(MRIBIiICÕES PARA A HISTORIA DO MASIS OU BICHEIRO DAS FOSSAS NAZAES THESE APRESENTADA A FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO EM 4 DK XOVEMKRO DE I§7ã PARA SÉR SUSTENTADA POR iviii;, de iielfo de iornudão c Henejes Natural da Provinda de Minas (ieraes Bacharel em sciencias pliysicas, Doutor em Medicina pela Universidade de Paris AFIM DK PODER EXERCER A SUA PROFISSÃO NO IMPÉRIO DO BRASIL RIO DE JANEIRO Typographia Universal de E. & H. Laemmert 71, Rua dos Inválidos, 71 1875 THE SE CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTORIA DO MYASIS ò OU BICHEIRO DAS FOSSAS NAZAES THESE Á FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO APRESENTADA EH i DE NOVEMBRO DE 1895 PARA SEU SUSTENTADA £uú de HefCo de Soup brandão e Heneaes POR Natural da Provinda de Minas Geraes Bacharel em sciencias physicas, Doutor em Medicina pela Universidade de Paris AFIM DE PODER EXERCER A SUA PROFISSIO NO IMPÉRIO DO BRASIL RIO DE JANEIRO IVpocrapiiia Universal de E. & H. Laemmeet 71, Rua dos Inválidos, 71 1875 MLUDE Dl IDltli DO DIO Dl «IDO CONSELHEIRO Dl'. VISCONDE DE SANTA IzABEL. UIRECTOB TICEDIRECTOR Conselheiro Dr. Barão de Theresopolis. SECRETARIO Dr. Carlos Ferreira de Souza Fernandes. Doutores t LEXTES CAVUEDKATICOi PRIMEIRO ANNO F. J. do Canto e Mello Castro Mascarenhas,(Ia cadeira). Physica em geral, c particulannentc cm suas appli. cações á Medicina Manoel Maria de Moraes e Valle . , .(2a » ). Chimica e Mineralogia. Conselheiro José Ribeiro de Souza Fontes. (3a » ). Anatomia descripliva. SEGUNDO ANNO Joaquim Monteiro Caminhoá . . . .(Ia cadeiraV. Bolanica e Zoologia. Domingos José Freire Júnior . . . .(2a » ). Chimica organica. Francisco Pinheiro Guimarães . . . .(3a » ). Physiologia. Conselheiro José Ribeiro de Souza Fontes^4a » ). Anatomia descripliva. Francisco Pinheiro Guimarães . . . .(i “ cadeira). Physiologia. Conselheiro Antonio Teixeira da Rocha ,(2a », ). Anatomia geral e palhologica. Francisco de Menezes Dias da Cruz . ,(3a » ). Palhologia geral. Vicente Cândido Fagueira de Saboia , .(4a » ). Clinica externa. TERCEIRO AIVAIO Antonio Ferreira França. . . . . .(Ia cadeira). Palhologia externa. (Va » ). Palhologia interna. Luiz da Cunha Feijó Júnior (3a » ). Partos, moléstias de mulheres pejadas c paridas e de recem-nascidos. Vicente Cândido Figueira de Saboia, . .(4a » ). Clinica externa (3U e 4° anno). QUARTO AKNO (Ia cadeira). Palhologia interna. Francisco Praxedes de Andrade Pertence .(2a » ) Anatomia topographica, medicina operaloria c apparelhos. Albino Rodrigues de Alvarenga . . . . (3a » ). Matéria medica e therapeulica. João Vicente Torres-Home.n. , . . .(4a » ). Clinica interna ('ò° e 6° anno). QUINTO ANIVO SEXTO ANWO Antonio Corrêa de Souza Cosia . . . .(Ia cadeira). Hygiene e his'oria da Medicina. Barão de Theresopolis (2a » ). Medicina legal. Ezequiel Corrêa dos Santos (3a » ). Pharmacia. João Vice nle Torres-Homem . . , .{4a » ). Clinica interna. UENTES SUBSTITUTOS Agostinho José de Souza Lima Benjamin Franklin Ramiz Galvão João Joaquim Pizarro João Martins Teixeira ......... Augusto Ferreira dos Santos ....... Secção Je Sciencias Accessorias. Luiz Pientzenauer Cláudio Velho da Moita Maia . José Pereira G uirnarâes Pedro Affonso de Carvalho Franco Antonio Caetano de Almeida Secção de Sciencias Cirúrgicas. José Joaquim da Silva João Damasceno Peçanha da Silva João José da Silva João Bapiista Kossuth Vinelii . Secção de Sciencias Medicas. iV. S. A Faculdade nào approva nem reprova as opiniões emiltidas nasThcscs que lhe são apresentadas DISSERTAÇÃO Entre as affecções parasitarias de que é victima a especie hu- mana, %ura o bicheiro que póde aífectar qualquer parte do corpo em que haja solução de continuidade ou a mais leve erosão : mas que muito frequente nas fossas nasaes, é rarissimo nos outros or- gãos. Vamos, pois, estudal-o no apparelho olfativo onde tem sua séde quasi exclusiva, mas fal-o-hemos muito perfuuctoriamente, não só porque a bibliographia desta affecção é quasi nulla (pelo menos ao nosso conhecimento) como porque, forçados a escrever este tra- balho em poucos dias, não tivemos durante elles occasião de obser- var facto algum para estudal-o mais completamente, e nem nos foi possivel recorrer a maior numero de collegas para pedir-lhes o concurso de suas observações e esclarecimentos, e temos de nos cingir á reminiscência de conversações sobre o assumpto, a uma rapida nota do nosso collega o Sr. Dr. Penido, e quasi que exclu- sivamente aos dados de nossa própria observação, e mesmo esses grupados apenas em nossa memória, sem o cunho das boas ob- servações methodicamente tomadas e colhidos apenas no interesse clinico do diagnostico e da therapeutica e sem que tivéssemos a intenção de escrever um dia sobre o assumpto. E se o escolhemos f para objecto desta prova, é justamente por ser do domínio da pra- tica e mais em harmonia com a pobreza de nossa actividade in- tellectual, já decadente por precário estado de saude e pelo traba- lho fatigante e entorpecedor de uma clinica de 19 annos, na roça. onde o horizonte intellectual do homem se restringe dia por dia e onde a fatiga do corpo traz a impossibilidade do estudo e o quasi abandono das questões philosophicas e scientiíicas, de que por fim nos vamos tornando arredios e incompetentes na apreciação. Além disso, esta affecção, muito cornmum nos centros ruraes, é rara nos de população, e o assumpto pode otferecer interesse aos homens da sciencia, que ahi em geral habitão, considerando-nos feliz se a nossa iniciativa despertar para elle a attenção dos mais competentes. Sendo o bicheiro constituído pelo parasitismo de certas larvas da classe dos dipteros, quer seja o seu habitai o privilegio exclu- sivo de certas e determinadas especies de animaes, quer sejão ei las cosmopolitas e ataquem mais ou menos frequentemente o homem, trataremos em primeiro lugar desses insectos debaixo do ponto de vista zoologico, passando depois ao estudo da larva em acção so- bre o organismo, ou como entidade pathologica. Para esta primeira parte do nosso trabalho, tivemos a felicidade de pôr em contri huição a amestrada penna do nosso illustrado collega e amigo o Sr. Visconde de Prados, a quem devemos a nota de que nos ser- vimos e a quem agradecemos a obsequiosa coadjuvação. ZOOLOGIA U myasis é especialmente o parasitismo das larvas dc varias es- pecies de dipteros pertencentes á sub-ordem dos chetoceros, carac- terisados por um corpo mais ou menos largo, azas ovaes e reco- brindo-o completamente, cabeça grande e occupada em grande parte por olhos compostos. As antenas apresentam o caracter quasi con- stante, de serem os tres primeiros artículos mais fortes que os outros- que formam portanto uma ponta setiforme, donde lhes vem a de- nominação àe chetoceros. A hocca éem fórraa de tromba, disposta para a sucção. São oviparos, as larvas sem cabeça distincta, apre- sentam, quando muito, 14 artículos e são apodos, a respiração tracheanao que os distingue, com o numero limitado dos artí- culos, dos vermes ou helmynthos. Entre as numerosas tribus que compõem esta sub-ordem, sobre- sahem em importância para o objecto especial de que tratamos, Isto é, o parasitismo na especie humana, de larvas pertencentes n insectos desta sub-ordem : A tribu dos muscidas e a das oestrideas, aquellas caracterisadas pela posição dorsal da parte stiliforme das antenas e pela dispo- sição das nervuras das azas, cuja consequência é a existência de uma cellula submarginal, tres posteriores e uma anal curta : estas pelo estado rudimentario e mesmo ausência de tromba., e pela exis- tência nos artículos de suas larvas de apendices em fórma de col- chetes . Vivem ellas sob a, pelle dos mammiferos ou nas cavidades naturaes de seus orgãos. É nestas tribus que se acham as larvas parasitas de certos e de- terminados animaes selvagens ou domésticos, si bem que algumas es- pecies sejam cosmopolitas e se observem frequentemente sob a pelle, ou nas cavidades splanchnicas do homem, como por exemplo : o ca.te- rebra cyani ventris (Berne do .Brazil), o C. cayanensis, o C. fulvi ven- tris (Brazil) e outras muitas especies, tanto da America Meridional, como Septentrional. Lembraremos ainda as especies seguintes, como podendo, ainda que raramente, viver como parasitas sobre o homem ; 10,Io, o oestrus hominis de alguns autores ou oestrus hypodermica. 