Faculdade de Medicina da Bahia THESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 31 de Outubro de 1904 pon $osé (lameiro de NATURAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO AFIM DE OBTER O GRAO DE DOUTOR E7VÇ MEDICIN K DISSERTAÇÃO Cadeira de Medicina Legal eToxicologia Contribuição ao estudo experimental da docimasia pulmonar hydrostatica PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas BAHIA IMPRENSA MODERNA DE PRUDENCiO DE CARVALHO Rua S. Francisco n. 29 1904 Faculdade de Medicina da Bahia Director—Dr. ALFREDO BRITTO Vice-Director—Dr. ALEXANDRE E. DE CASTRO CERQUEIRA Lentes cathedraticos l.a SECÇÃO OS DRS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM J. Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-cirurgica. 2a Secção Antonio Pacifico Pereira. . . . Histologia Augusto C. Vianna Bacteriologia, Guilherme Pereira Rebello. . . . Anatomia e Physiologia pathologicas 3.a Secção Manuel José de Araújo Physiologia. José Eduardo Fide Carvalho Filho. . Thêrapeutica. 4a Secção Raymundo Nina Rodrigues. . . . Medicina legal e Toxicologia. Luiz Anselmo da Fonseca. . ... Hygiene. 5.a Secção Braz Hermenegildo do Amaral . . Pathologia cirúrgica. Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos Antonio Pacheco Mendes . . - . Clinica cirúrgica, 1.» cadeira lgnacio Monteiro de Almeida Gouveia . Clinica cirúrgica, 2.a cadeira G.a Secção Aurélio R. Vianna Pathologia medica. Alfredo Brítto Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho. . . Clinica medica 1*« cadeira. Erancisco Braulio Pereira Clinic a medica 2.a cadeira 7. a Secção José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. A. Victoriode Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmacologia e Arte de formular. José Olympio de Azevedo .... Chímica medica. 8. a Secção Deocleciano Ramos Obstetrícia Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. Secção Frederico de Castro Rebello .... Clinica pediátrica 40. Secção Francisco dos Santos Pereira. . . Clinica ophtalmologica. 11. Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira . Clinica dermatológica e syphiligrapluea 12. Secção J. Tíllemont Fontes Clinica psycbiatrica e de moléstias nervosas. JoãoE. de Castro Cerqueirá ... Sebastião Cardoso < Em disponibilidade •» OS DOUTORES José Atfonso de Carvalho Çinterino. . . t.'1 secção Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . . . 2a » Pedro Luiz Celestino 3.a » Josino Correia Cotias 4.» » Antonino Baptista dos Anjos . 5.a João Américo Garcez Fróes 6.a Pedro da Luz Carrascosa e José Julio de Calasans 7.a J. Adeodato de Sou/a 8.a » Alfredo Ferreira de Magalhães ... 9.a » Clodoaldo de Andrade.* ..... 10. « Carlos Ferreira Santos 11. » Luiz Pinto de Carvalho (interino') ... 12. » Secretario—DR. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-secretario—DR. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA Lentes substitutos A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas lheses pêlos seus auctores. PpOLOGO ||o apresentarmos o nosso trabalho inaugural, t avultada somma de responsabilidades pesamos sobre os hombros. Se bem que não tenha o cunho de originalidade a discutida e estudada questão da docimasia pul- monar hydrostatica, pretendemos, entretanto, de alguma sorte, trazer um pequeno contingente a tão importante questão, a mais delicada em medicina legal, na phrase de Tardieu. Obriga-nos o dever a expressar o nosso profundo reconhecimento ao erudito e sabio professor Dr. Nina Rodrigues, cujos profícuos ensinamentos animaram- nos a arrojada empresa em que nos interessamos. O nosso trabalho representa portanto a synthese dos esforços que despendemos. DISSERTAÇÃO Cadei?'a de Medicina Legal e Toxicologia Contribuição ao estudo experimental da docimasia pulmonar hydrostatica capítulo I A respiração como prova de ter a creança vivido Para verificarmos se a creança viveu vida ex- tra-uterina, diversas provas devemos tirar do es- tudo detalhado da respiração, circulação e das modificações nos diversos orgãos, fazendo appli- cação dos diversos processos operatórios especial- mente indicados e que nos tragam a certeza do seu funccionamento. Pondo de parte certos casos excepcionaes em que a creança pode viver sem respirar, nós pelo exame dos pulmões saberemos se ella viveu, pois o estabelecimento da respiração deixa 11’elles signaes indeleveis. Quando em uma autopsia abrimos a caixa tho- racica de um feto que não respirou, os pulmões estão retrahiclos, vendo-se somente o pericárdio e thymos que os cobrem, salvo quando o feto morreu durante o trabalho do parto e neste caso está tão congestionado que, apezar de não conter 1 2 ar, podem encher a caixa thoracicn, cobrindo grande parte do pericárdio, a semelhança do que se nota quando acha estabelecida a respiração. A cor dos pulmões que não respiraram é ver- melho escura e raramente rosea, assemelhando-se á do fígado; quando, porem, est?belece-se a respi- ração, elles são de uma cor roseo-claía, não sendo, porem, isto de grande importância, pois as va- riações de cores por que elles passam são tão grandes não podemos ter nellas um caracter \ de segurança. Duros e de consistência carnosa, são os p«.ilmões que não respiraram; ao contrario, os que respi- raram dão uma sensação de molleza e crepitam quando são comprimidos. Notam-se nos pulmões que respiraram, á vista desarmada, ou mesmo com o auxilio da lupa, pe- quenos pontos brilhantes, disseminados na sua su- perfície, que são os alvéolos distendidos pelo ar; lisa e uniforme, porem, é esta superfície quando elles não respiraram. Pelo exame histologico também poderemos tirar deducções, quer façamol-o no liquido exsudado’ quer num delgado córte de parenchyma pulmonar, 3 e notaremos bolhas brilhantes, uniformes e disse- minadas, tendo uma orla anegrada quando a respi- ração se deu; havendo no caso contrario ausência de bolhas gazosas. No caso de ter havido iusufflação, deixaremos de notar a uniformidade nas bolhas gazosas que acima falamos. A docimasia pela balança, pouca segurança nos dá, não só pelas difficuldades de que se acha re- vestida, como também por não serem constantes os seus resultados; assim queria Píouquet, que, os pulmões tendo respirado tivessem' um peso duplo d’aquelle que ainda não respirara, e achando que o peso do pulmão está para o do corpo como 1:70, o d’aquelle que respirou estaria como 2:70. Este methodo, porém, está hoje despresado. Além das difficuldades da pratica, pela deli- cadesa do seu manejo e pela variabilidade que, mesmo em estado normal se apresentam os pul- mões, é o processo de Daniel também posto a margem. Consiste elle em pesarem-se os orgãos thora- cicos da creança em uma balança, que tenha um gancho em uma das suas conchas; depois de se- 4 parados os pulmões, pesam-se o thymos e coração, subtrahindo-se esta ultima pesada da primeira, tem-se o peso dos pulmões. Feito isto, collocam-se os pulmões em o gancho e restabelece-se o equilíbrio, deitam-se logo de- pois em um vaso graduado, bem espaçoso, con- tendo agua sufficiente; natúralmente haverá uma perda de equilíbrio, o que se restitue tirando os pesos excedentes da concha opposta e que repre- senta o perdido pela viscera. Sabido é, que os pulmões que não respiraram são mais pesados que a agua, e sendo ao con- trario, os que respiraram mais leves, visto conterem grande porção de ar nos seus alvéolos, tirou-se disto uma applicação utilíssima para as perícias medico-legaes e que veio desthronar codas as outras provas que eram empregadas com o fim de saber-se se a respiração se deu. Sob o nome de docimasia pulmonar hydrostatica cila tem sido estudada e applicada. CAPITULO li Docimasia pulmonar hydrostatica E’ sem devida alguma em torno desta docimasia que gyram todas as perícias medico-legaes do in- fanticídio; pela sua simplicidade e pela certeza dos seus resultados, tem elia se imposto a todos que n’esta bella sciencia procuram desvendar as trevas que cercam muitas vezes um crime de infanticídio. Procurar a origem deste methodo, é trabalho afanoso e sem valor para o perito, pois não importa a elle remontar a Galeno, a Bertholin, a Reigger, ou outro qualquer para saber a sua historia. Conforme nos diz Tourdes, elle tornou-se obro gatorio aos peritos da Allemanha e da Áustria depois de 1683 quando foi applicado por Jean- Schreyer. Procedida a abertura do thorax, todas as vísceras contidas n’elle, devemos tirar, inclusive a trachéa que deve ser ligada conforme preceituam alguns autores. 