Faculdade de Medicina do Bio de Janeiro THESE 1)0 DR. JOSE FREDERICO JAUFPRET 1110 DE JANEIRO 17) — nu A DA AJUDA — 17) 1883 TiiSl APRESENTADA Á Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro Em 2-j de Agosto de i883 E PERANTE EUA SUSTENTADA Eli lí DE DEZIMBRI) Dtl MESMO UNO PELO Dr. José Frederico Jauffret ( NATURAL I).\ PROVÍNCIA DO MARANHÃO ) »ISSgRTA€ÃO CADEIRA DE MATÉRIA MEDICA E THERAPEUTICA Acção [ihysiologica e therapeutica do leite mommoi&Ê i Cadeira de pharmacologia e arte de formular — Dos alcaloides vegetaes, oliimico-pharmacologicamente considerados. Cadeira de pathologia cirúrgica — Ferimentos por armas de fogo. Cadeira de clinica de moléstias cutaneas e syphiliticas — Sypliilis congénita, influencia relativa dos progenitores 11a sua pro- ducção. RIO DE JANEIRO IMPRENSA INDUSTRIAL - rua da ajuda n. 75 Estabelecimento fundado em 1865 18 8 3 FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO DIRECTOR Conselheiro Vicente Cândido Figueira de Saboia VICE-DIRECTOR Conselheiro Antonio Correia de Souza Costa SECRETARIO Dr. Carlos Ferreira de Souza Fernandes LENTES CATHEDRATICOS Drs.: João Martins Teixeira Physica medica. Cons. Manoel Maria de Moraes e Valle Chimica medica e mineralogia. João Joaquim Pizarro Botanica medica e zoologia. José Pereira Guimarães Anatomia descriptiva. Cons. Barão de Maceió Histologia theorica e pratica. Domingos José Freire Chimica organica e biologica. João Baptista Kossutli Vinelli Physiologia theorica e experimental. João José da Silva Pathologia geral. Cypriano de Souza Freitas Anatomia e physiologia pathologicas. João Damasceno Peçanha da Silva Pathologia medica Pedro AíTonso de Carvalho Franco Pathologia cirúrgica. Cons. Albino Rodrigues de Alvarenga Matéria medica e tlierapeutica, especial mente brazileira. Luiz da Cunha Feijó Júnior Obstetrícia. Cláudio Velho da Motta Maia Anatomia topographica, medicina opera- tória experimental, apparellios e pequena cirurgia. Cons. Antonio Corrêa de Souza Costa Hygiene e historia da medicina. Cons. Ezequiel Corrêa dos Santos Pliarmacologia e arte de formular Agostinho José de Souza Lima Medicina legal e toxicologia. Cons. João Vicente Torres Homem Domingos de Almeida Martins Costa Cons. Vicente Cândido Figueira de Saboia João da Costa Lima e Castro..... . Clinica medica de adultos. Clinica cirúrgica de adultos. Hilário Soares de Gouvêa Clinica ophtalmologica. Erico Marinho da Gama Coelho Clinica obstétrica e gynecologica. Cândido Barata Ribeiro Clinica medica e cirúrgica de crianças. João Pizarro Gabizo Clinica de moléstias cutaneas e syphili- ticas. João Carlos Teixeira Brandão Clinica psychiatrica. LENTES SUBSTITUTOS SERVINDO DE ADJUNTOS Drs.: Augusto Ferreira dos Santos Cliimiea medica e mineralogia. Antonio Caetano de Almeida Anatomia topographica, medicina opera- tória experimental, apparcllios e pe- quena crurgia. Oscar Adolplio de Bulhões Ribeirc Anatomia descriptiva. Nuno Ferreira de Andrade Hygiene e historia da medicina. José Benicio de Abreu Matéria medica e theradeutica especial- mente brazileira. ADJUNTOS Drs. .José Maria Teixeira Physica medica. F. Ribeiro de Mendonça.. Botanica medica e zoolo- gia. Histologia theorica e pra- tica. A. F. Campos da Paz Chimica organica e bio- logia. Physiologia theorica e ex- perimental. L. R. de Souza Fontes Anatomia e physiologia pathologicas Pharmaeoíogia e arte de formular. II. L. de Souza Lopes Medicina legal e toxico- logia. Drs. Francisco de Castro E. Augusto de Menezes... Bernardo Alves Pereira... C. li. de Vaseoncellos K. de Freitas Crissiuma... F. de Paula Valladares .. P. Severiano de Magalhães I). de Góes e Vaseoncellos Clinica medica de adultos. Clinica cirúrgica otassio, os chio* ruretos alcalinos e os saes alcalinos são eliminados da mesma ma- neira. Cita-se casos de amas que absorviam álcool e cujo leite apre- sentava grande quantidade desse principio (Charpentier). Nas mesmas condições é mais difficil encontrar as substancias organicas, taes como o sulfato de quinina. Foi baseado nessas experiensias, que Labourdette lembrou-se de constituir diíferentes leites medicamentosos. Administrando dóses metliodicas e progressivas aos animaes, elle conseguiu fazel-os tolerar altas dóses de substancias medicamentosas e obteve desse modo leites bastante carregados dessas substancias. Fundou-se mesmo em Paris estabelecimentos destinados a for- necerem á população leites medicamentosos, dos quaes, os prin- cipaes erão: o arseniado, o iodado, o cbloruretado e o mercurial. Estes leites medicinaes, porém, são em geral pouco empregados, e uma das razões, que allegão contra elles é não conterem dóses exactas e rigorosas dos princípios que encerrão e cuja acção se procura obter. Bouyer formou também leites medicamentosos addi- cionando directamente ao leite diíferentes substancias, cujas dóses erão assim precisas e conhecidas. Porém no processo de Labourdette as substancias antes de serem eliminadas passão por elaborações no seio do organismo, ás quaes, elle attribuia em parte a virtude dos leites medicamentosos. A proposito dos leites medicamentosos, achamos opportuna a occasião para fallar do leite chloruretado de Amedêo Latour, que o recommendava sobretudo em casos de phtisica pulmonar. Eis o pro- cesso que A. Latour empregava para obter o leite chloruretado: tomava uma cabra nova, de cor branca, sadia, boa leiteira ; sujei- tava-a a boas condições de habitação, aeração e a um regimen com- posto de um terço de hervas frescas ou raizes e de dous terços de farello ou pão. A essa ração elle ajuntava 12 ou 15 grammas de sal de cosinha, dóse, que elle ia augmentando progressivamente até attingir a dóse diaria de 30 grammas e desta sorte obtinha um leite francamente chloruretado. Para completarmos este estudo resta-nos fallar de duas pre- parações derivadas do leite e que têm tido applicações em me dicina ; queremos fallar do soro de leite e do koumys. 20 Do soro de leite. — 0 sôro de leite não é mais que o proprio leite menos a caseina e a manteiga ; contém pois os saes (phos- pliatos alcalinos, cliloruretos, etc.) e o assucar de leite ou lactose. Contém também certa quantidade de matérias albuminosas, que não forão precipitadas. Segundo C. Bichet, (1) para que o sôro do leite seja bem digestivel é mister que elle contenha certa quantidade de caseina necessária para a lactose soffrer a fermen- tação lactica, sem a qual elle se tornaria indigesto. O sôro do leite é um liquido branco, esverdeado, adocicado e brandamente salgado. Quando se abandona o leite a si mesmo, exposto ao ar, a caseina coagula-se, retendo em suas malhas os globulos de gordura, e o liquido restante constitue o sôro do leite. Ordinariamente obtem-se o sôro de leite empregando-se os ácidos tartarico ou citrico para a coagulação do leite ou ainda o coalho tirado do estomago dos ruminantes. O Codex manda preparar da seguinte fôrma : Depois de ferver 1000 grammas de leite puro de vacca, ajunte se por partes iguaes, quantidade sufficiente de uma mistura composta de uma parte de acido tartarico para oito de agua. Depois de formado o coagulo, côa-se; volta ao fogo com uma clara de ovo batida em um pouco de agua; obtida de novo a ebullição, deita-se um pouco de agua fria para abaixar a fervura, e desde que o liquido estiver clarificado, filtra-se em um papel lavado em agua quente. O sôro de leite é um liquido muito susceptivel de alterar-se, o que o torna difficil de conservar