20, o oestrus hovis, etc. As larvas destas especies têm sido encontradas, quer nas cavidades visceraes, quer nas outras cavidades que se abrem no exterior. Os annaes da sciencia referem alguns casos destes que não é licito pôr em duvida. Mas são sobretudo as especies cutículas que formam o apanagio commum do homem e dos aniraaes, e esses são quasi todos ligados ao grupo do oestrus cutcrebra, de que se formou o genero cu- terebra. As muscidas ou moscas propriamente ditas, fornecem a quasi to- talidade dos casos dessas desagradaveis colonias de larvas, que assal- tam o corpo humano. O myasis ou bicheiro é quasi sempre o resultado da postura effe es- tuada pela musca vomitória ou masca cornaria, e muito raramente o parasitismo é produzido pela musca domestica, musca, cibarea, musca nigra, etc., etc. E, porem, preciso fazer observar que paira alguma obscuridade sobre esta questão, visto como a mór parte das vezes não se assistio ao des- envolvimento completo das larvas até serem moscas perfeitas. Mas os hábitos carniceiros e voraces da primeira especie, a sua abundância, nas proximidades dos lugares habitados, e os costumes mesmo das larvas respectivas, tornão mais que provável o asserto. O caracter especifico mais saliente da musca’ vomitaria, é o seu abdómen azulado com listras filiformes de côr branca, além do ta- manho e comprimento que póde ir até seis linhas. As larvas destas moscas são como todas do genero muscade artí- culos nus, sem appendices e sem cabeça distincta como já dissemos. Póde-se, pois, avançar que entre nós, o myasis é produzido pela musca vomitaria ou musca. carnaria, e com excepção do parasitismo das larvas cuticolas do genere cuterebra, que conta no nosso paiz pelo menos 3 ou 4 especies ; cora habitai svhcutaneo, não conhece- mos casos averiguados de parasitismo de outras especies de chetoce- ros além das muscidas, e nesta tribu a especie carnaria, a que damos commummente o nome. bem cabido, de mosca varegeira. DEFINIÇÃO Como já o fizemos sentir, o bicheiro de que vamos incetar o estudo, è a ulcera verminosa devida ao parasitismo de certas larvas da classe dos dipteros, tendo ? era geral, a fórma circular, de bordos mais ou menos engurgitados e talhados a pique, com cheiro característico e da qual corre constantemente um liquido sanioso, devido ao trabalho destruidor das larvas que a enchem totalmente, e alli se vêem em mo- vimento quasi constante. ETIOLOGIA Causas pbedisponentes . As constituições fracas e depaupe- radas, o lymphatisrao, as diatheses scrophulosas, hcrpeticas ou syphiliticas, acompanhadas frequentemente de ulcerações e corri- mentos anormaes e de máo cheiro nas cavidades olfativas, o paupe- rismo e a condição do escravo muitas vezes maltratado, sem lazeres para os cuidados de asseio, com alimentação insufficiente, quer se a considere como de má qualidade ou diminuta, quer na desproporção entre o trabalho exigido e o repouso e alimentos concedidos, trazendo a fatiga, a indolência, o somno forçado durante o dia e a falta de asseio obrigado ou proprio dessas classes desgraçadas, são outras tan- tas causas que predispõem á affecção parasitaria. As aftecções inflam ma torias ou ulcerosas de qualquer genero do canal olfativo, mesmo as traumaticas, não devem ser olvidadas no inventario dessas causas, devendo, a proposito destas ultimas, ponderar, como o tem observado um dos práticos mais distinctos que illustra a corporação medica de nossa província, o nosso col- lega e particular amigo Dr. João Nogueira Penido, que a mosca varegeira nunca deposita seus ovulos sobre as feridas sangrentas e sim sobre ns crostas ou quando já suppurantes. As affecções typboideas e todas aquellas que trazem somno comatoso e exhalações mais ou menos fétidas, predispõem do mesmo modo ao bicheiro, não só attrahindo a mosca como pela impossibilidade de impedir que penetre nas cavidades organicas que se commnnicão com o exterior. fim contrario do que asseveram os práticos antigos, a nossa estatística pessoal demonstra que o sexo masculino é muito mais frequentemente affectado do Myasis. Em mais de 3 0 casos que temos observado, só dous se referem a mulheres. Não vemos, porem, neste facto urna influencia sexual e sim a circurastancia de sei* o homem, pela natureza de seus trabalhos, muito mais exposto á fatiga, a andar-pelos raattos, a dormir durante o dia á sombra do ar- voredo. Os climas quentes tão ricos em especies do genero a que é devido o bicheiro, como as estações mais calidas do anuo em cpie é mais activa a fecuqdação desses insectos, são duas causas que não podemos deixar de apontar entre os predisponentes á affecção parasi- taria de que tratamos. Causas occasionaes.— A causa occasional única, a causa sine qua non do bicheiro, é o deposito dos ovulos da mosca varegeira ou de outras especies, sobre a pelle ou sobre a mucosa do homem ou dos outros animaes, quer seja elle feito dírec ta,mente pela mosca (como acreditamos que é quasi sempre) quer seja por outro mecha- iiismo, caso se adraitta a explicação dos autores antigos. Attralnda pelo máo cheiro que em geral acompanha a ozena ou qualquer outra affecção ulcerosa das fossas nazaes, a mosca pousa sobre os bordos da venta ou penetra mais ou menos profunda- mente no canal olfactivo, prevalecendo-se do somno do paciente e ahi deposita os ovulos que rapidamente se transformão em larvas (querem alguns observadores que a mosca seja ovi-vivipara, que o primeiro deposito seja de larvas e os subsequentes ainda de ovos) começando logo estas seu trabalho de alimentação em detrimento dos tecidos orgânicos de que se nutrem, e é então que apparece o cortejo de svmptomas que revela sua existência ou que induz ao erro de diagnostico o medico desprevenido. Cabe aqui uma questão preliminar : Deposita sempre a mosca seus ovulos no bordo da venta e desenvolvida a larva marcha ella então para a parte superior das fossas nazaes onde as mais das vezes reside o bicheiro, ou penetra ella no canal olfativo até essa região para lá fazer a sua postura ? Muitos collegas, com quem temos conversado a respeito, sustentam aquella opinião ; nós, porém, sem negarmos de um modo absoluto aquelle mechanismo, cre- mos que o deposito é, pelo menos no maior numero de casos, directa- mente feito na região em que reside o bicheiro, não se deslocando a larva do lugar onde foram depositados os ovulos senão pelo progresso de destruição concêntrica dos tecidos. Se a larva só depois da eclosão dos ovulos depositados nos bordos