6 Collocam-se estes orgãos em um vaso de 20 a 25 centímetros de diâmetro e 55 a 40 de profun- didade; esta precauçãoporein é desnecessária, bas- tando empregar-se um vaso que comporte suffici- entemente as vísceras e tendo bastante agua commum que permitta a fluctuação facil, caso ella venha a se dar. Feito isto, retiramos o thymos e coração, e so- mente com os pulmões, novamente procederemos a prova hydrostatica; depois separamos o esquerdo do direito e em cada um delles repetimos a prova, em seguida nos lobos separadamente e emfim nos fragmentos d’elles. Os pulmões, lobos e fragmentos podem fluctuar completamente, e d’ahi tiramos a conclusão que elles estão cheios de ar. Caso elles sobrenadem incompletamente, tendo fragmentos ou mesmo lobos que sobrenadem e outros não, sabemos que o ar não está contido egualmente em todo o parenchyma. E si os pulmões ficarem no fundo do vaso, assim como os lobos e fragmentos, certo, não conterão nenhuma porção de ar e portanto a respiração não se deu, CAPITULO III CAUSAS IDE ERBO A Putrefacção Da putrefacção gazosa trataremos mais larga- mente, por ser este o ponto sobre que versará es- pecialmente a nossa dissertação. A putrefacção em uma creança que não respirou é mais lenta e dá-se sempre centripetamente ; dá-se o contrario quando houve respiração e ainda mais quando a creança já absorveu alimentos, pois os germens entrados pelo tubo gástrico ou pelas vias aereas vão favorecer a putrefacção centrífuga. Não é difficil saber-se se a sobrenatação dos pulmões é devida somente a putrefacção ou também á respiração, pois no primeiro caso, apezar de em começo as bolhas subpleuraes serem pe- quenas, tornam-se com o continuar da putrefacção, do tamanho de uma ervilha e são disseminadas de- sordenadamente, formando até grupos de duas e trez que confundindo-se, se tornam uma só, ao 8 contrario do que se dá quando houve respiração, sendo neste caso pequenas e uniformes. Demais punccionando-se estas bolhas, toda a massa pulmonar vae ao fundo, embora volte á tona d’agua, depois que novas bolhas se formem e ainda exista pleura intacta que as aprisione. Os pulmões que contêm ar devido a respi- ração, embora comprimidos e dilacerados, qualquer fragmento delles sobrenada sempre ao inverso do que não respirou. Isto podemos affirmar por ter se dado em todas as nossas experiencias. Era acceito por todos em sciencia, que a pu- trefacção gazosa dos pulmões era sufficiente para fazel-os sobrenadar, sendo assim uma causa de erro a docimasia hydrostatica. Bordás e Descoust, porem, estudando a questão, apresentaram uma memória a Academia de Medi- cina na qual concluíam que a putrefacção gazosa não podia ser apresentada como causa de erro á docimasia pulmonar hydrostatica. As suas experiencias foram as seguintes: Deixaram alguns fetos de carneiro nati-mortos e sem terem respirado, divididos em tres grupos 9 a putrefazerem-se, sendo que, alguns expostos ao ar, outros semeados com sangue putrefeito e os últimos depois de insufflados. Os do primeiro grupo não apresentaram a pu- trefacção gazosa até o oitavo dia e sendo submet- tidos á prova hydrostatica elles cahiram no fundo do vaso em deliquescencia. Com os do segundo grupo, o mesmo se deu; os do terceiro porem, passaram pela putrefacção gazosa e sobrenadaram, na prova hydrostatica. Fizeram novas experiencias em fetos humanos e o mesmo resultado tiveram. D’onde concluíram e com elles Brouardel, que somente os pulmões que respiraram, soffrem a pu- trefacção gazosa, resultando. destas experiencias que, somente se dá a putrefacção gazosa quando o ar chega aos alvéolos, carregando os germens da putrefacção. Restava a Brouardel uma duvida: se um nati- morto, sendo projectado em uma fossa-fixa, os lí- quidos carregados de germens da putrefacção pe- netrando nas primeiras vias aereas, não seriam capazes de produzir nos pulmões a putrefacção gazosa. 10 Com o fim de elucidar esta questão empre- hendeu Bordas nova serie de experiencias. To- mando fetos de carneiro, vizinhos do termo da vida intra-uterina, deitou-os a putrefazerem-se immersos durante quatro dias em um recepiente contendo 50 litros d’agua de esgotos, na temperatura de 25 °, elles não tardaram em sobrenadar. Os pulmões extrahidos, não continham bolhas gozosas e estavam mais densos que a agua. Bordas não vendo differença entre os pulmões dos fetos expostos a putrefacção e aquelles que não o eram, julgou estar confirmada a sua con- clusão anterior, não se lembrando talvez que, uma simples experiencia sem ser revestida de todas as condições exigidas, não era sufficiente para des- moronar uma theoria abraçada por todos; ainda mais, tendo exposto somente estes fetos por 4 dias a putrefacção! Deveria ter mais paciência e depois de realizar maior numero de experiencias e dando maior tempo á que se produzisse a putrefacção, chegar então as suas conclusões. O proprio Brouardel apezar de suas experien- cias também feitas com Descoust, terem confirmado 11 as conclusões daquelles, sentindo o peso da respon- sabilidade que cahiria sobre aquelle que, nos tri- bunaes, fosse mudar por completo as suas affirma- ções anteriores, mudando também a sorte dos res- ponsáveis de infanticídio, diz-nos, não ousar levar estas provas aos tribunaes, sob a sua responsabili- dade, senão depois de estudada bem a questão, e de serem no fim de alguns annos todos accordes, apresentando-se então com deducções formaes. Sarda foi encarregado em Julho de 1900 de fazer um exame no cadaver de uma creança encontrada em um poço. Achava-se em adiantado estado de putrefacção, os pulmões, apezar de menos putrefeitos que os outros orgãos, apresentavam numerosas bolhas gazosas em sua superfície. A’ tarde elles foram postos n’agua e não so- brenadaram, conservaram-se nella toda a noite e na manhã do dia seguinte as bolhas gazosas eram numerosas e os pulmões sobrenadaram. As bolhas sendo punccionadas e os orgãos comprimidos entre os dedos, a docimasia era de novo negativa. 