FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA TIIESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 31 de Outubro de 1906 PARA SER DEFENDIDA POR francisco fumigues bo fago (INTERNO DE CLINICA PEDIÁTRICA ) NATURAL DESTE ESTADO AFIM DE OBTER 0 GRÁO DE DOUTOR EM MEDICINA CADEIRA DE CLINICA PEDIÁTRICA Da balneotherapia nas pyrexias infantis Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de SCIENCIAS MEDICO-CIRURGICAS BAHIA LITHO-TYP. OLIVEIRA BOTTAS & C. 3-Praçíi do Ouro-3 1906 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Vice Director-Dr. Manoel José de Araújo Director - Dr. Alfredo Britto L E N T E S Os Cidadãos Drs: Matérias que lecclonam Ia Secção José Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-cirurgica. Antonio Pacifico Pereira Histologia. Augusto Cesar Vianna Bacteriologia. Guilherme Pereira Rebello Anatomia e Physiologia pathologicas 2a Secção 3" Secção Manoel José de Araújo Physiologia. José Eduardo Freire de Carvalho Filho. Therapeutica. Luiz Anselmo da Fonseca Hygiene. Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia. 4a Secção Braz H. do Amaral . Pathologia cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Júnior. . . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica 1. cadeira. Ignacio M. de Almeida Gouveia Clinica cirúrgica 2. cadeira. 5a Secção Aurélio R. Vianna Pathologia medica. Alfredo Britto clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho « medica I • cadeira, Francisco Braulio Pereira « medica 2. cadeira. 6a Secção Antonio Victorio de Araújo Falcão.... Matéria med. Pharm. e arte de formular José Rodrigues da Costa Dorea Historia natural medica. José Olympio de Azevedo Chimica medica 7a Secção 8a Secção Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira Clinica obstétrica e ginecologia. Frederico de Castro Rebello clinica pediátrica. 9 Secção Francisco dos Santos Pereira ... . Clinica ophtalmologica. 10a Secção 11a Secção AlexandreE.de Castro Cerqueira Clinica dermathologica e syphiligraphica 12a Secção João Tillemont Fontes clinica psychiatrica e molest. nervosas. João E. de Castro Cerqueira . Sebastião Cardoso Em disponibilidade Os Cidadãos Drs. José Affonso àe Carvalho (int.) Ia Sec. Gonçalo Moniz S. de Aragão.... 2a >? Pedro Luiz Celestino 3a » Alfredo A. de Andrade (int.).... Ia » Antonio Baptista dos Anjos (int.) 5a » João Américo G. Fròes 6a » SUBSTITUTOS Os Cidadãos Drs: Pedro da Lux Carrascosa. . 7a Secção José Adeodato de Souza.... 8a » Alfredo F. de Magalhães.. 9a » Clodoaldo de Andrade. ... 10. » Albino A. da Silva Leitão (int.)li. » Luiz Pinto de Carvalho.... 12. » Secretario-Dr. Menandro dos Reis Meirelles Sub-secretario - Dr. Matheus Vaz de Oliveira A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas thasos que lhe são apresentadas. PROEMIO Somente o cumprimento de um dever, imposto por uma disposição regulamentar do ensino, e ao qual, sem esquivança admissível, forçados somos a attender, poderia acabar com- nosco que nos affastassemos da obscuridade, em cuja calma, dizendo muito bem cora a humildade da nossa pessoa, sempre vivemos e satisfeita mente. Eis a origem do trabalho que ahi vae. Affeiçoados que somos á Clinica Pediátrica, era muito justo fossemos buscar, neste importantíssimo ramo da Me- dicina, assumpto para a dissertação da nossa these. Assim o fizemos, em realidade, desengastando do corpo immenso da Pediatria o capitulo-Balneotherapia nas py- REXIAS INFANTIS. Ingentes as difficuldades que se nos antepuzeram, quando a braços com a realização desse intento. De um lado, a inexistência ou mingua de trabalhos scien- tificos que se occupassem em especial do ponto por nós esco- II Ihido; a sua importância, doutra parte, a exigir, em conse- quência, aprofundado estudo, estudo serio, de magno interesse e, sobre isto, e mais que tudo isto, o deshabito de escrever, da nossa parte, maximé sobre assumpto de sciencia, tal o acervo de obstáculos que, muito certo, nos teriam tolhido o passo, caso, mais poderosa que elles, se não puzesse em acção toda a nossa força de vontade. Illogico, incomprehensivel, dirão, e até certo ponto razoa- velmente, o havermos casado á pouquidade dos , nossos conhe- cimentos a grandeza da questão preferida. Facilmente explicável o facto:-de sobejo convencidos dos effeitos prodigiosos da balneotherapia, crendo firmemente nos extraordinários e reaes benefícios da agua como valiosissimo elemento therapeutico, cegou-nos o desejo de, na medida das nossas forças, concorrer em. bem da humanidade que soffre, especialmente desta porção mimosa que se diz injancia. Nem da nenhuma confiança que, em prova scientifica, III possamos merecer, se causa o baldarem-se-nos de todos os es- forços: servirão ao menos de incentivo aos competentes. Em tres capítulos dividimos o nosso trabalho: I-Historico. Breves considerações sobre o calor animal. II-Elementos da acção balneotherapica. Estudo physio- logico dos banhos quente e frio. III-Acção therapeutica dos banhos; sua technica. Contra- indicações Sem arroganeias a perfeito, antes se confessa inquinado de falhas. A critica, sabemol-o, sahir-lhe-á no encalço: que importa, porém? Perante os Mestres, aos quaes e tão sómente a elles attenderemos, será nossa defeza: «feci quod potui faciant meliora potentes». Acima, muito acima do juizo mal avisado e pretencioso IV dos espíritos tacanhos, estão a pureza da intenção e a sinceri- dade da consciência. E, assim, permilta-se-nos, ao fecharmos este antiloquio, fazel-o com aurifulgente chave, inserindo na singeleza desta pagina um testemunho verdadeiro e eloquente de sincera e verdadeira gratidão ao dislinctissimo cathedratico da cadeiia de Clinica Pediátrica da nossa Faculdade-Dr. Fre* derico de Castro Rebello - de quem, folgamos em regis- tal-o, recebemos, durante um triennio celeremente ido, os mais doutos ensinamentos. DISSERTAÇÃO Da balneotlierapia nas pyrexias infantis DA BALNEOTHERAPIA NAS PYREXIAS INFANTIS CAPITULO I H1STOR1CO I <3 ^T^ssÁs difíicultosa parece-nos a feitura de um trabalho completo, referente á historia, da bai- neotherapia. Para a consecução cabal de uma obra desta natureza, mister se faz ao emprehendedor, enve- redando atra vez da noite cerrada e fria do passado, lançar uma mirada, sobre as épocas anteriores á fundação da Medicina, e de ha muito submergidas no longinquo paramo do ignoto. Este só enunciado, que se nos tigura incop- teste realidade, desde logo e claramente põe bem á mostra que se nos amortecem as esperanças de conseguir semelhante desempenho. Nem se nos purpurêa a face, ao confessal-o de publico, por isso que sabemos valer mais a F. R. 1 2 sinceridade da consciência, que a jactancia de infun- dado orgulho, o qual ao depois se vê ridiculo e desmentido; nem o espirito, por isso, nos fica a vaguear inquieto, antes o temos consolado e calmo, na convicção de havermos trabalhado e feito o quanto nos permittiram as minguadas forças, o que, no dizer profundo de Smiles, «satisfaz á razão e a consciência fortifica». Depois de assim nos externarmos, entremos, sem mais detença, a estudar tão momentoso as- sumpto. No celere perpassar do grande agente do transformismo, centenas e centenas de annos já se lá vão, depois que, pela vez primeira, encararam a agua como um poderoso agente therapeutico. Já o velho custodio das sagradas taboas, o biblico Moysés, em conselho, filho naturalnjente da experiencia, e que ao povo eleito prescrevia, puzera bem de manifesto a efficacia dos banhos frios e abluções frequentes, como preservativos contra varias moléstias. Narra-se também que os Scythas e os Médas. faziam, em larga escala, uso de tão importante quão necessário producto chi mico, como meio hygienico e therapeutico. Em épocas posteriores, se bem que muito remotas ainda, IIippocrates, o immortal sabio de 3 Cós, utilisava-lhe os effeitos nas moléstias infe- ctuosas. Vae em mais dedous mil annos, Celsius, cujos escriptos sobre a historia médica da agua foram conservados, propoz tratar as victimas de affecções cerebraes, por meio de banhos e ãffusões. Nem poderão passar despercebidas as tenta- tivas de Galeno, o respeitável filho de Pergamo, e de Philotas, notável medico romano, relativas ao tratamento, pela hydrotherapia, das moléstias in- fectuosas e das diversas febres. No anno de 1697, o physiologisia inglez, John Floyer, tentou apphcar a agua na cura de grande numero de moléstias,procurando fazer deste agente, não mais um auxiliar de outra medicação, mas uma medicação exclusiva, verdadeiro mel bodo thera- p eu tico. Em franca opposição ás suas opiniões, sahio a campo naquelle tempo Haller, que, admirando ser possível o tratamento da peste por meio da agua, como aconselhava o physiologísta inglez, esti- gmatisava, em termos vehementes, semelhante pre- conisação.. Doutra parte, e, todavia, em favor e defesa dos preceitos de Floyer, vieram á luz da publicidade alguns escriptos, entre os quaes os de John Han- cock e Smith, que não lograram, porém, impedir o 4 descambar do methodo hydrot herapico para o des- crédito, donde Floyeb o tinha tirado a salvo. Passaram-se alguns annos, até que Fr. Hoff- mann, illustre medico allemão, se consagrou com ardor ao estudo da hydrotherapia, obtendo então o apoio de diversos clinicos, não só allemães, se- não também de varias outras nacionalidades. Assim c que na Itaba, sahiram a lume diversas publicações, modificando umas, outras confirman- do as indicações apregoadas pelo illustre scieutista da Germania. Na Franca, seguindo-lhe as pegadas, manifes- taram-se-lhe lambem favoráveis diversos médicos, nomeadamente Hecqueto Pomme. O mesmo acouttaam relativamente á Uespanha a á Inglaterra. Neste ultimo paiz, onde, como vimos, não en- contrara Floyer, a principio, adeptos que o auxi- liassem a fazer a hydrotherapia conquistar na therapeutica o logar que lhe elle destinava, apre- sentaram-se então Wright e Gurrie que publi- caram trabalhos, onde externaram enthusiastica e favoravelmente as suas opiniões sobre os empregos medicinaes da agua. Embora, o methodo hydroíherapico já então fosse reputado um poderoso agente therapeutico, 5 mais urna vez paralysou o seu estudo, pouco tra- tando-se das suas indicações medicas. Era preciso o mie quer que fosse que viesse perturbar este mutismo, despertando os médicos da apathia cm que estavam immersos, incitar-lhes aattençãopara o estudode tão importante assumpto. Esta necessidade foi, com effeito, levada a bom termo, no anno de 1826. Num departamento da Silésia austríaca, surgira Vincent PmESSNiTZ,camponez,que,percor- rendo as aldeias visinhas e fazendo fricções com esponjas embebidas dagua fria, empiricamente praticara maravilhosas curas nos doentes que se lhe confiaram. * % Os reaes successos obtidos attrahiram ao esta- belecimento de Groefenberg grande numero de enfermos de diversa procedência, que buscando lenitivos para os seus males, confiantemente se sujeitaram ao tratamento que o mesmo lhes minis- trava. Como era natural, repercutiram também no mundo scentifico os triumphos de Vicent Pri- essnitz, contra o qual vieram, lança em riste, os médicos, seus contemporâneos, attribuindo os bons resultados coibidos, não aos simples effeitos da agua pura, senão aos medicamentos por elle clan- destinamente collocados nas esponjas e na agua. 6 Agua e esponjas foram apprehendidas e exa- minadas, ficando provado, para maior triumpho de Priessnitz, que as curas por elle operadas eram única e exclusivamente devidas á acção da agua pura sobre o organismo enfermo. Era mister que a sciencía evocasse o estudo da agua, como agente therapeutico. Appareceram as primeiras publicações de Fleury, dando'á hydrotherapia uma forma nítida e scientifica, e chamando a attenção dos médicos para o emprego efíicaz da agua fria nas moléstias chronicas. Novos horisontes rasgaram-se então á sciencia, deixando ver a^m as premissas de glorioso futuro, portador de positivos esclarecimentos. Numerosos estabelecimentos de hydrotherapia fundaram-se nos diversos paizes da Europa, princi- palmente na Allemanha, sob a direcção scien- tifica de médicos. Soffrendo varias modificações na applicação de seus processos, revelando a sua importância por successos reaes, onde não influia o accaso, tendo adeptos e admiradores ardentes, foi a hydro- therapia pouco e pouco e ao compasso conquis- tando luminoso destaque na therapeutica. De modo systematico applicados na febre typlioide os banhos por Bartels e Jurgensen, 7 vulgarisados por Liebermeister e Brand, foram adoptados e tiveram voga em muitos paizes, princi- palmente na Allemanha. Hoje não padece mais duvida que é a agua um poderoso agente therapeutico, verdade esta confir- mada na pratica c de que se fizeram potentes eccos os trabalhos de Glax, Emile Durval, Winternitz, IMMERM ANN, BOUCH .RD, BRaND,MARTIN, BeNI-B.ARDE e muitos outros, cuja enumeração seria aqui fasti- diosa. Aqui entre nós, ao que nos consta, foi o Dr. Anionio Polygarpo Cabral, lente de Clinica Me- dica da nossa Faculdade, o primeiro a recorrer aos banhos como processo curativo, e isto ha. mais de cincoenta annos. Subministrando banhos a um doente hyper- thermico, colheu o Dr. Polygarpo Cabral os mais favorava is resultados. II Breves considerações sobre o calor animai Antes de tratarmos dos elfeitos da balneothe- rapia sobre o organismo infantil, estudaremos, em breves e pallidos traços, embora, o calor animal, por isso que a sensação que accusa o organismo, quando sobre a superlicie cutanea actúa a agua, 8 com fim therapeutico, é dependente do grão de temperatura do corpo. Procuraremos mostrar onde se origina o calor, e ainda as causas que o entretêm, constituindo o resultado destas considerações uma das bases mais importantes para o estudo da bal- neotherapia. Deixaremos de iado as hypotbeses aventuradas por Hippucrates, Platão, Aristoteles e Galeno. que acreditavam fosse o calor ou produzido no fígado, ou no musculo cardíaco ou no ventrículo direito, ou no ventrículo esquerdo. Passaremos também em silencio a theoria de Hunter, que suppunha a sede do calor animal no estomago, e as de muitos outros, porque nos estrei- tos limites que nos traçamos não cabe fazer estudo circumstanciado sobre este capitulo da physio- logia. De Iodas as lheorias apresentadas, somente se manteve de pé, durante alguns annos, na sciencia, a theoria chimica de Lavoisier, para a qual con- vergiram todos os estudos e experiencias dos phy- siologistas e dos chimicos. Lavoisier admitlia o pulmão como a sede dos phenomenos de combustão dos trabalhos respira- tórios. Em sou trabalho sobre a combustão, em 1777, assim se explana Lavoisier: «L'air pur, en passant 9 par le poumon, éprouve une decomposition analo- gue à celle qui a lieu dans la combustion du char- bon: or dans la combustion du charbon il y a dégagement de matière de feu, donc il doit y avoir également dégagement de matière de feu dans