em perfeito estado. Debaixo do ponto de vista pliysiologico, o sôro de leite é algumas vezes de uma digestão difficil no principio; bem que elle seja um alterante como toda substancia empregada como dieta exclusiva, elle possue qualidades nutritivas de primeira ordem (Trousseau). Segundo Nothnagel, tomado em pequenas dóses, elle nã) produz effeito algum apreciável, porém na dóse de 500 a 1000 grammas produz effeito laxativo, e augmenta a diurese. O sôro de leite já gozou de grande reputação tlierapeutica, reputação que hoje tem-se restringido muito á vista dos pro- gressos scientiíicos. As moléstias, em que se têm mais recom- mendado o tratamento pelo soro de leite sào : a plitisica pulmonar, certas affecções do estomago, e segundo Beneke, na gotta, rheu- matismo, congestão de figado e nas nevropatliias, casos em que nada prova que o soro de leite exerça acçào efficaz. Actualmente conta-se na Europa grande numero de estabe- lecimentos para o tratamento pelo soro de leite, e já, em 1860, Carrière contava cerca de 400. E’ sobretudo 11a Suissa, Tyrol e Hungria que se encontrão os mais afamados. Carrière mostrou como se pratica esse tratamento: toma-se no principio uma dóse de 120 a 150 grammas de soro recentemente preparado, depois de um quarto de hora de exercicio toma-se igual dose. Se não sobrevier qualquer desarranjo digestivo póde se no fim de algum tempo tomar por dia 4 a 5 copos de soro de leite de vacca. Ordinariamente este tratamento dura 6 a 8 semanas. Quando elle é mal supportado por alguns doentes, toma-se de mistura com aguas mineraes, gazosas, alcalinas e mesmo ferruginosas. As dóses não devem ser muito elevadas, porque provocarião vomitos e cólicas. Os doentes sujeitos a esse tratamento devem seguir um regimen especial. Carrière aconselhava a carne de carneiro, as aves e de preferencia os vegetaes herbáceos preparados com leite e assucar ou mesmo com manteiga. O uso do álcool será proscripto. Segundo faz observar Aran nesse tratamento o alimento representa papel secundário, e deve-se fazer entrar em linlia de conta nos resultados favoráveis a mudança de ar, os exercicios, os passeios, etc. Tem-se proposto também soros de leite medicinaes, que en- cerrão substancias diversas e que modificão mais ou menos suas propriedades. Assim faz-se um soro de leite purgativo, edulco- rando o com xarope de flores de pecegueiro ou addicionando um sal purgativo ; um outro aperitivo, misturando o com suecos de plantas amargas. O sôro de leite de Weis contem substancias sudo- ríficas e purgativas. Prepara se mesmo um sôro de leite em pó, formado artificialmente com uma mistura de lactose, assucar e gomma. No lugar competente examinaremos os casos em que o trata- mento pelo sôro de leite é realmente vantajoso. Koumys. — O koumys é uma bebida alcoolica preparada com o leite da egoa, leite, que como já sabemos é muito rico em assucar e por conseguinte facil de soffrer a fermentação alcoolica. Usado como bebida ordinaria pelos Tartaros e Kirgliiz, tribus nómades, que liabitam os steppes da Rússia oriental e meridional, o koumys goza entre os russos de grande reputação theurapeutica. Empregado a principio empiricamente, nestes últimos tempos os médicos russos têm feito estudos especiaes sobre o emprego do koumys e hoje encontra se nesses steppes da Rússia estabelecimentos destinados ao tratamento pelo koumys, sendo o mais notável o de Samara dirigido pelo Dr. Postnikoff. O koumys ou leite fermentado é um liquido esbranquiçado, espumoso, de sabôr acidulado e de cheiro butyroso. Além dos princípios proprios do leite, contém álcool, acido carbonico e acido láctico. Geralmente os povos que o pre- parão, empregão o leite da egoa, da jumenta ou do rangifer, usando do seguinte processo: encerram o leite em grandes ôdres de couro ou de barro, addicionando-se como fermento um pouco de koumys antigo ou levedo de cerveja. No fim de tres dias, du- rante os quaes agita-se o leite j>or meio de um bastão, e com uma temperatura de 20 a 25 gráos, o koumys é obtido. Quanto mais antigo fôr o koumys, tanto inais rico em álcool elle será, e assim distinguem-se diversas especies de koumys. Nestes últimos tempos, graças aos trabalhos do Dr. Landowski, o uso do koumys se tem generalisado na França, onde elle é preparado com o leite de vacca e também conhecido com o nome de leite de Champagne. A principio o koumys produz effeitos ligeiramente laxativos, depois o organismo liabitua-se a seu uso ; e na dóse de cinco a seis garrafas por dia, Nothnagel eRosbach observarão os seguintes effei. tos : augmento de todas as secreções, o muco ésecretado mais abun- dantemente o que torna a expectoração dos phtisicos mais facil ; acceleração, depois diminuição dos batimentos cardiacos ; plienome- nos nervosos semelhantes aos do álcool; ligeira embriaguez, alegria, excitação ; mais tarde fadiga e somnolencia. No fim de algum tempo as faces tornão se coradas, os olhos brilhantes, os movimentos respiratórios menos frequentes porém mais amplos ; nas mulheres o fluxo menstrual torna-se mais regular. Finalmente, facto observado por todos os autores, o uso do koumys engorda os individuos e augmenta-lhes o peso, e é justamente por suas virtudes altamente nutritivas, que Nothnagel attribue sua efficacia em certos estados morbidos. Na opinião do professor Dnjardin-Beaumetz, o koumys “ é um tonico poderoso, quepermitte instituir em um alcoolico atacado de catarrho do estomago, a me- dicação lactea sem entretanto o privar bruscamente do álcool. ” Infelizmente, o gosto particular dessa bebida é um obstáculo para o seu emprego therapeutico. A dóse a administrar varia de um a quatro copos por dia, no entanto faremos lembrar, que nas pessoas clebeis, o koumys pó de determinar a embriaguez. Landowski, que fez estudos especiaes a esse respeito, aconselha não dar o koumys immediatamente antes ou depois da comida. Quando elle é mal supportado pelos doentes, Landowski manda adoçal-o com um pouco de xarope, assacar ou fraccionar as dóses. Elle também aconselha que não se dê vinho logo depois do koumys. Mais adiante trataremos das indicações principaes e das contra- indicações do tratamento pelo koumys. Depois do koumys deve- remos citar a galazymci, producto da fermentação de uma mistura de leite de vacca e de jumenta, bebida preconisada por Schnepp no tratamento das affecções catarrhaes e plitisica pulmonar. CAPITULO II Reg ras para a administração do leite Dieta lactea. — Chama se regímen lácteo on dieta lactea o em- prego racional e methodico da alimentação lactea. Todos os autores aconselhão que o leite deve ser tomado cru, não fervido, logo depois de tirado das tetas da vacca, porquanto é neste estado que o leite possue sua composição natural. A ebul- lição, com eífeito, faz com que elle perca seu aroma natural e coagula parte dos seus princípios albuminoides, o que até certo ponto, altera o gráo de sua digestibilidade e attenua seu valor nutritivo. E’ por estas razões, que os doentes que precisão do leite devem ir tomal-o, sempre que fôr possível, ao campo, principalmente em paizes montanhosos, onde além da vantagem de poderem tomar o leite fresco e de boa qualidade, outros motivos cooperão para o bom exito da cura, taes como: mudança de vida e de clima, pas- seios e exercícios ao ar livre, etc. Porém, nem sempre o doente estará em estado de empreliender viagens e então teremos de nos sujeitar aos recursos do meio em que vivemos ; é assim