12 Ao microscopio tinham os fragmentos o aspecto peculiar ao pulmão que não respirou. Donde concluiu Sarda, não se tratar de in- fanticídio, embora as experiencias recentes ten- dessem a fazer admittir que a putrefacção gazosa por si só não era sufficiente para fazer sobre- nadar os pulmões. Animado com o resultado obtido neste exame, fez Sarda uma serie de experiencias com o fim de levar a sua contribuição valiosa a uma questão tão momentosa. As suas primeiras experiencias sendo feitas, aban- donando os pulmões e coração de nati-mortos á putiefacção, quer ao ar livre, n’agua ou na terra, não podia notar nenhuma bolha gazosa nos pul- mões que apresentavam logo os phenomenos de liquefaeção idênticos aos assignalados por Bordas e Descoust, sendo as vísceras deitadas n’agua, so- brenadavam, mas esta sobrenatação era devida a grande porção de bolhas gazosas que continha o coração, pois, era negativa a docimasia hydros- tatica, quando separados estes daquelles. Na segunda serie, mais familiarisado com o modus faciendi e procedendo nas condições das pe- 13 ricias medico-legaes, praticou sobre caclaveres in- teiros collocados n’agua e na terra. Das autopsias praticadas por elle, deixando poucos dias os fetos á putrefacção, apenas algumas bolhas eram notadas, sendo os pulmões incapazes de sobrenadar. Fazendo, porem, a autopsia no inverno, depois de 25 dias de putrefacção, e no estio, depois de 10 dias, as bolhas eram abundantes e os pulmões sobrenadavam. Donde concluiu que os pulmões dos nati-mortos isolados do corpo, são raramente séde de putre- facção. E se alguma vez encontrou bolhas sub-pleuraes, eram no entanto incapazes de fazerem sobrenadar os pulmões, visto a sua pequena quantidade. Ao contrario, quando o cadaver é inteiro sub- mettido á decomposição na agua, terra, ou ar livre (deixando-se sempre por um longo tempo) a putrefacção gazosa invade o pulmão a ponto de algumas vezes falsear os resultados da docimasia hydrostatica. Mas, ao Congresso de Medicina em Paris, em 1900, novamente appareceram Descoust e Bordas 14 com o mesmo ardor primitivo, dizendo que, as suas conclusões anteriores deveriam ser mantidas, pois as suas novas experiencias a isso levavam. No emtanto, já Dellamagne no Congresso Inter- nacional de Medicina Legal de Bruxellas, em 1897, as tinha combatido, tendo a felicidade de ver, pouco tempo depois, Malvoz, com experiencias, vir corroborar as suas conclusões. Este deixou putrefazerem-se dois fetos de vacca expostos ao ar frio durante 6 semanas e depois por alguns dias em estufas onde a tempera- tura regulava 20° mais ou menos; a putrefacção estava adiantada e os pulmões enchiam o thorax, tendo algumas bolhas gazosas na pleura. Renovando os seus trabalhos, elle deixou também putrefazerem-se quatro fetos de ovelha na bocca de tres dos quaes deitou uma papa de terra, dei- xando um para testemunha. Collocou-os em uma estufa de temperatura constante. No oitavo dia foram examinados o testemunha e um outro: o primeiro conservava-se intacto ao passo que o segundo apresentava-se em decom- posição. 15 Os pulmões augmentados de volume, continham bolhas sub-pleuraes, sendo positiva a docimasia hydrostatica. Quatro semanas depois, em outro feto em que se procedeu a autopsia, os pulmões revelaram-se a semelhança do primeiro. A ultima autopsia praticada na quinta semana revelou os pulmões semelhantes aos primeiros, apenas tendo as bolhas maiores. Animado com as conclusões de Malvoz, Puppe . e Ziemke resolveram-se também a empenhar-se em tal questão. Em doze fetos humanos introduziram na trachéa culturas de bactérias gazogenas, tendo o cuidado de evitar as grandes compressões, evitando assim, a distensão artificial dos alvéolos. Facilitaram a entrada da cultura e abrigaram os fetos da acção dos insectos. Algum tempo depois estavam esses em adian- tadíssimo estado de putrefacção, e procedida a au- topsia, notaram que os pulmões enchiam a cavi- dade thoracica, contendo grande numero de bolhas gazosas e sendo nellas feita a docimasia hydros- tatica foi esta positiva. 16 Em um feto de 6 tnezes e tendo 30 centí- metros de tamanho, retirado d’agua em estado adiantado de putrefacção, Puppe, Ziemke proce- dendo a autopsia, encontraram os pulmões cheios de vesículas gazosas que os faziam sobrenadar na prova hydrostatica. Sarda criticando as experiencias de Bordas- Descoust, diz que não podem ser levadas em muita consideração, visto terem creado nas suas expe- riencias, circumstancias que não são communs na pratica. Mas estas considerações cremos que não têm muito fundamento, pois, como se sabe, as vezes para encobrir o horrendo crime do infanticídio são as creanças expostas em meios tão cheios de germens que não deixam nada a desejar as cul- turas empregadas por Puppe e Ziemke. Demais, será difficil emigrarem da bocca e pha- rynge os germens ahi contidos, indo produzir nos pulmões a putrefacção? Quando mesmo admittissimos a critica de Sarda ás primeiras experiencias d'aquelles notáveis scien- tistas ella seria descabida á segunda, pois a creança que elles autopsiaram e em que foi positiva a 17 docimasia hydrostatica, não foi objecto de manejos operatorios anteriores e a putrefacção nellas se deu como nos casos correntes na pratica. O Dr. Lebrun apresentou á Sociedade de Me- dicina Legal da Bélgica o resultado das suas pesquisas em quatro fetos, não vindo confirmar absolutamente as asserções de Descoust-Bordas, pelo contrario, quem as ler, ficará fazendo um juizo mais confuso e desparatado sobre a putrefacção dos pulmões fetaes. Não nos diz o tempo que deixou os fetos ex- postos á putrefacção, apenas nos dando a edade delles, por ella não podemos tirar deducções claras, pois os fetos mais velhos, as vezes não sobrena- davam, ao passo que nos mais novos isto se dava. Em 6 fetos foi positiva a docimasia pulmonar, sendo negativa nos 8 restantes, dos quaes alguns apresentavam bolhas. Um outro feto em que foi negativa a docimasia hydrostatica, alem de ter bolhas na sua superfície, também as desprendiam dos alvéolos, quando eram comprimidos os pulmões. Do que resulta nada podermos concluir destas observações. 18 O Dr. Albino Leitão em sua bem elaborada these, traductora fiel de tão bello talento, apresen- tada a Faculdade de Medicina deste Estado, o anno passado, diz-nos: Resulta das experiencias de Tamasia, Bfouardel, Descoust-Bordas e da nossa expetiencia numero òeis e em parte da do numero dois que aputrefacção dos pulmões fetaes pode se dar em muitos casos, sem o desenvolvi- mento de gazes, não alterando portanto os resultados da docimasia. As experiencias de Malvoz, porem, e as nossas nu- meros i, 2 e 3 pr'ovam que a putrefacção gazos a perde ter logar nos pulmões que não respiraram como nos demais orgãos que, para isto não se faz necessária a introducção no alveario pulmonar de ar carregado de germens como querem Descoust-Bordas, nem talvez da circulação posthuma de Brouardel. Apenas provam serem exactas as conclusões de Descoust-Bordas duas das experiencias do Dr. A. Leitão e desta mesmo uma o fez incompleta- mente ; em maior numero as restantes observações ♦ do mesmo Dr. Leitão as contradizem. Com o fim de prestar também uma pequena contribuição a este estudo, cuja importância resalta, 19 como o Dr. A. Leitão fizemos no laboratorio de medicina legal da Faculdade de Medicina, algumas experiencias, cujos resultados se seguem: I Trouxemos do matadouro oito fetos de porco, não tendo respirado e dividimos em quatro series para as nossas experiencias. Para a primeira tiramos os orgãos thoracicos de dois fetos e deitamos em vasos contendo agua um que chamaremos A e o outro B; como era natural, elles foram ao fundo. Para a segunda, inhumamos dois em terra hú- mida. Para a terceira, dois em terra secca. Finalmente para a quarta expuzemos dois ao ar livre. 1? Serie No segundo dia os orgãos thoracicos contidos nos vasos A e B sobrenadavam e notemos bolhas gazosas sub-pleuraes e sub-pericardicas. Punccionamos as bolhas dos orgãos contidos no 20 vaso Ay tanto as pericardiacas como as pleuraes e elles foram ao fundo. Punccionadas as bolhas e separados o coração e thymos dos pulmões contidos no vaso B, estes foram ao fundo. No terceiro dia notamos que os orgãos do vaso A de novo sobrenadavam; repetida a operação do punccionamento das bolhas, voltaram elles ao fundo. No vaso B também sobrenadavam todos os or- gãos separados, e procedida a operação anterior, elles também foram ao fundo. No quarto dia os do vaso A conservavam-se no fundo em deliquescencia. No vaso B ainda sobrenadavam com muitas bolhas sub-pleuraes que, procedida apuncção foram ao fundo para voltarem á tona no quinto dia, quando repetida a mesma operação nas bolhas, elles foram ao fundo, ahi ficando em deliquescencia. 