Henri e Gompel com relação ao electrargol, por meio de injecções subcutânea, intramuscular, intravenosa, intrapleural, intrape- ritoneal e intrabuccal, praticadas em cobayos, coelhos e cães, chegando ás seguintes conclusões: lf Os cobayos supportam sem perturbação alguma, du- rante dous mezes, a dóse diaria de 1 a 2 c. c. de electrargol, assim como a injecção intraperitoaeal de 5 c. c. durante oito dias consecutivos. 2? A injecção intravenosa diaria de 10 c. c. de electrargol em um coelho pode ser feita, inoffensivamente, oito a dez dias consecutivos. 3* Injectando-se todos os dias muito fortes doses de elec- trargol em coelhos, os animaes começam a emmagrecer de- pois de certo tempo e este emmagrecimento está em relação com a dóse e a via da injecção. Eis o quadro em que elles dão a differença de peso de quatro coelhos que recebiam diariamente a injecção de 50 c. c. da solução isotonica de electrargol. MODO XDE 32 A S© IDS OUTUBRO DA INJECÇÀO 12 13 15 16 17 18 19 20 22 23 24 26 Intraperitoneal 2500 2445 2290 2430 inj. 2215 2140 2100 1940 1905 1825 1820 Intrabuccal ... 2385 2400 2320 2435 inj. 2465 2510 2470 2460 2535 2525 2503 Sub-cutanea... Intravenosa e a 2075 2045 1940 2055 inj. 1760 1715 norte ~ I partir do 4.o | dia, intrapleu- ral 2740 2700 inj. 2760 2565 2460 2490 2500 2420 2302 1 27 Tratando-se de coelhos de cerca de 2000 grammas, com- prehende-se que era enorme a dóse empregada, visto como no fim de dez dias tinham elles recebido 500 c. c. de elec- trargol. Podemos pois concluir pela absoluta inocuidade dos metaes colloidaes em pequenos grãos. Quaes as transformações por que passam no organismo e como são eliminados? Estudando suas propriedades chimicas, vimos que os me- taes colloidaes agem em virtude de seu estado especial, imprimem todas as modificações de que são capazes, sem to- marem parte nas reacções; não sofirem consequentemente transformações no organismo. Absorvidos pelas diversas vias referidas, elles se eliminam em substancia pela urina, pela bilis, etc.. E’ ainda a V. Henri e Gompel que se deve estes conhe- cimentos. Utilisandoo methodo espectrographico de Urbain, capaz de demonstrar a presença da prata na proporção do millionesimo do peso da substancia estudada, elles exami- naram o sangue, os humores e os tecidos do organismo. Eis o resultado de uma de suas experiencias: Injecção, na veia saphena de um cão de 22 kilogrammas, de 40 c. c. de elec- trargol isotonico contendo 0,§r-25 de prata por litro ; — ti raram na artéria femoral 5 c. c. de sangue, 2 minutos, 1 hora, 3 horas e 20 horas depois da injecção, observando em todas as provas os raios de prata nos quatro espectros correspon- dentes. Pesquizas analogas demonstraram-lhes que a prata atravessa a parede intestinal sendo absorvida por ingestão, e que passa em grande quantidade na bilis, na urina, no sueco pancreatico e nunca no liquido cephalo-rachidiano. Esta ultima circumstancia deve ficar consignada, pois que 28 varias tentativas de tratamento das meningites sépticas foram frustradas, em virtude da utilisação das vias intramuscular, intravenosa, etc. Somente depois que Widal, Ramond, Esbach, Joltrain, etc., empregaram as injecções intrarachi- dianas, os effeitos puderam ser observados. Acção dos metaes colloidaes sobre as trocas geraes. — A. Robin e G. Bardet, de suas experiencias, firmaram que depois da injecção das soluções puras de Bredig, o exame clinico da urina permitte observar o seguinte: — augmento dos resíduos total, orgânico e inorgânico, da acidez real e apparente, do acido phosphorico ligado aos alcalis, formação de uma grande quantidade de productos indoxylicos e sobretudo um aug- mento do acido urico, da uréa, do azoto total e do coefficiente de utilisação azotada. Charrin, estudando a acção do electrargol em solução iso- tonica, notou a descarga de acido urico, o augmento da uréa e do coefficiente de utilisação azotada, attingindo seu máximo de 24 a 72 horas depois da injecção. Ascoli e Izard fizeram as mesmas pesquizas com as solu- ções de Bredig estabilisadas com gelatina esterilisada. Ti- veram o cuidado de manter um modo de vida igual para as pessoas em experiencia e pol-as em equilíbrio azotado rigo- roso, por meio de uma alimentação mixta, que lhes permitisse conhecer exactamente a quantidade de azoto total ingerida. Chegaram á conclusão de que a injecção subcutânea ou intravenosa de 3 a 7 milligrammas de prata ou de platina colloidal estabilisada augmenta consideravelmente a excreção azotada, principalmente o acido urico, os ácidos diaminados e as bases da purina e a uréa. A eliminação do acido phos- 29 phorico não é influenciada. Verificaram ainda mais que as so- luções sendo aquecidas em um autoclave a 120° perdem suas propriedades physiologicas, e que as injecções de prata colloidal não estabilisadas não têm arção sobre as trocas nu- tritivas. # Acçao dos metaes colioidaes sobre o sangue e os orgaos hemato* poieticos. — Os metaes colioidaes imprimem nos elementos figurados do sangue e nos orgãos heinatopoieticos modifica- ções, que foram estudadas por Achard e Weill sobre coelhos. O exame do sangue de 4 coelhos de 2.100 grammas. injec- tados nas veias, de 10 c. c. de prata colloidal isotonica e sacrificados nos terceiro, quinto, septimo e decimo dias, elles resumem no seguinte quadro: Coelho de 2\ 100; injecção intravenosa de 10 c. c. de prata colloidal; variação da curva hemo-leucocYtaria ÉPOCA DOS EXAMES Hemacias Globulos brancos Polynu - cleares Mononu- cleares Macro- irhayos Eosino- philos 'Antes da injecção 4.950.000 5.200 48,5 48 3 0,5 Uma hora depois 4.950.000 3.000 51 43 5 1 dia .... 4.450.000 10.200 76 25 9 0 Quinto dia 3.080.000 8.800 73,5 21,5 5 0 Sétimo dia 3.690.000 14.400 54 5 1 0 Decimo dia 3.300.000 10 800 38 40,5 19,5 2 Vê-se que a injecção de electrargol provoca immediata- mente uma leucopenia, depois uma leucocytose polynuclear que dura cerca de cinco dias, sendo substituída por uma mononucleose secundaria com eosinophilia. A. Robin com E. Weill já tinham demonstrado com 30 exames feitos no sangue de dois doentes, um de rheumatismo articular agudo e outro de carcinoma do estomago, antes da injecção de metaes colloidaes, immediatamente depois e re- petidos vários dias, que « a injecção é seguida de uma leuco- lyse que começa no fim de 1 a 2 horas, prolongando-se por um tempo variavel e só excepcionalmente persistindo depois de 24 horas. Ligeira em um indivíduo são, cujo numero de globulos brancos é normal, a leucolyse é muitas vezes intensa nas affecções que se acompanham de leucocytose. A esta leu- colyse succede, seja uma leucocytose secundaria, seja a volta ao estado de equilíbrio anterior. A destruição leucocytaria faz-se sobretudo ás custas dospolynuclearesneutrophilos eac- cessoriamente ás custas dos lymphocytos; entretanto os grandes mononucleares e os macrophagos apparecem em abundancia. Secundariamente os polynucleares voltam á normal e nesta occasião não é raro vêr-se produzir ou aug- mentar a eosinophilia ». Como se vê, são semelhantes as modificações leucocytarias observadas no homem por A. Robin e E. Weill e as obser- vadas no animal por este ultimo e Achard. Outro tanto não acontece com relação ás hemacias que nas experiencias de Achard diminuem consideravelmente, enquanto que nas de Robin não parecem soffrer grandes modificações, o que se poderá talvez levar em conta das differenças nas doses empregadas. Achard e Weill não encontraram, pela autopsia dos coelhos em experiencia, modificações macroscópicas dos or- gãos hematopoieticos, a não ser no começo uma hyperemia da medulla ossea. O exame microscopico demonstra reac- ções funccicnaes sem lesões propriamente ditas. 31 Para Iscovesco, as modificações leucocytarias « consistiriam em uma polynucleose mais ou menos durável (3, 4, 5 dias); ella seria então substituída por uma mononucleose secundaria com eosinophilia. » Os orgãos apresentariam « as reacções funccionaes caracteristicas de um processo phagocytario exagerado. » Raoul de Laire confirma as observações de Robin e, es- tudando a leucolyse sob o ponto de vista do prognostico, pensa que «o facto de vêr-se o numero dos leucocytos baixar progressivamente muito tempo depois das injecções, em logar de se reelevar, parece de um máo prognostico e indica uma falta de reacção no organismo. » Poder-se-ha estabelecer uma relação de cuasa a etfeito entre estas modificações do sangue pela acção dos metaes colloidaes e a descarga de acido urico, acima consignada? Baseado nos estudos de Horbaczewsky para quem o acido urico é derivado das nucleinas libertadas e decompostas no organismo depois da destruição dos leucocytos, e nos de FrvEnkel que viu em dois casos de leucemia aguda em que uma infecção produziu uma brusca leucolyse, o acido urico se elevar a 3 e a 8§r-,72 apezar da dieta lactea, Robin pensa que a relação entre a leucolyse e a formação de acido urico é evidente. Entretanto « não está provado que o acido urico não possa provir de outra fonte », pois que, outros agentes medicamentosos são capazes de determinar a leu- colyse sem agir sobre a quantidade de acido urico eliminado, e os proprios metaes colloidaes, empregados nos cancerosos determinam a leucolyse, sem que por isso haja augmento» parallelo na eliminação de acido urico. Para conciliar estes factos, apparentemente contradicto- 32 rios, formulou Robin a seguinte hypothese: — «Os leucocytos são, como se sabe, vectores dos fermentos orgânicos solú- veis, e estes fermentos, libertados pela leucolyse, manifestam sua acção sobre o organismo, agindo como hydratantes e oxydo-reductores e são os encaminhadores dos actos que chegam á formação da uréa e do acido urico. » Si nos can- cerosos a leucolyse não é geradora de acido urico, é porque n’elles os leucocytos são, como provaram Clerc e Bour- nigault, pobres em diastases. Do conhecimento de tão interessante effeito dos metaes colloidaes sobre as modificações hemoleucocytarias, depre- hende-se facilmente a influencia de que devem gozar estes novos agentes therapeuticos, sobre as reacções de defeza do organismo contra as infecções e as reacções da ifnmunidade. Acção dos metaes colloidaes sobre a respiração e a circulação — Para Robin, os metaes colloidaes diminuem o consumo do oxygenio total, sem diminuir e ás vezes até activando a pro- ducção do acido carbonico: — ha elevação do coefficiente respiratório. Comparando estes effeitos aos observados sobre as trocas geraes, elle conclue que os metaes colloidaes «augmentam os actos de hydrataçâo oxydo-reductora», agindo de um modo inteiramente analogo ás diastases. V. Henri não notou modificação nas trocas