que o proprio leite condensado tem sido applicado com fim tlierapeutico. Quando o leite não póde ser utilisado logo depois de mungido, devemos esperar que elle esfrie e tomal-o na temperatura de 35 a 40 gráos. Certas idiosyncrasias repugnão tomar o leite crú e neste caso somos ainda obrigados a submettel-o a cocção. Em certos casos, emfim, o leite deve ser tomado gelado. Uma condição importante para o bom exito do tratamento pela dieta lactea é que o leite seja bem supportado pelo estomago, bem digerido. E’ muitas vezes util tornar o leite mais sapido e para isso os meios mais geralmente empregados são : o assucar e o sal. Para obter a tolerância do leite pelo estomago, para augmentar seu gráo de digestibilidade, sobretudo em casos de acidez exage- rada do estomago, quando ha eructações acidas, pyrosis, etc., deve- remos associar ao leite substancias alcalinas, taes como : o bicarbo- nato de soda, a magnesia, as aguas mineraes alcalinas, ou ainda a agua de cal como manda Pécholier. Dujardin-Beaumetz prescreve para um litro de leite, um copo de agua de Yicliy ou uma gramma de bi-carbonato de soda. Um dos inconvenientes do regimen lácteo é a repugnância que se apodera de certos doentes, a ponto de recusarem tomar o leite. Tem-se proposto com o fim de vencer esta repugnância aromatisar o leite com certas essencias, como : o anis, a baunilha, a canella e a agua de flores de larangeira. Outro accidente que o leite determina em certos doentes e que torna o tratamento inefficaz é a diarrliéa. Quando ella não passar espontaneamente poderemos empregar os ferruginosos como aconselha Dejust, ou ainda addicionar ao leite um pouco de sub-nitrato de bismutho. Quando ha constipação de ventre devida a inércia das túnicas intestinaes, Dejust ainda recommenda que se dê leite frio ou que se faça uso dos tonicos. Em casos de digestão lenta e difficil, quando o doente sente peso no epigastro, poderemos ainda lançar mão dos amargos. Outras vezes, posto que mais raramente, é pre- ciso recorrer aos ácidos ou as bebidas acoolicas, como : o cognac, rhum ou o kirscli. Pertence ao medico multiplicar ou modificar esses meios adjuvantes do tratamento lácteo. Nos casos, porém, em que esses accidentes tornão se rebeldes, em qae a aversão do doente pelo leite fôr insuperável, entendemos que, o melhor que tem o medico a fazer, é renunciar ao tratamento pela dieta lactea ; não insistir no seu emprego, pois assim, longe de auferirmos vantagens reaes, só teremos desenganos. Quanto a maneira de instituir a dieta lactea, os autores diver- gem um pouco. Assim, o professor Jaccoud (1) organisou tres especies de regímen, a que elle deu o nome de regimen exclusivo, regímen mitigado, e regimen rnixto. No regimen puro ou exclusivo, elie só dá leite e mais nada, na dóse de 3 a 4 litros por dia; no regimen mitigado, elle pre- screve só litros de leite puro, permittindo também o uso de sopas de aletria, tapioca, etc., preparadas com leite; finalmente, no regimen rnixto, elle manda apenas addicionar á alimentação ordinaria 2 litros de leite. Nos casos graves, que requerem ur- gência, elle institue logo de começo o regimen puro, porém, a medida que o mal fôr cedendo, manda que se passe para o regi- men mitigado e mais tarde para o rnixto. Nos casos benignos, elle diz que é sufficiente começar pelo regimen rnixto, e que só devemos aconselhar o puro se o mal não ceder. Jaccoud reconr- menda, que tenhamos muita cautela na passagem de um regimen para outro, e que deveremos voltar atrás, logo que a moléstia se resentir da mudança de regimen. Finalmente elle aconselha não prolongar muito o regimen exclusivo e ter sempre em vista chegar ao rnixto. Dnjardin-Beaumetz prescreve a seus doentes 1, 2 e 3 litros de leite cru por dia, permettindo também o uso de sopas, mingaus, com tanto que sejão preparados com leite. Elle recommenda com insistência, que o leite seja o mais fresco possivel. O Dr. Karell (2) organisa o seu methodo de tratamento da seguinte fórma: começa geralmeiite empregando só o leite, pro- hibindo qualquer outra alimentação. Elle procede com muita precaução e tem em muita conside- ração o fraccionamento das dóses. E’ assim, que elle prescreve (1) Loc, cit, (2) Loc. cit. ao doente 3 ou 4 vezes por dia e com intervallos rigorosamente observados, meio copo ou um copo cheio (60 á 120 grammas) de leite desnatado. A temperatura deve ser conforme o gosto dos doentes. As dóses não devem ser tomadas de uma só vez, porém lentamente, á pequenos goles, de maneira que a saliva se misture ao leite suíficientemente. O leite deve ser de boa qualidade, sendo preferivel o das vaccns criadas no campo. Si o doente tolera bem o leite, o que se conhece pelas evacuações solidas, elle augmenta pouco a pouco a dóse. A primeira semana é a mais difficil de vencer si o doente não tem a firme vontade de obter sua cura. Ordinariamente na segunda semana attinge-se a duas garrafas por dia. Si o regimen tem tomado seu curso regular, o doente tomará o leite 4 vezes por dia : ás 8 horas da manhã, ao meio dia, as 4 horas da tarde e as 8 horas da noite. As horas podem ser alteradas, mas não os intervallos. O doente fica assim preservado de repleição. Finalmente, diz Karell: “ A dieta lactea, escrupulosamente ad- ministrada em doses rigorosamente fixas, não e bastante ou e muito pouco conhecida pelos práticos como um remedio heroico e soberano. ” E a este facto elle attribue os casos de insuccesso. A via de aborpção quasi unicamente usada para o leite é o tubo gastro-intestinal. Entretanto ultimamente Hodder e Thomas propuzeram injecções intra-venosas de leite as quaes achamos pru- dente não serem empregadas por exporem a grandes perigos. Pelo methodo hypodermico o leite é perfeitamente absorvido, por- quanto em uma experiencia feita nesta Faculdade pelo illustrado Professor de Therapeutica auxiliado pelo Dr. João Paulo, vimos um cão nutrir-se por muitos dias sómente por meio de injecções sub-cutaneas de leite. Não nos foi possivel acompanhar esta cu- riosa experiencia minuciosamente, como desejávamos. Sómente apreciamos que o animal perdia no peso no fim de alguns dias. CAPITULO III Indicação c eíMtos da medicação lactea Múltiplas e variadas são as indicações tlierapeuticas do leite e comprehenderemos facilmente semelhante facto, si reflectirmos sobre a complexidade da sua composição e sobre suas diversas pro- priedades physiologicas, muitas das quaes nós já conhemos. Convém dizer, que si em algumas moléstias a indicação do leite é precisa e racional em um grande numero delias elle tem sido empregado de uma maneira empirica, o que é devido, até certo ponto, ao nosso atrazo sobre a acção pliysiologica do leite, mas nem por isso a sua indicação em semelhantes casos deixa de ser formal, porquanto basta que os seus bons eifeitos sejão reaes e conhecidos, para que lancemos mão delle sem escrupulo algum. Além disto não é o leite o unico agente tlierapeutico sujeito ao empirismo; pelo contrario, grande numero delles, cuja acção physiologica não se acha ainda bem elucidada, são com tudo uti- lisados na pratica com grande proveito para a humanidade. Tratando da acção therapeutica do leite, Karell (1) diz : “ Si me perguntassem, entre os elementos de que se compõe esse fluido, qual e aquelle a que deve-se atíribuir sua virtude curativa: á caseina, ao assuccir de leite, aos saes, á gordura ou á pro- porção. particular que existe entre seus diversos elementos ? Si mesmo me perguntassem que nome eu daria a esse tratamento : âiaphorético, diurético, resolvente ou tonicc ? Confesso, que fica- ria embaraçado para responder. . . A arte de curar seria bem estéril si se limitasse aos remedios, dos quaes nós podemos de- monstrar os effeitos até nos menores detalhes, e os médicos, que para tratarem seus doentes, se submettessem a taes restricções se ver ião muitas vezes reduzidos a uma inaeção absoluta.55 O professor Jaccoud (2) não foi menos explicito, quando de- pois de expôr as principaes indicações do leite, mostra a im- perfeição das noções physiologicas a esse respeito com as seguintes palavras : “ Em todo esse exposto, evitei cuidadosamente vos en- treter com theorias e hypotheses mais ou menos engenhosas que tem sido emittiãas a respeito da mecanismo intimo da acção do leite, limitei-me a não vos apresentar senão factos e esclareci- mentos práticos porquanto sobre esse assumpto ê impossível hoje ir além. ” Collocado por Trousseau e Pidoux na classe dos alterantes, o leite foi classificado e com muito mais razão por Nothnagel e Rabuteau como um analeptico ou um reparador da nutrição. (1) Kurell. Loc. cit. (2) Jaccoud. Loc. cit. Vários porém, são os effeitos que se procura obter com a medicação lactea e si examinarmos as numerosas observações feitas a esse respeito, veremos, que o leite tem sido empregado prin- cipalmente : 1. Como um alimento de facil digestão ; 2. Como hydragogo ou diurético ; 3. Como modificador da nutrição ou alterante; 4. Emfim, como sedativo. E são baseados nessa classificação que Jaccoud e Debove fazem a exposição das indicações do regimen lácteo. Nós, porém, não achamos bom esse methodo, porquanto em quasi todas as moléstias em que o leite é indicado, elle nunca obra de uma maneira isoladamente. Pelo contrario, julgamos que quasi sempre, elle actua pelo conjuncto de suas acções thera- peuticas. Per essas razões faremos a nossa exposição, organisando grupos com as moléstias dos diversos apparelhos, ou que constituão familias do quadro nosologico. Começaremos, pois. pelas moléstias do apparelho gastro-in- testinal. Moléstias do tubo gastro-intestinal E’ neste grupo de affecções que a indicação do leite ó das mais patentes e racionaes e onde também elle conra seus maiores triumphos. De facto, o grande problema a resolver na therapeu- tica dessas moléstias, consiste em privar o doente dos perigos de uma dieta prolongada sem comtudo irritar a mucosa gastro-in- testinal com alimentos solidos e de uma digestão mais ou menos difficil. Ora, do estudo physiologico que fizemos do leite, resulta que nenhum agente bromatologico ou tlierapeutico resolve melhor estas difficuldades do que o leite, alimento liquido, de facil di- gestão e fornecendo á economia os materines para uma boa nu- trição. Ao mesmo tempo o leite exerce sobre o estado irritativo? que acompanha em geral estas moléstias, uma acção tópica emol- liente e antiplilogistica. Em quasi todas as affecções deste apparelho orgânico o leite tem sido indicado, porem aquellas em que elle dá os melhores resultados, são: as gastrites toxicas ou não, a ulcera simples do estoinago, differentes especies de dyspepsias, as enterites com diarrhéa chronica e as dysenterias clironicas, e finalmente como um meio palliativo precioso, no câncer do estomago, estreitamento do esopliago e stenose pylorica. Gastrites.—Nas gastrites quer de origem alcoolica, quer não, ha sempre na mucosa gastrica um estado infiammatorio que a torna incapaz de secretar um sueco bastante rico em pepsina para digerir alimentos solidos. Pois bem, nestas affecções, em geral rebeldes, o regimen lácteo é empregado com grande proveito. Nas gastrites toxicas o emprego do leite é de uma vantagem incomparável. Depois da ingestão de um veneno irritante sobre- vém uma gastrite superaguda, acompanhada, durante as primeiras 24 ou 48 horas, de vomitos rebeldes. Acalmados estes, o doente queixa-se de dores atrozes e apresenta uma intolerância extraor- dinária do estomago para os alimentos solidos e mesmo líqui- dos. Nesta situação o melhor que temos a fazer é dar ao doente leite gelado ; será bom começar por dóses pequenas e fraccio- nadas. Muitas vezes as primeiras dóses são rejeitadas, porém o leite não tarda a fazer sentir sua influencia benefica; vencida a irritabilidade do orgão, elle será bem tolerado e poderemos, desta sorte, alimentar o nosso doente durante o tempo necessário á reparação das lesões causadas pelo veneno. Na opinião de Jac- coud, obtemos desta maneira uma cura que seria irrealisavel com qualquer outro metliodo. A este respeito, elle cita a observação muito curiosa de uma mulher, que com o fim de envenenar-se, ingerira pliosphoro de mistura com agua de Javel. Foi atacada de uma gastrite toxica violentíssima acompanhada de duas liematemeses nos primeiros dias da moléstia. Tendo cessado os vomitos iniciaes, administrou-se o leite, o qual foi também rejeitado por diversas vezes. Obtida emfim a tolerância, a doente restabeleceu-se completamente depois de um regimen lácteo exclusivo mantido durante cinco semanas. Todas as vezes, que Jaccoud tentava fazer qualquer modificação na alimentação os vomitos e as dores reapparecião. Ulcera simples do estomago. — O professor Cruveilhier, de- pois de ter descripto com mão de mestre a anatomia pathologica e a symptomatologia desta nffecção, completou sua grande obra instituindo a medicação. “ O regímen lácteo, disse elle, e o grande meio de cura da ulcera do estomago, o unico alimento que esse orgão pòãe supportar a presença sem se revoltar e o unico topico que lhe convém. ” Depois delle todos os autores que se occuparão deste as- sumpto, taes como: Schutzemberger, Brinton, Wade, Leube e outros, adoptarão suas idéas e ainda hoje não ha medico, que não reconheça, que o leite é o agente iriais efficaz no tratamento da ulcera simples. No caso vertente o leite offerece dupla van- tagem : é um alimento liquido, que não expõe a superfície des- nudada do estomago a irritações mecanicas e que demorando-se pouco no estomago permitte que o orgão repouse. Além disto, graças a sua reacção ligeiramente alcalina, o leite fresco exerce ainda um papel directamente inedicamentoso, neutralisando em parte a acidez do sueco gástrico e attenuando até certo ponto, os perigos da autopepsia. E’ ainda com este fim que alguns aconselhão a addição do bi carbonato de soda, da agua de cal ou da agua de Yichy. Eis como Cruveilhier instituiu seu tratamento : depois de deixar o estomago descançar durante 24 horas, submette-o então á dieta lactea. Elle quer que o leite seja tomado logo depois de mun- gido na dóse de algumas colheres de 4 em 4 horas ou com in- tervallos maiores si assim exigir o estomago. “ Si o leite e hem degerido, diz elle, a dieta lactea triumpha como por encanto ; ” si porém elle não for bem tolerado, é preciso tomal-o com um pouco de agua de cal ou eduleoral-o ; recommenda que se con- tinue por muito tempo o regimen lácteo, augmentando-se a quan- tidade de leite, sempre que elle fôr bem supportado pelo estomago. Mais tarde, permitte o uso de feculentos, taes como o arroz e finalmente um regimen mais substancial. Cruveilhier servia se ainda do regimen lácteo para fazer o diagnostico diferencial entre a ulcera simples e o câncer do es- tomago. Schutzemberger empregava, ao mesmo tempo que a dieta lactea, o nitrato de prata internamente, no tratamento da ulcera