2f Serie Extrahimos os orgãos thoracicos de um dos fetos que estavam em terra húmida, tres dias depois da inhumação e deitando-os em um vaso contendo 21 agua, elles sobrenadaram; isolamos o coração e thymos dos pulmões e estes continuaram a sobre- nadar com muitas bolhas sub-pleuraes, cuja des- truição fez que os pulmões fossem ao fundo, para voltarem uns quinze minutos depois á tona e assim se conservarem, não sendo mais possível fa- zel-os submergir. No quarto dia fomos retirar o outro feto inhu- mado em terra húmida e delle não encontramos senão detritos. 3? Serie Ja eram passados tres dias, quando fomos auto- psiar um dos fetos inhumados em terra secca: era adeantada a putrefacção que apresentava. Retirados os orgãos thoracicos, viam-se nelles bolhas sub-pleuraes e sub-pericardicas. Deitamol os em um vaso contendo agua suffi- ciente e elles sobrenadaram, separados os pulmões dos outros orgãos, continuaram sobrenadando; depois de punccionadas as bolhas, foram ao fundo, voltando, porem, á tona d’agua alguns minutos depois e ahi se conservaram por espaço de quatro dias; findo os quaes, quando executada a puncção, 22 novamente elles foram ao fundo, voltando á tona d’agua no dia seguinte, quando praticada a mesma operação nas bolhas, elles foram ao fundo em deliquescencia. O outro feto foi retirado da terra quatro dias depois de inhumado, procedida a autopsia vimos que todas as vísceras eram sede de intensa putre- facçã'', retiramos as vísceras thoracicas e nellas procedemos a docimasia hydrostatica, que foi po- sitiva. Os pulmões isoladamente também sobrenada- vam, indo ao fundo depois de punccionadas as bolhas, para no dia seguinte, voltarem á tona, quando praticada novamente a operação elles foram ao fundo ahi se conservando. Serie No terceiro dia tiramos os orgãos thoracicos de um dos fetos expostos ao ar, deitamos em um vaso contendo agua e elles sobrenadaram, não nos sendo possível fazer que fossem ao fundo, nem mesmo- depois de punccionadas as bolhas volumosas e abun- dantes que haviam sob a pleura. Julgando que talvez fosse isso devido a putrefacção dos outros 23 orgãos, os separamos dos pulmões e novamente punccionadas as bolhas, estes se conservaram á tona d’agua e momentos depois de comprimidos os fragmentos, elles foram ao fundo do vaso donde vieram á tona, poucas horas depois e permane- cendo nella até o quinto dia. Não poderíamos nos lembrar da hypothese de ter este feto respirado, pois foi retirado do mesmo utero que os outros e era impossível que elle ti- vesse respirado, quando os outros não o fizeram como ficou provado na nossa primeira serie de ex- periências, em que os pulmões, deitados n’agua, foram ao fundo. No quarto dia retiramos o outro feto e aberta a caixa thoracica encontramos somente um pulmão e este mesmo em deliquescencia, as outras vísceras tinham sido consumidas; deitado n’agua este pulmão foi ao fundo como uma pasta sem forma e im- possível de notarmos qualquer phenomeno que nelle se passasse. 24 II Seis fetos de porco trazidos algumas horas depois de extrahidos do utero materno foram distribuídos em tres series para as nossas experiencias. Tiramos os orgãos thoracicos de dois fetos e deitamos em 2 vasos A e i?contendo agua; foram ao fundo. Dois outros inteiros, deitamos em um vaso con- tendo agua. Os restantes tendo uma papa de terra na bocca, foram deixados á putrefacção ao ar livre. 1? Serie No dia seguinte sobrenadavam os orgãos tho- racicos em ambos os vasos, mas não eram visíveis ainda as bolhas gazosas. Separamos os pulmões dos outros orgãos con- tidos no vaso A, um pulmão foi ao fundo, o outro porem, permaneceu sobrenadando. Quando separamos os pulmões notamos que sahiam bolhas pelos bronchios d’aquelle que so- brenadou, sendo collocado n’aguae fazendo pressão 25 sobre o pulmão, novas bolhas se desprendiam, permanecendo o mesmo a fluctuar. No dia seguinte sobrenadavam os dois pulmões e já tinham bolhas sub-pleuraes cujo puncciona- mento produziu a submersão. No vaso B todos os orgãos sobrenadavam tendo bolhas visíveis, submergindo entretanto depois de procedido o punccionamento nas bolhas. No terceiro dia novamente sobrenadavam tanto os do vaso A como os do B, submergindo depois de praticada a operação que frequentemente fazemos nas bolhas e conservando-se no fundo do vaso em deliquescencia. 2* Serie Procedida a autopsia em um dos fetos dois dias depois de collocados n’agua, pela abertura do thorax, notamos já ser adiantada aputrefacção nas vísceras, sendo praticada a docimasia hydrosta- tica, esta foi positiva. Deixamos em o vaso com agua e separados os pulmões do coração e thymos somente depois de bem punccionadas as bolhas, conseguimos que os pulmões submergissem. 26 Trez dias depois retiramos as vísceras do outro feto e procedida a docimasia hydrostatica, foi como a anterior, positiva. Depois de isolados o thymos e coração dos pulmões ainda era positiva a prova d’agua. Fazendo nas bolhas destes o mesmo que nas dos anteriores, elles foram ao fundo. No quarto dia em ambos os vasos as vísceras permaneciam submersas. 3? Serie. Depois de expostos ao ar, dois dias, os fetos com uma papa de terra na bocca, retiramos um e já era adiantada a putrefacção. Deitamos as vísceras thoracicas n’agua, sobre- nadaram, com bolhas sub-pleuraes visíveis. Separamos os pulmões das outras vísceras e elles continuavam a sobrenadar, indo ao fundo depois do punccionamento das bolhas. Tres dias depois retiramos do outro feto as vísceras thoracicas com as quaes foi positiva a prova d’agua, dando-se o mesmo com os pulmões isola- damente, só indo ao fundo depois de punccionadas as bolhas. 27 No outro dia elles conservaram-se submersos, pois era grande a deliquescencia. Os do outro vaso tinham voltado a tona d’agua indo ao fundo depois de punccionadas as bolhas. III Depois de extrahidos os orgãos thoracicos de um feto de vacca, deitamol-os em um vaso con- tendo agua onde foi negativa a docimasia. No dia seguinte sobrenadavam, mesmo quando separamos os pulmões dos outros orgãos, e ao separarmos um pulmão do outro, notamos despren- dimento de algumas bolhas gazosas pelos bron- chios. No dia seguinte continuavam a sobrenadar já tendo bolhas sub-pleuraes cujo punccionamento fez que elles fossem ao fundo. No terceiro dia a mesma sobrenatação notamos e procedida a operação anterior, elles foram ao fundo, para sobrenadar no quarto dia, quando sendo feita a mesma operação nas bolhas, para não mais voltarem á tona, submergiram-se em de- liquescencias. 