respiratórias. Com Gompel, Monnier-Vinard, Achard, Weill, elle de- monstrou que «a injecção intravenosa de forte dóse (150 a 200 c. c.) de electrargol em um. cão não produz effeito sen- sível, nem sobre a respiração, nem sobre a frequência dos batimentos do coração. A tensão do sangue é um pouco aug- 33 mentada durante os 10 a 20 minutos que se seguem á in- jecção.» Entretanto para Robin, a tensão sanguínea soffre uma elevação de um a dous centímetros, que persiste ainda no dia seguinte á injecção. Acçao dos mataes colloidass sobre a temperatura e o pulso. — A injecção de 5 c. c. de um metal colloidal não provoca, se- gundo Robin, elevação sensível da temperatura, nos indiví- duos sãos, ou nos doentes apyreticos; repetida entretanto vários dias seguidos, provoca elevação de alguns décimos de gráo. Outro tanto se não dá com os febricitantes. As curvas da temperatura caracterisam-se por « uma ligeira elevação thermica de 0o,2 a 0o,3 nos indivíduos sãos, de 0o,3 a 2o,3 nos febricitantes, com um máximo da terceira á sétima hora, e seguida de uma defervescencia. » Étienne, em uma serie de nove observações entre pneu- monias e bronchopneumonias senis e tuberculoses, verificou, á excepção de uma typhobacillose, em todos os demais casos, um abaixamento considerável da temperatura após as injec- ções das soluções isotonicas. Gompel e V. Henri, experimentando sobre coelhos com a prata isotonica, verificaram uma elevação thermica attingindo o máximo 2 horas depois da injecção, para voltar á normal. Estes resultados conciliam-se com os obtidos em clinica. Foa e Aggazzotti comparam os resultados obtidos com as soluções de finos, médios e grossos grãos: «A injecção in- travenosa de prata colloidal de médios e grossos grãos, produz em um cão augmento de temperatura e albuminúria. A prata colloidal de finos grãos, injectada por pequenas clóses 34 (20 c. c. para um cão de 6 kilogr.) provoca uma elevação thermica de 1 gráo, mas não dá albuminúria. » Em resumo, a maioria dos auctores ( Charrin, Weill, Is- covesco, Achard, etc.) admitte que a injecção dos metaes colloidaes isotonicos determina, no indivíduo são, uma ele- vação da temperatura, elevação insignificante que se produz uma hora ou duas depois da injecção, para voltar logo á normal. Nos febricitantes, depois de uma ligeira reacção de alguns décimos a 1 gráo, ha uma descida gradual, ás vezes brusca, da temperatura e uma volta rapida á normal. O pulso segue a marcha da temperatura e diminue paral- lelamente a ella. IV—Estudo therapeutico Pouco tempo depois de ter Pasteur sentenciado que oc toda fermentação é essencialmente correlativa de um acto vital », os actos chimicos da vida animal foram identificados com as fermentações e as cellulas vivas dos organismos superiores assemelhadas aos fermentos figurados. Os phenomenos da assimillação e da desassimillação marcham, segundo Robin, parallelamente aos actos chimicos diastasicos «tanto no estado normal como no estado morbido, onde elles soffrem desvios cujo sentido ainda mal se percebe e que são corre- lativos ora com a defeza organica, ora com as próprias acções pathogenas. » Estes actos biologicos, segundo A. Gautier, são o resul- tado do funccionamento das moléculas que servem para cons- truir os protoplasmas cellulares, das transformações que n’ellas se operam, <t estão em relação com a constituição chi- mica dos princípios immediatos dos protoplasmas, ou são pro- 35 duzidos por agentes n’elles engendrados, mas podendo manifestar sua actividade fóra da cellula.» Estes agentes são os fermentos solúveis ou diastases. Comprehende-se pois, a importância adquirida por estas diastases no estudo dos actos biologicos, e como o conheci- mento minucioso de algumas d’ellas, especialmente das oxydases e redudases, consideradas por Abelous e Aloy iden- tificadas em um fermento unico oxydo-redudor, tenha trazido um tão vasto contingente de ideias applicaveisá therapeutica funccional. Quem, como nós, acompanhar pari-passu os estudos de Robin, ha de forçosamente chegar com elle á conclusão, de que existe completa analogia entre as acções physiologicas dos fermentos diastasicos orgânicos e as dos metaes colloidaes, analogia que lhe fez dar a estes últimos o nome de fermentos metallicos. De outra parte, quem conhecer as experiencias de Biza relativas aos seruns anti-diphtericoe anthstreptococcico e souber que «as injecções d’estes seruns produzem geral- mente uma queda rapida dos leucocytos, seguida, depois de um tempo variavel, de uma hyperleucocytose »; quem co- nhecer os trabalhos de R. Blondel sobre oserum anti-diphte- rico, o serum normal do cavallo e o lacto-serum e souber que «injectados nas doses de 10 a 20 c. c. elles provocam, do lado das urinas, o syndroma tão caracteristico» de «formação abundante de indoxyl, augmento da uréa, descarga de acido urico, albuminúria mínima, passageira e irregular»; verá ainda n’estes phenomenos a sua identidade de acção com os metaes colloidaes, e presumirá, com Robin, que o modo de acção dos seruns dependa principalmente da presença de corpos com poderes hydratantes e oxydo-reductores. 36 Vem de alguns annos o conhecimento, devido a A. Gau tier, de que o ferro existe em quasi todos os tecidos da eco- nomia, o cobre existe normalmentê no figado, o sangue encerra traços de manganez, etc. Somente agora entretanto, depois dos estudos de G. Bertrand sobre uma das oxydases melhor conhecidas, a laccase, demonstrando experimental- mente que ella deve o seu poder oxydante ao manganez, ele- mento constituinte de suas moléculas, tem-se percebido a influencia que estes metaes, mesmo em dóses infinitesimaes, podem exercer sobre as reacções assimilladoras e desassi- milíadoras. Esta intuição levou Robin a affirmar que « a presença, em quantidade infinitamente fraca, de um metal no estado physico particular, chamado até o presente estado colloidal, parece necessária ao cumprimento de certos actos fermentativos, talvez mesmo de todos os actos fermentativos ligados ao estado de vida» e a formular a hypothese, que elle deseja provada, de que todos os fermentos oxydo-reduc- tores tenham um metal como centro de sua constituição activa. Entretanto, diz elle, « cingindo-se somente ao facto da semelhança de acção, cuja demonstração me parece absoluta, pode-se concluir ousadamente que os seruns therapeuticos agem sobretudo pelas diastases hydratantes e oxydo-reduc- toras que encerram, e que, sendo estas diastases estricta- mente equivalentes aos fermentos metallicos, haveria grande interesse em seguir sobre o terreno pathologico as pesquizas, com o fim de provar também sua equivalência therapeutica. » <c Quando a paridade dos effeitos physiologicos com a acção therapeutica dos seruns, das diastases organicas hydratantes e oxydo-reductoras e dos fermentos metallicos fôr demons- trada de uma maneira definitiva, o campo das hypotheses 37 sobre a constituição dos seruns se estreitará e se poderá per- guntar, com alguma segurança, si os effeitos d!estes não estão em relação com a quantidade das diastases hydratantes e oxydo-reductoras que elles encerram, si os processos por meio dos quaesse os fabrica não têm precisamente por effeito estimular no organismo dos anima.es a producção d’estas dias- tases defensivas, si a immunisação não reconhece sua pre- sença como uma de suas condições, si, por consequência, estes seruns therapeuticos não poderiam ser substituídos e a própria immunisação realísada pelos fermentos rnetallicos. » Realmente, «si as diastases hydratantes e oxydo-reduc- toras se desenvolvem abundantemente em um organismo infectado mas resistente, e si esta elevação precede ou acom- panha as grandes descargas precriticas,... o papei do medico não teria outra importância, procurando o meio de estimular, no caso de infecção em um não resistente, a sua formação e a sua actividade, ou mesmo injectar no sangue ou nos tecidos diastases preparadas de ante-mão, cuja potência seja expe- rimentalmente conhecida?» Nada mais racional. Vae mais longe Robin e formula hypotheses relativas « á opotherapiae á defezaorganica contra as intoxicações.» De- pois das descobertas de Abelous de diastases oxydo-reduc- toras nos diversos orgãos, pensa o eminente professor que nos assiste o direito de suppôr que estas sejam o motivo, ou pelo menos um dos motivos da actividade therapeutíca da organo- therapia. E assim sendo, « os fermentos rnetallicos não pode- riam supprir as diastases organicas e substituir ao emprego dos orgãos ou de seus extractos, tantas vezes inefficazes por causa da variabilidade de seu conteúdo em diastases, pro- ductos de uma actividade rigorosamente dosavel?» 38 Relativamente ás intoxicações pelos venenos mineraes e sobretudo vegetaes, diz elle: Nada ha de mais mysterioso ainda que o costume aos venenos. Como explicar, sinão por puras theorias, que indivíduos possam chegar pouco a pouco a tolerar até 2gr. de chlorhydrato de morphina por dia, quando sua dóse toxica ordinaria oscilla de 0,&r-10 a 0,8'r-20? Formulemos uma hypothese que vale pelo menos as actu- almente em voga. E’ geralmente admittido que a morphina é mais ou menos oxydada no organismo, transformando-se em productos de toxidez nulla ou menor. Os modernos conhe- cimentos sobre as oxydações permittem-nos suppor que as que se exercem sobre a morphina estejam sob a dependencia das diastases hydratantes e oxydo-reductoras. A introdução da morphina, suscitaria no organismo uma reacção de defeza, geradora de diastases, e quando a faculdade de produzir diastases hydratantes e oxydo-reductoras não soffresseum es- timulo parallelo á porção de morphina introduzida, a intoxi- cação se manifestaria. E cita como prova a seguinte experien- cia, que diz ter dado resultado na metade dos casos: — Faz se em um indivíduo, nunca tendo feito uso de opiáceos, uma injecção sub-cutanea de 0&r 01 de chlorhydrato de morphina e o indivíduo dorme. Dias depois renova-se a experiencia, injectando ao mesmo tempo 10 c. c. de uma solução de ouro ou de manganez colloidal e o somno não se produz, como si a oxydo-reductase metallica tivesse superposto sua activi- dade á das diastases do organismo para transformar mais rapidamente o alcaloide. Enfim, diz elle, para fechar esta longa serie de hypotheses que me parecem ser a verdade de amanhã, não é interessante sonhar em unificar, de um lado, todas as acções toxicas, 39 sejam ellas de ordem microbiana, organica ou chimica, e do outro lado, os modos reaccionaes de defeza que o organismo lhes oppõe — as toxinas provocando todas verdadeiras se- creções internas de diastases hydratantes e oxydo-reductoras que-as neutralisam, oxydando-as; a actividade de defeza affectando uma estreita relação com a faculdade do organismo em produzir diastases e podendo ser estimulada, ou mesmo substituída, em uma certa medida, pelo emprego therapeuíico de oxydo-reductases naturaes ou artificiaes, diastases vege- taes ou animaes, seruns therapeuticos, fermentos metallicos? De todos estes modernos conhecimentos que vimos revis- tando, como um apanhado indispensável á perfeita intel- ligencia do capitulo seguinte, resalta clara e evidente, sal- vante o terreno hypothetico, a grande indicação dos metaes colloidaes nas moléstias infecciosas, alem das suas applica- ções ainda não justificadas plenamente nas moléstias da nu- trição. E como não pretendemos deter-nos na reproducção minuciosa de observações alheias que possuímos ás cen- tenas, ainda que interessantíssimas e tomadas por scientistas de mérito e nomeada, daremos d’ellas ligeira resenha, como complemento ás noções expendidas. Eil-a: Pneumonia. — 0 emprego dos metaes colloidaes nas pneumonias, broncho-pneumonias e pleuro-pneumonias é justificado pelas observações de Étienne, Clauzel, Paillard, Ca vadias, Bouvat e Robin. 