le poumon, dans 1'intervalle de 1'inspiration et de 1'expiration; et c'est cette matière de feu sans dou te qui, se distribuant avec le sang dans toute Fécono- mie animale, y entretient une chaleur constante de 32 degrés et demi environ au thermomètre de M. Réaumur. II n'ya d'animaux chauds dans la nature que ceux qui respirent habituellement et cette chaleur est d'autant plus grande que la respiration est plus frequente, c'est-à-dire, qu'il y a une rela- tion constante entre la chaleur de Fanimal et la quantité d'air entrée ou au moins convertie en air fixe dans ses poumons». A opinião deste respeitável scientista, que por muito tempo dominou na sciencia, decahiu depois, pela observação e experiencia dos factos. Assim é que, no dizer de Legrange, o pulmão seria completamente destruido a ser elle só o pro- ductor de calor. Ao demais, facto é inconteste e assente na sciencia, desde as experiencias de Spallanzani, que a pelle absorve oxygenio e exhala acido car- bónico, vapor dagua e muitos outros productos K. E. 2 10 William Edward. provou lambem que uma rã mergulhada no hydrogemo. desprendia, ao cabo de breve tempo, acido carbonico, que se não podia ligar á combustão pulmonar, uma vez que era im- possivel ao animal a respiração no seio deste gaz. Ficou evidenciado ainda, peias experiencias de Magnus. que o oxygemo e o acido carbonico exis- tiam no sangue; venoso. Concluio-se. então, que no parencbyma pul- monar só st1 operava a tróca dos gazes, dando-se, porém, a sua combustão, não exclusivamente neste ergam, mas nos capiHares geraes. no organismo inteiro. Robebt de Latour, em seu livro sobre o calor anima], refere que no pulmão se não dá combi- nação alguma, que tenha semelhança com uma oxy- dação ou combustão. Para elky não é neste orgam que se. forma, o acido carbonico: afíirma ainda que o acido carbó- nico satura o sangue, venoso, sendo a sua presença, neste liquido, prova clara e evidente de que já se tem dçdo a combustão, primeiro que chegue o sangue ao orgam da hematose. Paru que se opere nova combustão no pulmão, accroscehta ainda mais o mesmo escriptor. é mis- ter que ei la se realize no momento em que o san- 11 gue absorve oxvgenio. em troca do acido carbo nico. Mas. nestas condições, o sangue apresenlar- se-ia no coração esquerdo, ião negro quanto no direito, percorrehdo assim todas as vias circula- tórias. O que se dá. no pulmão é um aclo prepa- ratório, que tem por fim livrar o sangue do acido carbonico e dagua, (producto^ di combustão), dando ao mesmo tempo oxygenio: é a hematose. No systema capillar geral, onde existe a soli- citação dynamica, é que. são queimados*o carbono e o hydrogenio, em contacto com o oxygennq dando em resultado o calor animal. Mais acima dissemos, porém, que o calor se gera por toda a parte. A calorilicação é um phenomeno intima- mente ligado á nutrição. Nutrir é viver. Viver é produzir calor, como muito bem diz Ghantemesse, que assim continua: «Todos os organs, que se compõem de grande numero de unidades celhdares e que são a sede de processos activos de synthese, de desassimilação e oxydacão, constituem eguahirmte as mais pode- rosas fontes de calor. A energia potencial ou as forças latentes das substancias nutritivas tiansformam-se, durante 12 sua oxydação, em energia kinetica, isto é, em força viva, em calor, em movimento». Todo o trabalho muscular, as funcçoes das glân- dulas volumosas, especialmente do fígado, se tradu- zem em calor; por outra, indicam a tranformação deste agente physico, que se gera no organismo, pelas mutações da chimica nutritiva, e se produz em todos os tecidos, onde existem cellulas vivas. Soffrendo a impulsão de um movimento continuo, levando o calor a todas as partes do organismo, é o sangue o tecido mais quente da economia. A distribuição do calor no systema vas- cular não é, porém, uniforme. Assim que o sangue arterial é mais quente do que o venoso, porque atravessa as cavidades do tronco, que estão ao abrigo dos desperdícios de calor. Os vasos venosos que serpeam pela peri- pheria, os capiliares cutâneos, contem sangue menos quente que os arteriaes. Entretanto, na cavidade abdominal o sangue venoso se aquece, em virtude dos elementos de fonte caloriíica que lhe fornecem os organs ahi contidos, sobretudo o fígado. O sangue da veia cava superior é menos quente que o da inferior, o que facilmente se concebe, uma vêz sabido que pela situação é aquella comple- 13 tarnente extranha á cavidade abdominal, tendo ahi o sangue a mesma, temperatura, que nos vasos venosos pmphei ;.*os, Estes dous vasos, (veias cavas superior e interior), vão despejar na aurícula direita o sangue nelles contido. Donde resulta receber a aurícula direita sangue menos quente, que lhe é trazido pela veia cava superior, e sangue mais quente, proveniente da veia cava interior. Na aurícula misturam-se as duas correntes, confundindo-se as suas temperaturas. Dos resultados colhidos de múltiplas obser- vações, tirou-se a média de 37° C. para a tempe- ratura do corpo de uma creança. Para que a temperatura do corpo humano se conserve constante, para, que a grande quantidade de calor produzida em nosso organismo seja compensada por uma. perda equivalente, faz-se mister a intervenção dum mecanismo regulador, que, influindo directa e positivamente na producção do calor em a economia, modifique os factôres, que concorrem para sua formação e regularise a sua distribuição pelas diversas partes do orga- nismo. Ao systema nervoso é confiada a regencia da conservação normal da temperatura, estabelecendo elle o equilíbrio entre a producção e a perda do calor intra-organico. 14 E\ pois, o systema nervoso o apparelho regu- lador do calor animal. 0 systema nervoso, não somente contribúe para, a producção do calor, mas também para sua distribuição. A contracção muscular, a secreção glandular, sob a influencia da irritação dos nervos motores ou secretórios, se acompanham de calor, sem que para isto seja necessária a acção vaso-motora, exercida por esles nervos. Queremos dizer com isto que os nervos tem também uma acção directa sobre a nutrição dos tecidos Pode também acontecer que um orgam se resfrie, graças a uma acção mhibiloria do systema nervoso. O systema nervoso intlúe de algum modo nos diversos processos chimicos, que se realisam na trama intima de todos os tecidos, sendo, porém, mais efficaz a sua acção sobre os tecidos muscu- lares e glandulares. O Segundo Glaude Beknakd, o systema nervoso representa, relativamente ao calor animal, dous papeis: nos calibres dos vasos, diminúe ou aug- menta a passagem do liquido sanguíneo numa certa região; obra sobre o movimento chimico da nutrição. Seccionando o grande sympatbico, no pescoço 15 dum coelho, observou Claude Bernard a mani- fostação de calor do lado da cabeça, correspon- dente á secção quer superficial, quer profunda- mente, na substancia cerebral. A galvanisação deste nervo, produziu, ao con- trario, um abaixamento de temperatura. Dahi a hypothese por elle formulada sobre a existência, do nervos frigoríficos (vaso-constrieto- res\ e nervos caloríficos (vaso-dilatadores). Para Glaude Bernard, existe antagonismo entre o systema do grande sympathico e o systema cer^bro-espinhal. Este, dando passagem ao sangue em maior quantidade e accelerando o trabalho nutrihvo, eleva a. temperatura. Aipielle, diminu- indo i passagem do sangue e retardando o tra- baibe nutritivo, baixa a temperatura. Pospichi, baseado em diversas mensuraçõés calor:métricas por elle feitas, demonstrou que o desprendimento de calor pela, superfície cutanea será tanto mais considerável, quanto a circulação superficial fôr mais activa e vice-versa. Diz Pospichi terem o repouso muscular ou a arção do frio exterior a propriedade do diminuir o desprendimento de calor, por isso que a pelle se retrahe e se torna, secca; o calibre dos vasos cutâneos se deprime e o sangue afílúe das regiões superíiciaes para os organs profundos. 16 Observaremos, no discurso desle nosso ligeiro estudo sobre o calor animal, que o systema ner- voso, obra, principalmente, por intermédio dos nervos vaso-motores. A influencia destes nervos c dupla. Actuam de um lado, sobre a producção de calor, sendo maior esta, quando, pela dilatação capillar, o san- gue. para ahi affluindo em grande quantidade, tornar mais activas as combustões. De outro lado, fazem sentir os seus effeitos sobre a perda de calor, quer promovendo-lhe a diminuição, pela constricção vascular, quer auxi- liando-lhe o desperdício, por uma acção reflexa sobre os vasos da pelle, dilatando-os. Neste ultimo caso, a pelle torna-se vermelha, accelera-se a circulação nos seus vasos dilatados, resultando perda de calor, por conductibilidade, irradiação, final mente pela evaporação sudoral. Muita võz, em virtude dum activo funccio- namento muscular, e da elevação da temperatura do meio ambiente, dá-se uma transpiração abun- dante, o que determina perda de calor para o organismo. A excitação dos nervos sensitivos produz, em geral, abaixamento de temperatura, que se póde manifestar, localmente, por uma constricção reflexa 17 dos vasos, ou no organismo inteiro, provavelmente pelos effeitos vaso-motores reflexos. Robert de Latour, encarando a intervenção do apparelho ganglionar como um acto puramente dynamico, affirma que elle só tem por fim provocar a combinação do oxygenio com o acido carbonico e hydrogenio, existentes no sangue, donde resulta uma verdadeira combustão, e, portanto, a genese do calor animal. Para este physiologo a acção do calor proprio, produzindo a elasticidade dos peque- nos vasos, estimula a circulação capillar. Nega a influencia da dilatação e constricção vasculares, não admittindo a intervenção dos nervos vaso-motores no mecanismo da circulação capillar. Diz Beni-Barde, em seu trabalho sobre a hydrotherapia, que a circulação capillar é inde- pendente da circulação arterial, soífrendo esta a impulsão do coração, emquanto aquella é produ- zida por uma contracção própria dos pequenos vasos, que impellem o sangue nos capillares. De accordo com a opinião de alguns physio- logistas. existem centros nervosos que actúam sobre aproducção de calor, não estando, porém, bem elu- cidado o mecanismo desta acção. Certas experiencias parecem demonstrar que existem na região bulbo-protuberancial centros V. R. L. 1 3 18 thermicos, que regulam a producção e o desper- dício de calor. Assim è que, pela picada na medulla cervical e na protuberância annular, se tem notado no cão considerável hyperthermia O mesmo observou Righet, fazendo penetrar um estylete na região anterior do cerebro dum coelho. Notaremos, pelo contrario, hypotherm ia,quando tolhermos a acção destes diversos centros bulbo- cerebraes, seccionando a medulla. A perda de calor pela superfície cutanea está sob a dependencia do systema nervoso, incum- bindo-se a irritação sanguínea de estabelecer o equilíbrio de temperatura entre as partes super- ficiaes e os organs profundos; para, o que inllúe directamente o calor proprio. Da actividade da circulação peripherica depen- de o maior ou. menor desperdício de calor. Mas, como sabemos que a actividade da circulação peri- pherica é modificada pelo systema nervoso, por intermédio dos nervos vaso-dilatadores e vaso- constrictores, diremos que é o systema nervoso que regula o calor, produzindo, segundo as cir- cumstancias exteriores, um desprendimento calo- rífico, rrais ou menos abundante, pela dilatação ou pela constricção vasculares. A temperatura exterior tem grande influen- 19 cia na producção e perda do calor; e a proposito, occorre-nos a lei de Newton, que reza: «Um corpo quente abandona no meio em que é mergulhado tanto mais calor, quanto maior é o exc o temperatura sobre a do meio ambiente». Para não tornarmos mais extensa esta, parte, terminaremos aqui o estudo sobre a rego ia ri sacão thermica, dizendo que desta missão se incumbe principalmente, o systema nervoso vaso-motor. Deste succinto exame, que fizemos sobre o calor animal, deprehende-se o seguinte: que existe intima solidariedade entre o calor proprio e o sys- tema nervoso, dando-nos o direito de assegurar que não ha modificação do systema nervoso que se não repercuta sobre a temperatura, do mesmo modo que não ha modificação da temperatura que não tenha manifesta resonancia sobre o systema nervoso. Esta reciprocidade de influencia constitúe im- portante base para o estudo da balneotherapia. Noutro capitulo faremos o estudo physiologico da agua, salientando desde já, porém, que eliatem uma acção-physica-decorrente da propriedade que têm todos os corpos de equilibrarem as suas temperaturas, com a dos corpos viz nhos; a outra- physiologica-em grande parte dependente do sys- tema nervoso. CAPITULO 11 Elementos da acção balneotherapica. Estudo physíolo- gico dos banhos quente e frio Ccertamente a pelle aue primeiro recebe as impressões do frio e do calor, transmittindo de- pois ás partes mais profundas da economia as sen- sações que estes agentes physicos lhe provocam. Não é extemporâneo, portanto, que, tratando nós da influencia dos banhos quente e frio nas di- versas funcções do organismo, digamos alguma cousa da physiologia da pelle. Dotada de rica e notável rede capillar sangui- nea, é a pelle aparte do corpo que offerece maior superfície, mais ampla extensão ás impressões do mundo exterior,preenchendo funcções importantes no que respeita á vida eá saúde;são as suas diversas camadas ricas em glandulas e em filetes nervosos, •que se ramificam em suas papillas; desempenha a pelle importante papel, na physiologia geral, como orgam de protecção, de sensibilidade, reflexibili- dade, excreção, etc. 22 Os phenomenos de evaporação, que ahi se effectuam, facilitando a lucta contra as elevações da temperatura exterior, pendem do funcciona- mento das glandulas sudoríparas que determinam -quer a perspiração insensivel-quer a transpira- ção. A perspiração insensivel é uma funcção perma- nente que toma parte notável na execução dos pro- cessos de assimilação e desassimilação que se pas- sam na economia. Sobre esta funcção exerce grande influencia o systema nervoso, que a augmenta ou diminue, segundo o seu estado de excitação ou de- pressão. O suór e a exhalação cutanea são de natureza idêntica representando, porém, o primeiro, o mais alto gráo da evaporação cutanea. O suór é a exha- lação que se produz na superfície da pelle, e que, não se evaporando, ahi fica sob forma de gôttas. Segundo alguns physiologistas, a exhalação cu- tanea faz-se pelas glandulas sudoríparas; contra- riamente ao parecer de outros, que dizem ser ella produzida por uma transsudação especial atravéz dos tecidos da pelle. Experiências de Aubert, demonstraram que a transpiração se dá por intermédio das glandulas sudoríparas; ainda mais, que só a ellas se pòde at- tribuir a exhalação pela superfície da epiderme. Observações outras provaram que não ha dís- 23 paridade entre a transpiração e a perspiração in- sensível, as quaes devem reputar-se manifestações da mesma funcção. François Franck admitte ainda outra funcção, que elle denomina estudo de humidade, em que a pelle se humedece e se torna gordurosa, sem, en- tretanto, accusar liquido em sua superfície. A transpiração regula também o calor animal, mantendo o equilíbrio de temperatura no corpo humano. Pelo ligeiro estudo que fizemos, podemos dizer que o calor e o frio, appliçados sobre a superfície da pelle, têm acção sobre o calor animal, pelas mo- dificações que imprimem na evaporação cutanea, no systema nervoso e no systema capillar. A medicação pela agua, exteriormente appli- cada, em seus diversos gráos de temperatura-eis o que, a nosso ver, traduz a balneotherapia. O banho póde ser definido, encarado sob o as- pecto especial, que nos prende a attenção: a immer- são, mais ou menos prolongada, do corpo em um meio liquido. Diz Emile Duval que a hydrotherapia sim- plesmente consiste «no emprego methodico da agua fria.» 24 Affigurando-se-nos desarrazoado este modo de pensar de Duval, diremos com Bottey e Beni- Barde que a bydrotherapia é «a medicação pela agua, sob todas as fôrmas, em temperatura variá- veis». E, como a balneotherapia nada mais é que uma variedade da hydrotherapia, aqui estudare- mos, de pleno accôrdo e em conformidade com estes obreiros da sciencia, acima citados, a acçao da agua fria e da quente, sobre o organismo humano. Nem podemos rastrear o porque Duval ex- cluía da balneotherapia a agua quente, quando sa- bemos que o emprego deste agente physico, nesse estado, é um processo legitimo, efficaz e de valor therapeutico tão inestimável, quanto o da agua fria. Por meio do calor se podem colher os me- lhores eífeitos therapeuticos, dando-se aos banhos temperaturas variaveis, e buscando-se opportuna- mente os meios àdaptaveis a certas individualida- des mórbidas Lançaremos mão, muitas vezes, de banhos quentes, (não em temperatura muito alta), como agentes sudoríficos, diuréticos, sedativos, resoluti- vos. anli-thernticos, podendo ser demoradas as suas applicações, sem grande incommodo para o pa- ciente. 