dos orifícios exter nos das fossas nazaes, caminhassem em demanda das regiões supe- riores, ou para fugir á luz ou em busca de ulcerações cuja séde mais conunum é nessas regiões, o paciente não deixaria de accusar a sensação de cocega que necessariamente produziria esse movimento ascensional das larvas em grande numero, como excitada a mem- brana pituitária por sensação desusada, o phenomeno reflexo do espirro não deixaria de manifestar-se com expulsão do verme, revelando o bicheiro pelo seu symptoma pathognomonico, desde o começo; ora, justamente, jamais colhemos essas informações, embora as tenhamos procurado, c a expulsão ou queda das larvas só se dá espontaneamente ou no phenomeno do vomito ou do espirro provocado, quando em geral tem ella attingido seu maior desenvolvimento, e sendo este o symptoma de maior importância do myases, é em geral o ultimo a revelar-se. No já não pequeno numero de bicheiros que temos observado, só uma vez o encontra- mos no plano inferior ou forro das fossas nazaes e naturalmente porque a mosca ahi achou ulceração em que foi beber e onde depositou a sua ninhada; alem disso o bicheiro é o apanagio dos negros preguiçosos, pouco asseados, adoentados e dorminhocos e raramente se deixa de colher esta informação: o paciente dormio durante o dia ou no campo, ou no matto ou mesmo em casa, e com esta particularidade por nós observada, nos escravos, o bicheiro revela-se nos primeiros dias da semana, precedidos do Domingo em que descansaram e puderam entregar-se ao somno diurno ; ora nada se oppõe a que durante o somno, em geral pesado, desses desgraçados, a mosca penetre no canal olfativo e vá em busca da lesão de máo cheiro da mucosa ás regiões mais elevadas e recônditas. Estas considerações nos pareciam base sufíiciente para a opinião que defendiamos, de que a mosca deposita os ovulos directaraente no lugar em que se desenvolve o bicheiro, porem depois de escriptas estas linhas entretivemo-nos a respeito com o nosso illustrado collega Sr. Visconde de Prados, que enxerga as causas diversa- mente, ou pelo menos entende que fomos por demais absolutos; pensa o collega que a mosca não carece ir depositar sua ninhada no lugar preciso em que se fórma o bicheiro, encontra mesmo no seu volume um obstáculo a que ella penetra alem da entrada do meato medio, mormente havendo qualquer engurgitamento da mucosa como nos casos de lezões suppurantes que attrahiam a mosca; acredita também pelo simile, com a larva do cuterebra -cyani-ventris que desde a eclosão do ovulo, penetra na pelle sem ser preseutido, que a larva da masca camaria logo depois da eclosão dos ovos póde, ainda tenue como é, marchar em busca das regiões elevadas das fossas nazaes, sem ser presentida pelo paciente. Nosso fim sendo buscar esclarecimentos e respeitando como res- peitamos o critério scientifico do nosso illustrado collega, mormente em assumptos de sciencias naturaes, consignamos com prazer suas ponderações. SfiDE.—Do que acabamos de dizer e qualquer que seja o mecha- nismo por que penetra a* larva, deprehende=se que o bicheiro tem, em geral, sua séde nas partes superiores das fossas nazaes, meato raedio e talvez cavidades que nelie se abrem, meato superior ou abobada olfactiva. É sobre a mucosa que reveste essas regiões, e cremos que mais especialmente a da lamina crivada do etbmoide que na grande generalidade dos casos reside a affecção parasitaria e dahi pro- vavelmente essa tendencia para o somno, esse estado comatoso mesmo que acompanha ás mais das vezes o myasis das fossas nazaes. Nunca tivemos occasião de autopsiar individuos affectados «lo bicheiro, nâo podemos, pois, asseverar de um modo absoluto o que acabamos de avançar, porém esses symptomas cerebraes (que nào existiam no caso em que a aífecção occupava o forro das fossas nazaes) e a circumstancia de se nào poder senào mui rara- mente attingir com a vista o bicheiro, nos leva a esse asserto. Communicando~se os seios frontaes e maxilares com o meato medio, devemos ao menos theoricamente, e emquanto factos posi tivos o não confirmam, admittir que o bicheiro se possa dar ou primitivamente (?) ou por extensão do trabalho destruidor da larva, nessas cavidades ou mesmo nas celíulas ethmoidaes, tanto mais que tratando dos corpos estranhos situados nos seios frontaes, cita Boyer, (*) sem commental-os, os seguintes factos, cuja transcripção, vamos fazer textual e integralmente, pela veneração que nos merece um dos maiores nomes da sciencia e da pratica cirúrgica!, embora ahi se envolva symptomatologia e tratamento, anticipando assim outra parte deste nosso trabalho. « Parmi les corps étrangers qui peuvent se former et oroitre dans les sinus frontaux, les vers sont ceux qu’on a observé le plus souvent. On cite un grand nombre d’exemples de personnes qui ont reudu des vers par le nez après avoir éprouvé des accidents qui ue permettaient pas de douter que ces vers ne se (*) Traité cies maladies ehirurgicales. T. VI, jp. 19S fussent développés dans les sinus frontaux (*). 11 estprobable, sui- vant Salzmann, que les oeufs auxquels ces vers doivent leur origine entrent avec l’air par les narines. 11 pense que c*est particulière- ment eu respirant rodear des deurs et des fruits que ces oeufs depo- sés sur ces végétaux sont portes jusque dans les siuus. Ce qui peut ajouter quelque poids à cette conjecture, c!est que les femmes, qui portent plus habituellemeut sur elles des fleurs, sont. bieu plus souvent afféctées de cette maladie que les hommes. La préseuce des vers daus les siuus frouteaux, donue lieu à des symptômes fort remarquables, mais qui ressemblent tellemeut à ceux dequelques autres affections. qu il est toujours impossible de soupsonner et à plus forte raison de reconnaítre leur existeuce, avaut que leur sor- tie par les nariues ait levé toute espèce de dou te eu dissipant les maux qu’iis occasionnent. Voici au reste les phéuomèues auxquels ils donnaient lieu. Uue douleur toujours fort importune, souvent très violente, se fait sentir à la partie antérieure de la tête, près de la racine du nez. Elle s’étend quelquefois vers les tempes ou Vocciput. / Tantôt c’est un simple fourmillement; dans dautrcs moments une souffrance atroce qui amène des défaillances, des vertiges et quelques fois robscurcissement subit et passager dela vue. Des malades ont été saisis dun délire maniaque qui na cesse que par expulsion des vers. Pozis et Sclmeider ont rapporté I’un et Tantre, un exemple de cette singulière espèce de manie. On a pensé que le calme et les accès dc douleurs devaient dépem dre du repos ou des mouvements de Vinsect. Quelques fois la narine est sèche; d’autres fois la sécrétion (*) Ces vers n’étaient pas semblables aux vers mtestinaux, ef la plupart d'entr'eux étaient du genre des chenilles. Leur corps paraissaieut fomé d’uu grand nombre d’anneaui et étaient portes par un grand nombre de petites paítes, Quelques uns tn&me avaient dm aptennos et plusieurs le ©orps couvert de polis. muqueuse est très abundante. Quelques malades éprpuvent fies éternue- ments fréquents et un besoin de se gratter le nez; quelques uns portent sans cesse le doigt dans les narines; d’autres salivent abondamment; d’autres enfin sont tourmentés par une odeur fétide. Cette maladie est d’autant plus facheuse quclle dure tant que les vers sont dans les sinus; l’art n'a d’ailleurs aucun moyen efficace de hâter leur sortie. Les errhins, les sternutatoires