simples. Dyspepsias. — Não pretendemos discutir aqui a natureza nem as classiíicações das dyspepsias, por não nos permittir os limites desta tliese ; porem desde já devemos dizer, que na opinião dos autores, que se têm occupado desta classe de moléstias, G. Sée e Dujardin-Beaumetz entre outros, o leite representa papel im- portante na hygiene alimentar dos dyspepticos. Em diversas fôr- mas de dyspepsias o leite tem sido aconselhado, e si em algumas elle não produz a cura, determina pelo menos melhoras conside- ráveis ; entretanto não devemos perder de vista as susceptibili- dades particulares de cada estomago. O professor Dujardin-Beau- metz, depois de estabelecer a sua classificação das dyspepsias, aconselha o regimen lácteo no tratamento das fôrmas pútrida, acida e pituitosa. A dyspepsia pútrida admittida por Dujardin e Leube é ca- racterisada por uma diminuição na secreção do sueco gástrico ou por uma acidificação incompleta desse sueco. Ora, os estudos de Ch. Bichet fizeram ver que o leite representa no estomago um papel de regulador da acidez do sueco gástrico e que basta por conseguinte pequena quantidade desse sueco para determinar a fermentação lactica de grande quantidade de leite. Desta maneira acha-se augmentada a acidez do sueco gástrico e ao mesmo tempo suas propriedades digestivas. Logo será de grande vantagem admi- nistrar o leite a esta classe de dyspepticos. Da mesma fôrma, na dyspepsia acida, em que ha excesso de acidez do sueco degestivo, o leite servirá de grande recurso, neutra- lisando em parte este exagero da acidificação estomacal. Si o doente é atormentado com pyrosis e eructações acidas será de vantagem a addição de uma agua alcolina ou da agua de cal. Na dyspepsia pituitosa, não ha sômente uma perturbação func- cional, ha ainda uma inflammação chronica do estomago, ou o que os Allemães chamam catarrho do estomago. Será pois de necessidade deixar repousar o estomago, e o leite é o alimento mais apropriado para esse fim. E’ nesta classe de despepsias que o leite, na opinião de Dujar- din-Beaumetz, presta os maiores serviços e para o provar cita factos da sua clinica. A despepsia pituitosa sendo própria dos alcoolicos e como em um indivíduo affectado de alcoolismo chronico não convém supprimir de chofre o uso do álcool, Dujardin-Beaumetz aconselha o emprego do koumys, que permitte esperar o momento propicio para a suppressão total do álcool no regimen dos doentes. Então elle dá o leite durante oito dias na dóse de dous a tres litros por dia de mistura com dous copos de agua de Pas- sados os symptomas de irritação estomacal, elle aconselha, que du- rante oito dias as refeições sejão ainda compostas de iguarias que tenlião por base o leite e os ovos ; e que só muito lentamente o doente passará á sua alimentação ordinaria. O leite, alimento liquido, será ainda vantajoso em certas dis- pepsias determinadas por uma mastigação incompleta, como póde acontecer com os velhos desdentados. Quando uma criança é desmamada prematuramente ou nutrida com alimentos impróprios não tarda a apresentar-se com uma des- pepsia caracterisada por uma diarrlióa intensa e rebelde, seguida de emmagrecimento e outros symptomas, que constituem o que Parrot descreveu com o nome de athrepsia. Pois bem, nessas con- dições o melhor que tem o medico a fazer é instituir denovo o regimen lácteo puro. Diarrheas e clysenterias chronicas.—Na tlierapeutica desta ordem de aífecções do apparelho digestivo occupa, sem duvida al- guma, o primeiro lugar o tratamento hygienico, xuincipalmente no que diz respeito a alimentação. A indicação aqui é clara : é preciso alimentar doentes sujeitos a frequentes perdas organicas, sem irritar de fórma alguma os intes- tinos, que se aclião nestes casos com certo gráo de iniiammação e cuja irritação, por meio de alimentos solidos, entreteria por largo tempo esses fluxos intestinaes. E’ portanto o leite o alimento que convém a esses doentes, e hoje felizmente não ha medico que con- teste os bons effeitos da medicação lactea no tratamento da diar- rhéa e dysenteria chronicas. As observações a esse respeito são numerosíssimas e para convicção bastaria citar as que se encontrão nas memórias de Karell e Pécholier. O emprego do leite no tratamento da dysenteria foi a principio considerado como prejudicial e mesmo perigoso. Foi Renaud (de Loches) um dos primeiros a servir-se delle, e com vantagem, por occasião de uma epidemia. Hoje, graças sobretudo aos estudos de médicos da marinha e das colonias francezas, a efhcacia do regimen lácteo é reconhecida por todos no tratamento das dysenterias chro- nicas e até mesmo 11a diarrhéa chronica da Cochincliina, moléstia de natureza parasitaria, na opinião de alguns. Nestes casos o regi- men lácteo deve ser puro até que se obtenha evacuações solidas. Porém, como as recahidas são frequentes desde que ha uma mu- dança de regimen, convém, logo que ellas se manifestem, voltar ao regimen lácteo. E uma frequente causa de insuccesso nesse tratamento é a difiiculdade com que os doentes se submettem por algum tempo ao regimen lácteo exclusivo. O leite a empregar deve ser o mais fresco possivel, no entanto em falta delle os médicos da marinha franceza têm-se utilisado, com bons resultados, do leite condensado no tratamento da dysen- teria, a bordo dos transportes. Alguns médicos aconselhão a administração simultânea do leite e da carne crua. Pécholier aconselha ainda 0 regimen lácteo nas enterites acom- panhadas de diarrhéa, tão frequentes nas crianças de 15 a 18 mezes, por occasião da erupção dos caninos. Câncer do estomago, estreitamento do esophago e do pyloro. — Aqui o papel do leite é simplesmente palliativo, mas nem por isso deixa de ser precioso. Nos casos de estreitamentos do eso]diago ou de stenose pylorica, será muitas vezes dif&cil e mesmo impossivel alimentar os doentes, porquanto os alimentos solidos difficilmente passarão por essas coarctações pathologicas. E’ jdoís o leite, ali- mento liquido e essencialmente nutritivo, que convém administrar aos infelizes doentes. Em um caso de estreitamento canceroso do esophago, obser- vado por Debove na clinica de Beliier, o doente alimentou-se du- rante mezes, exclusivamente de leite e apresentava tão boa appa- rencia a ponto de pôr em duvida o diagnostico, que mais tarde foi confirmado pela autopsia. O leite é ainda o alimento que convém nos casos de câncer do estomago, lesão gravissima, que acarreta desordens profundas para 0 lado da mucosa gastrica, a ponto de difficultar ou mesmo impos- sibilitar a assimilação dos alimentos ingeridos. II Emprego do leite nas pirexias Quando ainda dominavão na sciencia as idéas de Broussais, julgava-se perigoso alimentar os febricitantes. Mais tarde, porém, Graves na Inglaterra, e Trousseau, em França, demonstrarão que longe de privarmos de alimentos os fe- bricitantes, era de toda necessidade fornecer elementos tle repa- ração a esses organismos sujeitos a uma combustão intensa e nos quaes, por conseguinte, o processo da desassimilação sobrepuja o da assimilação. E hoje, julgamos não liaver medico que negue a necessidade de alimentar os febricitantes. Ha, porém, uma difficul- dade a resolver. Em todo o individuo que tem febre, ha sempre um estado saburral da mucosa digestiva, uma diminuição ou mesmo abolição da secreção do sueco gástrico, circumstancias estas, que determinão anorexia e uma diíhculdade ou impossibilidade de digerir os alimentos. E’ portanto o leite, alimento de facil digesti- bilidade, que convém nestes casos, e é, com eífeito, o que tem sido aconselhado. Assim mesmo achamos, que nem sempre elle será bem tolerado pelo estomago dos febricitantes e que portanto nessas condições não se deverá empregal-o senão com grandes reservas. O leite deve ser empregado nas pirexias simplesmente como tonico e reparador das forças ; no entanto alguns médicos, acre- ditando talvez em alguma acção especial, têm se servido delle como meio de tratamento especial. E’ assim que elle foi utilisado por alguns no tratamento da febre typhoide e da febre intermittente palustre, a respeito da qual, Karell cita uns factos de cura pela dieta lactea, em que o leite representa quasi o papel de succedaneo do sulfato de quinina ! Vejamos os casos em que elle poderá ser realmente util : O leite prestará serviços na convalescença da febre typhoide, onde ao mesmo tempo, que serve de alimentação reparadora, dará tempo a que se cicatrisem as ulcerações intestinaes, con- correndo também para este eífeito a acção tópica emolliente do leite. 