25 0 calor tem ainda a propriedade de preparar o doente para as applicações frias, e até auxiliar a acção do banho frio. Com o emprego do banho frio se obtem uma acção refrigerante e estimulante; com o do banho quente, uma acção revulsiva e sedativa. Nos casos de broncho-pneumonia, bronchite capillar, pneumonia, febre typhoide e grippe de forma gastrica, nos casos, fmalmente, de congestões e inflammações das vísceras thoraxicas ou abdo- minaes, os banhos quentes prestam beneficos ser- viços, em virtude, principal mente, dos seus effeitos revulsivos e antiphlogisticos. Ainda nos utilisaremos dos banhos quentes; e efficazmente, em casos de pyrexias, em certos doen- tinhos, nos quaes facilmente a innervação cutanea se excita e se exageram os reflexos, o que consti- túe uma contra-indicação ao emprego dos banhos frios. Seria, pois, irracional limitarmos a balneothe- rapia ao tratamento exclusivo pela agua fria, des- prezando a agua quente, que, em pyrexias infantis, nos presta valiosos serviços. Nas considerações por nós feitas sobre o calor i animal, deixamos consignado que podiamos ava- liar em 37° a média da temperatura do corpo duma creança, temperatura esta necessária á saúde e re- K. R. L, 4 26 guiada pelo systema nervoso. Esta temperatura não é, porém, egual em toda a superfície do corpo. Partes do organismo ha que, constantemente cobertas pelas vestes, têm uma temperatura am- biente superior áquellas que, de ordinário, ficam expostas ao ar. Tem-se assim um meio thermico ar- tificial cuja temperatura é mais pronunciada na parte média do corpo do que nos membros. E' o que se tem denominado linha neutra, privai klima dos allemães. Póde-se fixar em 32°, á semelhança de Win- ternítz, a temperatura da linha neutra (no estado apyretico) nas crcanças. Os banhos administrados com a agua em tem- peratura de 32° copstituem as applicações thermi- cas inaiff crentes. Assim, teremos banhos frios, quando a temperatura da agua fôr inferior a 32e; e banhos quentes, quando exceder esta cifra. As reac- ções por elles determinadas sobre o organismo se- rão tanto mais intensas, quanto mais affastadas de 32° fôr a temperatura da agua. Segundo Emile Duval, o mini mo de tempe- ratura da agua de um banho, é de 4 a 8o: Fleury da como limite inferior 8a 10°; Burgonzio e Hayem, 12°; e Magario, 14o. Embora o organismo supporte banhos em tem- peratura muito baixa, (15, 18. 19°) não devemos 27 administrar taes banhos, porque são quasi sempre inúteis e sempre perigosas as suas applicações. A immersão na agua quente não será também tolerada pelo organismo se a temperatura da agua fôr muito superiora 32°. Em resumo, os banhos não serão subministra- dos ás creanças, em temperatura, áquem de 25° nem além de 40°. O calor do banho tende a augmentar a tem- peratura do corpo, do mesmo modo que o frio tende a abaixai-a. Entre estes dons termos extre- mos, ha um termo médio, uma. temperatura sem grande influencia no organismo, por Bottey deno- minada linha neutra. Antigamente se acreditava que o processo fe- bril era apenas representado pela hyperthermia. Hoje, porém, sabemos que, de envolta com a ele- vação de temperatura, figuram outras perturbações funccionaes: modificações da circulação, da respi- ração, do systema nervoso, desordens, emíim, nas funcções digestivas, secretorias, e cutaneas. A febre altera, pois, todas as funcções da eco- nomia, imprimindo-lhes modificações mais ou me- nos notáveis. Por isso procuraremos demonstrar os effeitos 28 da balneotherapia sobre cada uma das funcções do organismo. Começaremos pelo estudo do calor. TEMPERATURA-Na lucta contra, este agente physico, o organismo não dispõe de elementos que lhe permittam restringir a producção. Mas, em virtude da dilatação dos vasos san- guíneos da peripheria, que se manifesta durante as applicações quentes, torna-se mais activa a cir- culação peripherica e augmenta a perda do calor. Em verdade, com a dilatação dos vasos, cresce o desperdício de calor pela peripheria, tornando-se também maior a evaporação de suor, donde re- sulta perda. de calor, mais ou menos considerável, para o sangue. O liquido sanguíneo, sendo menos quente, impede o augmento de calor nos organs pro fi m d a mente col loca dos. A secreção do suor paralysa-se, segundo Bornstein, durante a applicação do banho quente, por isso que a. pressão da agua do banho é supe- rior á pressão intra-glandular; o que se não dá nas partes que não soífrem o contacto da agua, (cabeça pescoço), onde se nota exagero da transpi- ração. A elevação da temperatura central, que occorre durante o tempo em que é o paciente submettido ao banho quente, é muito passageira, e grande- 29 mente influenciada, mesmo emquanto permanece esta applicação, pelo augmento da perspiração pulmonar, que tende a coarctal-a. Depois do banho e por effeito do exagero da secreção do suor e da exitação da circulação peri- pherica, nota-se abaixamento da temperatura. Experiências de Couette demonstraram que nas applicações quentes, ha rapida elevação da temperatura, que lentamente decresce, até chegar á normal. Para Liebermeister e Kernig, a temperatura não se altera com as applicações quentes, refle- xionando elles que a maior perda de calor corres- ponde maior producção de calor, do mesmo modo que a. menor desperdício corresponde menor pro- ducção. Parece-nos, entretanto, que nas applicações quentes se manifesta, a principio, ligeira elevação de temperatura, que volta pouco e pouco a normal. SECREÇÕES CUTANEAS - O calor actm as combustões organicas e a circulação do sangue nos vasos capi liares, congestionando as glandulas sudoríparas e determinando abundante secreção na pelle. Para explicar-se o mechanismo da transpi- 30 ração, depois das applicaçoes quentes, surgiram divergentes theorias. Para Robert de Latour, a progressão do sangue nos capihares não obedece ás contraccões cardiacas. senão que se subordina, ao calorico, que se desprende do -eío dos tecidos. Para este physio- logista.em virtude da acção dynamica que exercem os nervos ganglionares que acompanham as arte™ riolas, augmenta-se a producção de calor animal, havendo turgencia dos capillares e, fmalmente, a transpiração. Para Hansfield Jones, a «sudação resulta da depressão da tonicidade vascular, que, depois de superexcitada passa a um estado de esgota- mento relativo, graças ao qual o sangue póde chegar em grande quantidade ás glandulas sudo- ríparas e facilitar, por consequência, suas se- creções. Outros, como Vulpiam, Gold, Strauss, Fran- ck, etc., cuidam que as applicaçoes quentes excitam os nervos sensitivos cutâneos, excitação que se transmitte a centros especiaes, produzindo-se, em virtude do systema nervoso excito-sudoral, uma abundante secreção das glandulas cutaneas, Segundo outros physiologístas ainda, é o sys- tema vaso-motor que mais contribue para a pro- ducção do suór, uma vez que a sensação de calor 31 na superfície cutanea modifica a circulação capillar, por intermédio dos nervos vaso-dilatadores e vaso-constrictores. Como quer que seja, o que se não póde con- testar é: que as applicações quentes determinam vaso-dilatação, activando-se a circulação e tornan- do-se mais ener^ico o funcionamento das glan- dulas sudoríparas. SECREÇÃO URINARIA-A secreção da urina augmenfã consideravelmente pela acção dos banhos quentes, sobretudo nos febricitantes, onde é bem manifesta esta acção. No capitulo seguinte, melhor estudaremos este assumpto. CIRCULAÇÃO - O banho quente accelera os batimentos cardíacos. Nas applicações quentes, cuja temperatura não é muito superior a do corpo, não se observa, geral mente, accele ração dos batimentos do mus- culo cardíaco, o que também póde acontecer, quando o organismo, procurando manter seu equi- líbrio thermico, domina a força do coração. A vaso-dilatação perípherica, (de que mais acima falamos), origina modificações nos organs profundos, onde se produz uma vaso-constricção compensadora. A circulação nas vísceras diminúe, segundo alguns investigadores, com as applicações quentes. 32 Baelz, medindo a circumferencia de seu abdo- men; antes e depois do banho, notou uma diffe- rença de dous centímetros. Observações feitas por Schuller e Istamanow puzeram também em luz o mesmo facto O banho quente augmenta a velocidade do pulso. Petiu observou que o numero de pulsações augmentava durante as applicações quentes, facto este também relatado por Vinay, com o emprego de banhos a 37°. Quando a transpiração se manifesta, o pulso diminúe ae frequência. Diz Winternitz que toda a applicação hydro- therapica produz augmento de globulos brancos, globulos vermelhos e de Hemoglobina. W1NTERNITZ, MuRRÇ WlLLIAM TàYER, PoGGÍ e alguns outros investigadores observaram que, % depois duma applicação quente, ha um augmento diminuto de hemacias, embora, a principio haja diminuição destes elementos do sangue. Em remate: com o banho quente accelera-se o pulso cardíaco, havendo a principio augmento da tensão sanguínea, e depois, diminuição irrigando- se melhor e mais desempeçadamente os tecidos e órgans, nos quaes, antes, se não fazia bem a cir- culação. 33 RESPIRAÇÃO - Os movimentos respiratórios manifestam-se accelerados, sob a influencia dos banhos quentes. Para Beni-Barde a actividade das combus- tões e os phenomenos chimicos pulmonares não correspondem porém a acceleração dos movi- mentos respiratórios. Segundo este auctor,a exhala- lação do acido carbonico é menor. Isto não obstante, affirmam outros que a ven- tilação pulmonar se torna exagerada, sendo absor- vido em maior quantidade o oxygenio e exhalado o acido carbonico, com os banhos quentes. Ha occasiões em que a ventilação pulmonar não é tão exagerada, sendo, comtudo, mais ampla do que antes do banho. Seja como fôr, o paciente, sob a influencia do banho quente, respira mais calma e regular- mente, absorvendo oxygenio em maior quantidade. Com esta maior absorpção de oxygenio, augmen- tam-se as oxydaçoes. NUTRIÇÃO - Os banhos quentes favorecem a nutrição. O oxygenio absorvido em maior quantidade pelos tecidos, o augmento das oxydaçoes, as trocas intercellurares mais activas muito contribuem para melhorar a nutrição. SYSTEMA NERVOSO -A acção do banho if. R L. 5 34 quente sobre o systema nervoso, differe segundo o gráo de colórico: se a temperatura da agua é muito elevada e capaz de augmentar o calor sanguíneo, o banho, nestas condições, excita todas as partes do systema nervoso; se, ao contrario, o banho quente é applicado em temperatura moderada, em' gráo pouco differente do calor animal, obtem-se uma diminuição da irritabilidade nervosa, e, por conse- quência, um effeito sedativo, Os banhos quentes em temperatura muito elevada podem ser causa de sérios acci dentes no cerebro e na. medulla, que, segundo alguns, resul- tam da congestão destes organs. Não resta duvida que o banho, em tempera- tura demasiadamente elevada, exagera o afluxo do sangue para o cerebro produzindo hyperemia. Bem ao revez pensam Beni-Barde e Materne, que se manifesta antes anemia, a par com todos os symptomas que revelam o depauperamento e exaltação do systema nervoso. Continham ainda estes auctores: Quoi qu'il en soit, ces accidents sont dus á une anomalie dans la circulation du sang: ou celui-ci est trop chaud, ou 1'attraction capillaire est trop fort, ou 1'echange chimique entre le sang et le cerveau est trop grande, ou le sang est de- venu plus épais, ou il n'est pas oxygéné, ou bien, par suite des échanges chimiques il est chargé de 35 matières excçémentitielles; telles qtracide carbo- nique, acide urique etc., et, dès lors, il n'est pas extraordineire que les centres nerveux soient for- tement impressiones». E' de boa pratica, quando se administram banhos quentes col locarem-se compressas frescas na cabeça do paciente, afim de se evitar a, congestão cephalica e a cephalalgia. O banho quente, em temperatura não muito elevada, é um sedativo para o systema nervoso, acção que se repercute sobre o organismo, em geral, levando-lhe um estado de cal ma e bem estar, que persiste durante muitas horas depois da im- mersão. E' de pouca importância a acção do calor sobre o systema muscular. Resumidamente estudada a acção da agua quente, trataremos agora do como obra o banho frio. TEMPERATURA-O banho frio exerce gran- de influencia sobre o calor proprio do corpo, «sof- frendo toda a massa sanguinea um abaixamento de temperatura» (Poiseulle). Sob a acção de applicaçbes geraes de agua fria, observa-se, segundo experiencias de vários investigadores, abaixamento de temperatura nas regiões superficiaes, ao mesmo passo que se dá um 36 augmento de producção de calor nos organs in- ternos. O banho frio actúa sobre o organismo, não somente