sont souvent impuis- sants ; cependant il faut y avoir recours et y revenir lors méme qu’ils ont été infructueux. La térébration des sinus frontaux serait un moyen assuré de les débarasser de ces vers, mais Vincertitude du diagnostic, éloignera toujonrs un chirurgien prudent d’entreprendre cette opération. » Vem depois o facto da sanguesuga e prosegue o autor: « Un autre fait fort extraordinaire est celui que raconte Rayoux,médecin de Nismes dans le tome IX du Journal de Médecine, année 1758 ; le voici: Uqe femme fut attaquáe d’une íièvre ardente, avec un mal de tête violent, qui, malgré les remèdes, faisait des progrès continueis. Vers le qua- ou cinquième jour, elle fút prise d’éternuement et rendit par le nez de petits vers blancs. À mesure que les vers sortaient, le mal de tête dirninuait sensiblement. Enfin il en sortit soixante douze dans Vespace de quelques heures et la malade fut entièrement guérie. Ces vers étaient absolument semblables à ceux que Von trouve dans les sinus frontaux des moutons, et comme la femme qui est le sujet de cette observation avait bu la veille de son indisposition dans une espece de petite raare ou peu de moments auparavant un berger avait abreu vê son troupeau, Fauteur de Fobservation ne donte point que sa malade n/ait pui sé avec Veau, les vers qui produisirent si prompte- raent le trouble de sa santé. » É possível que ao primeiro grupo de factos referentes ao verme lagarto■ (cbenille) (dos Lepidopteros) se pudesse attribuir o mecha- nismo de sua introducção nas ventas e seios frontaes, indicados pelo autor, citado por Boyer, na aspiração do aroma das flores e fructos, embora não possamos? comprehender que um verme que não tem hábitos parazitarios e carniceiros se desenvolvesse no organismo e ahi produzisse as desordens citadas; porém, no ultimo facto de Bayoux, cujo verme parece ser a larva dos dipteros de que tratamos, que os tecidos orgânicos em decomposição e que Bayoux acredita que sua doente contrahio bebendo a agua estagnada em que momentos antes beberam carneiros, crêraoa que o mechanismo de sua introduoção nas fossas nazaes não foi o indicado e sim o que assigna lámos. Não está também para nós provado que sua séde fossem os seios fronta.es, parecendo mais provável que se tratasse de um bicheiro do canal olfativo propriamente dito, pela, facilidade mesmo da ex- pulsão das larvas. É verdade que o autor da observação compara esses vermes com os que se encontram nos seios frontaes das ovelhas, porém Beugnot, no seu tratado de veterinária (*) fallando do verme dos Dipteros que ataca a, raça lanigera, ( (Eustres du nez) dá sua, séde nas corneias e não nos seios frontaes. Lesões anatómicas.— Consistem estas na destruição dos tecidos molles de que se nutre o verme, como também do tecido osseo, o que nos parece hoje indubitável. Esta destruição progride concentricamente ; os ovulos são deposi tados, juntos,em poníos limitados e.pelo desenvolvimento e alimentação da larva, vai-se alargando e profundando a solução de continuidade periphericamente. de sorte que a ulcera verminosa conserva quasi sempre a fórma regularmente circular. Esta ulcera, quando occu- pada pelas larvas, tem um aspecto singular; as larvas collocadas parallelamente umas ás outras, mas no sentido perpendicul ar á super- fície da, ulcera e muito unidas entre si, só são vistas por sua (*) Maisnn Rustique du xix sièele T. 20, pag. 344 extremidade posterior, constituindo uma especie de pavimento em constante oscillação. Não temos tido occasião de verificar no homem se os tecidos mais resistentes, como os tendões ou mesmo as túnicas arteriaes são respei- tadas pelos vermes; acreditamos, entretanto, que o sejam, porque nos animaes temos observado, mais de uma vez, a destruição dos tecidos molles, respeitando os tendões, e também o cordão umbilical nos bezerros; mas quanto a outros tecidos qne parecerião dever ser poupados, como as cartilagens e os ossos, podemos asseverar que o não são, levando o verme de vencida todos os que encontra, diante de si. É assim que já vimos uma vez, e nos asseveram collegas o haverem observado, destruido o septnra cartilaginoso das fossas nazaes e aberta franca communicação entre as duas ventas, como tivemos occasião de observar uma vez a destruição ossea da abobada palatina, coramu- nicando-se as fossas nazaes com a bocca por larga abertura, que comprehendia véo e ossos palatinos, abobada palatina em sua totali- dade, até á base alveolar, e bastante larga a, abertura, para deixar passar atravez o index. Este primeiro facto deixou-nos alguma perplexidade no espirito, e perguntamo-nos se não haveria alli ausência de sutura média con- génita ou um trabalho ulceroso anterior de natureza diversa; porém, tratava-se justamente de uma mulher preta, robusta, de 22 annos mais ou menos, e que dias antes gozava de perfeita saude e não apresentava lesão alguma do véo e abobada palatina, tendo a voz normal e sem o som nazal proprio a essas lesões organicas. Poste- riormente communicarara-nos os nossos distinctos collegas e amigos, Srs. Visconde de Prados e Dr. Romualdo C. de Miranda Ribeiro factos idênticos por elles observados, de destruição vasta da abobada, no caso do Sr. Visconde de Prados, e de perfuração na sua parte média, no do Dr. Romualdo. Temos de memória factos que verbalmente nos foram communi- cados por outros collegas, de perda de doentes (infelizmente sem autopsia) pela affecçâo parasitaria, succumbindo elles sempre com symptomas de affecções cerebraes graves; ora, não seria para crêr, que nestes casos houvesse destruição ou perfuração da lamina crivada e penetração do verme na cavidade craneana? É verdade que o nosso collega Sr. Dr. Penido adraitte a possibilidade da penetração do verme pelos orifícios normaes da lamina ethnoidal, considerando a elasticidade de que é dotada a larva, porém, nós não acompanha- mos o collega nessa hypothese, e, uma vez reconhecida a destrui- ção do tecido osseo pelos vermes, parece-nos mais natural que vençam o obstáculo pela destruição. Como já dissemos, temos visto nos vitellos, em que o bicheiro umbilical é muito commum, que a larva respeita as túnicas dos vasos do cordão, porém não succede o mesmo com as arteriolas que são destruidas, donde resultão as vezes pequenas hemorrhagias e sempre corrimento de matéria saniosa. SYMPTOMAS Queixa-se o doente de ferroadas e comichão dolorosa na parte superior (caso mais commum) dos fossas nazaes, de cephalalgia as mais das vezes frontaes, algumas outras generalisadas, de sensação de pezo de cabeça, com tendência para o aomno, pre- guiça intellectnal, respondendo demoradamente ás perguntas que se lhe dirige, algumas vezes verdadeiro estado comatoso ou de canis, e dizem alguns collegas que delirio manso e gemebundo, e mesmo, como asse verão os autores citados por Boyer, delirio maníaco e furioso (nunca os observámos) ; algumas vezes agita- ção e movimentos inconscientes mesmo no estado de somno- lencia, faltando, porém, todos estes symptomas cerebraes no caso em que o bicheiro tem sua séde no plano inferior ou forro das fossas nazaes, como no caso já citado e por nós observado - Reacção febril mais ou menos intensa. Corrimento, na grande generalidade dos casos, de matéria saniosa pelos orifícios externos do canal olfativo, e, muitas outras pelos posteriores, fazendo com que o doente escarre frequeutemente, e apresente escarros sanguinolentos que cobrem