0 primeiro obteve optimos resultados em 5 casos de pneumonias e broncho-pneumonias senis. O ultimo apresenta uma estatística de 95 casos de pneumonia, todos doentes de hospital, em más condições de constituição, alcoolatas em sua maioria, dos quaes 47 casos muito graves. Dos 95, curaram-se 82 e mor- reram 13, seja 13,08 % de mortalidade. Dos 13 mortos, 2 entraram mori- 40 bundos o os demais só começaram o tratamento depois do 5.°, 6.°, 7.°, e até 10.o dia de moléstia. Faz uma estatistica comparativa: — de 1899 a 1903 entraram nos hospitaes de Paris 14.024 pneumonicos, tendo morrido 4.348, seja 29,G %. A porcentagem arinual de mortalidade mais elevada foi a de 1901 com 36,2 o/o, a mais fraca foi a de 1903 com 23,6 °/0. A sua estatistica, que póde ter o valor de uma media, attesta a superioridade do methodo. Variola.— Roger curou 2 casos graves de variola hemorrhagica, um dos quaes complicado de broncho-pneumonia, com as injecções de elec- trargol; Garrieu, com o mesmo colloide curou um menino não vaccinado Anginas.—Roger, em um caso de angina diphtericaulcero-gangrenosa e Robin,em um de angina diphterica, obtiveram com o electrargol resul- tados idênticos aos do serum antidiphterico; este curou ainda 3 anginas pseudo-membranosas estreptococcicas e rheumatismaes. Iscovesco curou um caso de angina estreptococcica grave com 20 c. c. de electro-palladiol, em 48 horas. % Erysipela. — Garrieu curou um caso complicado de myocardite e nephrite, com o palladio, o Du. Bousquet um caso grave em um alcoolata, com a prata. Iscovesco, com 2 injecções de 5 e 10 c. c. de palladio, fez ce- derem os phenomenos graves em uma da face que curou em oito dias sem outra medicação. Robin curou 2 erysipelas da face com o trata- inento associado. Grippe.—Dr. Magniol curou 2 casos graves com o electrargol. Tsco- vesco depois de 15 casos graves curados pelo electrargol, affirma que um tal tratamento premune contra a asthenia e as complicações tão communs nesta moléstia. Robin obteve resultados magníficos em 3 casos de grippe e em uma sinusite post-grippal. Infecção puerperaí. — Prof. Vallois, Auboyer, Chirié e David ob- tiveram a cura regular de 4 doentes de febres e septicemia puerperaes. Robin, Dr. Banzet e Blondel obtiveram com a prata colloidal a cura de 4 septicemias puerperaes graves. Meningites. — Com o emprego dos metaes colloidaes em 32 casos de meningite tuberculosa, A. Robin, Auboyer, Gaussade e Joltrain não conseguiram uma só cura. Notaram entretanto os tres últimos uma tal ou qual esterilisação do liquido ccphalo-rachidiano e a modificação da fórma cytologica — transformação da lymphocytose anterior em uma polynu- cleose — após as injecções, polynucleose que nas meningites agudas não tuberculosas activa a reacção do organismo contra o microbio e favorece a cura. EfTectivamente Robin em 2 meningites agudas simples, uma pneu- mococcica e uma traumatica, Auboyer em uma aguda simples e Paul 41 Laurens em uma meningite séptica generalisada de origem otica, obti- veram resultados magníficos com as injecções intrarachidianas de elec- trargol. Tuberculose. —Étienne diz ter obtido, em 3 casos, modificação favo- rável da temperatura e melhora do estado geral; em um outro caso de tu- berculose senil, fôrma super-aguda, typo pyretico, enxertada em uma fôrma chronica, typo ulceroso, em um diabético, obteve apenas modificação de temperatura, vindo o doente a fallecer no sexto dia de tratamento. Isco- vesco diz que na tuberculose o insuccesso dos metaes colloidoes é com- pleto. Robin empregou-os em diversas fôrmas de tuberculose sem resultado; entretanto curou uma congestão pulmonar em um tuberculoso do l.° gráo e em 6 casos de pneumonias e broncho-pneumonias sobrevindas em tuber- culosos, obteve 3 curas. Rheumatismo articular agudo.—Iscovesco e Cavadias apre- sentam 3 observações interessantes de cura rapida pelo electrargol. IIobin tratou 67 doentes, dos quaes 25 casos simples, 29 complicados de cardio- pathias e 13 diversamente complicados. Apezar de em sua estatística contar 36 casos gravemente complicados, só registra uma morte em um doente com endo-pericardite ínfecciosa, dupla pleurisia, dupla congestão pulmonar, 25 movimentos respiratórios e cuja autopsia revelou mais uma endocardite vegetante mitral e sigmoidéa e uma pleurisia interlobar supurada. Dos seus minuciosos estudos elle conclue que os metaes colloidaes têm acção benefica não só sobre a febre e os phenomenos dolorosos, mas ainda sobre as complicações cardíacas; que o seu emprego associado ao salicylato em dóses moderadas reduz sensivelmente a duração da moléstia e que elles podem ser applicados localmente nos casos de synovite tendinosa e de pseudo-rheumatismo infeccioso. Escarlatina.—Iscovesco, Blondel e Robin têm obtido successo com o electrargol, nos casos de escarlatina, e este ultimo curou um caso, com- plicado de otite dupla purulenta. Febre typhoide. — Roger e Chevrel tiveram tres insuccessos; Car- íueu e o Dr. Loques citam 3 observações interessantes de cura rapida; Iscovesco reune 2 observações em adultos e Gaillard 5 outras em cre- anças de 10 a 14 annos em que as injecções de electrargol com a balneo- therapia têm sido de resultados esplendidos: o emprego dos metaes colloidaes concurrentemente com os banhos, diminue muito a duração da moléstia e impede os accidentes. De 10 doentes tratados por A. Robin, houve uma morte por pleuro-pneu- monia. Pensa Robin que os metaes colloidaes só devem ser empregados 42 no começo da deffervescencia para diminuir sua duração e ajudar a con- valescença. O Dr. Rocheblave curou umaperitonite typhica generalisada, com a prata e o ouro colloidaes em alta dóse. Abcessos cio seio.—Chi ri É e David iniciaram o seu tratamento sem incisão, pela puncção aspiradora e injecção de electrargol, obtendo curas •coin excellente resultado sob o ponto de vista plástico. D’elles possuímos 4 observações interessantes. Seguindo suas pegadas, Lorier tratou «un certain nombre d’abcès du sein» e chegou á convicção da superioridade do methodo de Chirié sobre o antigo. Apparelho gemío-urinario.— IIamonic tendo tratado pelo elec- trargol 17 nephrites tuberculosas, 7 pyelo-nephrites ascendentes, 15 cystites blenorrbagicas e 29 uretrites profundas, empregando para o rim injecções subcutâneas ou intravenosas e para a bexiga e urethra applicações locaes, nada mais obteve que uma certa tonificação geral com pequenas melhoras no local da infecção e attribue a que o electrargol não se tenha posto em contacto intimo com os tecidos pathologicos. Curou ao contrario 7 epidi- dvmites blenorrbagicas, 5 tuberculoses epididymares, 2 tuberculoses epi- didymo-testiculares e 3 tuberculoses prostaticas com injecções locaes de electrargol. R. Blondel curou uma salpingo-ovarite dupla. Syphilis. — Charpentier e Guilloz dizem que o mercúrio colloidal electrico é activo em fracas dóse.s no tratamento da syphilis. Ga-lup e Stodel curaram com as injecções intravenosas de mercúrio colloidal elec- trico um doente de syphilide ulcerosa do punho, que havia resistido a todas as preparações mercuriaes. Diante da efflcacia do tratamento em dóses minimas, elles pensam que nos casos de syphilis maligna se deverá experimentar dóses macissas. Glaisse e Joltrain curaram unia meningite aguda syphilitica com as in- jecções intrarachidianas. A. Claude e J. Lhermitte tendo tratado 5 doentes de syphilis cerebro-espinhal, em que o tratamento clássico tinha se manifes- tado impotente, pelas injecções intra-arachnoidianas de mercúrio colloidal obtiveram uma cura e duas melhoras consideráveis; nenhum resultado nos dois outros doentes. As injecções determinaram phenomenos de reacção meningéa passageira, acompanhando-se de polynucleose e algumas vezes de eosinophilia. Otologia. — Massier empregou o electrargol com resultados admirá- veis em 2 mastoidites supuradas e 3 otorrhéas chronicas. Pensa o illustre Otolarvngologista de Nice que « o electrargol crea em therapeutica auri- cular um logar preponderante ao lado dos outros remedios empregados 43 até hoje.» Robin pensa que a cura de uma otite purulenta por elle obser- vada pode justificar o emprego dos metaes colloidaes nas supurações agudas da orelha media. Impaludismo. — Robin, em 2 casos de paludismo chronico, o pri- meiro com hepato-splenomegalia e o segundo com icterícia urobilinurica e hepato-splenomegalia, tendo resistido ao tratamento quinico, obteve a cura em pouco tempo com injecções de 10 c. c. de electrargol de 2 em 2 dias. Diversas.—Vennes apresenta uma observação interessante de um phenomeno infeccioso grave sobrevindo em uma ectasia da aorta e cuiado pelo electrargol; Soubeyran curou uma infecção grave consecutiva a uma hysterectomia vaginal; Malaquin em uma infecção posterior a um trau- matismo grave, obteve com o electrargol a cura em um estado desespe- rado; Rosenthal e Brissaud em uma septicemia de tetragenos com localisação cardíaca, conseguiram a cura com o electrargol, substituindo o collargol primitivamente empregado; etc., etc . Com relação ás moléstias da nutrição, Iscovesco, baseado na acção in- conteste de que gozam os metaes colloidaes sobre as trocas intraorganicas, empregou a prata e o ouro em 3 casos de rheumatismo articular defor- mante, não obtendo o resultado que esperava. Em 2 casos de diabetes en- tretanto, os resultados foram animadores. O primeiro era uma doente, diabética antiga que tinha conseguido descer de 395 gr. de assucar em 5 litros a 269 gr. em 4 litros, estacionaria desde alguns mezes graças a um regimem apropriado; fazendo cessar todo o regimem e injectando elec- trargol, o assucar desceu a 150 gr. por dia e o peso da doente subiu. Em um outro caso, com um regimem attenuado, o assucar desceu de 120 gr. a 30 gr. por dia. Robin cita um caso em que com um regimem normal e injecções de electropalladiol e electroplatinol elle fez baixar o assucar cíe Q5,s?r-34 a l,?