resfriando a superfície cutanea, mas ainda impressionando o systema nervoso peripherico. Sob sua influencia produz-se uma contracção es- pasmódica dos capillares cutâneos, afflmndo o sangue da peripheria para as partes centraes, onde ha augmento de temperatura. Não sendo, porém, constante a acção do sys- tema nervoso, o espasmo cede o passo ao relaxa- mento dos vasos periphericos, e o sangue ahi cir- cula com grande velocidade. Experiências de Liebermeister, Winternitz, Aubert e outros tiraram a limpo que, durante a acção do banho frio, ha, no começo, augmento de calor nos organs profundos. O resultado destas observações assenta no fado seguinte: «Durante as applicações frias geraes, apezar da subtracção de calor que se produz em virtude das leis physicas, manifesta-se, a principio, tendencia á elevação da temperatura do corpo, ten- dência que é sempre muito sensível na zona inter- mediária, e ás vezes também na zona central. E' muito raro observar-se um abaixamento immediato da temperatura, o que só se produz em condições exeepcionaes de resfriamento intenso ou rápido, 37 com o auxilio de meios energicos, que a súbitas roubam ao organismo grande quantidade de calor, occasionando-lhe a depressão». E' também deste parecer Couette, que diz produzir-se elevação da temperatura central, com um máximo de 0,2 a 0,4°, nas applicaçoes frias. E' possível, no emtanto, evítar-se a elevação da temperatura central, fazendo-se fricções cuta- neas. Estas fricções, determinando a dilatação dos vasos períphericos. exageram a perda de calor pela pelle. O liquido sanguíneo abandona para logo as regiões superficiaes, quando soffre as primeiras impressões da superfície cutanea resfriada e pene- tra na» regiões profundas. Àhi, em virtude do augmento da producção de calor, eleva-se a tempe- ratura, voltando elle, então, para as partes primi- tivamente resfriadas, que se tornam quentes. Mas, se na occasião em que elle chega ao seu ponto de partida, persiste a applicaçao da agua fria, de novo elle busca, os organs centraes, e phenome- nos semelhantes aos primeiros se manifestam. Bem se comprehende, no emtanto, que o vai- e-vem do sangue se repetirá, durante o tempo em que se mantivéraagua fria em contacto com a pelle, dando em resultado abaixamento de temperatura na superfície cutanea e crescimento de calor nos or- 38 gans internos. Occasião virá, porém, em que o or- ganismo enfraquecido não maís supportará a im- pressão do frio. Este instante torna-se manifesto pelo a p pareci mento do calafrio. Desde este mo- mento não é mais compensada a perda de calor. Graças a maior producção de calor, que se effectua nos tecidos internos, pela applicação de agua fria, man tem-se o equilíbrio de temperatura em todas as partes do corpo, e origina-se uma su- peractividade funccional capaz de lactar contra o frio. Esta superactividade é designada sob o nome de reacção hydrotherapica; «c'est 1'acte thérapeu- tique, recherché, voulu». (Hayem). A refrigeração produzida no organismo, quan- do sobre elle actua o banho frio, é devida a uma acção-physica e outra-nervosa. A lei de Newton, pela qual dous corpos dese- guaes em temperatura trocam entre si seu calor, ensina: que o corpo se resfria porque a agua fria ex- terior absorve parte de seu calor. A acção nervosa é, em grande parte, funcção dos reflexos. A acção do frio sobre a hyperthermia nunca foi contestada, embora antigamente não estivesse bem elucidada a causa do abaixamento de tempe- ratura. Pelas experiencias de Winternitz ficou pro- 39 vado que a balneotherapia, quando a ponto e con- venientemente applicada, diminue a producção de calor, facilitando-lhe o desprendimento. À dilata- ção dos vasos periphericos (principalmente nos ba- nhos quentes) produz sempre maior perda de calor e um abaixamento de temperatura relativo, facto este demonstrado por diversas observações. Maragliano, em experiencias plethysmogra- phicas feitas em um paludico, verificou, no mo- mento de um accesso, que a constricção vascular coincidia com uma grandeelevação de temperatura, ao passo que esta se tornava normal com a dilatação dos vasos. Em resumo, o emprego de banhos frios de- termina, durante a applicação. augmento da tem- perai ura central e diminuição da. peripherica: de- pois do banho dá-se a constricção vascular central, (compensadora) e a dilatação dos vasos da peri- pheria. SENSIBILIDADE TÁCTIL-O banho frio de- termina na pelle nina impressão dolorosa.causando, algumas vezes, insensibilidade, que póde chegar até a anesthesia. A immersão no banho deve fazer-se a súbitas, porque, sendo, neste caso, menos manifesta a sen- sação, é melhor supportada pelo paciente a acção do frio. Depois da primeira impressão mais facil- 40 mente o organismo tolera a refrigeração, pelo facto do abaixamento de temperatura das fibras nervo- sas, o que lhes diminúe o poder de conductibili- dade das impressões. A insensibilidade persisto, ainda depois de cessada a acção do frio, permit- tindo fazerem-se energicas fricções. SECREÇÃO URINARIA-O banho frio pro- voca o augmento da quantidade de urina, que tem por causa, principal mente, o exagero da pressão sanguínea nas vísceras e a superoxygenação do sangue. E' de grande valor este effeito diurético da balneotherapia, sobre o qual nos pronunciaremos no 3o capitulo deste nosso trabalho. CIRCULAÇÃO-O banho frio provoca desde logo contracções cardiacas precipitadas e irregula- res, determinando também passageiro augmento da tensão arterial. Apouco trecho desapparece a excitação primitiva, e os batimentos cardíacos tor- nam-se menos frequentes e menos accentuados. No princípio os banhos frios dão logar, e já o dissemos nós, á constricção dos vasos sanguíneos da peripheria, e dilatação dos vasos sanguíneos centraes. Com a constricção vascular cutanea coincide o augmento da circulação e elevação da pressão sanguínea, dizendo Eíayem, que esta se eleva nota- velmente, apezar da vaso-dilatação central. 41 Affirma Mercandino que o banho frio eleva a pressão sanguínea diminuindo o numero de pul- sações, com o que concordam as observações de SCHWEINBURG e POLLAK, LeHMANN, AFANASSIEV, Colombo, Winternitz, Buxbaum e de muitos ou- tros. Das experiencías dc Marey attinentes á acçao do banho frio sobre a circulação, daremos o se- guinte resultado, por elle observado: constricção dos vasos sanguíneos cutâneos; diminuição da tem- peratura do sangue; augmento da tensão arterial e decrescimento da actividadc circulatória, que, a principio superexcitada, volta lentamente á nor- mal. Fleury e Delmas observaram, com o emprego de banhos trios, que se tornava menor o numero dos batimentos do pulso e se elevava a tensão ar- terial. Para o primeiro, a circulação, no começo en- fraquecida, readquire, em virtude do movimento de reacção, a velocidade primitiva, excedendo-a al- gumas vezes. Delmas, ao contrario, assevera que a remissão do pulso continua, durante muito tempo. Para Beni-Barde d banho frio provoca,quando logo applicado, augmento de velocidade decoração e do pulso, observando-se depois diminuição da F. R. L. 6 42 actividade circulatória e elevação da tensão arterial e venosa, Quando é persistente a acção do frio a circula- ção torna-se lenta, por mais tempo. Quando, porém, se faz menos demorada a ap- plicação fria, ou, antes, quando se começa por um banho quente, a circulação mais de prompto volta á sua actividade normal, graças ao ((movimento de reacção, em virtude do qual todas as funcções do organismo, accidentalmente superexcitadas, con- gregam seus elementos de energia para restabele- cer a harmonia, um instante perturbada pela in- tervenção do frio». Diremos,em conclusão,que, como effeitos con- secutivos ás applicações frias, se manifestam a dilatação dos vasos sanguíneos da peripheria e a constricção dos vasos centraes, a reação circulató- ria, finalmente; os batimentos cardíacos tornam-se normaes,abaixando-se lenta e gradualmente a pres- são sanguínea. O banho frio tonifica o musçulo cardíaco, res- tabelecendo o toaus ca rdio-vascular, mormente nos febricitantes. Observou Winternitz em uma média de 80 indivíduos, sob a influencia de 1 anhos frios, au- gmento dos globulos vermelhos,(1.800.000 pormil- limetro cubico), sendo egualmente tres vezes supe- 43 rior á cifra normal o augmento dos globulos bran- cos, e a hemoglobina, 44 %. O dr. Thermes notou semelhantemente,em di- versas experiencias, o accrescimo de globulos ver- melhos e de hemoglobina, no sangue de doentes sujeitos á balneotherapia fria. Egual resultado deram as experiencias de Murou, Friedlaender, Reinebot, Tirklli e outros, que demonstraram o augmento dos lencocvtos, dos J O a erythrocytos e da hemoglobina, depois de banhos frios. Por eífeito do. banho frio é que se faz n en- trada, na torrente circulatória, dos elementos san- guíneos, que antes das applicaçoes frias estavam paralysados nos organs e tecidos, sem preencher funcção alguma. - assim explica WinternÍtz o accrescimo destes elementos em a massa circulató- ria. Para elle, os globulos sanguíneos, reintegrados na torrente circulatória, saturam-se de oxygenio nos pulmões e exercem a mesma acção queéinhe- rente aos corpúsculos novámente formados. RESPIRAÇÃO-Sob a acção do banho frio os movimentos respiratórios tornam-se mais lentos, mais profundos e mais amplos. A primeira impressão do frio determina, toda- via, irregularidade na respiração, que se traduz, al- gumas vezes por dyspnéa e anciedade respiratória. 44 As combustões respiratórias manifestam-se activas, sob a influencia dos banhos frios. Para Quinquaud estes banhos tem a proprie- dade de activar a hematose e augmentar a ventila- ção pulmonar, sendo absorvido o oxygenio em maior quantidade, tornando-se mais considerável a exhalação de gaz carbonico. Experiências de Howard Johnson. Richter e Pleniger puzeram em evidencia que, após os ba- nhos frios, augmentavam as inspirações. Com as.observações de Quinquaud, relativas á maior absorpção de oxygenio e augmento da exha- laçào pulmonar.depois de banhos frios, combinam as do LlEBERMEÍSTER, SENATOR,R(EHRIOe Zunt, que, em diversas experiencias, obtiveram os mesmos resultados. NUTRIÇÃO-Sc é verdade que o oxygenio é absorvido em maior quantidade eé maior a exha- lação do gaz carbonico,sob a arção dos banhos frios, não o c menos que, sol) sua influencia, ha aug- mento das trocas intersticiaes, maior actividade das funeções digestivas e melhora da nutrição. De feito, as experiencias têm demonstrado que os banhos frios aguçam o appetite, facilitam a pro- gressão dos alimentos, regularisam as contraccões em todo o tubo gastro-mtesíinal, tornam normaes 45 as secreções glandulares, regram, emíim, as mu- tacões nutritivas. Em summa.o accrescimo deoxydações, a maior excreção de uréa, acido urico, chioruretos, obser- vada por Kikejeff, e, principalmente, o augmento de peso dos doentes submettidosá balneotherapia,- testificam de sobejo a influencia favoravel dos ba- nhos frios cm a nutricção.. SYSTEMA MUSCULAR-Soffretambem.a in- íjuencia dos banhos frios, a A s p r i m e i r a S c o n s e q u e n c i a s d a a g u a f r i a, q u a n d o em contacto com a pdle, são: excitação e contracção dos museu los. Facto importante observa-se para o lado das fibras musculares lisas da dérma. Estas, pela acção do banho frio-,xmitrahem-se, manifestando-se em toda a superfície de corpo pe- quenas saliências globulares, que os auctores fran- cezes denominam «chair de poule». E' commummrate designado este phenomeno, pelo nome de arrepio de frio. O banho frio póde produzir, quando muito prolongado, contraeçoes reflexas no systema mus- cular, de onde muita vez se originam tremores, contracturas, etc. SYSTEMA NERVOSO-Dupla é a accào do ba- nho frio sobre o*systema nervoso. Actúa, de um 46 lado, dando origemá diminuição de calor, que pode trazer em resultado o embotamento passageiro das funcções da innervação: De outro, impressionando os nervos sensitivos periphericos, impressão que se repercute nos centros nervosos,produzindo phe- nomenos reflexos nos nervos motores correspon- dentes. A acçào do banho frio sobre o systema ner- voso, já se nos propiciou ensejo de demonstral-a em paginas que atraz ficaram, principalmente, quando falamos das acções reflexas que se mani- festavam na circuiacão sanguínea, causadas pelas excitações partidas da surpèrficie cutanea resfriada. São numerosos os phenomenos reflexos deter- minados pelos banhos frios. Ainda applicada parcialmente a agua fria, quando, por exemplo, se mergulha a mão neste liquido, nota-se que «a temperatura baixa não só- mente na mão immergida, mas também na que fica exposta ao ar, e isto, sem modificação sensivel na temperatura geral do corpo» (experiencia de En- wards). Quando se dá a immersão do corpo em um banho, ficando sua parte superior fora dagua, o indivíduo, sujeito a esta experiencia, experimenta sensação de frio na região descoberta, a qual se 47 póde pronunciar de modo que determine o phe- nomeno de batimentos dos dentes. Winternitz, applicando agua fria no trajecto duma artéria, observou diminuição do volume de sangue nas ramificações deste vaso, diminuição esta que elle attribuiu á constricção vascular, motivada por um phenomeno reflexo, que, tendo origem na pelle submettida á acção do frio, repercutiu nos nervos vaso-motores,que acompanhavam os ramos terminaes da artéria interessada. Estas experiencias, e ainda as observações de Winternitz, Pléniger, Gotz, Fredericq, Vinay, Burgonzio e de muitos outros, patenteam a acção que têm as applicações parciães de agua fria sobre a innervação, dando logar a phenomenos reflexos em regiões distantes da parte influenciada. E, se taes effeitos se dão, em se applicando a agua fria, parcialmente, mais intensos e generali- zados se manifestam, quando gerados pelos banhos frios. A constricção vascular peripherica, que se dá, no começo,nas applicações frias,augmenta o affluxo de sangue para o cerebro. Pelo que, é de boa pratica collocar-se na cabeça do paciente, um appa- relho refrigerante, que, determinando a contracção dos vasos subjacentes, permitte ao cerebro reagir contra esta maior chegada de sangue. 