a liugua de indueto de apparencia saburral ou tenha fre- quentes movimentos de deglutição ; algumas vezes verdadeiro estado saburral da lingua. Muitas vezes junta-se a isto intumescência da parte superior da face, simulando a intumescência erysipelatosa, rubor dos olhos e lacrimejamento. Das fossas nasaes emana cheiro sul generis e que se póde dizer carateristico, de carne em putrefac- çâo. Por fim o verdadeiro symptoma patognomonico, a queda da lar- va espontânea ou provocada, ou a vista do bicheiro, quando situado em região accessivel á inspecção ocular. Em geral, quando o medico é consultado, já todo este cortejo de symptomas está em acção, faltando, porém, ás mais das vezes a queda da larva que é o ultimo a revelar-se e póde mesmo faltar durante a vida, ou mesmo antes de sepultar-se o cada ver, como estamos dispostos a crer que se deu uma vez em nossa pratica. Seria este o caso da localisação nos seios frontaes ? Não ousamos affirmal-o, porém encontramos razoes para essa supposição. Cousa digna de attenção, no já não pequeno numero de casos por nós observados, ainda não encontrámos o espirro entre os symptomas, entretanto que pareceria natural esse phenomeno reflexo, tão frequente no titilamento da membrana olfativa, em presença de um insecto em quasi constante movimento no seu trabalho destruidor. É elle, porém, citado pelos autores a que já nos referimos e não o olvidaremos. DIAGNOSTICO E PROGNOSTICO Em geral, para o medico que habita os centros ruraes ou o campo em Minas, e que presta seus cuidados a um grande numero de pretos ou de homens livres e pobres, mal tratados ou por si mesmos pouco asseiados ou doentes, dormindo com facilidade durante o dia sob os arvoredos proximos ás habitações, mórmente as de criação de gado, á beira das estradas ou no matto, os casos de bicheiro das fossas nasaes são tão frequentes, que poucas ve- zes hesita no diagnostico; casos, porém, ha era que a duvida vem ao espirito do pratico o mais cuidadoso, como outros em que, ou despre- venidos, sendo o espirito attrahido por outra ordem de manifestações mórbidas, cujos symptomas tenham muitos pontos de semelhança com os do bicheiro, ou mesmo por negligencia sempre condemnavel de exame, dão-se erros de diagnostico e que podem ter consequências sérias. Tivemos em nossa pratica um desses erros, que a probidade scientitíca exige a consignação aqui, tanto mais que elle pode servir de admoestação a um ou outra eollega que tome o trabalho de lér estas pobres linhas e que tenha de vir exercer a medicina na roça. Tratavamos de uma epidemia de febres mucosas typhoideas na fazenda do Sr. Coronel Rezende, por occasião em que o nosso hoje muito distincto eollega e amigo Dr. Cambio M. Ferreira alli passava as férias do quarto anuo. Todos os doentes haviam apresentado, no período prodromico o epistaxis. Passando, pela manhã a nossa visita pela enfermaria, em com- panhia do joven eollega, encontrámos um novo doente. Tinha febre, cephalalgia frontal, tendencia para o somuo, respostas demoradas, decubitus dorsal, lingua saburrosa, e disse-me que na vespera e ante-vespera havia deitado sangue pelo nariz. Sem mais exame declarámos ao eollega. que ali viamos mais um caso da pyrexia de que tratavamos, e prescrevemos, como iniciação do tratamento, um vomitivo de puaia e tartaro, e durante o resto do dia mixtura salina simples. Qual não foi, porém, a nossa decepção, quando no dia seguinte o collega nos declarou que, no esforço do vomito, havia o rapaz deitado algumas larvas pelas ventas, e que melhor observando se havia con- vencido de que aquillo que o doente designava como epistaxis, não passava de corrimento de sanie pelas ventas, e que, passando muitas vezes pelos orifícios posteriores do canal olfativo e pela bocca, havia coberto a lingua do inducto pardacento que, em uma sala mal escla- recida, haviamos tomado por estado saburral; que se tratava, erníhn, de um bicheiro das fossas nasaes ! De facto, tratado convenientemente, estava o doente em poucos dias completamente bom. Um collega, aliás muito distincto, communicou-nos que no começo de sua pratica, e vendo muito rapidamente um doente que tinha febre intensa e espuição sanguinea com alguma tosse, abrio-lhe a veia e prescreveu a poção de Laenâre, quando tratava-se de um bicheiro das fossas nasaes; um outro que chamado em periodo adiantado da mo- léstia, e em que os symptomas cephalicos eram muito pronunciados, tratou de uma febre cerebral, e depois da morte viram-se larvas em grande quantidade cahirem das ventas do cadaver ! Um outro facto nos foi communicado pelo nosso collega Sr. Visconde de Prados nesse sentido, e que vamos referir com tanto mais prazer, que se trata de um dos casos de parasitismo, tão raro de outras cavidades. Uma pobre mulher votada á prostituição e á embriaguez, é encontrada na estrada próxima á povoação de Barbacena, no somno da embriaguez e com as vestes molhadas por copiosa chuva; recolhida a um pardieiro immundo de algumas companheiras, queixou-se no dia seguinte de dôres pelo ventre e nos immediatos incrementando-se esse symptoma e sobrevindo ou- tros, reclamarão a assistência do nosso collega, que encontrou a doente quasi moribunda com febre intensíssima, ventre tympaníco, onde se manifestavam fortes dôres espontâneas, muita sensibilidade á apalpação e algum derrame ; estese e outros symptomas precedidos dias antes de exposição á copiosa chuva durante o sonmo da intem- perança, justificavam o juizo diagnostico cpie fez o collega de uma metro peritonite. A falta de commodo e a immundicia em que esta- va mergulhada a desgraçada foram remediados a pedido do hu- manitário collega, pela caridade de uma vizinha que, mettendo a infeliz em um banho, veio depois cornmunicar ao medico o facto de ter encontrado na agua do banho grande copia de larvas, que attribuia á falta de asseio da desgraçada. Esta communicação des- pertou a attenção do collega, que fez examinar a doente encon- trando um vasto bicheiro que havia transformado vagina e recto em vasta cloaca, com destruição completa daquelia e tecidos cir- cumvizinhos! A pobre mulher succumbio ás graves lesões de que foi victima e com certeza, por ter sido desconhecida em tempo a verdadeira moléstia. Seja-nos permittido citar ainda um facto de nossa clinica em que o diagnostico não foi comprovado pelo syrnptoma pathogno- monico, não tendo também havido exame cadavérico, mas que nos deixou a convicção de que não se tratava de outra aífeoção. Fomos no começo deste anuo chamado a ver um doente na fazenda do Sr. Ed. 0. de Mendonça, que apresentava os symptomas que se seguem : febre muito intensa, cephalalgia frontal, estado de somnolencia qnasi comatosa, com difficuldade se despertava o doente para dar uma resposta, e cahir logo no lethargo que era ao mesmo tempo acompanhado de agitação e movimentos inconscien- tes, o doente atirava os braços desordenadamente, havia corrimento abundante de sanie por ambas as ventas. Tudo isto datando de tres dias, e havendo apenas como phenomeno prodromico, ter o doente, que era homem de cincoenta e tantos annos, e aliás robusto e de boa saud :', se queixado de pezo de cabeça dous dias antes. Diagnosticámos nm bicheiro cuja séde fosse a abobada nazal, talvez os sinus frontaes, e aconselhámos os meios de que melhor partido tiramos habitualmente, mechas de folhas de fumo cobertas de calomelanos, injecções de infuzão de fumo, feitas com precaução