>-76 e instituindo um regimem de diabéticos o assucar desappa- receu. Conhecidas summariamente as indicações dos metaes col- loidaes electricos, vejamos em que occasião se deve admi- nistral-os, por quanto tempo, por que vias e finalmente em que dóses. a) Triboulet distingue em toda moléstia infecciosa uma phase não therapeutica, succedida pela cura, ou por uma phase bastarda, quando a crise leucocytaria aborta e as in- fecções secundarias se produzem. Não se deve empregar os 44 metaes colloidaes, nem muito cedo, antes que se esboce a crise leucocytaria, nem muito tarde, quando o organismo ex- gottado não póde mais reagir. b) Em virtude de sua inocuidade absoluta, os metaes colloidaes podem ser empregados durante muito tempo e até em grandes dóses. Si certas infecções curam com poucas applicações, outras reincidem com a suspensão do trata- mento, exigindo dóses elevadas e muito tempo repetidas. E sob este ponto de vista algumas das observações acima citadas são interessantes. c) A via hypodermica e principalmente a intramuscular são o methodo de escolha. As injecções, sobre cujos cuidados e techniea não insistiremos, não são absolutamente dolorosas, o liquido se absorve rapidamente sem deixar endurecimento. A dóse inicial deve ser de 5 a 10 c. c., dose que será aug- mentada ou mantida conforme a reacção que determinar; não ha entretanto inconveniente em injectar 20 e 30 c. c. por dia se fôr necessário, e o Dr. Rociíeblave, em um caso de peritonite typhica, necessitou, para obter a cura, em desespero de causa, injectar 50 c. c. de electraurol em menos de 24 horas em um doente que desde 25 dias recebia quo- tidianamente pelo menos 10 c. c. de electrargol. A via intravenosa tem sido preconisada por diversos auc- tores como mais activa, nos casos mais graves. Aqui, alem dos cuidados de techniea, as dóses devem ser menores. Entretanto Iscovesco pensa que este deve ser um methodo de excepção, em nada superior ás injecções hypodermicas e intramusculares. A via intrarachidiana, é indicada exclusivamente nos casos de meningites sépticas agudas. A techniea é a mesma da. 45 puncção lombar, por meio da qual se retira uma quantidade do liquido cephalo-rachidiano igual á da solução a injectar, que não deve exceder de 5 c. c. por injecção. Os auctores assignalam depois desta injecção uma reacção que consiste em cephaléa e tremores de pouca duração, que também foram observados por Gaillard depois de injecções intrave- nosas e que não devem perturbar o clinico. A acção local dos metaes colloidaes é demonstrada por Caussade e Joltfain em relação á pleurisia purulenta e por Chirié e David quanto aos abcessos do seio. Elles injectam entre os folhetos da pleura supurada, ou na cavidade do abcesso, uma quantidade variavel da solução colloidal após a puncção aspiradora. Em cirurgia já se vão introduzindo o penso e as lavagens com o electrargol. Finalmente as injecções intersticiaes na próstata, no epi- didymo ou no testículo, exigem uma brandura especial em virtude da delicadeza dos tecidos e devem ser pouco abum dantes. EXPLICAÇÃO MECESSARIA 0 facto de pretendermos, os doutorandos de i 908, antecipar a nossa formatura para a commemoração do l.° centenário do ensino medico, teve também sua influencia funesta sobre esta these. Julgando não concluir os meus trabalhos práticos a tempo de serem impressos para aquella época, caso nos fosse dada a concessão requerida, mandei á impressão esses dois primeiros capítulos, que ficariam cons- tituindo minha these, com outro titulo e ligada ci outra secção do nosso curso. Quando os escrevi, adoptei a praxe da generalidade dos trabalhos congeneres, quanto aos seus andores, por modéstia uns, por vaidade outros, pluralisarem as expressões, empregando nós onde de- viam dizer eu. Até ahi, nada de extranhar. Quando porem, afastada aquella hypothese, tive que escrever o capitulo que se segue, senti imperiosa a necessidade de proceder diversamente, em virtude de circumstancias que acompanharam as experiencias, afim de que não fossem envolvidas nas ideias emittidas pessoas outras que se relacionaram com os factos e cujos nomes vão citados, cada um na parte que lhe toca. Não proceder assim, seria trazer confusão em alguns pontos; cor- rigir os primeiros capítulos, impossível, por já se acharem impressos: Resultado infallivel—a irregularidade que permaneceu da insubor- dinação de linguagem entre capítulos de uma mesma obra, falta que o leitor não levará a conta de erro ou de inconsciência. CAPITULO III O electrargol em Ophtalmologia d||- therapeutica ocular, no que se refere ao tratamento das diversas infecções ophtalmicas, aufere inestimáveis bene- fícios da medicação argentica. A prata é a base até hoje inegualada do tratamento de todas as infecções locaes do apparelho visual: desde o clássico nitrato, de tradições glo- riosas, até as brilhantes conquistas modernas da argentamioa, do protargol, do argyrol, etc., e as mais recentes do collargol de que já nos falam os tratadistas, o seu valor vem se mani- festando incontestável. Confrontadas com os lastimáveis inconvenientes do primeiro, as vantagens gradativamente crescentes de cada um de seus modernos succedaneos são um incitamento a novas experi- ências, certamente promissoras de um aperfeiçoamento de mais a mais completo. Sob taes impressões, as preciosas propriedades que o elec- trargol vinha manifestando nas mãos hábeis de scientistas consummados, despertaram-me a ideia de experimental-o em ophtalmologia. O conhecimento de suas propriedades bactericidas tão bri- lhantemente estudadas por V. Henri, Charrin, Mlle. Cer- novodeanu, os effeitos prodigiosos de suas applicações locaes evidenciados por Chirié e David na cura dos abcessos do seio, pelo Dr. Massier em relação á pratica otologica e por Caussade e Joltrain no tratamento das pleurisias supuradas, 48 faziarn-me esperar do electrargol, effeitos sinão superiores, pelo menos iguaes aos obtidos com todos os antisepticos e adstringentes até então empregados em therapeutica ocular. E que não me enganei, dizem claramente os resultados obtidos nas observações que se seguem. O producto que empreguei foi o que se prepara nos La- boratórios Clin de Paris e por mim importado em ampôllas injectaveis, em frascos para uso cirúrgico e sobretudo em ampôllas conta-gottas para collyrios. (1) A technica das injecções que pratiquei em um caso, das applicações de pensos, bem como das de collyrio, em nada se differencia da commum. Apenas quando applicava o collyrio, tinha o cuidado de manter tanto quanto me fosse possível o doente em uma po- sição que permittisse a insinuação do medicamento nos cul- de-sacs da conjunctiva, sua manutenção ahi por um ou dois minutos, afim de que mais efficazes se manifestassem as suas t virtudes curadoras. E isso é tanto mais permittido, quanto a instillação do col- lyrio não desperta o minimo incommodo, Observação I.— A. A. parda, de 3 annos, d’este Estado, apresentou-se no dia 11 de Maio ao Hospital S.ta Izabel, serviço ambulatório da Clinica Oplitalmologica do Dr. Santos Pereira (registro clinico n. 292). Sofíria do olho direito:—tinha uma ligeira blepharoptose; as conjunctivas ocular e palpehral hyperemiadas apresentavam bolhas de uma secreção muco-pu- rulenta que também existiam na superfície da cornea, um tanto turva em (1) Em seus Annales des Laboratoires Clin, bem como nos prospectos que acompanham as caixas, os fabricantes nada dizem sobre a preparação das suas soluções, deixando-nos crer que seguem o processo descripto em o Capitulo I, processo Instituído por Bredig e brilhantemente continuado por Bardet, V. Henri e outros illustres scientistas. 49 sua transparência. 0 exame geral revelou claramente estygmas de heredo- syphilis que se exteriorisavam na classica triade de Hutchinson. Diagnostico — Kerato-conjunctivite phlyctenular heredo-syphilitica. Instituiu-se um tratamento geral iodurado, associado aooleode figado de bacalháo. Localmente, eram feitas desinfecções quotidianas com a solução bórica a 4°/0, applicações de pomada de precipitado amarello e um appa- relho contentivo. Foi seguido este tratamento durante 9 dias, sendo entretanto ligeiras as melhoras notadas, que não se manifestaram sobre os sígnaes subjectivos. Substitui-o no dia 21, fazendo a primeira applicaçâo de collyrio de elec- trargol. No dia 22 informou-me a mãe da doentinha que esta não se queixara das dores anteriores. Novas applicações foram feitas diariamente e os phenomenos inflammatorios foram cedendo gradativamente, até desap- parecerem por completo as phlyctenas que pontilhavam o epithelio con- junctivo-corneano. No dia 31 tinham desapparecido todos os phenomenos inflammatorios e a doentinha estava curada, ficando porem, como residuo, um pequeno leucoma. Com o fim de remedial-o, voltei a applicar no dia 2 de Junho a pomada de precipitado amarello e tive que assistir o reappa- recimento dos phenomenos inflammatorios, dolorosos e supurativo. Ins- tituido novamente, no dia 8, o tratamento pelo electrargol, melhoras im mediatas se manifestaram e a doentinha poude ter alta no dialõ, levando apenas como residuo de sua keratite, uma pequena macula no limbo corneano. A notar: a cura relativamente rapida, determinada pelo electrargol; a volta dos symptomas primitivos após a appli- cação da classica pomada amarella; a cura após a nova substituição do tratamento; e sobretudo a calma apresentada pela doentinha logo no começo das applicações de electrargol, calma tanto mais significativa, quanto é notoria a inquietude d’estes pequenos seres, ao menor incommodo. Observação II. — M. N. S, branca, de 20 annos, casada, d’este Es- tado, entrou no dia 13 de Maio para o serviço da clínica de olhos do Dr. Ribeiro dos Santos, recolhendo-se á enfermaria S.ta Maria, leito n. 6. Softria ha quatro annos de dor d'olhos: havia estreitamento da fenda pebral em ambos os olhos, trichiasis e entropion; intensa congestão das 50 conjunctivas, granulações e supuração. Os symptomas subjectivos tinham n’esta doente grande intensidade. Caso typico de conjunctivite trachomatosa. — Durante os 7 primeiros dias foram feitas desinfecções com solução boricada a 4°/0, instillações de collyrio de ezerina e cauterisações com