28 IV De um outro feto de vacca que trouxemos, reti- ramos os orgãos thoracicos e deitando-os n’agua, elles foram ao fundo do vaso que os continha, sobre- nadando no dia seguinte, até mesmo depois de sepa- rados os pulmões das outras vísceras; puncciona- mos as bolhas sub-pleuraes, indo os pulmões ao fundo do vaso, voltando á tona no dia seguinte, quando depois de retirarmos grande porção da pleura, elles foram ao fundo do vaso. No terceiro dia voltaram á superfície d’agua e notamos grande porção de bolhas gazosas presas aos fragmentos da pleura que ainda restavam; destruídos estes, os pulmões foram ao fundo, estando no quarto dia já em deliquescencia. V De um feto novo de vacca retiramos as vísceras thoracicas e deitamol-os em um vaso contendo agua: % foram ao fundo. No dia seguinte sobrenadavam; separados os pulmões, assim continuaram. Com uma lupa procuramos apreciar onde esta- vam contidas as bolhas que os faziam sobrenadar, 29 vimol-as não somente nos bronchios como sob a pleura, não havendo no emtanto no tecido lobular; não obstante havermos executado grandes com- pressões, com o intuito de encontrar ahi, foi bal- dado, porem, todo o nosso esforço. O resto dos pulmões sobrenadou até o sexto dia. VI Novamente de um feto de vacca retiramos as vísceras thoracicas e deitando-as n’agua, ellas foram ao fundo; vinte e quatro horas depois sobrena- davam com muito pequenas e raras bolhas appa- rentes, retiramos o coração e o thymos, conti- nuando os pulmões á tona d’agua. Quarenta e oito horas depois, já eram grandes e abundantes as bolhas, cuja destruição fez que os pulmões fossem ao fundo para voltarem no dia seguinte, quando destruídas as bolhas, novamente foram ao fundo, se conseivando ahi em deliques- cencia. Vil Em um feto de vacca exposto ao ar, praticamos a autopsia, trinta e seis horas depois, as vísceras 30 thoracicas submettidas á prova d’agua, não sobre- nadaram. Separamos os pulmões e expuzemol-os ao ar, sendo submettidos quarenta e oito horas depois á prova d’agua, que foi positiva, vendo-se a este tempo nos pulmões muitas bolhas sub-pleuraes. VIII Ainda outro feto de vacca exposto ao ar, auto- psiamos quarenta o oito horas depois, as vísceras thoracicas, sendo collocadas n’agua, não sobre- nadaram senão no terceiro dia. Retirado o coração e thymos, conservaram-se sobrenadando os pulmões até o quarto dia quando destruídas as bolhas foram ao fundo e lá ficaram em fragmentos. IX Os orgãos thoracicos retirados no segundo dia de um feto de vacca exposto ao ar, sendo col- locados n’agua, não sobrenadaram senão no ter- ceiro, quando retirados o thymos e o coração e também destruídas as bôlhas sub-pleuraes, os 31 pulmões foram ao fundo, para voltarem no quarto dia, quando praticada a mesma operação, elles submergiram-se. X Um feto da mesma natureza deixamos putrefa- zer-se exposto ao ar, e no terceiro dia fizemos a autopsia, deitando as vísceras thoracicas n’agua; ellas foram ao fundo, no dia seguinte sobrenada- vam. Retiramos o thymos e coração, continuando os pulmões á tona d’agua com muitas bolhas sub- pleuraes, indo os pulmões ao fundo, depois de destruídas ellas; voltando á tona no dia seguinte, permanecendo ahi até o decimo dia, quando sub- mergiram-se em deliquescencia XI Como o anterior deixamos outro feto de vacca exposto ao ar e no terceiro dia sendo retiradas as vísceras e deitadas n’agua, sobrenadaram com visíveis bolhas sub-pleuraes. Retirados o coração e thymos, os pulmões com- servaram-se sobrenadando, indo ao fundo, quando 32 destruidas as bolhas, vindo á tona no dia seguinte, onde permaneceram até o decimo primeiro dia. XII Um feto humano que não respirara nos foi ce- dido pelo Dr. Climerio de Oliveira. Fizemos a autopsia e notamos que os pulmões estavam retrahidos e cobertos pelo pericárdio; dei- tando as vísceras n’agua, foram ao fundo, no se- gundo dia fluctuavam; separados os pulmões do thymos e coração, foram ao fundo; no quarto fluc- tuavam, no sétimo ainda assim se censervaram, tendo gazes nos septos inter-lobulares; compri- mido um pulmão e sendo abertos estes septos, foi ao fundo para voltar á tona no dia seguinte, con- servando-se assim os dois até o decimo quinto dia, quando submergiram-se em deliquescencia. Não podemos deixar, em face d’estes resultados’ de chegar a uma conclusão perfeita e nítida, com traria as de Bordas e Descoust. 33 Em todas nossas experiencias, os pulmões fetaes de diversas naturezas sobrenadaram, depois de putrefeitos, embora nunca tivessem respirado. O meio não influe, pois procuramos varial-os, e quer deixássemos expostos ao ar, ou immersos n’agua, quer inhumassemos em terra secca ou hú- mida, retirando as vísceras thoracicas e deitando-as n’agua, o resultado era sempre o mesmo, sempre sobrenadavam. Das vísceras deixadas n’agua, notamos que cinco sobrenadaram vinte e quatro horas depois, tendo somente as de um feto sobrenadado no fim de quarenta e oito horas. Em alguns não eram visíveis as bolhas sub-pleu- raes logo em principio, n’outros porem, appare- ciam mais rapidamente. De dois expostos ao ar, um autopsiado qua- renta e oito horas e outros setenta e duas horas depois, os pulmões sobrenadavam. Inhumados em terra secca ou húmida, setenta e duas horas depois sobrenadavam; os immersos n'agua e os que con- tinham terra na bocca, sobrenadaram porem findas quarenta e oito horas. 34 Apenas o feto humano fez excepção, pois os pulmões só fluctuaram no quarto dia. Portanto, não podemos deixar de considerar er- róneas as conclusões de Bordas e Descoust levan- do-nos a concluir as nossas experiencias que a putrefacção gazosa por si só é sufficente para fazer com que os pulmões sobrenadem. Notamos que todas as vísceras thoracicas sub- mettidas á prova hydrostatica, a principio vinham á tona; separados, porem, o coração ethymos, quasi sempre os pulmões iam ao fundo do vaso; dis- semos quasi sempre, porque em algumas das nossas experiencias, quando mesmo no começo separa- vamos o coração e thymos dos pulmões, estes con- tinuavam a sobrenadar, talvez por ter sido muito rápido a processo de putrefacção. Algum tempo depois, independentes das outras vísceras, vinham á tona d’agua, porem quasi sempre sem apresentar bolhas gazosas sub-pleu- raes. Continuando os pulmões a sobrenadar, notava- mos bolhas em pequena quantidac 2 a principio e em grande logo depois, vendo-se que algumas chegavam ao tamanho de uma ervilha, outras em 35 profusão, como cabeças de alfinetes, começavam a apparecer na parte inferior dos pulmões, se alastrando depois, a ponto de invadil-os comple- tamente. Todas as bolhas que notavamos tinham como séde unica os sulcos inter-lobulares, o tecido come- m çava a apresentar-se com estrias regulares, tomando o aspecto de ladrilho e nessas estrias as bolhas começavam a se apresentar, levando isto a suppor que a putrefacção gazosa não invade os alvéolos, mais o tecido inter-lobular. Antes das bolhas sub-pleuraes se apresentarem, os bronchios estão cheios de gazes e isto verifica- mos em diversos pulmões; mesmo é impossível explicar-se a sobrenatação dos pulmões putre- feitos, antes do apparecimento das bolhas sub- pleuraes, sem nos soccorremos da putrefacção anterior dos bronchios. Se nos objectarem que o tecido pulmonar em vista de sua constituição deveria ser o primeiro a putrefazer-se, lembraremos que este tem uma mem- brana protectora bastante forte, que é a pleura, obstando a entrada de germens e de insectos no parenchyma, emquanto não se dilacera; ao 36 passo que os bronchios estão abertos á entrada dos líquidos ou outro meio conductor de germens da putrefacção. E é este o mechanismo d’ella nas experiencias de Malvoz, Puppe e Ziemke, pois em quanto os outros observadores não conseguiram que os pul- mões sobrqpadassem pela putrefacção, aquelles, deixando na trachea culturas de germens gazoge- nos, ou deitando na bocca terra de jardim, nota- ram que a putrefacção se dava e que as bolhas revestiam o parenchyma. E não está claro ahi, que elles começaram nos bronchios e dahi passaram ao parenchyma, apresentando-se sob a pleura? Se procurarmos onde se termina uma bolha gazosa, vemos que é em uma ramificação bron- chica, parecendo que esta se rompe dando pas- sagem as bolhas que notamos na pleura. Fizemos diversas experiencias com o fim de verificarmos se era assim que as cousas se passa- savam; para isto adaptamos hermeticamente um tubo de vidro á trachea e com uma bomba fazia- mos a aspiração, na persuasão de que se a putre- facção começasse nos bronchios e d’ahi passasse 37 para o parenchyma, desde que fizéssemos a aspi- ração, o vasio se dando, aquellas bolhas sahiriam pelos mesmos orifícios de entrada. O resultado porem, foi negativo e suppomos que sendo a trachéa e os bronchios de tecidos muito retrácteis, se dobrassem as paredes, uma de encon- tro a outra, fechando por completo a luz do canal e dando-nos o dissabor de não chegarmos a veri- ficação d’aquillo que tanto empenho tínhamos em reconhecer. Trabalhamos muito sem desanimar até mesmo quando sentíamos a escassez do meio a. nos ameaçar de um fracasso. CAPITULO IV C.A.