em attenção ao estado do doente que não permittia expellir o que fosse á bocca posterior, e lavatórios com cozimento adstringente de cascas de canafistula. No dia seguinte communicarão-nos por carta que não tinha havido queda de larvas e que o doente continuava na mesmo estado ou mais profundam ente adormecido. Infelizmente não pudemos ir vel-o e não tendo razões para modificar o modo de encarar os phenomeuos pathologicos, insistimos nas mesmas prescripções, addicionando apenas a camphora em pó adherente ás mechas de fumo, duvidando de que os meios houvessem sido con- venientemente applicados, duvida que ainda nos fica, porque depois convencemo-nos, tanto nós como o fazendeiro, aliás muita cuidadoso com seus escravos, que não deviamos depositar muita confiança no enfermeiro. No dia seguinte veio-nos a noticia do fallecimento do pobre ho- mem que infelizmente não pudemos autopsiar, ficando-nos, porém, a convicção de que succurabio aos estragos de um bicheiro das fossas nasaes, talvez dos seios frontaes, porém mais provavelmente da abobada do canal olfativo e que não fosse morto por insuffi- ciencia do tratamento. Estes factos são lastimáveis e desgraçadamente bastante corainuns na clinica da roça, em que o medico raramente pode ter o doente debaixo de suas vistas, desviado como é constantemente para grandes distancias e deixando-o entregue a enfermeiros, as mais das vezes descuidados, ignorantes, e o que mais é, médicos a seu modo e eivados de preconceitos e superstições. São também estas as razões por que não podemos quasi colher observações raethodicas e convenien- temente tomadas, faltando-lhes, além de muitos outros requisitos, os esclarecimentos da anatomia pathologica. Releve-se-nos a digressão. Assim pois, fácil cm geral, póde o diagnostico do bicheiro deixar duvida no espirito do medico e reclamar algum cuida lo para o diagnostico differencial, de eeiiformidade com outros estados patholo- gicos. Estabelecido este, raramente deixaremos de attingir o nosso principal desideratum. Para comproval-o vamos passar em revista as affecções que por sua séde ou por sua symptomatologia têm afinidades cora as affecções parasitarias das fossas nasaes. O corryza agudo ou chronico não póde confundir-se com o Myasis; se neIle encontramos muitas vezes a cephalalgia frontal, e a sen- sação de pezo de cabeça, é raramente febril e o corrimento é ape- nas mucoso no começo e depois de catarrho glutinoso, espesso, ama- rellado e que só com esforço ou pelo espirro é expulso, ao passo que no bicheiro o corrimento e sanioso, facil e involuntário, descendo muitas vezes paraabocca posterior, sendo a cephalalgia mais intensa e nesses casos acompanhada qnasi sempre de somnolencia, acrescendo que na affecção parasitaria de qualquer parte do canal nasal, raramente se dá a i interrupção da passagem do ar como nos engorgitamentos da mucosa no corrysa, não só porque naquella o engurgitamento é mais limitado ao ponto affectado, como porque é acompanhada de perda de substancia. Alem disso os espirros mais frequentes no corryza, a ausência do máo cheiro, das ferro- toadas, do prurido doloroso, e incommodo que se nota no bicheiro, devido ás mordeduras e movimentos da larva, mesmo quando não se destaca da solução de continuidade, são outros tantos carac- teres differendiaes. A ozena e as differentes affecções ulcerosas, era que póde haver corrimento sanioso e fétido, são de marcha chronica, e o cheiro que exhalam é diverso e comparado pelos autores ao do persevejo esmagado. O cheiro que exhala o myasis das fossas nasaes 6 tão característico, que, nos escreve o nosso illustrado collega Sr. Dr. Penido —as mais das vezes tenho feito o meu diagnostico só pelo olfato alem de que essas affecções não trazem a cephalalgia, a reacção febril, e o estado mais ou menos comatoso, poden- do-se apenas dar o prurido nas ulcerações herpeticas e as dores lancinantes nas cancerosas. E verdade que em geral o bicheiro é uma complicação dessas affecções e póde-se mesmo dizer que. são a causa mais próxima delles pela attracção que seu cheiro exerce sobre a mosca varegeira, porém incrementão-se então irnmediatamente os symptomas que tomão a feição própria á moléstia parasitaria. Ospolypos molles, de pequeno volume e que por isso ou pela sua séde não se revelassem logo á vista, podem trazer secreção anor- mal, mas não são em geral saniosos, como em algumas ulcerações, senão quando tocados por corpo estranho, são também de mar- cha chronica, faltando-lhes as ferrotoadas, o prurido especial, a febre, a cephalalgia e outros symptomas cerehraes, alem de serem accessiveis a uma exploração mais minuciosa. As affecções dos seios frontaes (inflammação, abcessos, polypos) trazem, algumas, a dor frontal, mas essa é então mais localisada ao ponto de juncção do coronal com os ossos proprios ou ao ponto de juncção das arcadas superciliares e não têm o caracter da cephalea, e as dores lancinantes dos abscessos não pódem ser confundidas com as ferroadas devidas á mordedura da larva; é verdade que tratando-se em geral no bicheiro de doentes da classe baixa e de negros pouco intelligentes, essas distincções não seriam fáceis, mas falta também nestes casos o corrimento sanioso quasi constante do bicheiro (sempre o encontrámos, porém o nosso collega Sr. Dr. Penido nos diz ter observado um caso de myasis bem averiguado e em que faltava o corrimento) e com seus caracteres proprios, alem da ausência dos symptomas cerebraes, tão communs no bicheiro. As affecções da mesma natureza dos seios maxillares estão no mesmo caso, e os phenomenos morbidos passam-se nas partes lateraes da face. Não falharemos das aflfecções oerebraes, porque se no myasis das fossas nasaes dão-se symptomas idênticos aos de algumas delias, faltam a estas outros muito especiaes ao bicheiro, e quanto ás affecçoes typhoideas, embora o bicheiro as complique algumas vezes, como em um caso que nos citou o Sr. Visconde de Prados e possa por algum tempo passar desapercebido, seus caracteres proprios o revelaram sempre, sendo que a confusão, como no caso referido de erro de diag- nose de nossa parte, por analogia de symptomas, será evitada todas as vezes que o exame fôr attento e minucioso, como convem, e que nos não approximemos do leito do doente cora juizo prévio. Tudo isto, bem entendido, só emquanto o symptoma pathognomo- nico não se revela, porque á vista da larva, todas as duvidas de«- apparecem. Não se deve, pois, nos casos duvidosos, negligenciar os meios ao mesmo tempo tlierapeuticos e exploradores com o fim de conseguir essa revelação, como sejão os esternutatorios, as fumigações e injec- ções aromaticas e excitantes que podem concorrer para o diagnostico, trazendo algumas vezes a queda da larva. Como se vê, o diagnostico do bicheiro das fossas nasaes é em geral facil, e poucas vezes oíferece difficuldades que podem ser entretanto superadas por um exame cuidadoso, pois que seus carac- teres differenciaes têm feição muito especial. O prognostico do myasis do canal olfativo é, na grande maioria dos casos, favoravel. Morta ou eliminada a larva, cessam todas as manifestações symptomaticas e o doente volta rapidamente a seu estado normal. Algumas vezes, porém, ou por erro de diagnostico, ou porque complique outra affecção que desvie a attenção do medico, ou por insufficiencia de tratamento, ou porque, emfim, tarde é con- sultado o facultativo, o doente póde ser victima