48 0 banho frio,- em summa. exerce aeçâo tónica sobre o systema nervoso. Estudando a acçao do banho frio sobre a íem- peratura, dissemos que, sob suá influencia. a pelle se resfriava e o sangue fugia das regiões superíi- ciaes para os organs profundos, onde se aquecia. Voltando depois á peripheria. A esta troca do v-dor e de frio entre as partes superficiaes e os organs profundos é que Bottey chama arção friporiyma. Terminada esta acçao. dá-se a reacção thermica, graças á qual, o orga- nismo compensa a perda de calor. A este proposito diz Lubansky: «Toucher à la caloribcation, c'est en quelque sorte toucher au ressort de 1'existence et faire retentir les mouve- ments qu'on lui imprime du côté des fonctions les plus importantes de feconomie. Placer 1'organisme dans la necessitéjde produire une plus grande quan- tité de chalcur, en bexposant à des pertes réitérées de calorique, c'est d'abord accélérer ia consomma- tion de la matière organique, par celà même accé- lérer lemouvement de décomposition, c'est stimuler la respiration et 1'oxygénation du sang qui en estia conséquence; cTst exciter la circnlafion et la muta- tion de la matière dans les dernières divisions 49 capillaires; c'est éveiller le besoin de réparation et enfm, impressionei- directement 1'innervation». Não se deve manter muito intensa ou muito prolongada a applicação fria, afim de se evitarem os «calafrios secundários internos»,que se produzem quando o organismo nào póde mais luctar contra o agente resfrigerante. Além das reacçõesthermica e circulatória, con- sidera BoTTEY,«é da maior evidencia que cada orgam, cada funcção, cada cellula mesmo, reage egual- mente, por um modo reflexo e. digamol-o assim, individualmente, contra a acção excitante e pertur- badora do frio, sobre os nervos sensitivos periphe- ricos, constituindo assim uma quantidade de mo- vimentos vitaes, aos quaes se póde dar o nome de «reacções organico-reflexas». Ante de pormos o sello ás considerações exa- radas neste capitulo, exporemos, em concisa re- senha, os efleitos dos banhos tépidos e dos quentes progressivamente resfriados. Em seguida a uma applicação tépida produz-se passageira acceleração dos movimentos do mus- culo cardiaco e o sangue afflúe da peripheria para os organs centraes, phenomeno, entretanto, de muito menor intensidade, do que o provocado pelo banho frio. Depois de certo tempo, telativan ente rápido, F. K. L. 7 50 sobrevém a reacção e a circulação readquire sua marcha primitiva. O banho tépido faz baixar também a tempe- ratura. E' verdade que o abaixamento thermico não é tão pronunciado quanto com a balneação fria, o que, porém, não constitue desvantagem para a bal- neação tépida: muito ao revéz, não é mistér baixar a temperatura a limites muito inferiores. A acçâó sedativa que exerce o banho tépido sobre o systema nervoso, é por demais conhecida. Por encurtarmos razões: os banhos tépido e quente gradativamente resfriado determinam, sobre as diversas funcções da economia, effeitos muito semelhantes aos descrptos com relação aos banhos frio e quente, effeitos, todavia, que se ma- nifestam mais lentamente. CAPITULO III Acção therapeutica dos banhos; sua technica. Contra- indicações ^Bamos agora tratar do assumpto mais im- portante, dentre os externados neste despretencioso trabalho. Assumpto mais importante dizemos, e assim o consideramos, por constituir matéria de caracter pratico, o que, a nosso ver, em Medicina é tudo. Tencionávamos apresentar um estudo mais nosso, illustrado por observações próprias^ valo- risado por experiencias, por nós mesmo reali- zadas. Nâo nos foi, noemtanto, possivel, transformar em realidade essa doce esperança que de longe nos vinha afagando e alimentando o espirito A inexistência, em o nosso Hospital, de logar apropriado para o emprego da therapeutica bal- near, e a falta sensivel de um arsenal technico ne- cessário, carências de meios estas que já se vão preenchendo,graças á sabia orientaçãodo digno Di- 52 rector da nossa Faculdade-Dr. Alfredo Britto- obraram contrariamente aos nossos desejos, bal- d and o-os de todo. Confessamos assim, é certo, a ausência de ex- perimentação completa; no emtanto, esta cir- cumstancia de modo algum deprecia o alto con- ceito therapeutico em que havemos a agua. E isto tanto mais quanto, se nos não foi possivel, no Hospital, pelos motivos acima apontados, colher, sobre algumas manifestações pyreticas da infancia, a acção incontestavelmente favoravel de tão pre- cioso agente therapeutico, a respeito da qual falam tão bem valiosas observações de mestres, de cuja competência e critério nos não é permittido um só instante duvidar, tivemos, comtudo, ensejo de observal-a a miúde, na clinica civil. E se deixamos de apresentar, sob a forma de observações, os resultados por nós apreciados nestes casos, foi pela impossibilidade em que nos achamos de seguir-lhes a marcha, de modo com- pleto, e com a rigorosa observância exigida, por não estarem sob os nossos cuidados immediatos os casos observados. Sendo, porém, nossa intenção arraigada, não obstante o que fica exposto, imprimir ao capitulo que ora escrevemos o cunho mais pratico possivel, dirigimo-nos a alguns mestres e notáveis profis- 53 sionaes nesta Capital, inquirindo-lhes as opiniões competentes, relativas a acção da balneotherapia nas pyrexias infantis; indagando dos effeitos por elles obtidos em casos taes, sobre os diversos or- gans e apparelhos da economia;perquirindo,emfim, quaes os resultados alcançados. Epilogando este capitulo, fazemòl-o de modo brilhante, pela transcripção das respostas dos aba- lizados clínicos e mestres, que, por sua grande gentileza em iliustrarem com suas luzes este mo- desto trabalho, ainda uma vez nos conquistaram a gratidão. FEBRE, no conceito dos pathologistas da. actu- alidade é uma. hyperthermia, de origem toxica e acompanhada de perturbações funccionaes. E', com effeito, a hyperthermia que, principal- mente, caracteriza este estado pathologico, a. qual é occasionada pela perturbação da região thermo- reguladora, pela ruptura de equilíbrio entre a pro- ducção e a eliminação do calor. Duas theorias foram aventuradas para explicar a elevação da temperatura central. A primeira, de- nominada theoria da retenção, e em cuja vanguarda militou Traube, incriminava como agente deter- minante da hyperthermia o accumulo do calor 54 normal, manifestado em consequência da dimi- nuição do seu desperdício, consecutiva aos espas- mos dos vasos cutâneos. Na segunda, theoria eclectica chamada, a ele- vação thermica é levada á conta de uma dupla cau- salidade: de um lado, e principalmente, á insuffi- ciencia de emissão de calor; de outro lado, á sua hypergenesia. A favor desta ultima falam observações de Liebermeister, Senator, Ludwig, Leyden, e de muitos outros. No começo de toda a febre é a elevação ther- mica devida á diminuição do desperdício de calor; o que se não dá nas pyrexias prolongadas, e na- quellas em que ha excesso de trabalho muscular, nas quaes é manifesta a sua hyperproducção. As creanças supportam melhor que os adultos grandes elevações de temperatura, facto este obser- vado por vários clínicos. De molde vem o que a este respeito diz Pet- ter: «L'hypertheimie ne doit pas être considérée comme un grand danger, surtout chez les en- fants». Baginsky manifestou também sobre este as- sumpto opinião muito semelhante á do eminente cardiopathologista, que acabamos de citar. Eis as suas referencias: «Les enfants suppor- 55 tent fort bien, pendant un temps assez long, des températures élevées; une médication perturba- trice, violente, produit tâcilement des troubles graves, et la fièvre est moins redoutable pour l'en- fant que le cohapsus que provoquerait une antipy- rèse intempérante». (1) Poderemos ainda citar Cadet de Gassicourt, que diz: «Depuis longtemps, les médecins ont remarqué la facilité avec laquelle les enfants sup- portent une fièvre violente; cette remarque a été confirmée depuis que le thermomètre est devenu d'un usage vulgaire. Combien de fois ne vous ai-je pas fait voir des enfants chez lesquels la tempé- rature rectale s'élevait à 40°, 5, par axemple, et qui avaient l'air presque aussi calme que si elle n'avait pas depassé 39.° La langue était humide, les traits reposés, la bouche souriante, et il fallait que la main appliquée sur la peau. ou, mieux en- core, le thermomètre indiquât la chaleur du corps pour que l'on pút croire à une si grande élévation de temperature. Cette observation, messieurs, n'esl pas de simple curiosité; elle a son interêt pra- tique: elle nous prouve que, chez les enfants toutau moins, l'hyperthermie ne devient un danger que I) A d. Baginsky, traducçâo frhnceza, toino 1', pag. 51. 56 dans des circonstances spéciales, et que ce serait souvent s'attaquer ã une chimère que de la com- battre. Ce n'est pas à dire qu'on n'en doit tenir aucune compte; mais cela nous indique qu'il n'en faut pas faie, à 1'exemple de quelques médecins, fobjetdenos préoccupations exclusives». (1). Estas e outras observações induzem-nos a pensar que não é necessário, em casos de pyre- xias infantis, recorrerão vasto arsenal lherapeutico antithermico. recurso que, muita vez, longe de trazer benefícios, é portador de complicações para os doenfmhos. Nem sempre, entretanto, nos é permittida esta esquivança ao emprego da medicação antipyre- tica. Occasiões ha em que somos forçados a pro- ceder de modo contrario, mormente em casos de paludismo e de algumas outras moléstias, que têm medicações especificas. Como quer que seja, é innegavel o alto valor therapeutico dos banhos. Quando empregamos banhos, (quentes, tépidos ou frios), em creanças attingidas de moléstias, nas (1) Durante o nosso tempo de internato na Clinica Pediátrica, ti- vemos occasião de, por varias vezes, observar casos confirmativos de quanto affirma Capet pe Gassicqurt. 57 quaes predomina o elemento-febre- não conse- guimos tão sómente uma subtracção de calor; não. Ao lado do abaixamento de temperatura, outras indicações therapeuticas devem preencher-se; o que, de algum modo, provamos, em estudo anterior e relativo aoa effeitos da agua sobre as varias funcções da economia. E' sabido que a hyperthermia nas moléstias infectuosas tem como causa a existência de toxi- nas no sangue, toxinas que vão actuar sobre a re- gião nervosa thermo-reguladora. E por isto é «qu,e as moléstias, nas quaes a elevação thermica é ra- pida, reconhecem, de ordinário, por causa, ou a presença de parasitas na torrente circulatória e que, em um momento dado, emittem fórte dóse de toxinas, ou, ainda, a existência de parasitas situados fora da torrente sanguínea, mas capazes de elimi- nar, duma Só vez, grande quantidade de veneno». A toxina da febre typhoide, diz Chantemesse, é, talvez, de todas as toxinas, a mais sensivel ao oxygenio. Ora, se nas applicações de banhos nos febre- citantes, ha, segundo Quinquaud, maior absorpção de oxygenio e maior eleminação de gaz carbonico, respirando os doentes mais ampla e activamente; se a toxina da febre typhoide é comburida e des- truída pelo oxygenio, é claro e evidente que a bal- F. E. L. 8 58 neotherapia. além da. acção que tem sobre os diffe- rentes organs da economia, actúa pathogenicamente sobre a dothienenteria. Ao lado da hyperthermia, já o dissemos nós, figuram modificações da circulação, da respiração, do systema nervoso, perturbações das funcções di- gestivas, secretarias, cutaneas, de todo o organismo emfim. Em toda a pyrexia é o estado da temperatura, o phenomeno que primeiro nos attrae a attenção. Verdade é que a hyperthermia não deve ser o objecto unico de nossas observações, mesmo parque sabemos ser o organismo sede de perturbações outras, de mais gravidade'que a ascenção ther- mic^. De sorte que, devemos pesquizar, antes de tudo, as causas determinantes da moléstia, ligando uma importância relativa á elevação thermica, porque de nada valerá conseguir-se de tubito a baixa de temperatura, uma vez que o cyclo patho- genico, não obstante, subsistirá. Facto é conhecido na sciencia que a hyper- pyrexia não é o resultado de augmento das oxyda- ções organicas, porquanto os phenomenos de hy- dr citação e de desdobramento, que, anteriormente a ellas, se manifestam, muito contribuem para a producção do calor vital. 59 «No curso das pyrexias decrescem as oxyda- ções». E, sendo assim, ao envez de restringirmos, de- vemos, pelo contrario,prover nos meios de augmen- tar estas ultimas, favorecendo, ao mesmo tempo, as eliminações pelos emunctorios, eliminações que acarretam favoravel desintoxicação do organismo. Importa outrosim manter a integridade e per- meabilidade dos rins, dos organs de excreção, em- fim, bem como attentar no funccionamento do orgam central da circulação, observando se é ou não sufficiente a. tensão da onda sanguínea. Finalmente, a integridade das funcções ner- vosas, que presidem a todas as outras, requer uma rigorosa observância. Dahi, os benefícios proporcionados á scienria pela balneotherapia, sob suas differentes fôrmas. Demais, diz-nos Juhel Renoy: «o grande suc- cesso da balneotherapia, está no seu grande poder diurético». Experiências de Muller demonstraram que a refrigeração do tegumento cutâneo augmentava a secreção renal, pela acção reflexa sobre a inner- vação vaso-motora da glandula. Muita vez se observa, no periodo de deferves- cencia, verdadeira polyuria, sendo eliminados os productos elaborados pelos microbios. 60 Vinay affirma que a secreção urinaria póde elevar-se a 6 ou 7 litros, em 24 horas, nos typhoi- dicos submettidos á balneotherapia. «Ge n'est donc pas du seul abaissement ther- mique que le traitement tire ses bons effets; il s'oppose efficacement à 1'intoxication du malade» (Chantemesse). Esta proposição foi demonstrada pelas investigações de MM. Roque e Weill, sobre a toxidez das urinas nos typhoidicos, tratados por meio de banhos. Em verdade, elles verificaram que nos doentes de febre typhoide, submettidos aos banhos frios, a eliminação dos productos toxicos é enorme, sendo o coefficiente urotoxico 5 a 6 vezes mais conside- rável que no estado normal. E não havemos mais mistér espraiarmo-nos em citações para comprovar o quanto levamos dito; pomos, porém, de patente que, de todas as obser- vações sobre este assumpto, resaita uma verdade inconcussa:-é a abundante diurese que a bal- neotherapia provoca, e, conseguintemente, a eli- minação de.substancias toxicas. Assim esboçada uma apreciação preliminar sobre a febre, em gerai, e as vantagens da balneo- therapia, passamos ao estudo de algumas pyrexias, em particular. 61 FEBRE TYPHOIDE - O emprego do frio no calor febril é tão antigo quanto a Medicina. Já Hippocrates, em tempos assás longínquos, prescrevia contra a febre bebidas frigorificas, loções e appbcações de agua fria. Depois foi esta pratica seguida pelo medico escossez Currie, que recommendava affusões re- petidas, com agua de mar muito fria, affusões que foram substituídas pela immersão pelo medico italiano Giannl Este processo de refrigeração não foi, porém, desde logo adoptado. Foi Brand qaem, reunindo diversos pro- cessos de psychotherapia e regularisando suas applicações,instituiu um methodo seu,e aconselhou o banho frio sistemático, que, segundo Merklen, «é o processo mais efficaz e mais usado da anti- pyrese hydrialica». Este methodo, que se vulgarisou em França, graças ás publicações de Glenard, Tripier p Bouveret, Juhel-Renoy, foi acceíto e perfilhado por grande numero de clínicos,e até hoje conserva, para alguns, a sua preeminencia. Seu emprego technico póde ser formulado nas proposições seguintes: Io Banhar o doente por espaço de quinze minutos, com agua a 20°, caso a temperatura rectal attinja a 39°. 