‘TSLAJB DE ERROS InsufHaçãc E’ este um meio empregado para chamar a vida aos recem-nascidos, sendo quasi sempre usado pe os facultativos, deixa de ter grande im- portância para os peritos medicolegaes. Mas, nem sempre o seu emprego é feito pelos facultativos, porquanto, algumas vezes serve de artificio desviadouro da acção da justiça quando interessados querem attribuir crimes de infanti- cídio a quem não os praticou. Pode também ser levado o perito a dar o seu veredictum na ignorância de ter sido praticada a insufflação, anteriormente com um fím muito natu- ral de reanimar a creança. Para se verilicar se houve ou não insufflação tem- se um bo n indicio na cor dos pulmões, pois no caso de ter sido ella feita, elles tornam-se anemiados 40 ao passo que tendo respirado, a sua cor é roseo- claro. Demais, encontram-se bolhas pequenas e unifor- mes em toda a superfície pulmonar quando houve respiração, ao passo que vamos encontrar, quando houve insufflação, emphysemas irregularmente dis- seminados devido a distenção brusca dos alvéolos, havendo pontos em que os pulmões conservam-se em estado fetal. Congelação Os pulmões congelados, ainda que não tenham respirado, sobrenadam; mas, se os collocamos em temperatura bastante alta para subtrahil-os á con- gelação, elles vão ao fundo como nos casos ordi- nários. Os pulmões congelados, são rijos e dão uma sensação especial quando são comprimidos, divido isto á fragmentação dos crystaes d’agua. Cocção Os pulmões que soffrem a cocção ainda mesmo, tendo respirado, perdem a faculdade de sobrenadar, 41 e si a sciencia tem meios de distinguir um pulmão que soffreu a cocção de um outro que não asoffreu, não pode, no emtanto, dizer se o pulmão que passou por este processo respirou ou não, d’ahi resulta uma posição muito difficil ao perito. Çonservação no aloool Os pulmões conservados no álcool por algum tempo, diminuem muito de seu peso, precisando fazel-os permanecer n’agua, no minimo umas 12 horas, tempo sufficiente para que a prova hydros- tatica se realise com toda a nitidez. O Dr. Albino Leitão fez neste sentido uma serie de experiencias cujo resumo nós reproduzimos. Para a sua primeira experiencia tomou seis fetos de porcos; tendo feito a docimasia em tres, esta foi negativa. Os pulmões restantes foram postos no álcool, indo ao fundo do vaso immediatamente. Retirou estes tres pulmões em tempos diffe- rentes: um 15 dias depois, outro um mez e o ultimo no fim de dois mezes, e sendo n’elles pra- 42 ticada a docimasia hydrostatica, mantiveram-se na superfície d’agua por algum tempo, indo depois ao fundo do vaso. Para a segunda experiencia tomou os pulmões de dois leitões, um dos quaes sacrificado imme- díatamente após o seu nascimento e outro 24 horas depois. Pondo-os no álcool, notou que elles ficavam na superfície deste liquido e sendo n’elle mantidos em vidros separados, conservaram-se á tona do liquido os que respiraram por menor espaço de tempo, 8 dias, e os outros, 17 dias. No vigésimo dia foram os pulmões collocados em 2 vasos com agua, á tona da qual ficaram por espaço de 8 a 10 horas, indo depois para o fundo do vaso. Para a terceira experiencia elle poz á macerar no álcool um lobo de pulmão de porco adulto que manteve-se na superfície do liquido durante 32 dias, findo os quaes, elle foi gradualmente sub- mergindo-se até que no trigésimo quinto dia, occu- pava o fundo do vaso. Quarenta dias após o inicio da experiencia, reti- rado o lobo pulmonar e collocado n’agua elle se 43 manteve na superfície deste liquido cerca de 22 horas, immergindo por fim. Donde concluiu o Dr. Leitão que a maceração alcoolica dos pulmões não traz nenhuma quebra do valor das conclusões tiradas pela docimasia. Respiração antes do nascimento A respiração pode ser extra ou intra-uterina; esta, apezar de ser muito pouco frequente, é notada entretanto quando as membranas estando rotas, o parteiro dá accesso no utero ao ar exterior, introduzindo a mão, o braço ou mesmo instrumen- tos. Casos outros tem sido observados, em que ou por uma mudança de posição do feto ou rela- xação do utero, occupando a mulher posição que facilite a entrada do ar, um vagido se ouve denun- ciando a respiração no feto. Pode mesmo dar-se o caso da bocca e narinas do feto estarem no orifício vulvar, e ainda mais a cabeça estar expulsa; quem nos diz que nestas circumstancias a creança não pode respirar? 44 Estes casos porem quasi nunca precisam da acção dos peritos pois os partos clandestinos em geral são rápidos e não dão lugar a que as cir- cumstancias apontadas sejam favorecidas. Volta dos pulmões ao estado anoctasioo Não se pode negar que uma creança depois de tej vivido algumas horas ou mesmo dias apresente os seus pulmões sem conterem ar e incapazes de so- brenadar quando postos n’agua. São casos descriptos por diversos observadores, mas em todos elles devemos convir que se trata de creanças nascidas antes de termo e em que os seus orgãos não estando bastante desenvolvidos, não são capazes de supportarem as funcções vitaes. Para explicar o mechanismo da volta dos pul- mões ao estado anectasico, se debatem diversos scientistas, cada um julgando estar com a maior somma de razão, mas, sendo todas as explicações até hoje dadas por elles, sujeitas a criticas rigo- rosas, resulta que ainda não se pode ter uma opi- nião segura para a explicação procurada. 45 Uns não acceitam absolutamente, que os pul- mões voltem ao estado anectasico depois de terem respirado e explicam o ruido semelhante ao vagido que ouvimos em as creanças em cujos pulmões não encontramos depois signaes de respiração, pela presença do ar na bocca e pharynge que occa- siona o phenomeno pela agitação dos lábios e bochechas; ou então quando cessado o recalcamento do ar que está contido na trachea e larynge, este em sua passagem pelas cordas vocaes deixa per- ceber o ruido. Outros affirmam que os pulmões voltam ao es- tado anectasico por uma diminuição gradual dos movimentos inspiratorios, conservando-se a expi- ração com maior energia. Lichthein explicando o mechanismo da sahida do ar, diz-nos ser ella feita atravez das paredes alveolares. Khroemer diz que é pelos bronchios que este ar é expulso, tanto assim, que havendo um obstáculo n’ellès o ar fica nos pulmões e não sahe. Qualquer destas explicações nos é insufficiente para resolver a questão, pois nenhuma assenta em factos experimentaes ao abrigo da critica, 46 O que nos parece não se poder negar é o facto da creança ter vivido, pelo menos apparentemente, e os seus pulmões não revelarem ter respirado o que vem embaraçar a acção do perito, embora este erro seja d’aquelles que, ao em vez de condemnar, pelo contrario, tiram as penas que poderiam pesar sobre um indivíduo apontado como infanticida. 