nitrato de prata, sendo ligeiras as melhoras apresentadas. A. doente queixava-se de dores intensas que se exa- cerbavam após as cauterisações e que lhe impediam de manter os olhos abertos (blepharospasmo). Substitui no dia 22 o nitrato de prata pelo collyrio de electrargol, fa- zendo a primeira applicação pela manhã. Voltei á tarde, obtive da doente informação de que se sentia muito bem e fiz nova applicação. No dia 23 a doente elogia os effeitos do medicamento, que foi continuado em applicações diarias. Cede a irritação e com ella o blepharospasmo, a supuração desapparece e as conjunctivas voltam gradativamente á normal. No dia 26, como a doente se me queixasse de arranhões no olho esquerdo, do lado do angulo externo, extrahi alguns cilios da palpebra superior des- viados. Tal foi a accentuação da melhora obtida que no dia 27, sétimo dia de tratamento, a doente julga-se curada e deseja sahir. Convencida do contrario, permanece em tratamento e no dia 3 de Junho tinham desapparecido todos os demais plienomenos, persistindo apenas o en- tropion e a trichiasis, com pequenas granulações que pouco a pouco se re- duziram. Apezar de curada da infecção, continuei o tratamento, esperando que fosse feita a operação de entropion para a cura radical até o dia 25, quando exgottou-se minha provisão de electrargol. Feita posteriormente a operação de entropion pelo Dr. R. dos Saltos, a cura foi completa. A notar: além da cura progressiva, o desapparecimento quasi immediato das dores que entretinham o blepharos- pasmo. Observação III — M. A. E. S., parda, de 29 annos, solteira, costureira, do Rio Grande do Norte, entrou no dia 10 de Abril para o Hospital S.u Izabel, enfermaria S.ta Maria, leito n. 1, serviço de clinica de olhos do Dr. Ribeiro dos Santos. Esta doente, que soífrera uma operação de canthoplastia em virtude de estreitamento da fenda palpebral, que fõra tratada pelo nitrato de prata e pelo argyrol até 21 de Maio, tinha, na occasião que a examinei, 51 oplitalmia purulenta grave em ambos os olhos, com perfuração da cornea € hérnia da iris; abolição da visão; secreção abundante e blepharospasmo; enxertado isto em um estado geral máo. Iniciado o tratamento pelo elec- trargol no dia 22, as melhoras foram promptas e no dia 31 a doente prepa- rava-se para a operação da iridectomia. Em virtude das péssimas condições hygienicas da enfermaria, tive que presenciar uma primeira reinfecção, no dia l.° de Junho. Debellada esta e suspenso o tratamento, uma segunda sobreveio no dia 18 e como estivesse a exgottar-se minha provisão de elec- trargol, a doente voltou ao primitivo tratamento e deixei de observal-a. A notar: a melhoria rapida apresentada pela doente, que poude logo aos primeiros dias do tratamento manter descer- radas suas palpebras e começou a perceber a claridade do dia. A falta de exito completo n’esta observação não pode ser levada em conta de inefficacia da medicação, mas exclusiva- mente da ausência absoluta dos mais rudimentares preceitos de hygiene de que são victimas as doentes de olhos inter- nadas na enfermaria S.ta Maria, em promiscuidade com doentes de moléstias outras infectuosas e graves. Observação. I-V—P., pardo, de 11 dias, nascido na enfermaria S.ta Izabel onde se acha recolhido, é levado no dia 23 de Maio á Clinica Ophtal- mologica do Dr. Santos Pereira (registro clinico n. 300). Tem as palpebras grandemente entumecidas e cerradas; abertas difficilmente, deixam ver as conjunctivas espessas e congestas atravez de um denso véo purulento. Diagnostico—Ophtalmia purulenta dos recemnascidos. Informou-me a mãe da creança que ha dias fazia lavagens com a solução boricada a 4 °/Q e apezar disso era abundante a supuração. Depois de lavar cuidadosamente os olhos da creança, instillei em cada olho uma gotta do collyrio de electrargol, o que novamente fiz á tarde. Dia 24 — apezar dehnelhoradas a inílammaçãoe a supuração, as palpebras mantêm-se cerradas; novas applicações pela manhã e á tarde. Dia 25 — a supuração é diminuta, as palpebras entreabrem-se e as con- junctívas mostram-se menos congestas; uma applicação pela manhã. 52 Dia 26—insignificante secreção mucosa, olhos escancarados, conjunctivas normaes; uma applicação pela manhã. Dia 21 — curado; ainda uma applicação e dá-se-lhe alta. A absoluta inocuidade do electrargo], ao lado de suas pro- priedades antisepticas e resolutivas, lhe conferirá talvez, dentro em breve, a primazia no tratamento das ophtalmias dos recem-nascidos. Observação V — L. estudante de medicina, soffre de uma ble- norrhagia aguda e no dia 24 de Maio sente-se incommodado do olho esquerdo.- Sente ardor, lacrimejamento e immediatamente faz lavagens com a solução bórica que lhe dão certo allivio. No dia 25 porém, ao amanhecer, uma secreção expessa agglutina-lhe os cilios, não podendo com facilidade abrir o olho, pelo que procurou-me no Gabinete de Clinica Ophtalmologica do Dr. Santos Pereira. Apresentava congestão das conjunctivas do olho es- querdo mais pronunciada na palpebral, uma ligeira orla muco-purulenta e uma pequena pustula na conjunctiva palpebral inferior. Diagnostico — Conjunctivite blenorrhagica. Fiz uma lavagem com a solução boricada e instillei no olho duas gottas do collyrio de electrargol. Dia 26—informa-me o collega de que nada sentira a não ser, pela manhã, uma pequena secreção catarrhal; as conjunc- tivas estão menos congestasea pustula menos acuminacia; nova applicação. Dia 21— desappareceram todos os svmptomas subjectivos; dosobjeetivos, apenas a pustula permanece mais reduzida; terceira applicação. Dia 28—julgando-se curado não voltou, sendo preciso que eu o procu- rasse; a pustulasinha tinha sido substituída por um ponto rubro. Fiz uma quarta e ultima applicação. Observação VI—P. J. S. pardo, de 42 annos, casado, da Bahia, apre- senta-se no dia 26 de Maio ao serviço externo da Clinica Ophtalmologica do Dr. Santos Pereira (registro clinico n. 302). Em consequência da irri- tação produzida por um corpo extranho, sente ha 11 dias arder-lhe o olho direito e não póde fitar a luz; accusa a existência de uma secreção, especial- mente ao levantar-se, e de uma nuvem. O exame objectivo revelou apenas congestão das conjunctivas, mais pronunciada na palpebral, um pouco es- pessa ; pouca secreção; cornea intacta. Diagnostico — Conjunctivite catarrhal. 53 Fiz umalavagen com a solução boricada einstillei duas gottas de collyrio de electrargol. Dia 27 — o doente informa-me de que tinha passado muito bem; as conjunctivas estão menos congestas; nova applicação. Dia 28 — a melhora é considerável; terceira applicação e o doente não volta á consulta, provavelmente por se sentir curado. Observação VII — F. S., pardo, de 2G annos, solteiro, ganhador, d’este Estado, apresenta-se no dia 27 de Maio ao serviço externo da Clinica Optalmologica do Dr. Santos Pereira (registro clinico n. 304.) Em consequência de queimadura pela polvora, apresenta uma ulceração superficial da cornea do olho esquerdo; as conjunctivas congestas e infil- tradas apresentam-se cobertas de uma secreção muco-purulenta; ha dor e photophobia. Fiz uma lavagem com a solução bórica, instillei duas gottas de collyrio de electrargol e appliquei um apparelho contentivo com penso de electrargol. O mesmo tratamento foi repetido nos dias 28, 29 e 30 com o desapparecimento progressivo de todos os symptomas subjectivos e melhora considerável dos objectivos. O doente não voltou á consulta no dia 31, pro- vavelmente por se julgar curado. Observação VIII. — M. J. parda, de 30 annos, solteira, d’este Estado, recolheu-se á enfermaria Sl’Anna, leito n. 17 em 25 de Maio, ao serviço da Clinica Propedêutica do Dr. Alfredo Britto. SoíTria de impaludismo agudo, tinha blenorrhagia e em consequência d’esta uma conjunctivite blenorrhagica, pela qual foi em 27 de Maio man- dada ao serviço ambulatório da Clinica Ophtalmologica do Dr. Santos Pereira (registro clinico n. 305). Apresentava congestão das conjunctivas, supuração abundante e um começo de irritação da cornea; sentia dores e mantinha os olhos semi-cerrados. Fiz uma lavagem antiseptica boricada e instillei em cada olho duas gottas de collyrio de electrargol. Dia 28 — era sensível a melhora, que se accen- tuou mais e mais nos dias 29, 30 e 31 com a repetição diaria do tratamento. No dia l.° de Junho a doente estava perfeitamente curada e obteve alta do nosso serviço, continuando na Clinica Propedêutica. Nos casos simples é indubitável a utilidade do electrargol. Apezar do espaçamento das applicações (uma por dia) o êxito foi completo n’estes quatro doentes, dois dos quaes, o primeiro e a ultima de conjunctivite blenorrhagica, evi- 54 denciada no primeiro caso, pelo interrogatório e no ultimo pelo exame microscopico do pus. Neste principalmente, o desapparecimento progressivo da supuração e dos phenomenos infecciosos, deixa claramente perceber o poder bactericida de que goza in vivo o electrargol com relação áo gonococcus de Neisser, o que não sabemos estudado. A julgar pela intensidade de sua acção physiologica» éfacil suppôr-se que este poder bactericida seja superior ao de que gozam os ditferentes saes de prata, até aqui conhecidos. Não me foi dado completar, n este particular, minhas ex- periências in vitro, o que pretendo com tempo, levar a effeito. Observação IX.— M. M. N., preta, de 30 annos, solteira, cosinheira, d’este Estado, é recolhida ao Hospital S.ta Izabel, leito n. 9 da enfermaria S.u Maria no dia 23 de Maio, ao serviço da clinica de moléstias de olhos do Rr. Ribeiro nos Santos. Em consequência de blenorrhagia, fôra accom- mettida de dâr d'olhos ha tres mezes. Sente dores atrozes, não póde olhar a luz e pouco ou nada vê; ha supuração abundante ospecialmente no olho direito, conjunctivite intensa, infiltração das palpebras, ulceração das cor- neas e hérnia da iris direita. Diagnostico—Conjunctivite blenorrhagica gravemente complicada. < Fiz larga irrigação com a solução bórica e appliquei o collyrio de ele- ctrargol. No dia immediato, 29, a doente diz terem lhe diminuído as dores , Dias 30 e 31—vae-se dando a transformação da secreção de purulenta a muco-purulenta, as dores vão desapparecendo, com ellas a photophobia e a doente mostra-se satisfeita por já ver a claridade. Dais l.