62 2o De tres em tres minutos repetir-se-á a operação e isto durante dia e noite. 3° Poder-se-á também começar por banhos de temperatura mais elevada; neste caso vae-se abai- xando um gráo nos administrados ulteriormente, e isto até chegar-se á temperatura de elecção. 4o Livre das vestes, é o enfermo, sem violência alguma, com brandura, mergulhado na banheira. Esta, deve ser grande e sufficien tem ente alta afim de que elle fique immerso até as espaduas. Phenonemos de ligeira duração e que se tra- duzem por um grande calafrio e viva anciedade manifestam-se no paciente, logo ao penetrar no banho, durante o qual éelle submettido a affusões frias, feitas de pequena altura, sobre a nuca. Relativamente ao espaço de tempo, durante o qual devem ser praticadas estas affusões, divergem as opiniões. Uns. como Tripier e Bouveret, pre- ferem-nas continuas. Outros, e dentre elles Brand, aconselham-nas de dous minutos e feitas no começo, no meio e no fim do banho. Este ultimo considera também convenientes a massagem e fricção, por meio de uma esponja, sobre todo o corpo, excepto o abdómen, recom- mendando, demais disso, se forneça um pouco de uma bebida alcoolica qualquer ao enfermo, afim 63 de que melhor supporte o violento choque da agua fria. 5o Decorridos dez ou quinze minutos toma-se a temperatura, que deverá ser egualmente obser- vada, antes da nova balneação, isto é, tres horas após a, precedente. Passados dez minutos de permanência no banho, o paciente accusa grande calafrio, que lhe abala todo o corpo, dando origem ao phenomeno do batimento dos dentes. Dá-se, então, nova dose de bebida alcoolica e termina o banho. Isto feito, colloca-se o paciente sobre o leito, num lençol secco e ligeiramente quente, onde é ligeira e bran- damente enxugado, poupando-se-lhe o abdómen. Emquanto o doente accusar febre de 39° ou mais, continuar-se-á a administrar-lhe os banhos, muito embora apresente modificações outras,difflu - entes das primeiras balneações. * Tal é, pouco mais ou menos, o methodo de Brand. Muitos são os seus adeptos, dentre os quaes uns o empregam rigorosamente, outros de modo mais restricto, fazendo-o passar por modificações. Para a maioria dos clinicos a balneação fria constitúe o tratamento de escolha com respeito á febre typhoide; Dieulafoy, exaltando-lhe as pro- priedades theraupeuticas, reputando-a o tratamento 64 por excehencia, o que supera todos os outros, o tratamento especifico, abalançou-se até a enunciar a proposição de que ella é tão util na febre typhoi- de, quanto a quinina no paludismo e o mercúrio na syphilis. Realmente, ninguém boje contesta a efficacia dos banhos frios na dothienenteria,podendo-se con- siderar com foros muito plausíveis de verdade a asserção dos médicos lyonezes que: «toda a febre typhoide, tratada pelos banhos frios, antes do quinto dia de sua evolução, é sempre curada, salvo mui raras excepções». Vários pediatras também subministram banhos frios a creanças typhoidicas, banhos submettidos ás mesmas regras que as indicadas para os adultos por Brand e seus adeptos. A temperatura da agua não é, porém, a mesma que para os adultos; é sempre menos baixa. Assim é que Moizard adopta a de 22°, tem- peratura que diz H. Méry ter algumas vezes em- pregado. A grande maioria dos médicos de creanças, entretanto, raramente se aproveitam dos banhos de temperatura inferior a 26° e 25°; é a temperatura adoptada por Marfan, Comby, Guinon, Perret e Devig, e muitos outros. Seguindo o methodo de Brand, com algumas 65 modificações, Weill faz uso do banho frio ou fresco, que applica durante dez minutos, de tres em tres horas, desde que a temperatura da cre- ança enferma attinge a 39°. O primeiro é dado a 30°, sendo uma hora de- pois, para avaliar os effeitos, tomada a tempera- tura do doentinho. Assim procedendo, tem observado abaixa- mento de meio gráo a um gráo e meio, abaixamento que se vae accentuando á medida que se vão repe- tindo as balneações. Quando o banho, em temperatura de 30°, é sufficiente para acalmar a agitação ou supprimir o torpor do doentinho, baixando também a tempe- ratura, continúa Weill a empregal-os, conservando a mesma temperatura. No caso contrario, abaixa a 28, 26 e 25°. Emquanto dura o banho, faz affusões sobre a cabeça da creança e fricciona-lhe os membros. E' excepcional, diz Weill, que, procedendo deste modo, se notem accidentes de collapso ou syncope. No que diz respeito a banhos frios, é este um methodo que póde ser seguido, sem consequências más. Na febre typhoide infantil, obtem-se, por nftio dos banhos frios, diminuição da intensidade dos F. R. L. 9 66 symptomas, mórmente os de ordem nervosa, sobre os quaes têm acção maravilhosa. O banho frio excerce acção tónica muito no- tável, transformando-se, de todo em todo, a cabo de alguns dias, o aspecto do doentinho. Em certas fôrmas de febre typhoide as cre- anças soffrem, além dos symptomas caracteristicos desta moléstia, de insomnia, anorexia, a que segue de perto certo mal estar, agitação nocturna,delirios algumas vêzes; noutras, ao contrario, tornam-se somnolentas e abatidas. Em qualquer destes casos, presta a applicação de banhos frios relevantes serviços, observando-se logo após os primeiros banhos, o desapparecimento da insomnia,cessando também a prostração,somno- lencia, deli rio, etc. O banho frio é um meio therapeutico que se constitúe poderosa arma de combate, na febre ty- phoide, contra a hyperthermia e suas consequên- cias. a adynamia,a ataxia, as estáses e degenerações visceraes. Além disto, elle estimula as funcções digestivas e produz, notadamente, abundante diu- rése, que já foi objeçto de nosso estudo, no começo deste capitulo. Os symptomas nervosos, por graves que sejam, solfrem a benefica influencia dos banhos. Dieulafoy, partidário ardente desto impor- 67 tante meio therapeutico, diz precioso e perdido o tempo, durante o qual é o doente submettido à medicação quinica ou a outros medicamentos, para só muito tarde se empregarem os banhos. A efficacia destes, dil-o Dieulafoy, é tanto mais activa, quanto se administram em época mais aproximada do começo da moléstia. Os banhos frios, continua o mesmo clinico citado, não têm somente acção benefica sobre os symptomas do momento, senão que actúam por egual sobre os symptomas do futuro, isto é, transformam em uma moléstia de média inten- sidade uma febre typhoide de caracter de futuro grave. E', com effeito, facto incontestável que quanto mais cedo empregados, tanto mais satisfactorios os resultados obtidos. A ser assim, pensamos acertado e de bom aviso prover a que elles sejam administrados logo ao irromper o morbus, se bem o seu cortejo carac- teristico e symptomatico, por insufficientemente manifesto, nos não possa ainda fornecer as bases seguras para a afíirmação do diagnostico; se bem ainda vacillemos sobre o caso de tratar-se de uma febre typhoide, ou de moléstia outra que, com ella, inicialmente, offereça confusão. E mais: ainda realisada esta ultima hypothese 68 isto é, ainda que se tratem de manifestações mór- bidas em começo confundiveiscomadothienenteria, prejuizo algum, relativamente aos seus prognós- ticos, advirá de semelhante proceder, tanto mais quanto, em algumas delias até, é aconselhado o tratamento pela balneação fria. Tal preceito é extensivo ás applicações tépida e quente. Do «Traité des maladies de Fenfance», de Comby e Grancher, no capitulo que se occupa da febre typhoide, escripto por H. Méry, extractamos as seguintes estatísticas: Cas traités Décès Brand (1887) 106 0 Hagenbach (1874) 28 1 Cayla (1876) 63 4 Tripier e Bouveret (1886). . . 10 0 Perret et Devic (1890) ... 81 3 Mousous (1894) 60 1 Weill (1900) , 196 7 Marfan (1896) 40 1 Méry (1900) 42 1 Rondet et Grabinsky (1874). . 7 0 Comby (1900) 168 12 Josias (1900) 275 26 Moizard (1903) 112 1 1188 57 Estes resultados patenteam bem quão dimi- 69 nuto é o numero de doentinhos fallecidos depois da balneação fria. Moizard que, como vimos, se serve de banhos em temperatura de 22°, apresenta estatística mui favoravel, porquanto, de 112 creanças typhoidicas, submettidas aos banhos frios,só uma falleceu,assim mesmo em consequência de uma peritonite, con- secutiva á perfuração da vesícula biliar. Os banhos frios constituem, pois, na febre typhoide, um tratamento efficaz, bem indicado e de bons resultados. Isto não obstante, têm elles, ás vezes, seus inconvenientes, que mais circumstanciadamente estudaremos no fim deste capitulo, na parte reser- vada ás contra-indicações. Diremos, entretanto, desde logo, que, em cre- anças de tenra edade, nas quaes facilmente se excitam os nervos sensitivos cutâneos e se exagera a excitabilidade reflexa, já mais empregaremos ba- nhos frios. Em edade mais avançada não ha esta contra- indicação. E' de boa pratica, porém, que se admi- nistrem em temperatura nunca inferior a 25°. Vejamos agóra os methodos empregados por alguns não partidários da balneação fria syste- matica. Methodo de Riess-Cs doentes são mergu- 70 lhados, durante 24 horas, em uma banheira cheia dagua. em temperatura de 31°. Julgamos inapplicavel este methodo acreanças, por nos parecer difficilimo supportarem ellas uma balneação tão prolongada. Methodo de Ziemssen e Immermann. Em uma banheira, contendo grande quantidade dagua, em temperatura 5 a 6o inferior á do paciente, é este immerso. Ajuncta-se progressivamente agua fria, de ma- neira que, no fim de dez ou quinze minutos, tenha o banho a temperatura de 20°. Quando se manifesta o calafrio, retira-se o doente, sendo, então, tomadas as mesmas precau- ções que as descriptas com referencia ao methodo de Brand. A sua applicação em creanças não tem incon- venientes, uma vez que se tenha o cuidado de não fazer baixar a temperatura da agua a 20°. Methodo de Bouchard.-Bouchard associa á balneotherapia a antisepsia intestinal e geral, soccorrendo-se do sulfato de sodio e do calome- lanos em dóses fraccionadas. Submette o doente a um banho de temperatura inferior 2" á tempera- tura central, addicionando de dez em dez minutos agua fria até obter a temperatura de 30°, que é 71 conservada durante o tempo da applicação balnear. Esta é repetida oito vezes por dia. Quando a temperatura do doente, apesar da balneaçào, se mantém elevada, administra-se-lhe a quinina. i Gomo se vê, é esse um methodo em que, não sendo exclusivamente empregada a balneo- therapia, representa ella, a nosso ver, papel muito secundário. O professor de Clinica Pediátrica da nossa Faculdade, nosso eminente Mestre dr. Frederico de Castro Rebello, e seu distincto assistente dr. Frederico Koch, utilizam-se dos banhos da se- guinte maneira: a banheira, collocada perto do leito, e resguardada, por um biombo ou qualquer outro anteparo, das correntes de ar, recebe quantidade dagua sufficiente para que o paciente, nella mer- gulhado, lhe soffra o contacto até ás espaduas. Esta agua é de temperatura inferior 2.° á do doentinho, sendo continua e gradativamente res- friada até 29, 28 e 25°, conforme o estado do pe- queno enfermo. Durante o banho, fazem-se affuscíes sobre a cabeça, para as quaes póde ser utilizada, ou a pró- pria agua em que se banha, ou a agua em tempe- ratura um pouco inferior. Por occasião da entrada no banho nota-se um 72 ligeiro calafrio, que não é, no emtanto, de grande importância. Em se manifestando o segundo, que coincide com o abaixamento de temperatura, é o doentinho retirado, enrolado em um panno de lã, (uma toalha felpuda mesmo) e collopado no leito sem ser en- xugado. O numero de banhos dados em 24 horas de- pende da maior ou menor gravidade da moléstia. Nos casos sérios, nos casos em que a tempe- ratura permanece elevada, a despeito do emprego de banhos, são estes applicados, mais vezes, em 24 horas. Assim procedendo, têm os distinetos clinicos, acima citados, obtido os melhores resultados. Aftirma o dr. Castro Rebello serem dema- siadamente favoráveis as estatisticas, depois que recorreu aos banhos, em adultos ou creanças, assal- tadas de febre typhoide, pratica, de ha - muito por elle seguida. E', realmente, um born methodo, este que aca- bamos de enunciar. Com os banhos quentes gradativa mente res- friados e os tépidos não se manifestam as conges- tões visceraes, que, de algum modo, tornam re- ceiosa a preconização dos banhos frios. Com aquelles banhos conseguiremos, certa- 73 mente, um abaixamento de temperatura tão pro- nunciado quanto com a balneação fria. Mas, cumpre ainda aqui frisal-o, com o uso dos banhos, não ternos sómente em mira debellar a elevação de temperatura do doente; é também intuito nosso conjurar as causas que a deter- minam. E, se, reportando-nos ao que já foi por nós re- latado, mais uma vez dissermos que a elevação thermica se manifesta na febre typhoide, como nas moléstias infectuosas, em vista da existência de productos toxicos no organismo, que lhe envene- nam todas as cellulas, difíicultando-lhes a reacção; se, por outro lado, revelarmos que os banhos té- pidos e quentes gradativamente resfriados têm também notarei acção diurética, promovendo assim maior eliminação de substancias toxicas, torna-se evidente que a hyperthermia será attenuada com a applicação destes banhos. Não nos deve demasiado inquietar a elevação thermica soffrida pelo organismo duma creança, o que já fizemos notado, quando falamos da extrema tolerância dos doentinhos ás altas temperaturas. E diz Baginsky (traducção franceza): «La fièvre est nécessaire dans la dothiénentherie^ au même titre que la diarrhée, ou que la réaction inflam- P. R. L. 10 . 74 matoire d'une plaie qui se rénnit par première in- tention.)) Pelo que, devemos moderar a hyperthermia, sem, entretanto, baixal-a subitamente. E' o que obtemos com os banhos tépidos e quentes progressivamente resfriados. Emfim, estes banhos têm benefica influencia no systema nervoso, nos apparelhos circulatório, respiratório, apresentando, segundo Sevestre, effei- tos idênticos aos dos banhos frios, embora menos rápidos. O emprego de banhos quentes nas pyrexias é de uso mais recente. Renaut e Netter aconselham a sua applicação, durante vinte minutos, de 4 em 4 horas. Os banhos quentes, determinando a dilatação dos vasos sanguineos periphericos, occasionando maior producção de suor, o que dá em resultado perder o sangue maior quantidade de calor, também fazem baixar a temperatura. Tem acção notável sobre os diversos emunctorios, facilitando-lhes as eliminações e, por dizel-o assim, desintoxicando rapidamente os doentes. Além disso, é o banho quente um sedativo do systema nervoso, tendo acção benefica sobre os apparelhos circulatório, respiratório, digestivo, sobre todas as funcções do organismo. 