47 Conservação no formol Em uma autopsia praticada no Laboratorio de Medicina Legal pelo erudicto professor da cadeira o Dr. Nina Rodrigues, em um feto humano trazido do Hospital, que sem nenhuma duvida não havia respi- rado, depois da abertura da caixa thoracica, tendo sido collocadas as vísceras n’agua, ellas sobrenada- ram ; sendo separados o thymos e o coração, ainda foi positiva a prova hydrostatica procedida com os pulmões apenas; ainda o foi com os pulmões de per si. Isto fez com que o Dr. Nina Rodrigues suppo- zesse,com fundamentos que a conservação noformol deveria se contar entre as causas de erro da doci- masia pulmonar-hydrostatica, e deu-nos elle então a tarefa de continuar a verificação experimental da realidade do facto, pois não tendo até hoje sido citada pelos autores esta causa de erro, todo cuida- do e bom senso deveríamos ter para tornal-a publica. Para este fim deitamos no dia 10 de Setembro quatro fetos de porco que não haviam respirado, 48 em um vaso contendo uma solução de formal a 5 */of deitando mais quatro que, como os outros não ha- viam respirado, em outro vaso tendo uma solução de formol a 10 °/0. No dia 21, portanto onze dias depois, autopsia- mos dois destes fetos, um de cada vaso e as visceras thoracicas de ambos, sendo deitadas n’agua, sub- mergiram. No dial? de Outubro, quando já tinham vinte e um dias de conservação no formol, autopsiamos dois outros fetos sendo cada um de um vaso differente, e as visceras thoracicas foram ao fundo do vaso na prova d’agua. A 15 de Outubro, tendo já sido decorridos trinta e cinco dias de conservação, nova autopsia prati- camos em dois fetos também diversos e notamos que as visceras thoracicas de ambos os fetos, so- brenadaram; sendo porem separados o thymos e coração dos pulmões, estes deixaram de sobrenadar, não indo emtantoao fundo do vaso completamente. No dia 3 de Novembro, fomos autopsiar os dois fetos restantes e sendo pratica a extracção das vis- ceras thoracicas, deitamol-as n’agua, e ellas sobrenadaram completamente; retiramos o coraçfio 49 e thymos dos pulmões, notamos que os pulmões do feto conservado na solução de formol a 10 °/0 conservaram-se sobrenadando tendo algumas bo- lhas gazosas apparentes, achatadas sob a pleura; praticada a docimasia nos pulmões de per si, elles conservaram-se sobrenadando. Separados com anteriormente os pulmões do thymos e coração, do outro feto conservado na so- lução de 5 0/o, os pulmões deixaram de sobrenadar, ficando no emtanto no seio do liquido sem ir ao fundo, sahindo pela trachéa que estava meio im- mersa, algumas bolhas gazosas. Concluímos que os pulmões dos fetos que não respiraram, sendo conservados na solução de formol para experiencias ulteriores adquirem a proprie- dade de sobrenadar quando a immersão n’este liquido é demorada até certo tempo, como demon- stram as nossas expetiencias. ILTOT.A Pela falta de tempo que tivemos para collocar onde deveria estar o assumpto de que vamos tratar, fomos obrigado a deitar esta nota em nossa these para estudarmos comparativamente a docimasia dos pulmões que respiraram dos que não respiraram. Para isto sacrificamos no dia 21 de Outubro, dois porquinhos que apenas tinham vivido 24 horas, autopsiamos um e o outro deixamos se pu- trefazer ao ar livre. As vísceras thoracicas do autopsiado deitamos n’agua e ellas sobrenadaram completamente, reti- ramos o thymos e coração, os pulmões conti- nuaram a sobrenadar; procedemos a docimasia em os pulmões de per si e a mesma cousa no- tamos; deixamos o resto n’agua e ahi clles se con- servaram á tona até o dia 3 de Novembro quando já em deliquescencia elles foram ao fundo. O outro feto deixado exposto ao ar, autopsiamos no dia 25 de Outubro quando já estava putrefeito. 52 As vísceras thoracicas sobrenadaram; separados o thymos e coração dos pulmões, estes conti- nuaram á tona, resistindo ahi ás puncções repe- tidas que fazíamos em todo parenchyma pois em todo elle estavam disseminadas as bolhas. No dia 5 de Novembro toda a massa submergiu-se. A diíferença entre os pulmões que respiraram e os que não respiraram é tanta que não sabemos como se possa os confundir. A cor por si só, forma um signal bem caracte- ristico, o pulmão que respirou tem a cor do thymos, o que não respirou, a do figado. Quem poderá confundir a cor destas duas vis- ceras? Ainda mais, como já dissemos, as bolhas nos pulmões putrefeitos que respiraram são muito dis- seminadas. Nos pulmões que não respiram as bolhas da pu- trefacção são grandes e irregularmente distribuídas como também já tivemos occasião de dizer. Nos pulmões que respiraram o punccionamento das bolhas não os faz ir ao fundo do vaso. PROPOSICOES ANATOMIA DESCRIPTIVA I O maxillar inferior é um osso impar, medio, syme- trico situado na parte inferior da face. Se divide em duas partes, uma media, que é o corpo e duas partos lateraes ou ramos. II No recem-nascido à termo, o maxillar inferi )t* quasi sempre tem oito alvéolos dentários completa- mente separados. III Alem destes oito alvéolos médios se encontra de cada lado uma loja unica, na qual se desenvolverão ulte- riormente os septos destinados a separar cada dente. ANATOMIA MEDICO-CIRURGICA I A região escapulo-humeral ó envolvida completa- mente pela farte superior do musculo deltoide, que dá por esta razão também nome a região. II Na articulação escapulo-humeral ha tres variedades de luxação, para baixo, para traz e para diante, sendo esta ultima a mais frequente. III A luxação para cima é obstada pela abobada 56 acromio-coracoidiana, que não permitte a cabeça do humero abandonar a cavidade glenoide do omoplata. BACTERIOLOGIA I O bacilloda tuberculose é immovel, tem a forma de um bastonete muito delgado, é recto ou curvo, o seu m tamanho é de 3 a 4 u. II Sobre toda sua extensão o bacillo tem um volume í i uniforme; tem no emtanto expansões que são devidas aos esporos. III Consideia-so egualmente como esporo os pequenos vacuolos incolores, ovalares que se notam no interior do bacillo. HISTOLOGIA I A epiderma é representada por um epithelio pavi- mentoso extratiflcado que reveste a derma em toda a sua extensão e se adapta exactamente a todas anfra- tuosidades, e todas as saliências desta. lí A face interna da epiderma ó a reproducção da lace externa da derma; a face externa é menos accidentada qua a interna pois as saliências papillares da derma perdem-se na espessura do epithelio e quasi não appa~ rece em a superfície. 57 III A epiderma nos recem-nascidos descama-se deixando logo uma nova camada; esta descamação começa em geral do terceiro ao quarto dia e não sendo devida nem a um processo pathologico, nem é putrefacção, pode-se affirmar que a creança não e nati-morta. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGIGAS I Congestão é o accumulo nos vasos de um orgão ou de uma região qualquer do corpo de uma quantidade de sangue antero-superior a normal. II Quando o sangue afflúe mais abundantemento em um orgão sem que a sua sabida pelas veias seja modifi- cada ha a congestão activa.. Havendo diminuição na sabida pelas veias e as artérias levando ao orgão a mesma quantidade de sangue, ha a congestão passiva. III A congestão activa depende ou do crescimento da pressão das artérias ou da dilatação destes conductos que â pressão egual permitte o affluxo de maior quantidade de liquido. PHYSIOLOGIA I A circulação é o movimento incessante do sangue o apparelho circulantorio. 