35 Nos casos de febres intermittentes inveteradas o leite será dado como tonico e poderá também servir, pela sua acção diu- rética, para dissipar certas infiltracções que acompanhão em geral as cacliexias palustres. A este respeito devemos dizer e é de conhecimento geral, que em localidades essencial mente pantanosas, o leite longe de convir, torna-se prejudicial aos individuos aífectados de intoxi- cação palustre. O nosso illustrado Professor de Therapeutica refere, que clinicou por algum tempo em uma localidade dessa natureza, onde o leite era sempre nocivo aos doentes, que se achavão sob a influencia do miasma. Para explicar esta acção nociva do leite, póde se appellar para a influencia dos pastos dos lugares pan- tanosos sobre os animaes. O leite tem também sido empregado nas febres eruptivas. O Dr. Fritz foi o primeiro que em 1850 chamou a attenção dos práticos sobre os effeitos notáveis que elle obteve do emprego do leite interna e externamente no tratamento da variola. Depois delle o Dr. Yandezande fez novas experiencias por occasião de uma epidemia, obtendo resultados felizes e promptos. E’ este o tratamento seguido por Fritz : Nos casos benignos limitava-se a dar o leite fresco e cm na clóse de 1 a 8 copos por dia, até que a sécca estivesse bem avançada. Nos casos graves, quando ha congestões viceraes, delirio, anciedade e quando estes symptomas persistem depois de feita a erupção ou quando esta não marcha regularmente, então elle recorria ao emprego externo do leite, quer em banhos, quer em compressas que devem ser renovadas de 20 em 20 minutos. Na sua opinião este tratamento abrevia a duração da erupção e por con- seguinte da moléstia. Yandezande applicava compressas embe- bidas em leite quente sobre o rosto, pescoço e peito renovando-as de 10 em 10 minutos. Entre nós, temos noticia de que o distincto clinico Dr. J. J. da Silva, hoje finado, applicava o leite no tratamento da variola intus e extra. O leite tem sido igualmente aconselhado no sarampão e na escarlatina. Quanto ao papel que elle representa nestas moléstias assim como na variola, nos parece ser idêntico ao que elle exerce na febre typlioide: servindo de alimento brando e reparador, o leite combaterá de uma certa maneira, pela sua acção emol- liente, os exanthemas que se manifestarem para o lado da mucosa gastrointestinal. Empregado externamente na variola, o leite parece exercer uma acção tópica emolliente sobre as pustulas variolicas, prevenindo, até certo ponto, a formação de cicatrizes profundas e indeleveis. Na escarlatina são frequentes as manifestações para o lado das glandulas renaes, representadas pela nephrite catarrlial ou mesmo parenchymatosa e mais tarde veremos a acção benefica que exerce o leite sobre semelhantes affecções. A anasarca é também uma consequência frequente da escar- latina e o leite, poderoso agente diurético, poderá servir com vantagem para dissipal-a. IE! Emprego do leite no tratamento das moléstias do apparelho respiratório Phtisica pulmonar.— A reputação tradicional que tem gozado o leite no tratamento desta terrivel moléstia e o facto de tratar-se de uma aífecção contra a qual os médicos de todos os tempos têm quebrado lanças com o fim de debellal-a, nos obrigão a rnais largas considerações a respeito do emprego que se tem feito do leito no tratamento dos phtisicos e nos esforçaremos ao mesmo tempo em fixar bem os proveitos reaes que delle se póde tirar. Como nos diz a historia da medicina, o leite tem sido acon- selhado aos phtisicos desde a mais remota antiguidade. Hippo- cratis, Arestêo de (Cappadocia), Celio Aureliano e Alexandre de Trallesjá o recommendavam e mais modernamente Guy Patin, Hoffman, Cullen e muitos outros mostrarão-se partidários desta medicação, a ponto do leite representar, na therapeutica da tuber- culose pulmonar, o papel de um verdadeiro especifico ! Com os dados physiologicos que já possuimos a respeito do leite, vejamos que effeitos tlierapeuticos delle se póde esperar contra a marcha fatal da tuberculose. Em primeiro lugar, trata-se de uma moléstia, cuja curabilidade, mesmo no periodo incipiente, é na nossa fraca opinião, uma questão, que para ficar resolvida, precisa ainda de factos clinicos bem averiguados e isentos de erros de diagnostico. Comtudo, ha casos, observados e attestados por clinicos abalisados, em que, graças a um bom tratamento liygienico e therapeutico, consegue-se sustar a marcha do processo morbido por um tempo mais ou menos longo. Uma das indicações mais formaes e importantes na thera- peutica da plitisica pulmonar, é sem duvida, a que se refere a nutrição ; todos os autores estão de accordo neste ponto. Todos elles ligão summa importância a hygiene dos tuberculosos e muito especialmente no que diz respeito a alimentação. Com effeito, todos nós sabemos como a diathese tuberculosa ataca de frente as funcções de nutrição, produzindo rapidamente uma dyscrasia do sangue e conduzindo os miseros doentes ao estado de marasmo. Além do vicio diathesico, outras causas con- correm para a consumpção dos phtisicos, a medida que o mal progride para o seu termo fatal, taes como: os suores nocturnos, a expectoração abundante, a febre liectica, a diarrliéa colliquativa dos últimos períodos e outras perturbações da digestão. Compre- hende-se pois como será de vantagem manter a integridade das funcções digestivas, sustentar e elevar mesmo, sempre que fôr pos- sível, as forças nutritivas. A observação nos faz ver quotidiana- mente que influencia benefiea exerce sobre a marcha da tuberculose uma boa nutrição quer natural, quer mantida a custa de bons pre- ceitos hygienicos e therapeuticos ; e vice-versa, como todas as causas de depauperamento concorrem para o desenvolvimento da granulose. O leite corresponde, pois, perfeitamente a essa indi- cação. Como já vimos, elle constitue um alimento de facil digestão e dotado de grande valor nutritivo, que deve em grande parte a sua riqueza em princípios graxos e além disto um alimento que não exige grande trabalho de hematose. Com o seu auxilio poderemos pois manter a nutrição dos nossos doentes em um estado satis- factorio e conseguir assim grandes melhoras, o que já não é pouco em uma moléstia, que zomba ordinariamente dos meios mais variados e racionaes empregados contra ella. Assim pensam Hérard e Cornil (1) e o professor Fonssagrives (2) que exprime-se da seguinte maneira: “ A dieta lactea foi considerada por muito tempo como um dos meios mais eficazes contra a phtisica, porém em vez de não verem nella mais do que uma alimentação graxa, de tolerância facil, transformaram-na em uma especic de especifico desta cruel affecção. 