desta affecção, e, neste caso, acreditamos podel-o affirmar, tratar-se-ha sempre do bicheiro da abobada olfativa, cujas relações com as meningeas dão á sua affecção manifestações cerebraes de caracter grave. TRATAMENTO As indicações therapeuticas da affecção parasitaria, de que tra- tamos, são: 10,Io, matar ou expellir a larva; 2°, cuidar dos meios de facilitar a reparação da lesão organica. Para preenclier a primeira indicação, servem todos os parasiticidas que não tenhão também acção nociva ao orgão afíectado ou ao orga- nismo em geral. Seja. porem, qual fôr o meio indicado, a sua applica- ção reclama cuidados, e é sobre ella que desejamos chamar a attençâo dos que ainda não tiverão occasião de tratar o parasitismo do homem. Não é para nós indiíferente a fórma do medicamento. Os meios pulverulentos são de applicação difHcil, liurnectados como são logo pela sanie e secreções nasaes então mais abundantes. Entretanto, não devem ser olvidados, e muitos práticos os empregão de preferencia, e dizem que com vantagem; em todo o caso ao menos como meio ester- mitatorio, é logico o sen emprego, e então o tabaco em pó associado á campliora, e mesmo aos calomelanos, devem ser os preferidos. As fumigações de plantas aromaticas, de campliora e outras, como a aspiração de medicamentos voláteis, como a ammonea, tem sua razão de ser, embora nos casos do bicheiro da abobada olfativa, onde o canal mais estreito -póde ser obstruido pelo engurgitamento local ou por detrictos da lesão organica, elles possao não attingir a larva, passando para a bocca posterior. Restam os medicamentos solidos e liquidos, e são estes justamente a que damos a preferencia, por consideral-os de mais fácil applicação c de resultados mais seguros. São as mechas os medicamentos solidos a que nos referimos, quer sejam ellas de fumo em folha, quer sejam de Hos impregnados de medicamentos liquidos ou cobertos de medica - mentos pulverulentos. O fumo em fórma de mecha é um meio muito eífícaz, póde ser levado até ás regiões mais elevadas e a larva é muito sensível ao seu contacto. Emfim a férma liquida é a mais eífícaz a nosso ver, aquella que por meio de qualquer seringa póde ser levada a todos os pontos das fossas nasaes ou mesmo dos seios ou maxillares. Têm porém as injecções um grave inconveniente, o da sua passagem para a bocca posterior eda deglutição de substancias toxicas pelo paciente e é para obviar esse inconveniente que aconselhamos aquillo que mais de uma vez temos praticado com feliz exito, quando o bicheiro na o é accessivel á vista e na o se póde levar directamente a elle os calomelanos. Referimo-nos á obstrucçáo dos orifícios posteriores das fossas nasaes por meio da sonda de Belloc e do tampão de fios. Póde-se então actuar com toda a energia sobre o verme, sem perigo para o doente. Os meios mais geralmente empregados e que, em geral, bastam para conseguir o fim que se tem em vista, são a iufuzão de tabaco (fumo em rôlo) mais ou menos concentrada, a agua phenicada, o sueco da herva de Santa Maria (Chenopodium Ambrorioides), poden- do-se lançar mão do sublimado em solução ou de todo outro insec- ticida solúvel ou em suspensão. Não é também para nós totahnente indifferente matar ou excitar apenas o verme, mórmente nos casos em que o bicheiro não é accessi- vel á vista, ou em que haja probabilidade de ter a sua séde em algum dos seios dos ossos do craneo ou da face. Preferimos então aquelles que não matam logo as larvas e apenos as incommodani bastante, para forçal-as a deslocarem-se da solução de continuidade e por si venham a cahir pelas ventas no seu andar desordenado. Àdmittida a existência do bicheiro nos seios frontaes ou maxillares, esta preferencia temmaxima importância,porque mortosalli os vermes, só pela decomposição poderiam ser eliminados, quando não formas- sem nessas cavidades collecções purulentas. Por esta razão é sempre a infusão de tabaco a que recorremos de preferencia ; o verme embora venha a succumbir á sua acção, mani- festa antes desse resultado grande incommodo, abandona logo a ul- cera e move-se desordenadamente em todos os sentidos. Não terminaremos o que nos resta a dizer sobre o tratamento, sem fallar em um meio muito preconisado pelo vulgo na provincia de Minas e que nos foi communicado por pessoa intelligente e fidedigna, asseverando têl-o empregado com feliz exito. Duas laminas de chumbo são cobertas em uma de suas faces, de uma camada de mer- cúrio metallico, por fricção, e são applicadas estas faces ás duas têmporas ou á fronte do paciente. Uma ou duashoras depois, assevera-nos o nosso informante, começam a cahir as larvas. Não enxergamos neste facto, senão a acção da electricidade, repre- sentando essas laminas de metaes superpostos, pilhas seecas que es- tabeleçam entre si correntes eléctricas, cuja acção, mesmo sobre os animaes das classes inferiores, não é duvidosa. Mais de uma vez temos feito a experiencia de submetter o verme terrestre á acção de cor- rentes eléctricas e observado que presas a principio de movi- mentos desordenados, succumbem rapidamente a essa influencia, e a proposito delia seja-nos permittido citar um facto relativo a essa acção sobre os annelides, apezar de não se referir directamente ao assumpto de que tratamos, embora com alguma ligação a elle por se tratar tam- bém de um animal parasita do homem. A senhora de um de nossos distinctos collegas, soffria ha mui- tos annos perturbações graves de innervação , mórmente gastrica, devidos á presença da solitaria, sendo o vomito incoersivel o syrnp- toma que mais fatigava á doente, a ponto de não tolerar mais medi- camento ou alimento algum, de sorte que havia chegado a pobre senhora ao ultimo gráo de marasmo. Nestas circumstancias, consultado pelo collega, aconselhamos uma tentativa do emprego da electricidade, introduzindo um dos rheopho- ros do apparelho de Khuukorf ao anus, e applicando outro sobre as partes antero lateraes do pescoço, ou ao uivei mais ou menos do buraco despedaçado, para actuar mais ou menos directamente sobre o pneumo-gástrico. Mais prudente do que nós, e arreceiando-se o col lega desta ultima indicação, contentou-se em applicar o primeiro rheophoro no ponto indicado e a passear o segundo pela região epigastrica e paredes do ventre. Debaixo da influencia dessa corrente electrica, desenvolveram-se tumores hemorrhoidarios volumosos, que fizeram renunciar á applica- ção nesse ponto; porém, nesse dia deitou a doente 50 centímetros mais ou menos do verme, e nos dias posteriores em que as correntes foram apenas estabelecidas entre a espinha e as paredes do ventre, ou entre o epigastro e outros pontos delias, a doente deitou successi- vamente pedaços, cuja somma pode-se calcular talvez em 1 metro e 50 centímetros, começando a senhora a tolerar alguns alimentos, e chegando ao estado de tolerar o vermicida, que trouxe por fim a ex- pulsão do verme em totalidade, e voltando a estado muito lisongeiro de saude. Cremos que não se póde pôr em duvida a acção da electricidade neste facto, de natureza a acoroçoar tentativas no mesmo terreno, como o facto do emprego das laminas de chumbo hydrargiradas, applica- das com successo para determinar a queda das larvas do» dipteros (admittida a interpretação que lhe damos) aconselha o emprego das correntes eléctricas como meio do tratamento do bicheiro das fossas nasaes. Infelizmente não tivemos ainda ocasião de fazer essa applicaçâo, e nem