58 II Projectado na aorta pelas contracções do ventrículo esquerdo, o sangue, carregado de princípios nutritivos percorre o systema arterial, chegando aos capillares onde fornece os materiaes de assimilação e recebe os de desassimilação. III Os capillares o transmitte ao systema venoso, onde todas as divisões terminam-se nas veias cavas e levam á auricula direita com a lympha e o chylo derra- . mados pelo canal thoracico na sub-clavia esquerda e na direita pela grande veia lymphatica direita. THERAPEUTICA I 0 per-chlorureto de ferro produz localmente a constricção dos vasos e a coagulação do sangue, determinando d’este modo a hemostose. II Comquanto muito vulgarisado o emprego d’este composto,, pode produzir graves consequências. * III Tendo uma affinidade pronunciada para albumina, produz um effeito cáustico, e principalmente pela embolia e phlebite, que accarreta muitas vezes a morte. HYGIENE I Emprega-se a depuração das aguas com o fim de 59 desembaraçal-o mais que for possivel dos germens e da matéria organica que favorece a proliferação d’a- quelles. II Os processos com este fim empregados são: a decan- tação, a filtração, o tratamento pelos agentes chi- micos e aquecimento. III A filtração central ou municipal é imprescindível quando desejamos ter uma bòa agua, sendo quasi nulla a filtração nos domicílios, devido ás grandes dece- pções no emprego dos diversos filtros a isto prepostos. MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGICA I O aborto pode ser espontâneo, medico ou crimi- noso. II O aborto espontâneo tem como causa mais frequente a syphills. III O aborto medico é um meio therapeutico importante quando os partos não se podem dar a termo. O medico ao produzil-o deve explicar á familia e á operada a razão de assim proceder. PATHOLOGIA CIRÚRGICA I 0 tétano é uma moléstia infectuosa, commum ao homem e a certos animaes, que succede quasi sem- 60 pre a uma ferida e que ó devida ao bacillo de Nico- laitr. II E’ caracterisado por contracções musculares e convulsões, que se generalisam quasi sempre es e ter- minando frequentemente pela morte. III Entre ns infecções cirurgicss representa o tétano, o typo das moléstias por intoxicação. OPERAÇÕES E APPARELHOS I Entre rs processos praticados com o fim de curar os aneurysmas avulta o da extirpação. II Comtudo não pode ser applicado a todos os vasos sanguíneos. III E’ este processo que melhor estatística apresenta assim como o que mais poderosamente obvia as reci- divas. CLINICA CIRÚRGICA (i.a Cadeira) 1 A moléstia de Lobstein ó caracterisada por uma fra- gilidade constitucional dos ossos. II As fracturas ahi são quasi sempre múltiplas, a consolidação é rapida, mas defeituosa. 61 III Deve-se collocal-a ao lado das alterações trophicas, ósseas, de origem neuropathicas. CLINICA CIRÚRGICA (2." Cadeira) I A hydrocele é o derramamento de serosidade que se forma, seja na vaginal testicular onde a commu- nicação com o peritoneo foi interrompida normal- mente, seja no conducto vagino-peritoneal não oblite- rado. II No primeiro caso, chama-se hydrocele simples, no segundo hydrocele congénita. III Ha dois methodos de tratamento da hydiocele: A puncção com injecçoo iodada; A incisão cora excisão parcial ou total da vaginal. PATHOLOGIA MEDICA I À pleuresia é a inflammação da pleura. II A pleurisia pode ser geral, parcial, diapliraguiatica, mediastinica ou iuterlobar, de accordo com a sua sede; segundo a sua origem, pode ser primitiva ou secun- daria. III A melhor classificação das pleurisias ó aquella que basea-se na natureza do liquido derramado, liquido sero-fibrinoso, hemorrhagico ou purulento. 62 CLINICA PROPEDÊUTICA I Os sopros cardiacos se propagam quasi sempre alem da região precordial. II Os que provem da aorta e da valvula tricuspoide se propagam sobretudo para a direita. III Os mitraes e pulmonares se propagam para a es- querda. CLINICA MEDICA (i.‘ Cadeira) I O beri-beri é uma forma especifica da nevrite peri- pherica múltipla. II E’ eudemica ou epidemicamente observado nos cli- mas tropicaes e inter-tropicaes, em certas condições artificiaes elle se produz nos paizes temperados. III Como a malaria elle é favorecido pela humidade e temperatura alta e attinge sobre tudo aqnelles que dormem sobre o solo ou em lugares d’elle aproxi- mado. CLINICA MEDICA (2.* Cadeira) I A malaria é funcção do hematozoario de Laveran, 63 II A febre typhica, na malaria se compõe de uma serie de accessos tendo irtorvallos bem definidos de vinte quatro, quarenta e oito ou setenta e duas horas. III O accesso comprehende um estádio de frio, um estádio de calor e um estádio de suor, aos quaes suc- cede um estado do apyrexia-absoluta ou relativa. MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR I As poções são preparados líquidos, de um volume pouco considerável, que tem por excipiente a agua tendo em suspensão ou em solução certos princípios medicamentosos. II As poções preparadas com uma emulsão e tornadas mais ou menos consistentes com o auxilio duma mu- cilagem, tomam o nome deloock. III As poções, julepos e loocks servem de excipientes aos medicamentos activos. HISTORIA NATURAL MEDICA I 0 doohmius ankylostoma pertence a classe dos nematoides. 64 II O seu habitat normal é o intestino delgado do ho- mem, particularmente o jejuno, menos frequentemente o duodeno e raramente o ileo. III Encontra-se quasi sempre na proporção de um macho para tres femeas; esta é muito maior do que aquelle. CHIMICA MEDICA I O indol (C16 H' Az ) se produz as custas das maté- rias alluminoides, ou por oxydação da potassa emfuzão ou pela putrefac ‘ão. II intestino pela acção nas bactérias sobre os productos da digestão dos albuminoides. III Na urina se encontra um derivado do indol, o indo- xylsulfato de potássio. OBSTETRÍCIA I 0 parto prematuro artificial é a explusão, antes do termo da gravidez, do producto da concepção, por meios artificiaes e em tempo que o feto possa viver vida extra-uterina. II A technica desta operação deve imitar o mais pos- 65 sivel os phenomenos naturaes que se passam na pro- ximidade do parto. III A dilatação do collo deve ser complela, para evitar grandes traumatismos e não haver grande demora que ameace a vida do feto. CLINICA OBSTÉTRICA E GYNECOLOGIGA I E’ viciosa a inserção da placenta no segmento infe- rior do utero. II A variedade mais commum da inserção viciosa da placenta ó a peripherica ou marginal, isto e, quando a placenta não cobre o orifício interno do collo. III E’ muito rara a variedade central, assim chamada por cobrir a placenta o orifício interno do collo. CLINICA PEDIÁTRICA I A bronchite capillar na creança, associa-se geral- mente ao sarampão, do sexto ao oitavo dia. II No começo pela escuta, percebem-se estertores finos subcrepitantes e sibilantes, a temperatura sobe a 40°, a dyspnéa ó violenta. III ' A dyspnéa domina os symptomas, o que fez chamar-se 66 catarrho suffocante, quando não eram conhecidas a séde e a natureza da lesão. CLINICA OPHTALMOLOGICA I Chama-se trichiase ao desvio dos cilios para dentro; resulta quasi sempre de uma inflammação da conjun- ctiva, terminada por cicatrização. II A epilação dos cilios é um tratamento palliativo, pois precisa-se repetil-o todos os mezes. III A cicatrização do bulbo piloso ou sua destruição pela electrolyse dará resultados mais duradouros. CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILIGRAPHICA I 0 vetiíigo é uma dyschromia complexa na qual o pigmento cutâneo se mostra com excesso em certo» pontos faltando em outros lugares, no mesmo indivíduo. II O vetiíigo é caracterisado por manchas arredon- dadas ou irregulares, brancas, achromaticas e envol- vidas por uma zona hyperpigmentada. III Sua sede é variavel, se dispõe no entanto de uma mmaira symetrica sobre os membros. 67 CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS I A choréa de Sydenham é uma manifestação commum aos jovens, especialmente aos do sexo feminino. II Apparece na epoeha da dentição, na segunda in- fância e na puberdade. Tem-se observado no entanto, nos velhos. III A choréa dos velhos é brusca no seu apparecimento, deixa intactas as faculdades intellectuaos, mas per- siste em estado de infermidade, não curando como a dos jovens. Vislo. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, 34 de Outubro de 4904. 0 Secretario Dr. Menandro dos Reis Meirelles. ERRATA Paginas linhas Onde se lê leia-se 47 3 Erudicto Erudito 5i 5 dos e os. 5 7 9 antero-superior superior 57 21 circulantorio circulatório 58 18 e é 6t 4 tricuspoide tricuspide 63 1 typhica typica 64 15 explusao expulsão