° de Junho, 2 e 3 — associa-se ao electrargol a ezerina no olho direito com o fim de reduzir a pequena hérnia da iris; as conjunctivas co- meçam a descongestionar-se e a secreção é francamente catarrhal. O tratamento é feito diariamente como nos casos precedentes. Desappa- recem gradativamente todos os symptomas subjectivos e objectivos; a doente começa a encarar os objectos e ver sua sombra desde o dia 5. Vencida por completo a infecção, restam dois leucomas que indicam a operação de iridectomia em ambos os olhos. Preparada a doente desde o dia 55 18, foram praticadas as operações no dia 23 pelo Ribeiro dos Santos e a nossa doente teve alta no dia 28, perfeitamente curada. O exame do pus foi n’esta doente negativo, o que não basta entretanto para afastar o diagnostico de blenorrhéa ocular, attendendo-se á existência primitiva da blenorrhagia urethral e a gravidade particular da infecção. Ainda nesta observação os resultados obtidos do trata- mento vêm corroborar a affirmativa que adiantei linhas atraz, sobre o poder antiseptico que o electrargol exerce in vivo sobre o gonococco. Observação X.—À. G. branco, 19 annos, bahiano e residente á compareceu no dia 30 de Maio á clinica de-olhosdo Dr. Ribeiro dos Santos no Hospital S.ta Izabel, serviço ambulatório. Na idade de 6 annos uma criada lhe transmittira uma conjuncti vite blenorrhagica, que de entào até esta data lhe vem intermittentemente, desapparecendo a custo, com o trata- mento apropriado, para voltar algum tempo depois. Actualmente exacerbaram-se os soífrimentos: sente dores intensissimas e photophobia; lia conjunctivite com supuração, ulceração das corneas com perda de substancia. Seu estado geral é máo; terreno francamente escro- fuloso. Fez-se no mesmo dia uma irrigação com a solução boricada a applicação do collyrio de electrargol, tratamento que foi repetido diariamente até a cura. Logo no dia immediato, 31, o doente informava que o alivio tinha sido considerável e já no dia 2 de Junho , quarto do tratamento, a supuração tinha cedido por completo, a luz era fitada impunemente e as conjunctivas descongestionavam-se, especialmente a do olho esquerdo. As melhoras vão se manifestando crescentes e no dia 16, o doente, cu- rado, guarda simplesmente vestígios da ulceração das corneas. Dá-se-lhe alta, recommendando o uso prolongado do oleo de fígado de bacalháo. Apezar d’este doente não comparecer todos os dias ao tratamento, é digna de notar se a rapidez com que cedeu a infecção. 56 Observação XI — M. A., branca, de 40 annos, casada, da Bahia e residente ao Largo do Carmo, doente da clinica particular do Dr. Ribeiro dos Santos. Ha seis mezes que se exacerbaram seus soffrimentos: sente dôres atrocíssimas, photophobia tão intensa que não lhe permitte siquer elevar a cabeça, em flexão permanente. Passa as noites sentada entre travesseiros e são tão grandes os seus soíírimentos que, de robusta que era, tornou-se uma mulher depauperada; a posição a que obrigam-n’a as dôres dos olhos já lhe imprimiu uma curvatura permanente da columna dorso-cervical — é quasi uma cyphotiea. Tem blepliarospasmo irresistível, supuração abundante e conjunctivite; a cornea direita acha-se coberta por uma crosta esbranquiçada e espessa, a esquerda largamente ulcerada dà passagem a uma volumosa hérnia do iris. A infecção tem resistido a todas as lavagens e a todos os collyrios indi- cados. Honrado com a confiança do Dr. Ribeiro dos Santos que ia observando os effeitos do electrargol por mim empregado com o seu consentimento nos doentes do hospital, fui apresentado á paciente no dia 28 de Maio. Fiz no dia 28 de Maio a primeira applicação do collyrio de electrargol. Tratando-se de uma doente de clinica civil, cercada de todos os cuidados da familia, recommendei a uma sua irmã que lhe servia de enfermeira e as applicações foram continuadas tres vezes no dia, indo eu diariamente á tarde visital-a. Logo aos primeiros dias de tratamento os symptomas subjectivos modificaram-se e jà no dia 3 de Junho a doente accusava um bem-estar animador e no dia 9, destruída em grande parte a crosta que cobria a cornea direita, informou-me muito satisfeita ter visto a sombra de sua mão, o que ha mezes lhe era impedido absolutamente. No dia 20 considerei-a em bom estado; restavam um leucoma na cor- nea do olho direito e um volumoso estaphyloma do olho esquerdo, com um resíduo de conjunctivite. A doente foi vista no dia 25 pelo Dr. Ribeiro dos Santos que a considerou curada da infecção, indicando uma iridectomia optica no o. d. e as puncturas galvano-causticas no o. esquerdo. Transferida dia a dia a iridectomia em virtude do estado nervoso da do- ente e continuadas as applicações de electrargol, a superfície da cornea foi se modificando, sua transparência foi se restabelecendo e no dia 8 de Julho a operação foi considerada dispensável. O olho esquerdo não foi possível salvar-se para a funeção; os estaphylomas rompiam-se e reproduziam-se successivamente apezar das applicações constantes de ezerina. 57 Curada de sua infecção tão grave, retirou-se a doente para aprazível bairro aonde procura reconstituir seu organismo debilitado. Si outras não tivéssemos, esta unica observação bastaria para attestar o valor do electrargol nas infecções do orgão visual. A susceptibilidade exagerada, a superexcitação nervosa d’esta doente tornavam os curativos muito difficeis. O uso constante de collyrios de cocaína, que no começo era seu allivio, já não lhe acalmava as dores. Difficilmente se conse- guia descerrar suas palpebras, e até ás vezes lhe parecia « preferível perder a vista, a passar pelo martyrio » da appli- cação de qualquer topico. E é neste caso que podemos considerar, como julgou o Dr. Ribeiro dos Santos, extraordinário o effeito do electrargol. A cessação progressiva das dores, o gozo de um somno de mais a mais reparador, o desapparecimento da e dos phenomenos infecciosos, e finalmente o evitar uma ope- ração julgada tão necessária quanto grave em virtude das condições individuaes á doente, foram o resultado da appli- cação pertinaz e racional do medicamento em questão. Observação XII—J. A. S. branco, 16 annos, caixeiro á Calçada, doente da clinica particular do Dr. Ribeiro dos Síntos. Pregando um caixão, .saltou o prego fazendo tunda erosão na cornea do olho esquerdo; houve infecção, propagada á camara anterior. Ulcera infeetuosci da cornea com hypopion eadherencia dairis. Fazia desinfecções com cyanureto de mer- cúrio e instillações de atropina. Nenlmma melhora. Confiado á minha guarda, no dia 31 de Maio substitui todo o tratamento, fazendo diariamente uma simples lavagem com a solução boricada, seguida da instillação de algumas gottas de collyrio de electrargol e de um penso de electrargol. Do 3.° dia em diante começou a diminuir o hypopion até que no dia 11 de Junho o seu limite coincidia com um leucoma central, corres- pondente ao ponto traumatisado. Na persuasão de que houvesse ainda 58 collecção purulenta central presa pela iris adherente, continuei o tratamento até o dia 20. Mandei no dia 21 o doente ao Dr. Ribeiro, que indicou a operação da iridectomia. Esta foi praticada no dia 30, verificando-se a com- pleta reabsorpção do pus, cuja existência era por mim ainda suspeitada. A notar: a reabsorpção de um hypopion considerável, que parecia indicar uma paracentese, pelas simples applicações de electrargol em um tempo relativamente curto; a cura re- gular de uma ulcera infectuosa da cornea. Os resultados obtidos Veste caso como no anterior le- varam o Dr. Ribeiro a confiar-me expontaneamente os doentes das observações XV e XVI, de sua clinica particular. Observação XIII — A. F. S. parda, 56annos, solteira, bahiana, entrou para o Hospital S.ta Izabel no dia 2 de Junho, occupando o leito n. 3 da enfermaria S.ta Maria, serviço de clinica ophtalmologica do Dr. Ribeiro dos Santos. No dia 4 de Junho soffreu a operação de catarata no olho direito, pas- sando hem a noite e todo o dia immediato. No dia 6 pela manhã queixa-se de dôres e o apparelho está manchado; retirado este, verífica-se a existência de uma grande infecção, já havendo chernosis, infiltração da palpehra supe- rior e no ponto correspondente á incisão grande reacção inflam matoria. feitas desinfecções com bichlorureto de mercúrio, fricções de pomada mercurial belladonada e applicação de um penso antiseptico, tratamento que era renovado duas vezes por dia. Os pbenomenos se aggravam e no dia 8 o globo ocular era transformado em um grande e horrendo tumor, coberto pela palpehra superior enormemente inílammada, avermelhada, distendida e luzente; impossível perceher-se a superfície da cornea; a doente queixa-se de dôres ardentes e diz ter sentido febre à noite. O Dr. Ribeiro suspeitou de uma infecção erysipelatosa e muito grave. O quadro clinico era melindroso e fazia-nos receiar uma propagação da infecção e uma meningite séptica mortal de origem optica. E foi n’estas circuinstancias que, devidamente auctorizado, substitui o tratamento. A começar do dia 8 fiz diariamente, auxiliado pelo meu digno collega Seixas Maia, distincto interno do Hospital, uma injecção subconjunctival de electrargol, applicações pela manhã e á tarde de pensos imhehidos da so- 59 lução de electrargol e como tratamento geral injecções intramusculares de electragrol. Resumo no quadro seguinte os resultados obtidos sobre os symptomas ge- raes desde o dia 8 até o dia 16, tomando como indice a curva tbermica: DATAS Tempe - r atura Tratamento T Tempe - rutura Tratamento 8 de Junho 37o,8 Inj. Ag 5 c. c. 39o 9 » » o OO co » » » » » 39o,5 Inj. Ag. o c. c. 10 » » 37°, 5 )) )) )) )) )) 38o,5 )) )) » » » 11 » 37°, 4 )) )> )) » )> 38o » » » » » 12 * )) 37°,2 Ag 10 c. c. 37 ,6 13 » » 37o » » » » 37o,4 14 » » 36°, 8 An- 5 e. e 37'>,1 15 » » 36o,8 37o,2 16 » 36o,9 Ag 5 c. c. 36o,9 (ultima) Assim o pulso como os movimentos respiratórios nada apresentaram de importante. Os phenomenos nervosos— cephalalgia, dores oculares, inquietude— a principio accentuados, cederam pouco a pouco, sendo de notar que, desde o começo do tratamento colloidal, as dôres oculares desappareceram quasi totalmente, em inteira desproporção com os'symplomas locaes. Estes resen- tem-se logo do tratamento e já no dia 11, terceiro, o grande tumor, que era o globo ocular exorbitante, começava a se retrahir e a palpebra superior já con- sentia um ligeiro escorregamento. E a doente, depois de um'tratamento intensivo até o dia 16, depois brando até o dia 30, saliiu completamente curada de sua gravíssima infecção, tendo porem abolida a vjsão no olho in- íéccionado, que se candidata á atropbia. A leitura attenta d’esta observação dispensa commen- tarios. Dous factos entretanto impressionaram-me: o des- apparecimento das dôres oculares e periorbitarias desde o segundo dia do tratamento colloidal e a insignificância da 60 supuração final, em desproporção com a intensidade dos- phenomenos inflammatorios. Este ultimo leva-me a crer que a indicação precoce de tal tratamento, teria sido talvez util á