75 Final mente, a balneotherapia, quando conve- niente e industriosamente manejada, presta rèaes serviços no tratamento da febre typhoide: já por sua acção antithermica, já augmentando as oxyda- çoes organicas; aqui pelos seus effeitos sobre o apparelho respiratório, desenvolvendo a ventilação pulmonar e regularisando os movimentos inspira- torios e expiratorios; alli, por sua influencia no apparelho circulatório, elevando o tonus cardio- vascular; além, emíim, pela acção que exerce sobre os apparelhos digestivo e urinário, e, principal- mente, por sua acção toni-sedativa sobre o sys- tema nervoso. E quantas vezes, creanças typhoidicas, insom- nes ou somnolentas, agitadas ou abatidas, nas quaes sobremodo se eleva a temperatura e raream as emissões de urina, nas quaes é irregular o pulso e enfraquecido o orgam central da circulação, diffi- cultosa a funcção respiratória, alterada a funcção digestiva, e intensos se manifestam os symptomas nervosos...quantas vezes, estes pequenos enfermos têm accusado melhoras, que se succedem até ao completo restabelecimento, graças aos bemfazejos effeitos da balneotherapia?!... E' este um facto incon teste; provam-n'o as es- tafisticas, provam-n'o as observações. FEBRES ERUPTIVAS-Assim se denominam 76 moléstias de natureza infectuosa e especifica, apre- sentando caractéres communs e clinicamente re- presentados por um enanthema e um exanthema, de aspecto, séde e intensidade variaveis. A elevação lhermica e a erupção constituem os symptomas communs e constantes das febres eruptivas. Algumas vezes, porém, é muito discreta a eru- pção, passando quasi despercebido este período; sendo, em outras, de ephemera duração a hyper- thermia: o que occorre em certas formas de escar- latina e de sarampo. Com relação á gravidade dos symptomas, no- tam-se fôrmas benignas, malignas e graves. Das malignas as principaes são: a fôrma nervosa, (ataxia, adynamia, etç.) e a fôrma hemorrhagica. A adynamia, o delírio, os accidentes nervosos, emfim,e a hemorrhagia são complicações communs das febres eruptivas em geral; relativamente a cada especie, outras existem que lhe são de todo parti- culares. Assim é que as inflammações broncho-pul- monares, de ordinário, se manifestam no sarampo; as congestões visceraes, suppurações na variola; ne- phrites, inflammações adeno-lymphaticas e serosas, na escarlatina. Não faremos descripção minuciosa, destas mo- 77 lestias, mas cabe-nos aqui fazer sentir que atte- nuar a hyperthermia, acalmar os accidentes ner- vosos, prevenir e combateras infecções secundarias são as primeiras indicações para o tratamento delias. A balneotherapia preenche efíicazmente estas indicações: combatendo a elevação da tempera- tura; determinando a eliminação dos productos toxicos, pela abundante diurése que ella provoca; por sua acção tónica e sedativa sobre o systema nervoso; pelo estado aseptico que imprime ao te- gumento cutâneo do paciente; e, finai mente, pelos beneficos effeitos que produz no organismo en- fermo, os quaes, de algum modo, impedem as in- fecções secundarias e complicações habituaes da- quellas moléstias. Estudos anteriormente feitos excusam a repe- tição aqui dos effeitos da balneotherapia sobre os diversos apparelhos da economia, quando feridos em sua integridade, pela existência no organismo de substancias toxicas que lhes impossibilitam o. perfeito funccionamento. Primeiramente empregada pelo grande Gur- rie, (em 1798), que, em um caso de escarlatina, julgava não só obter com a sua applicação-abaixa- mento da temperatura, mas ainda combater o de- li rio, as convulsões, as diarrhéas profusas e os vo- 78 mitos excessivos, é hoje a balneotherapia o me- thodo de escolha para o tratamento das febres eruptivas. Dieulafoy diz ter preconizado e empregado, com exito, nos casos em que o sarampo se reveste das fôrmas maligna, typhoide, delirante, hyper- toxica, o tratamento por meios de banhos frios. Estes, muito ao contrario do que dizem alguns clinicos, auxiliam o desenvolvimento da erupção no sarampo. Dentre os que affirmam que o banho não im- pede o desenvolvimento da erupção no sarampo, está Dieulafoy, a quem pertencem as seguintes palavras: «Malgré les bains froids 1'éruption dê) la rougeole continue son évolution normale; on ne doit donc pas redouter «de faire rentrer 1'éruption.» Sons 1'influence des bains froids la sécrétion uri- naire tend à se rétablir, ainsi que c'est l'usage, toutes les fois qu'on traite par les bains froids les maladies infectieuses à forme grave, scarlatine, fièvre typhoide, pneumonie, ou la sécrétion uri- naire tend à diminuer ou disparaitre. Les bains froids ne semblent avoir aucune action fâcheuse sur le developpement de la bronchite ou de la pneu- monie morbilleuse». Em creanças attingidas de sarampo, julgamos de melhor effeito os banhos tépidos, quentes, e 79 quentes gradativamente resfriados, de cuja tech- nica e vantagens já tratamos Quando se manifes- tam então as complicações broncho-pulmonares, têm estes banhos, principalmente os quentes, todas as indicações. Na variola, a balneotherapia, como therapeu- tica symptomatica, imprime modificações e me- lhoras notáveis, verdades estas, constantemente confirmadas na pratica. Diversos clinicos, que, no tratamento da va- riola, se têm soccorrido dos banhos frios, são ajccor- des era affirmar que os doentes, sob a sua acção, pela maior parte, tendem á cura. Nos casos de variola grave, de fórma nervosa, hyperpyretica, aconselham alguns, como favoravel intervenção therapeutica, attenta sua acção cal- $ mante e antithermica, os banhos frios, que devem ser dados no periodo de invasão. Aqui, como re- lativamente ao sarampo, exerce o banho frio acção favoravel sobre o desenvolvimento da erupção. Eguaes resultados, se bem que não sejam tão accentuados, são obtidos em se usando dos banhos tépido, quente, e quente gradativamente resfriado. Diremos, resumindo, que, nas febres eruptivas infantis, principalmente o sarampo e a variola, em as quaes occtlpam Jogar saliente, a par com a ele- vação de temperatura, os symptomas de ordem ner- 80 vosa, (tendencia ao somno, delirio, convulsões algumas vezes, etc), a balneotherapia influencia favoravel e efficazmente, deixando nós de fazer re- saltar aqui as modificações bemfazejas occasionadas na# diversas funcções da economia, por já termos feito circumstanciadas considerações, quando es- tudamos a febre typhoide. GASTRO-ENTERITES-A todo clinico que se destina a tratar de doentinhos attingidos de gastro- enterites mostram-se carecentes de intervenção therapeutica, não somente as perturbações diges- tivas propriamente ditas, senão também as pertur- bações geraes, isto é, as que se manifestam em todo o organismo. Nas perturbações digestivas agudas formam-se no tubo gastro-intestinal verdadeiros fócos de in- fecção, e os germens e toxinas, nelles existentes, provocam alterações nas paredes digestivas, as quaes repercutem em todo o organismo, trazendo comsigo elevação de temperatura, desordens ner- vosas, respiratórias, desordens no apparelho uri- nário, etc., sobre as quaes a balneotherapia actúa notavelmente, determinando melhoras sensiveis. Já dissemos tantas vezas que a balneotherapia promove abundante diurese e eliminação de pro- ductos toxicos, tantas vezes já alludimos aos bons effeitos que ella determina no systema nervoso, 81 tonificando-o, no apparelho respiratório e no di- gestivo, regularisando-os, tantas vezes, em summa, revelamos a benefica influencia que exerce a bal- neotherapia sobre o organismo infantil enfermo, produzindo-lhe certo estado de calma e bem estar, que julgamos de todo desnecessário renovar aqui o expositivo de tão reaes, quanto incontestáveis re- sultados, obtidos coma, sua applicaçao. Opinamos pelo emprego dos banhos quentes gradativamente resfriados, como meio therapeu- tico symptomatico, no tratamento das gastro-ente- rites. PNEUMONIA-A pneumonia fibrinosa é uma moléstia cyclica, caracterisada clinicamentepor frio, febre, pontada, dyspnéa, etc., e bacteriologicamente pela existência do diplococcus lanceo-capsulado de Talamon e- Frjsnchel. Esta afíecção, de ordinário, começa inopina- damente, accusando o doentinho frio, uma pon- tada na região da caixa thoraxica correspondente ao pulmão, elevação de temperatura, diffiru Idade de respiração (dyspnéa), tosse, que a principio é secca, apresentando, além destes, outros sympto- mas importantes, que nos são revelados pela ins- pecção, palpação, pereussão e au cultação. Antigamente consideravam a pneumonia lobar como uma moléstia inflammatoria por excellencia, F. E. L. u 82 e empregavam para combatel-a as sangrias, as ventosas, os revulsivos. Hoje, embora não haja tra- tamento especifico, pathogenico, para a pneumonia lobar, são empregados os fortalecedores da natu- reza, coadjuctores da importante funcção da de- feza do organismo. Para preenchimento destas indicações, como real agente therapeutico symptomatico, nenhum melhor do que o banho. Nos casos em que a temperatura é muito ele- vada, em que ha manifestação de symptomas ner- vosos, delirio, agitação, phenomenos ataxo-adyna- micos, fraqueza cardiaca, nos casos, emfim,de pneu- monia de fórma grave, preconisam alguns os ba- nhos frios. Parece-nos, entretanto, mais bem indicada, em creanças, a administração de banhos quentes. Em o nosso segundo capitulo, estudando a acção physiologica do banho quente, dissemos ter elle effeitos revulsivos e mostramos a vantagem do seu emprego nos casos de inflammação e congestão das .vísceras thoraxicas O banho quente actúa, pois, na pneumonia, como descongestionante, fluidificando as mucosidades e desopprimindo os lobulos pulmonares, activando a hematose. Demais, conhecida a acção que a balneothe- 83 rapia quente exerce sobre as diversas funcções da economia, facilmente se conclue que ella é um importante meio de tratamento para a pneumonia fibrinosa. Já foi estudo por nós feito, e facto observado por vários investigadores, que a balneotherapia produz augmento de globulós brancos e de gló- bulos vermelhos, dando-se melhor a irrigação sanguínea de todos os tecidos e organs, em doentes sujeitos á sua applicação, Se assim é, se nos doentes submettidos á bal- neotherapia, ha accrescimo de leucocytos e erythro- citos, e é mais perfeita a funcção circulatória, tiramos a deducção, que se nos afigura lógica e razoavel, de que,em creanças pneumonicas tratadas por meio de banhos, é grande a vitalidade dos phagocytos e augmentada a força de resistência que estes offerecem aos agentes nocivos ao nosso organismo. Desta fórma, fortalecido o organismo, activado seu meio de defeza contra as invasões microbianas, não encontrará o diploccocus de Talamon e Fr^n- kel terreno favoravel para a sua pullulação e logo será destruído pelos phagocytos, que lhe oppõem inexpugnável barreira. BRONCHO-PNEUMONIA-Gomo com relação 84 á pneumonia é bem indicado nesta moléstia o tratamento por meio de banhos quentes. Poderíamos citar outras modalidades clinicas nas quaes a acção da balneotherapia é efficaz e proveitosa. Mas, terminaremos aqui o estudo sobre a acção lherapeufica, dos banhos, na per- suasão de termos, de accordo com a pobreza dos nossos conhecimentos e o acanhado da nossa exposição, demonstrado o que affirmamos no dis- curso deste modesto trabalho: a. balneotherapia nas pyrexias infantis é um processo curativo de real e inestimável valor. Já tivemos occasião de patentearque os banhos frios eram contra-indicados em creanças de tenra edade. Do facto, a vaso-constricção que se effectúa logo ao primeiro contacto da agua fria com a super- fície culanea, e consequentemente o refluxo con- siderável de sangue ás vísceras, tornam receiosa, senão perigosa, a ap plica cão de banhos nesta tem- peratura. E' de bom aviso,nesses casos,administrarem-se banhos de temperatura pouco diíferente da que 85 accusa o organismo do pequeno enfermo, recor- rendo-se, e com bons resultados, aos banhos tépi- dos ou aos quentes gradativamente resfriados, cuja technica jà descrevemos. Em verdade, com a applicação de banhos quentes gradativamente resfriados não se observa á constricçâo vaso-motora peripherica; obtem-se um abaixamento de temperatura regular e não inopinado, e, durante o periodo de immersão, o doente denota um bem-estar a que succede um estádio de calma e repouso, respirando elle larga e tranquillamente. Constituem contra-indicações ao emprego dos banhos frios: certas moléstias agudas primitivas dos organs internos, sobretudo dos organs thora- xicos, moléstias organicas do coração e dos grossos vasos, doentes predispostos ás congestões e ás hemorrhagias do pulmão e do cerebro. Outrosim: em creanças debeis, de constituição fraca; portadoras de lesões diffusas dos pulmões e que tendem ao col lapso; de coração fraco e pulso precipitado e irregular; em creanças, nas quaes não é possivel á reacção, não se devem empregar banhos frios. Em taes casos serão utilizados os banhos quentes, ou mesmo os quentes gradativamente resfriados. 