tão pouco de verificar até que ponto é real a acção das lami- nas hydrargiradas. Pouco temos a dizer sobre a segunda indicação therapeutica. Sim- ples são os meios empregados para facilitar a reparação das lesões organicas. Lavatórios adstringentes, aromáticos e anti-septicos, ou re- parações autoplasticas nos casos de necessidade. Terminamos aqui o que podíamos dizer sobre a affecção parasi- taria das fossas nasaes, e como ja o dissemos, a rapidez com que, traçámos estas linhas, nos inhibem de melhor documental-as com boas observações ou com factos experimentaes e estudos que esclarecessem alguns pontos obscuros do parasitismo do homem. Nestas mesmas circumstancias baseamos a esperança da indulgên- cia com que desejávamos fosse acolhido este nosso paupérrimo tra- balho, e pelos nossos juizes, e pelos collegas que nos fizerem o favor de o lêr, PROPOSIÇÕES PHYSICA EM GERAL E PARTI OULARMENTE AS SUAS APPLICAÇOES Á MEDICINA A massa multiplicada pelo quadrado da celeridade, dá a medida da força. CHBÍICA MINERAL O nitrato de prata é precipitado em combinações insolúveis pela albumina e pelos chloruretos; propriedades estas de maxima im- portância para alguns de seus usos tberapeuticos. MINERALOOIA Nos corpos crystallisados, a conductabilidade do calor não é a mesma em todos os sentidos ; ella está em relação com os eixos de symetria crystallina. ANATOMIA DESORIFTWA O útero é arterializado por um ramo da ilíaca interna ou hypo_ gastrica, pela artéria utero-ov ariana, que tem muitas vezes tronco coramum com a renal, e que substitue a spermatica, do homem, e por um pequeno ramo da epigastrica. ZOOLOGIA Os helminthos fornecem a raór parte das especies parasitarias do homem, BOTANICA A distribuição das folhas sobre o caule das plantas não se faz irregularmente, mas segundo leis cyclicas constantes. CHIMICA ORGANTCA A theina, a cafeina e a theobromina, princípios activos do chá, do café e do cacáu, têm composição idêntica (C2H5Az202) e é o principio orgânico mais azotado depois da uréa. PH Y SIOLOGIA. Os phenomenos chimicos da digestão podem ser assim resumidos; A saliva dissolve os principios amilaceos(transformando-os sem glycose); o sueco gástrico, as substancias albuminóides, o sueco pancreatico emulciona, (talvez concurrentemente com a bile) as substancias graxas, compartilhando o sueco intestinal, embora mais fracamente, todas estas acções. ANATOMIA GERAL Os spermatosoides são verdadeiras cellulas epiteliaes dotadas de movimentos apparentes e com fórma especial que os fez collocar por muito tempo entre os animaes infusorios. ANATOMIA PATHOLOGICA Os exsudatos constituem o caracter distinctivo entre as inflam - mações, a que pertencem, e as congestões de um orgão. PATHOLOGIA GERAL A hereditariedade predisponente ou mesmo a hereditariedade mór- bida, com excepção talvez só das affecções parasitarias da pelle, é uma lei muito constante de physiologia pathologica. PATHOLOGIA EXTERNA O onyxis ou mais particularmente as ulcerações que circumdão as unhas dos artelhos dos homens descalços, reinam muitas vezes na província de Minas, com caracter epidemico, variando sua the- rapeutica com a indole de cada epidemia, além das condições iudi- viduaes. PATHOLOGIA INTERNA Na grande generalidade dos casos, as lesões valvulares cardíacas são precedidas mais ou menos vemotamente de rheumatismo articular agudo generalisado ou mesmo de artrites. PARTOS Nem sempre a procedência da mão do foeto é indicio de apre- sentação de espadua. MOLÉSTIAS DAS MULHERES PEJADAS. As hemorrhagias uterinas durante a gravidez e que não têm por causa violências externas, são, na grande maioria dos casos, devidas á inserção viciosa da placenta sobre o segmento inferior do útero ou mesmo sobre o orifício interno do collo. MOLÉSTIAS DOS RECEM-NASCIDOS As ophthalmias purulentas dos recem-nascidos têm em geral sua etiologia no contagio durante a sua migração através do canal va- ginal materno. ANATOMIA TOPOGrRAPHICÀ Passam sob o ligamento de Poupart o musculo psoas-ilíaco, a artéria, veia e nervo crural e os vasos lympliatícos. MEDICINA OPERATÓRIA O esmagamento linear combinado com a cauterisação pelo gal- vano-caustico térmico, é o processo que se deve empregar de pre- ferencia nos casos de ablação de orgãos vasculares e onde a ligadura ordinaria dos vasos não é fácil, como na língua, ou de producções pathologicas pediculadas ou sangrentas, como os polypos, tumores hemorrlioidarios, etc., etc. A PP A RELHOS O apparelho de Scultei é de de grande importância pratica no periodo inflammatorio das fracturas dos membros com lesão das partes molles. MATÉRIA MEDICA O curare extrahido da Strychnos-Toxifera (fãmilia das Logania ceas) apresenta-se sob a fórma de extracto negro, duro e resinoso, de sabor amargo. Sua solução ou seu pó são pardacentos. THERAPEUTICA Das propriedades chimicas que assignalámos ao nitrato de prata, deduz-se logicamente suas indicações como modificador preferivel nas affecções inflammatorias secretantes de orgãos delicados, como os olhos, por exemplo, sua acção sendo necessariamente limitada às superfícies que toca. HYGrIENE A importância das funcções da pelle no equilíbrio funccional do organismo em geral, dá-a mui grande ás abluções diarias d’agua fria, mormente nos paizes quentes, para a conservação da saúde; e Maliometli instituindo-as como preceito religioso no seu paiz, parece ter tido mais em vista a hygiene qne a religião. HISTORIA DA MEDICINA Embora já empregada pelos antigos, é de data recente o recurso da thermometria como elemente diagnostico de grande importância, sendo seus principaes vulgarisadores; em França, os professores Bouilland, Andral e sobretudo, Jaccoud, na Allemanha, Baerensprung, Traube e Wunderlich, e no nosso paiz, o illustrado professor de Clinica Interna desta Faculdade. MEDICINA LEGAL As manchas arsenicaes obtidas pelo apparellio de Marsh, são signaes importantes para determinar a presença desse corpo nas pesquizas toxicologicas. PHARMACIA A glycerina é um dos excipientes que com mais vantagem se póde empregar, quer para os medicamentos liquidos, quer para os preparados solidos e nestes casos é ao glyceroleo de amido a que se deve recorrer. CLINICA EXTERNA A gravidade do prognostico das queimaduras está na razão directa de sua extensão e profundidade, mas sobretudo, em identidade de circumstancias, de sua extensão. CLINICA INTERNA Os fornidos de sopro cardiacos, tanto se manifestão nas lesões organicas do coração, como no depauperamento do sangue. HIPPOCMTIS APHORIBMI I Vita brevis, ars longa, occasio praeceps, experiencia fallax, ju- dicium difficile.—(Sect. I, apli. 1). II Cum quis omnia recta ratione facit, neque tamen pro ratione snccedit, non est ad alind progrediendum, si manet quod ab initio visnm est.—(Sect. 11, aph. 52). 111 In quibusvis anni temporibns omnis generis morbi oriuntur nommlli tamen in quibusdam tum fiunt tnm excitantur.—(Sect. 111, aph. 19). IV Sed et si pars quaepiam ante morbum laboraverit, in eam se morbns obfirmat.—(Sect. IV, aph. 33). Y Et qua corporis parte calor inest aut frigus ibi morbus est. - (Sect. IV, aph. 39). VI Quas medicamenta non sanant, ea ferram sanat, quae ferram non sanat, ea ignis sanat. Quae vero ignis non sanat, ea insana- bilia reputare oportet. (Sect. VII, aph. 87). Esta tliese está conforme os estatutos.—Rio, 4 de Novembro de 1875. Dr. Caetano de Almeida. Dr. João Damásceno Peçanha da Silva, Dr. Kossuth Yinelli.