conservação da visão. Outras conclusões deve-se tirar d’ahi: a inocuidade das in- jecções subconjunctivaes de electrargol, injecções tão defen- didas por Darier com relação aos preparados mercuriaes; a indicação das injecções intramusculares de electrargol, todas as vezes que a infecção fôr de ordem a affectar o estado geral. Observação XIV—J. J. preto, deõannos, bahiano, compareceu no dia 3 de Julho ao Hospital, serviço ambulatório da clinica ophtalmologica do Dr. Santos Pereira (registro clinico n. 314). Keratite phlyctenular do olho esquerdo. Foram feitas applicações do collyrio de electrargol diariamente. Este doentinho não era levado com regularidade aos curativos, e depois de uma serie de melhoras e recahidas alternativas, que tinham como prin- cipal causa a inquietude da creança, provocando irritações, resolvi no dia 18 applicar, após o collyrio, um apparelho contentivo. Não o fizera antes, por motivo de experiencia. A cura foi prompta e o menino teve alta no dia 20. Os resultados obtidos n’este e na doente da observação I, parecem justificar o emprego do electrargol nas keratites su- perficiaes. A notar a tolerância do medicamento pelas creanças. Observação XV — M. R. preta, OOannos, solteira, baliiana, lavadeira, residente á Calçada, da clinica particular do Dr. Ribeiro dos Santos. Ulcera infectuosa da cornea, com hypopion, O. D. Foi-me confiada no dia 9 de Julho e submettida ao tratamento colloidal: collyrio e penso de electrargol com apparelho contentivo. A infecção cede, o hypopion se reabsorve e como me ouvisse falar no dia 25 em mandal-a ao Dr. Ribeiro para ser operada de iridectomia, não voltou ao tratamento. 61 Caso grave de infecção agudíssima, curada admiravelmente com as applicações de electrargol feitas duas vezes ao dia, sendo uma pela manhã ministrada por mim e outra á tarde pela própria doente, sobre cujas condições não posso ga- rantir. Observação XVI—J. G. branco, 60 annos, casado, alfaiate, vindo de Pojuca, residente á Rua do Passo, da clinica particular do Dr. Ribeiro dos Santos. Ulcera infectuosa da cornea, O. E., acompanhada de conjunctivíte 'pu- rulenta. Tratado pelo electrargol, curou-se perfeitamente da infecção em dezesseis dias. N’esse doente foi mister a applicação simultânea de um collyrio de atro- pina, em virtude do abaixamento da tensão intra-ocular. Este doente foi curado no domicilio, aonde eu ia diaria- mente visital-o; as applicações foram feitas duas vezes ao dia e os resultados foram os melhores. Evidente se mostra a utilidade therapeutica do electrargol em oculistica. Os resultados obtidos nas observações que acabo de commentar ligeiramente levam-me tanto mais a acredital-o, quanto de gravidade existia em alguns dos do- entes citados, especialmente nos das observações I, II, XI, XII, XIII, XV e XVI. Haverá vantagem do medicamento em questão sobre os demais compostos de prata, para não falar nos outros anti- septicos e adstringentes usados até então? Sem discorrer absolutamente sobre as vantagens e inconve- nientes de cada um d’elles, assumpto muito discutido e mi- nuciosamente descripto nos livros didacticos, lançarei um 62 rápido golpe de vista para melhor firmaras minhas conclusões. E’ opinião valiosissima de Fraenkel, de Vienna, citada por Darier, que o valor therapeutico de um composto ar- gentico deve ser avaliado pelos seguintes factores: «1? Elle deve ser solúvel n’agua. » «2? Não deve produzir irritação nem dor. » «3? Não deve coagular as substancias albuminoides. » Satisfaz a estas condições o nitrato de prata? Absolutamente não. Sua facil precipitação pelos chloruretos e pelas albuminas da lagrima, limitam-lhe a acção antiseptica e o poder de penetração. A dor violenta, a irritação e des- truição de tecidos, são tantos perigos e inconvenientes de sua applicação. A argentamina, sendo menos que o nitrato, é contudo do- lorosa. Suas soluções são pouco duráveis e facilmente preci- pitadas pelas lagrimas. O protargol', menos doloroso que a argentamina, é entre- tanto susceptivel de provocar a argyrose. E’ o proprio Darier, seu pae adoptivo, que recommencla após a « protargolagem » uma lavagem com sublimado para « augmentar sua acção e prevenir seus inconvenientes. » Qualquer desvio na prepa- ração de suas soluções é capaz de tornal-as irritantes e inactivas, pela oxydação da proteína, O argyrol, susceptivel de provocar a argyrose, exige o máximo cuidado no preparo de suas soluções, que não sendo frescas são irritantes. Darier, talvez o seu maior partidarió, apezar de sustentar uma «absoluta inocuidade», menciona, minutos depois de sua applicação « um certo máo estar no olho, devido á acção adstringente da prata sobre o epithelio da conjunctiva e da cornea. » 63 Suas soluções, para produzirem effeitos antisepticos pode- rosos devem ser concentradas e as applicações devem ser repetidas. Talvez pela concentração das soluções empregadas, em todos os doentes tratados no Hospital pelo argyrol, como pelo protargol, notei uma pigmentação das conjunctivas, ás vezes muito pronunciada. Não será isto um inconveniente? Que se dizer da largina, da argonina, do actol, do itrolf São agentes ainda pouco estudados e que não têm mani- festado vantagens sobre os precedentes. O collargol, prata colloidal chimica, parece superior aos seus antecessores. Suas conquistas, apezar de incontestáveis, não são entre- tanto muito concludentes, tal a variedade das circumstancias que têm presidido as observações de auctores diversos, taes as associações que lhe têm sido impostas. Sua inferioridade com relação ao electrargol é cousa deçi- dida, conforme ficou dito no Capitulo I (paginas 7 e 8). Porque deve ser superior o electrargol? Pelas suas propriedades bactericidas extraordinárias (pags. 22 e seguintes), pela superactividade physiologica de suas soluções (pags. 25 e seguintes). O electrargol age em quantidade insignificante; e a pro- porção infinitesimal, inimaginável de prata metallica, que tal quantidade encerra, é materialmente incapaz de provocar qualquer damno local, mesmo quando a sua absorpção não fosse facilima e immediata: — elle não produz absolutamente a argyrose e sobretudo não provoca dor nem e irritante. A instillação de uma gotta de collyrio de electrargol, outra cousa não provocou em mim mais do que si me cahisse sobre a conjunctiva uma gotta d’agua pura. Em um doente 64 qualquer, sob o martyrío do ardor permanente que provocam as infecções oculares, nem esse pequeno incommodo se póde manifestar. Essa verdade foi repetida por todos aquelles a quem tratei. Ao lado do grande poder bactericida e resolutivo do elec- trargol, é digno de nota o effeito que se manifesta sobre os phenomenos nervosos, effeito sedativo que é certamente uma grande virtude para a cura das infecções oculares. Todos os doentes por mim observados exaltavam as propriedades do medicamento ainda mais, por proporcionar-lhes um bem-estar immediato, fazendo cessar a dor, a photophobia, o blepharos- pasmo com todas as suas deploráveis consequências. Este facto, por mais que pareça á primeira vista de pequeno valor, adquire uma importância capital quando se trata de pessoas nervosas, que não supportam uma simples lavagem com a solução boricada diluida. A elle em grande parte deve ser attribuido o triumpho obtido com a doente da obser- vação XI. A’ acção antiseptica poderosa e a esse poder sedativo que tanto me impressionou, não me parece extranha uma acção profundamente modificadora dos tecidos pathologicos. Como explical-a entretanto? — Por um augmento da leu- cocytose exagerando o processo phagocytario ? Por um exa- gero das trocas in situ, facilitando a destruição e eliminação dos principios nocivos? Por uma acção directa sobre os ele- mentos anatómicos, facilitando sua reintegração, depois de os ter desembaraçado dos microbios e de suas toxinas? Por todas essas circumstancias reunidas? São perguntas a que as minhas apoucadas sciencia e ex- periencia não me permittem responder categoricamente* 65 Não me é dado explicar satisfactoriamente o phenomeno em seus traços intimos, mas ahi estão os factos falando bem alto, mais alto mesmo que quaesquer objecções que a intelligencia dos sábios engendre para amesquinhal-os ou contestaí-os. Sirvam-me de amparo as sabias palavras do eminente Wesseley quando pensa superiormente que « não temos o di- reito de negar os factos porque não podemos explical-os de uma maneira plausível.)) Não podendo dar a minhas observações o valor de uma estatística, tal a sua insufficiencia numérica e mesmo rigoro- samente scientifica, atrevo-me contudo a affirmar a preciosi- dade do electrargol no tratamento das moléstias infecciosas do apparelho visual. Si bem que tendendo a acredital-o, não posso entretanto affirmar sua superioridade sobre os demais preparados de prata empregados em therapeutica ocular. Para isso precisaria da auctoridade de um Wecker, de u.m Mayer ou de um Darier, que de uma ou de poucas experiên- cias, deduzem conclusões definitivas, lavram sentenças con- demnatorias ou abrem as portas da glorificação aos recentes productos que lhe são dados á prova. E’ minha convicção justificada o que vae dito nas con- clusões que se seguem. CONCLUSÕES I. O electrargol em solução isotonica está destinado a prestar relevantes serviços á clinica ophtalmologica. II. E’ um bactericida e resolutivo dos mais importantes; parece dotado de um poder de penetração considerável, em vista das modificações que imprime nos tecidos patholo- 66 gicos; e goza de uma acção sedativa preciosa sobre os pheno- menos nervosos das infecções oculares. III. A invariabilidade e pureza de suas soluções garantida pelo proprio estado colloidal, sua conservação indefinida asse- gurada pela estabilisação do são uma affirmação insophismavel de sua absoluta inocuidade. IV. Esta circumstancàa, ao lado da preciosidade dos effeitos therapeuticos do electrargol, leva-me a acreditar na sua su- perioridade sobre os demais antisepticos e adstringentes de que dispõe a therapeutica ocular. V. Póde ser indicado com vantagem em todas as conjuncti- vites, em algumas keratites, em todas as infecções post-opera- torias ou consecutivas a traumatismos, nas ulceras infectuosas da cornea e nas supurações da camara anterior, devendo ser continuadas, com grande probabilidade de exito, as pes- quizas relativas ás irites, ás irido-cyclites, ás episclerites, ás dacryocystites, etc. VI. Deve ser o agente de escolha na prophylaxia e na cura das ophtalmias dos recem-nascidos. VII. Sua applicação é feita localmente em collyrios ou como base dos pensos antisepticos; quando forem necessárias podem ser praticadas as injecções sub-conjunctivaes. VIII. Toda a vez que a moléstia fôr de ordem aaífectar o estado geral, as injecções hypodermicas ou intramusculares de electrargol, poderão prestar relevantes serviços. IX. Os trabalhos de Iscovesco e Robin sobre o emprego dos metaes colloidaes electricos nas moléstias da nutrição, levam-me logicamente a aconselhar a medicação colloidal nas amblyopias, amauroses, choroidites, retinites, etc., quando ligadas á diabétes. 