0 lugar que concedemos aqui ao leite ao lado dos oleos animaes mostra, que para nós, elle não êmais do que um alimento susceptivel, em razão de sua assi- milação facil e de sua riqueza em princípios graxos, de reparar as perdas incessantes que sofre a economia e de retardar os progressos do marasmo. ” Dujardin-Beaumetz (3) por sua vez, diz: “ 0 tratamento da tuberculose reduz-se pois a uma questão de nutrição ; todas as vezes que esta abaixar teremos um terreno favoravel ao desenvolvi' mento da granulia e a sua evolução ; todas as vezes, pelo con- trario, que levantarmos estas funcções, nós deteremos a tuberculose em sua marclia. ” E mais adiante : Conheceis minhas preferen- cias pelo regimen lácteo, portanto não vos admireis de ver quanto sou partidário do leite na tuberculose". 0 professor Nyemeyer recommenda muito aos phtisicos o uso do leite, o qual, sendo um alimento rico de gordura e de corpos que nella se transfurmão, attenuaria muito o processo de desassi- milação dos orgãos e tecidos ; ao passo que, a absorpção abun- dante de substancias proteicas augmentaria a producçào da uréa e portanto a desassimilação das substancias quartenarias. O papel tlierapeutico do leite no tratamento da phtisica pul- monar, vem pois a sei’ o de um analeptico graxo, reparador das for- ças, devendo por conseguinte figurar ao lado do oleo de figado de bacalhau. No caso presente todos os autores repeilem o regimen exclu- sivo, por ser fatigante para o doente, determinando facilmente anorexia e mesmo repugnância, o que seria de grande desvantagem para os doentes. (1) Hérard et Cornil. De la phthisie pulmonaire. Paris, 1867. (2) Ponssagrives. Therapeutique de la plitliisie pulmonaire. Paris, 1866. (3) Loc cit. Deve-se permittir que o doente tome tanto quanto elle sup- porte, fazendo, ao mesmo tempo, uso de uma alimentação substan- cial. O leite dará muito bons resultados si o appetite do doente fôr conservado, si a digestão executar-se bem e que as suas forças não estejão muito abatidas. No caso contrario, quando liouver uma dyspepsia de natureza tuberculosa o leite longe de convir será prejudicial. Elle prestará portanto maiores serviços nos pri- meiros períodos da moléstia ; Simon, (1) porém é de parecer que em todos os periodos da phtisica não existe contra-indicação alguma para o uso do leite e como elle pensão muitos outros. Kohler, citado por Simon, é de opinião que o leite não deve ser administrado si houver febre violenta, ou si existir um ca- tarrho gastro-intestinal, porque nestes casos a digestão do leite será penosa quando a diarrhéa persistir em consequência da pre- sença provável de ulcerações intestinaes. E Péoholier, que via na dieta lactea um poderoso alterante capaz de modificar as lesões clironicas da nutrição, aconselhava também não empregai o em todos os casos de phtisica pulmonar. Todos os autores também aconsellião, que o leite deve ser tomado cru, logo depois de mungido e sempre que fôr possivel no campo, onde a par dos effeitos do leite, outras causas conhecidas cooperão para o bom exito do tratamento. Será muitas vezes con- veniente tornar o leite mais sapido, addicionando se-lhe assucar ou um pouco de sal, conforme os paladares. Differentes especies de leites tem sido aconselhados aos phti- sicos ; assim, o leite de vacca, cabra, jumenta, ovelha, egoa e até mesmo o leite da mulher, têm passado por possuirem virtudes es- peciaes contra esta moléstia. Porém de todos elles, é o de jumenta, que desde tempos remotos, passa por um verdadeiro leite medicinal, possuindo uma virtude curativa no tratamento da phtisica pul- monar. Hippocratis e Hoffman já o recommendavão muito e ainda hoje o vulgo conserva as idéas tradicionaes á respeito das vir- tudes do leite de jumenta. Pondo, porém, de parte a tradição, achamos, que a unica propriedade que pôde fazer dar preferencia a essa especie de leite, é o seu maior grau de digestibilidade. (1) Simon—Tlièse. Paris, 1870. 40 propriedade devida a sua riqueza em assucar e menor proporção de matérias albuminosas e graxas. Lebert, diz, que havendo ten- dência habitual á constipação deve-se dar o leite da jumenta, que produz, mais que nenhum outro, effeito laxativo, emquanto que elle é mal tolerado havendo predisposição para diarrhéa. Simon (1) o aconselha, quando os doentes têm tendencia a febre. Entendemos, que elle póde ser util quando, em virtude da decadência das funcções digestivas ou em virtude de certas sus- ceptibilidades, um outro leite mais nutritivo não fôr bem tolerado pelo estomago dos doentes. O conselheiro Albino de Alvarenga cita o caso de uma senhora tuberculosa, que vive, ha já alguns annos, graças ao uso constante que faz do leite de jumenta e aos cuidados hygienicos de que se cerca ; sendo notável, que todas as vezes que por qualquer circumstancia tenta-se substituir o leite de jumenta por qualquer outro, a doente resente-se da mu- dança do leite. Desde a mais alta antiguidade, tem sido o leite humano em- pregado no tratamento da phtisica ; Arestêo (de Cappadocia), Herodio e Prodico consideravam-no superior mesmo ao leite de jumenta e não faltarão observações de casos de cura obtidos com essa especie de leite. Galeno recommendava mesmo o aleitamento directo e explicava desta maneira a superioridade do leite hu- mano. Baumes, que consagrou largos desenvolvimentos ao tra- tamento da plithisica pulmonar pelo regímen lácteo, refere, que um inglez no ultimo periodo da pulmonia, depois de tentar grande numero de remedios e feito uma viagem, tomou successivamente duas amas e curou se em quatro mezes e meio. Compreliender- se-lia porém, facilmente, que semelhante leite não deva ser pre* scripto, não só por ser de difficil acquisição, como também por não vermos nelle virtude alguma que o colloque acima dos outros. Sendo o principal fim do medico, com a administração do leite, elevar a nutrição dos phtisicos, é claro, que sempre que não houver contra-indicação, devemos recorrer ao leite de vacca, de cabra ou de ovelha, leites muito mais nutritivos pelos seus princípios gordurosos e proteicos. O de vacca será quasi sempre (1) Loc cit. preferido pelo seu preço modico e por ser de mais facil acqui- siçào. Quando lia tendencia a diarrliéa, aconsellia-se geralmente o leite de cabra, que é o que obra mais favoravelmente contra o catarrho intestinal, propriedade que elle deve provavelmente á sua riqueza em albumina. E’ principalmente na phthisica pulmonar, que tem-se em- pregado os differentes derivados do leite, cuja historia, modo de preparação e maneira de empregal-os já deixamos descriptos em lugar competente. Resta-nos, portanto, sómente discriminar os effeitos que elles podem produzir no tratamento da tuberculose. O soro de leite é commummente utilisado n > tratamento da phthisica pulmonar na Allemanha, onde abundão os estabele- cimentos especiaes destinados a esse fim e para os quaes affluem muitos doentes ; e nos parece impossivel, que a antiga e vasta reputação que goza o sôro do leite em um paiz tão civilisado, não se baseie em factos verdadeiros e sanccionados pela obser- vação de muitos annos. Na França, porém, o sôro de leite não