86 De referencia á febre typhoide são conside- radas contra-indicações absolutas as hemorrhagias e a perfuração intestinaes, porque, nestes casos, se faz precisa a immobilisação dos intestinos. Nas formas hemorrhagicas das diversas febres eruptivas são também contra-indicados os banhos frios. Eis a carta circular por nós dirigida a alguns cliuicos e a respeito da qual já falamos no inicio deste capitulo: Escolhendo para assumpto de minha t.hese inaugu- ral-A balneotherapia nas pyrexias infantis-e desejando conhecer a opinião de abalizados clinicos a respeito do emprego desse agente therapeutico, quaes os resultados colhidos na pratica, principalmente em casos especiaes, tomo a liberdade de vos dirigir a presente, ao tempo em que vos peço permissão para transcrever vossa resposta, que cerlamente concorrerá para minorar as falhas de meu humilde trabalho. Com toda a consideração subscrevo-me, etc. Eis as respostas que, gentilmente, nos fôram enviadas, em tempo de serem trinscriptas para o nosso trabalho : Presado discípulo e amigo Francisco R. do Lago Em resposta a sua amavel caria em que me consulta sobre o valor da balneotherapia nas moléstias da infancia, cumpre-me dizer-lhe que ha mais de vinte annos recorro, com os melhores resultados, a esse meio therapeutico nas gastro-enterites infectuosas e em grande numero de pyre- xias, quando ha hyperthermia acompanhada de graves symptomas para o lado do systema nervoso. Aproveito o ensejo para agradecer-lhe os relevantes serviços que me prestou durante os tres annos em que exerceu o cargo de interno da clinica pediátrica. Sou com muita estima e apreço seu mestre e amigo affectuoso e obrigado F, R. L. 12 RESPOSTA DO DR. JOÃO AMÉRICO GARCEZ FRÓES Prezado collega Rodrigues do Lago Correspondendo á gentileza de sua consulta, cumpre- me declarar que não é permittido, no momento medico actual, a nenhum clinico, que mereça o honroso qualifica- tivo, o desconhecimento dos inestimáveis serviços pres- tados diariamente pela balneotherapia á clinica em geral, maxime á clinica de moléstias das creanças, respeitado o salutar principio da indicação therapeutica precisa. Dissertando sobre o assumpto, estou certo de que concorrerá o collega para firmar bem alto as vantagens indiscutíveis desse magnifico agente therapeutico, motivo por que lhe apresenta sinceros cumprimentos o collega e amigo obrigado RESPOSTA DO DR. FREDERICO DE CASTRO REBELLO KOCH Coilega e amigo dr. Francisco R do Lago Correspondendo aos desejos manifestados em a sua prezada carta, folgo em responder-lhe que o emprego dos banhos na medicina infantil, mormente em um certo numero de modalidades clinicas febris, constitue, a meu ver, um recurso therapeutico poderoso e de valor incon- testável. Auctorisam-rne este conceito os excellentes resulta- dos que por elles tenho obtido em casos sujeitos á minha assistência, alguns dos qnaes revestidos da maior gra- vidade. Não fossem os estreitos limites desta resposta, e eu lhe poderia citar vários exemplos, bastante curiosos e instructivos, como curiosa e instructiva será, por certo, a sua dissertação sobre a «Balneotherapia nas pyrexias in- fantis,» por lhe sobrarem, para tanto, valor intellectual, amor ao estudo e dedicação ao trabalho. Felicitando-o de antemão, aguardo ancioso a leitura da sua these, que desejo o mais divulgada possível, para beneficio das creanças spffredoras, ás quaes ja tanto se revela affeiçoado. Disponha do coilega e amigo admirador '£$1. RESPOSTA DO DR. FRANCISCO ROMÃO ANTUNES Ulmo. Sr. Francisco do Lago Accedendo á gentileza com que sollicitaes a contri- buição de minha experiencia clinica, de valor quasi nullo, em verdade para o minucioso estudo que fazeis da Bal- neotherapia em vossa these inaugural, devo, nos estreitos limites d'esta resposta a vossa lisongeira e generosa carta, affirmar que ha cerca de vinte annos sou adepto, con- vencido pela pratica, do emprego do banho, sob diversas fôrmas e methodos, no tratamento de certo numero de enfermidades, principalmente em Pediatria, onde parti- cularmente o tenho utilizado vantajosamente, em diversas pyrexias de origem intestinal; e ainda para as pvrexias de fundo nevropathico, O processo mais frequentemente por mim uzado, para as primeiras, tem consistido no abaixamento gradual e lento da temperatura, começando pelo grão de pyrexia até a diminuição de 1 a 3 grãos, durante uns quin?e mi- nutos. Para as segundas - a simples immersão em agua morna ou tépida, ou loção generalizada. Limitando-me assim á anotação do que até agora hei praticado, espero acompanhar attentamente, em o vosso criterioso trabalho, o lato e importante capitulo da Balneotherapia, anticipando os meus aos muitos applausos que certamente merecereis ao termino de vossa tarefa. Vosso patrício e amigo obrigado PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de SC1ENC1AS MEDICO-CIRÚRGICAS F. E- Ir 13 fr < >p< >siçô i l.a SECÇÃO Anatomia descriptiva I Na espessura da parede anterior do pharynge ou parede posterior da fossa cardíaca de Wolff é que se faz o esboço primeiro do coração humano. II Este primeiro esboço do que vae ser o cora- ção é representado por duas lacunas, que se en- contram lateral mente na espessura das paredes do pharynge. III Estas duas lacunas, que se conhecem pela de- nominação de cylindros procardicos, vão, pela fusão que experimentam mais tarde, constituir o pro- cardio-tubo unico e mediano. Anatomia medico-cirurgica I A cristã espinhosa da columna vertebral apre- IV senta, no estado ormal, incurvações regulares, sem offerecer angulosidades. II Quando se encontram verdadeiras saliências ou depressões da cristã espinhosa, trata-se de casos anormaes. III As saliências anormaes da cristã espinhosa vertebral ou são angulosas, ou arredondadas: a pri- meira forma é caracteristica do mal de Pott; a segunda, dos. desvios rachiticos-duas moléstias muita voz observadas na infancia. 2.' SECÇÃO IKistologia 1 O osso é envolvido por uma membrana fi- brosa. formada por tecido conjunctivo e que se de- nomina periosteo. II Compõe-se o periosteo de. duas camadas: uma-externa de feixes cõnjmictivos volumosos, semelhantes aos dos tendões,, parai lelamente dis- postos; outra-interna-de feixes conjimcti vos mais delgados e irregularmente dispostos. V III Na camada interna, e justamente na serie de cellulas collocadas entre o periosteo e o osso, dis- tingue-se o periosteo do osso já constituído do pe- riosteo do osso em via de formação ou de cresci- mento. Bacteriologia I Todos os seres vivos precisam do oxygenio como elemento vital indispensável; as bactérias não se furtam a essa necessidade, que é imperiosa. II Das bactérias algumas são oxygenopbilas, e, para viverem procuram o contacto immediato do ar atmospherico: são chamadas aerobias. III Ha outras que não supportam a acção directa do oxygenio do ar, mas, precisando desse elemento de vida, encontram-rro em a decomposição das substancias em cujo seio vivem: são denominadas anaeróbias. Anatomia e pliysiologçia path ilógicas I E' na camada de'MALPiGHi que primeiro se observam as lesões da erupção variolica. VI II Os novos elementos provenientes da camada de Malpighi eque se accumulam nas porções pe- ^•iphericas das pustulas variolicas completamente formadas, em desaccordo com a exiguidade de ele- mentos que se encontram no centro da pustula, muito concorrem para que se observe a fórma um- bilicada destas mesmas pustulas. III As camadas profundas da rede de Malpighi ou se conservam intactas e se faz a reparação com- pleta da superfície cutanea, ou ellas se destroem e, nestes casos, é irremediável a presença das cica- trizes indeleveis dos que foram attingidos de va- ríola. 3.a SECÇÃO Pliysiologia I No sueco pancreatico existem tres fermentos: a trypsina, a amylopsina e a esteapsina. II A trypsina e a esteapsyna são encontradas desde o começo; ao passo que a amylopsina só se manifesta depois do sexto mez da vida infantil. VII III A não existência da amylopsina torna antiphy- siologico o emprego dos amylaceos nos seis primei- ros mezes da vida de uma creança. Tlierapeutica I A balneotherapia é um tratamento de grande valor nas pyrexias infantis. II Dos methodos balneotherapicos. o melhor é o do banho quente gradativamente resfriado. III O banho frio nem sempre póde ser adminis- trado a creanças. 4.a SECÇÃO Hygiene I São as creanças naturalmente creadôras: re- primir-lhes o talento natural innovador é ser cri- minoso. II Os misoneistas, que até com as creanças que- rem ser neophobos, muita vez roubam ao futuro grandes emprehendimentos. VIII III Ao lado da educação intellectual, cumpre curar do cultivo do physico e do moral. Medicina legal e toxicalogia 1 A inversão do sentido genital comprehende dois grandes grupos: a verdadeira e a falsa in- versão. II A verdadeira inversão é symptoma de dege- nerados e também se denomina inversão mórbida ou pathologiça. III A falsa inversão, também chamada artificial, não corresponde a anormalidade cerebral innata, senão a viciação do indivíduo que se entrega a esta especie de depravação dos costumes. 5.a SECÇÃO Patliologia cirúrgica I O osso como as demais partes do organismo, póde ser séde de infecção. IX II Sob o nome de osteite é designada a inflam mação do osso. 111 No osso inflammado duas ordens de lesões podem produzir-se, ora associadas, ora predomi- nando uma ou outra, conforme a natureza do agente productor: a osteite rarefaciente e a osteite condensante. Operações e uppnfeliws I A incisão, que constitúe uma das mais sim- ples operações cirúrgicas, ou se faz por meio dos instrumentos cortantes ordinários, ou por inter- médio de outros especiaes. lí No primeiro caso o cirurgião lança mão do bis- turi, da faca ou da tesoura, instrumentos de mm muito commum. 111 Para as incisões especiaes faz-se uso da faca do thermocauterio ou do galvano-cauterio. F. R. L. X Clinica cirurgjica (®a cadeira) I A infecção produzida pelo bacillo de Koch nas articulações chama-se tuberculose articular. II E' uma aífecção curável, e é a immobilização uma das melhores medicações locaes. III O iodoformio, a ignipunctura e o chlorureto de zinco são uteis adjuvantes do tratamento. Clinica cirúrgica ( A .a cadeira) I O canal thoraxico, apezar de profundamente collocado, é susceptivel de traumatismos. II O escoamento da lympha, nos casos de lesão do canal thoraxico, é abundante, e póde persistir durante alguns dias, a despeito da compressão. III 0 tratamento consiste em prover nos meios da cicatrização da ferida. XI 6? SECÇÃO Patliologia medica I A febre typhoide, em seu periodo prodromico, assume diversos aspectos capazes de fazer acre- ditar em varias outras entidades mórbidas dis- tinctas. II Em certos casos predominam os symptomas do lado do apparelho pulmonar, e é uma pneumo- nia lobar ou uma angina catarrhal que abre o cor- tejo morbido. 111 Em outros casos são os symptomas gástricos e intestinaes que se tornam predominantes, e, não fôra um exame intelligente e minucioso, certa- mente se acreditaria tratar-se de uma appendi- cite. Clinica propedêutica 1 A tosse, de grande importância diagnostica, é quasi sempre symptomatica duma lesão da via res- piratória. ' II Cs caracteres da tosse indicam, muita vez, a natureza e a sede da lesão. XII III i Tosse incessante, tenaz, dum timbro especial, denominada tosse ferino, revela, algumas vezes, que se trata de um caso de sarampo. Clinica, medica (9.a cadeira) I A febre typhoide normal apresenta-se. quando perfeitamente declarada, de marcha ascendente, estacionaria e descendente. II A estas tres épocas de marcha regular da febre typhoide correspondem tres outros modos de se mostrar o symptoma febre, que também se apresenta: ascendente, estacionaria, e descendente. III No em tanto, muita vez, se nota que estes tres estádios se não distinguem perfeitamente uns dos outros, e o clinico se vê em condições de não poder precisar quando começou ou quando acabou tal ou tal outro estádio da marcha da dothienenteria. Clinica medica ( i ,a cadeira) I 0 periodo estacionário da febre typhoide é de dez a quinze dias. XIII II Neste período os symptomas nervosos adqui- rem grande intensidade, salvo a cephalalgia que diminue ou desapparece. III As perturbações digestivas constituem grande parte do scenario symptomatico do período esta- cionário da lebre typhoide. 7/ SECÇÃO >flateria medica K^SiarmacoSo^ia e arte de for mas lar I Xarope sào formas pharmaceuticas que se preparam fazendo dissolver assucar n'agua pura ou dotada do princípios medicamentosos, por meio do calor ou do frio. n Elles servem para eduleorar as formulas ou para vehicular medicamçntos. III Esta fornia é preferida na therapeutica infan- til, por ser agrada vel ao paladar. XIV Historia natural medica 1 Os mammi feros e as aves tem circulação dupla, coração de quatro cavidades e temperatura mais ou menos constante. II Em geral os reptis têm circulação dupla e in- completa, coração de quatro cavidades, cujos ven- triculos se communicam, temperatura varia vel com a do ar exterior. III O coração dos reptis crocodilianos, fazendo excepção a esta regra, não tem a communicação inter-ventricular. Cliimica medica I A íibrina é uma substancia elastica, opaca, branca ou acinzentada, quando destacada da massa do sangue, sob a fórma de filamentos entrelaçados. II A fibrina é insolúvel na agua pura, solúvel na agua, quando esta contém azotato de potássio, chlorureto de sodio ou sulfato de sodio a dez por cento. XV TII O sulfato de magnésio em pó, o calor, o álcool, os ácidos, coagulam a solução de fibrina. O acido chlbrhydrico. em solução a um por mil. dissolve a fibrina mais ou menos rapidamente. 8.a SECÇÃO Obstetrícia I Em regra geral, a época da concepção for- nece dados para o diagnostico do sexo a que per- tencerá o producto da referida concepção. II De accordo com observações de vários clíni- cos, a concepção precoce, isto é. a que se faz alguns dias (4 ou 5) antes do apparecimento do fluxo menstrual até dois dias depois de seu desappare- cimento, dá em resultado um producto feminino. ni A concepção tardia, isto é, a que se dá em época mais afastada,» entre o 4.° e o 10.° ou 12.° depois do desapparecimento do fluxo menstrual gera um producto do sexo masculino. XVI Clinica obstétrica e gynecologica ' I Do bom diagnostico da apresentação e da po- sição do feto decorre, muita vèz, a vida do que está para nascer, como daquella que ainda o tem ligado ao seu organismo. II Dos cuidados que se prodigalizam ao recem- nascido não raro depende a sua futura integridade physica e physiologica. III Os cuidados que se dispensam á mulher re- cem-parida entram por muito na capacidade de gerar para a Sociedade e a Patria seres de real uti- lidade e proveito. 9.a SECÇÃO Clinica pediátrica I O sarampo é uma pyrexia contagiosa, clini- camente caracterisada por uma erupção de na- tureza especial, que se desenvolve nas mucosas e na pelle. II As complicações mais frequentes e mais im- XVII portantes do sarampo são as affecções do appare- Jho respiratório. III E' uma affecção de prognostico ordinariamente benigno. i0.a SECÇÃO Clinica ophtalmologftca I Os traumatismos do globo ocular, tão frequen- tes na infancia, e que muita vez passam sem con- sequência de gravidade, podem, ao contrario.arras- tar alterações mais ou menos profundas e dignas de especial menção. II Exemplo de uma, dessas alterações graves é a ruptura da retina, que póde attingir apenas as ca- madas externas, ou toda a espessura da membrana retini ana. III As rupturas da retina-effeito de traumatis- mos-não se devem confundir com os despedaça- mentos retinianos,provenientes dos descollamentos dessa membrana, perfeitamente diagnosticáveis pelo exame ophtalmoscopico. F. R1 Ir 15 XVIII 41? SEGÇAO Clinica dermatológica e sypliiligraphlca I Hereditária ou adquirida a syphilis é muita vez observada na infancia. II Ao lado do tratamento especifico, a hygiene representa grande somma de auxilio para a cura da syphilis. III Quanto mais cedo se fizer o tratamento, mais probalidade haverá em favor da cura, ainda que se tenha sob as vistas uma creança em tenra edade. 12. SEGÇAO Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas I A parai ysia infantil é urna moléstia que se lo- calisa nos cornos anteriores da medula, e produz uma paralysia seguida de atrophia muscular. XIX II As perturbações trophicas, na parai y si a in- fantil, pódem attingir os ossos, que são detidos em seu desenvolvimento e apresentam deformações em suas superfícies articulares. III Os vasos são estreitados, donde o resfriamento da pelle e a cyanose das partes declives. Visto - Secretaria da Faculdade de Medi- cina da- Bahia, em 31 de Outubro de 1906. O SECRETARIO, Dr. Menandro dos Reis Meirelles. ERRATAS PAGS. LINHAS EM LOGAK DE DIGA SE 18 13 Irritaçao sanguínea Irrigação sanguínea 69 19 Já mais Jámais 72 27 Com aquclles banhos conseguiremos Com aquelles banhos não conseguiremos