67 Para que o electrargol possa occupar um logar predomi- nante em therapeutica ocular, nada mais é preciso que chamar para elle a attenção dos ophtalmologistas. E’ o que agora faço, aconselhando d’aqui aos velhos prá- ticos, ousadamente, como iniciante que sou na pratica ophtal- mologica, que, quando em sua clinica se enfrentarem, como tantas vezes acontece, com uma infecção grave, rebelde ao tratamento, em desespero de causa após o emprego de seus topicos mais predilectos, lancem mão do electrargol, sem titubear. E’ mais um recurso que se me afigura de inestimável valor. E oxalá que o conselho do discípulo, que tantas vezes tem lido interessado suas lições sapientes e que ainda agora es- pera sua palavra auctorisada, possa aproveitar aos mestres acatados. E que assim seja para resurgimento de uma therapeutica verdadeiramente racional, pela qual o scffrimento imposto á obtenção da cura desappareça na suavidade de um allivio prompto, em bem da humanidade. PROPOSIÇÕES t Anatomia descriptiva I. Das túnicas que formam as paredes do globo ocular, é a interna a mais importante. II. Representando um segmento de esphera, a retina pode ser dividida em tres porções, a choroidiana, a ciliar e a iridiana. III. Na primeira é que se acham a papilla e a macula. Anatomia medico-cirurgica I. A’ porção anterior da retina dá-se o nome de zona de Zinn. II. Nesta não existem os elementos nervosos da porção pos- terior ou retina propriamente dita. III. A.zona de Zinn continua-se com a porção posterior da retina ao nivel da ora serrata. Histologia I. O musculo ciliar é constituído por duas ordens de fibras. II. Tanto as radiadas como as circulares pertencem no homem ao tecido muscular liso. III. As primeiras vão do annel tendinoso de Dollinger ao es- troma choroidiano e aos processos ciliares; as ultimas formam feixes parallelos á grande circumferencia da iris. Bacteriologia I. O gonococco de Neisser é um germem aerobio e tem ca- racteres morphologicos typicos. II. E’ o agente especifico das manifestações blenorrhagicas.. III. Entre estas, são communs as coniunctivites. 70 Anatomia e physiologia pathologicas I. O glioma é o unico neoplasma que se encontra na retina. II. O glioma da retina nunca é pigmentado. III. Sua estructura mais commum é a seguinte: pequenas cellulas contendo um núcleo, pouco protoplasma e finos prolon- gamentos, ligadas por utna substancia fundamental molle. Physiologia I. Accommodaçao é o phenomeno physiologico pelo qual o orgão visual se adapta a receber a impressão dos objectos que lhe ficam proximos. II. E’ um phenomeno activo, mas involuntário. III. Sua amplitude, dependendo do gráo de elasticidade do crystallino, diminua com a idade. Therapeutica I. O chlorhydrato de ethylmorphina ou dionina é um dos mais importantes succedaneos da morphina. II. E’ um analgésico profundo e um modificador do tonus vascular sanguíneo e lymphatico. III. O seu emprego vae se tornando corrente em ophtalmo- logia: como analgésico no glaucoma, nas irites, em certas episclerites, keratites, etc.; como resolutivo e reabsorvente nas hemorrhagias subconjunctivaes, nas infiltrações corneanas, nas perturbações do corpo vitreo, nos exsudatos retinianos, etc.. Medicina legal e toxicologia I. A thanatophtalmologia fornece-nos signaes agonicos e signaes cadavéricos. II. Os primeiros referem-se ao estado das palpebras, das pu- pillas e do fundo do olho. III. Os últimos á diminuição de volume e á flacidez do globo ocular, ao aspecto da cornea, á mancha negra da esclerotica. 71 Hygiene I. O trachoma, moléstia eminentemente contagiosa e sus- ceptivel de causar damnos lastimáveis, requer a attenção dos poderes públicos, tal o modo sorrateiro por que invade toda uma população. II. Entre nós, apezar do grande numero de trachomatosos que existe, não se cogitou ainda do assumpto. III. A prophylaxia do trachoma não é entretanto difficil nem dispendiosa; consiste principalmente no isolamento do doente quanto aos seus utensilios e moveis e em cuidados antisepticos individuaes, para o que é mister instruir-se o povo. Pathologia cirúrgica I. Commoção cerebral é a parada brusca do funccionamento encephalico, após os traumatismos do craneo. II. Caracterisa-se pela abolição de todas as funcções de relação, com integridade ou apenas diminuição das de nu- trição. III. O reflexo corneano e o estado das pupillas dão indicações preciosas quanto ao gráo da commoção. Operações e apparelhos I. A operação da blepharoplastia é indicada nos caso de ectro- pion cicatricial das palpebras. II. São preferiveis para pratical-a, os processos de Fricke e de Dieffenbach. • III. Os retalhos devem ser tirados na têmpora ou na bo- checha. Clinica cirúrgica (2? cadeira) I. As queimaduras das palpebras são pouco frequentes. II. Quando profundas, devem pôr o medico de sobreaviso contra a retracção cicatricial. 72 III. A sutura preventiva das palpebras é indicada por alguns auctores. Clinica cirúrgica (I? cadeira) I. As fracturas da base do craneo podem determinar a lesão de nervos craneanos. II. Estas lesões se traduzem por perturbações sensitivas, mo- toras ou sensoriaes. III. Das lesões do nervo optico resultarão perturbações di- versas da visão. Pathologia medica I. O beri-beri, entre nós endemico, não é contagioso. II. Caracterisa-se anatomicamente pela existência de nevrites periphericas- III. A nevrite optica, não sendo commum, póde entretanto ser observada no beri-beri. Clinica propedêutica I. No diagnostico das moléstias nervosas, são importantes os signaes pupillares. II. Elles são permanentes, ou provocados por actos reflexos. III. A desigualdade pupillar, a mydriase e a myose perma- nentes estão no primeiro caso; a inércia ou rigidez pupillar no segundo. Clinica medica (2? cadeira) I. A pneumonia é uma moléstia infectuosa, de evolução cyclica, benigna por sua natureza. II. Em casos excepcionaes de deficiência organica ou impre- vidência clinica, torna-se de um prognostico sombrio, quasi sempre fatal. III. Nestes últimos casos, as injecçÕes de metaes colloidaes electricos, favorecendo a crise, têm dado excedentes resultados. 73 Clinica medica (I? cadeira) I. O rheumatismo articular agudo é um dos males mais te- míveis nos paizes frios. II. Sua raridade entre nós deve pôr-nos de sobreaviso para não confundir estados nosologicos outros, ligados a infecçoes especificas diversas. III. Na cura do rheumatismo articular agudo têm sido mo- dernamente usados, com exito brilhante, os metaes colloidaes electricos. Historia natural medica I. O tcenia Solium é um verme plathelmintho, cestoide, tendo duas phases de evolução: a adulta que se passa no intestino do homem e a embryonaria ou larvar que se passa no organismo do porco e excepcionalmente no do homem. II. A presença de embryÕes de ttenias ou cysticercos no orga- nismo humano, sob a pelle ou nos interstícios do tecido mus- cular, não tem geralmente grande importância. III. Quando a cysticercose se manifesta no orgão da visão especialmente para o lado da retina ou do corpo vitreo, adquire especial gravidade e a perda da visão é quasi fatal a despeito de qualquer intervenção Matéria medica, Pharmacologia e Arte de formular I. Collyrios são formas pharmaceuticas destinadas a agir sobre os olhos ou sobre as palpebras. II. Os ha seccos, molles e líquidos, segundo representam pós, pomadas ou soluções. III. Os collyrios líquidos podem ser aquosos ou oleosos. Chimica medica I. O nitrato de prata, cuja formula é Az 03 Ag, apresenta-se sob o aspecto de crystaes brancos, solúveis na agua, no álcool e na glycerina. 74 II. E’ um cáustico energico pelo seu acido azotico e um an- tiseptico poderoso por sua base, prata. III E' o clássico e barbaro topico em quasi todas as affecçÕes secretantes da conjunctiva. Obstetrícia I. O pulso é o máximo critério para julgar-se do estado da mulher no puerperio. II. Pode-se estabelecer como media physiologica de 6o a 8o pulsações. III. Abaixo ou acima d’essa media, o parteiro deve ficar de sobreaviso, mesmo quando nao haja outro qualquer indicio de infecçao. Clinica obstétrica e gynecologica I. A antisepsia obstétrica deve ser continuada durante o pu- erperio. II. E’ muitas vezes ao abandono d’esse preceito, que se deve ligar infecçÕes puerperaes graves após um parto normal. III. Os metaes colloidaes electricos, em injecçÕes e applicaçÕes locaes, têm se manifestado superiores no tratamento de infec- çÕes puerperaes as mais graves. Clinica pediátrica I. A meningite tuberculosa é a mais commum das meningites infantis. II. A semeiologia ocular auxilia seu diagnostico. III. No começo são communs as osciilaçoes e desigualdades pupillares e o estrabismo transitório. Mais tarde o estrabismo permanente e as modificações do fundo do olho: granulações da choroide e edema da papilla. Clinica ophtalmologica I. A hemeralopia, nyctambliopia ou ambliopia nocturna é 75 antes um symptoma que se manifesta na retinite pigmentar, na retino-choroidite, no descollamento da retina, em certas mo- léstias do fígado e em quasi todas as anemias, sejam ellas in- fecciosas ou toxicas. II. Sua principal causa parece ser a acção prolongada de uma luz intensa: dizem-n’o os factos de observação. III. A alimentação defeituosa é sem duvida a causa predis- ponente por excellencia da njactambliopia. Clinica dermatológica e syphiligraphica I. Zona é uma affecção da pelle cujo caracteristico mais interessante é sua localisaçao systematica ao longo dos trajectos nervosos. II. Sua localisaçao mais commum é na região thoracica, po- dendo entretanto ter diversas outras que lhe dão nomes es- peciaes. III. Sob o ponto de vista dos accidentes que pode determinar, é certamente a \ona oplitalmica uma das mais importantes.. Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas J. A ophtalmologia presta relevantes serviços á psychiatria. II. Na paralysia geral as perturbações oculo-pupillares têm grande importância quando se tem necessidade de fazer um diagnostico precoce. III. São principaes as modificações nos reflexos irianos, o nystagmus, a achromatopsia, e erytropsia, etc. Visto. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia 57 de Outubro de 4908, 0 Secretario Dr. Menandro dos Reis Meirelles.