teve tão grande aceitação como na Allemanha e Suissa, apesar dos esforços de Carrière para vulgarisal-o. Todas as especies de sôro de leite podem servir, porem o mais utilisado pelos médicos allemães é o preparado com o leite de ovelha, preferencia que elles dão pela grande proporção de saes, que encerra essa especie de leite. O sôro de leite foi consi- derado pelos allemães como uma verdadeira agua mineral, por causa dos seus principios salinos e mesmo uma agua superior ás naturaes por ser aquella de natureza organica. Comtudo elles aconselham frequentemente a mistura das aguas mineraes ao sôro de leite, pratica já muito seguida por Hoffman. Carrière também attribue as virtudes curativas do sôro de leite aos saes que elle contém. Apesar dos enthusiasmos de Mojsisowicz, não devemos depo- sitar grande confiança nos milagres attribuidos ao sôro de leite na cura da phthisica. Elle parece prestar bons serviços principal- mente nos períodos iniciaes da tuberculose acompanhada de phe- nomenos agudos ou sub-agudos. Fonssagrives, na sua therapeutica da tuberculose, collocou-o a par dos meios antiphlogisticos desti- nados a combaterem os plienomenos inflammatorios dò primeiro 42 periodo, recommendando-o sobretudo nas fôrmas que apresentam symptomas de sub-agudeza e de eretliismo nervoso e febril. Nos estabelecimentos destinados ao tratamento sero-lacteo reconheceu-se, que o.sôro de lçite é sobretudo efficaz nas plithisicas de natureza escropliulosa e que elle não exerce acção alguma na plitliisica liereditaria. Efíeitos muito mais importantes presta o koumys, bebida uti- lisada pelos russos no tratamento da plithisica pulmonar, consti- tuindo um methodo de tratamento que tem por si o apoio de médicos notáveis da Rússia. O Dr. Bogoiawleuski que experimentou em si proprio os bons efíeitos do koumys em uma tuberculose avançada, publicou uma memória especial sobre esse methodo de tratamento. E o Dr. Karell tratando do koumys assim se exprime “ Si a scien- cia medica pôde ainda esperar que' exista um remedio efficaz contra a phthisica, tenho poderosas razões para acreditar que o único que se deve rocommendar com alguma confiança é o koumys... .. . Tenho visto effeitos maravilhosos e deve-se-llie curas verda- deiramente admiráveis. ” Quando fizemos o estudo do koumys vimos, que um dos seus principaes effeitos sobre a economia, effeito observado por todos os médicos que o tem empregado ó o que exerce sobre a nutrição, determinando augmento de gordura e de peso nos doentes, acção que póde-se attribuir aos princípios que encerra : lactose, álcool e acido carbonico. Um outro effeito produzido pelo koumys consiste na maior facilidade da expectoração e finalmente, quando tomado em dóses elevadas elle determina um somno calmo e que não deixa nenhuma perturbação de cabeça. Por todas essas propriedades do koumys se avaliará que resultados vantajosos póde-se esperar delle no tratamento da granulose. Em França, Denos e Dujardin-Beaumetz empregarão o koumys preparado por Landowski e todos elles tiraram bons resultados de seu emprego como medicação tónica. E’ provável que se tenha exagerado o valor therapeutico do koumys, mas o que não se pôde. pôr em duvida é a influencia notável que elle exerce sobre a nutrição dos phthisicos, influencia que se nota nos doentes quando regressam dos steppes da Rússia, onde vão sujeitar-se ao uso do koumys. Entre nós não nos consta que se tenha feito ensaio sobre esse meio de tratamento, o que é para lastimar tanto mais quando possuímos em muitas das nossas províncias vastíssimos campos, onde a criação do gado faz-se em larga escala e nos quaes poderia-se tentar a fundação de estabe- lecimentos analogos aos que existem na Kussia. O koumys tem sido aconselhado em todos os períodos e fôrmas da phthisica pulmonar, porém Fonssagrives só o recommenda na que é acompanhada de erethismo nervoso, sem febre. E* ainda especialmente na phthisica pulmonar que se tem utilisado alguns dos leites medicamentosos. Assim é que Labour- dette e Bouyer recoramendaram muito o leite iodado, obtido pela administração do iodureto de potássio ás vaccas. O Dr. Piogey insistiu sobre os bons effeitos do leite iodado em doentes do pri- meiro período, a ponto de dizer... “ tudo lena a crer que o iodo é assim unido ao leite em um estado de combinação particular, ana- loga a que existe no oleo de figado de bacalhau. Prescrevendo o leite iodado, tem-se a vantagem de dar um medicamento agradavel e um alimento de facil digestão. ” Foi ainda para o tratamento da tuberculose, que A.. Latour organisou o seu methodo lacto-chloruretado,. o qual elle fazia acom- panhar de regras minuciosas para a sua instituição, e de bons pre- ceitos bygienicos. Elle recommendava além disso que o regimen fosse instituído de uma maneira progressiva e seguido com perse- verança. Quanto ao modo de obter o leite chloruretado e a maneira de administral-o já deixamos descripto em outro lugar. Fonssagrives (1) cita o casó de- uma moça de 18 annos de idade, no terceiro período da moléstia, na qual elle empregou o processo de A. Latour, que foi bem tolerado e actuou de uma maneira muito favoravel sobre a nutrição da doente. Empregando o leite chloruretado, obteremos, além da acção especial do leite, a acção do chlorureto de sodio, que servirá também para manter o appetite e fazer supportar aos phtliisicos maiores quantidades de leite. E’ a titulo de corpos graxos que se tem ainda recommendado aos tuberculosos a manteiga e o creme ou nata do leite. A man- teiga tem sido empregada como succedaneo do oleo de figado (1) Loc. cit. de bacalhau em casos em que a administração desse oleo torna se impossível, pela repugnância que elle provoca. Já Galeno em- pregava, como expectorante, uma mistura de manteiga, mel e amêndoas amargas e Trousseau organisou a formula de uma man- teiga cliloro-bromo-iodada para substituir o oleo de figado de bacalhau e destinada principalmente ás crianças. Béhier, em sua pratica dá sempre preferencia, como medi- camento graxo, á manteiga, substancia muito mais agradavel ao gosto e de mais facil digestão que os oleos animaes. E’ ainda como succedaneo do oleo de figado de bacalhau, que na Inglaterra emprega-se commnmmente a nata fresca do leite, a qual compõe-se, como já sabemos, da caseina e da manteiga. Dá-se geralmente na dóse de 2 a 6 colheres de sopa. Para tornal-a mais digestivel os inglezes costumam addicionar-lhe altas dóses de rhum ; póde-se também, para o mesmo fim, empregar o assucar, a canella ou a baunilha. Fonssagrives manda que a nata seja dada de mistura com o café e que se eleve as dóses tanto quanto supporte o estomago dos doentes. Diz elle ter tirado excellentes resultados de semelhante medicação principalmente em crianças. E a esse proposito, elle refere o facto de uma me- nina de oito annos, cujos pulmões estavam em pleno trabalho de amollecimento; existia uma caverna considerável á direita; o em- magrecimento chegava ao marasmo ; as funcções digestivas exe- cutavam-se mal, havia perda do appetite, febre constante e suores nocturnos. Tendo prescripto quatro colheres de creme por dia, elle a foi encontrar quatro mezes depois, e com grande admiração sua, em um estado relativamente satisfactorio ; o emmagrecimento tinha quasi desapparecido e o estado local tinha sensivelmente me- lhorado. Catarrhos bronchicos.—Nos catarrhos broncliicos chronicos acompanhados de emphysema, diversos symptomas concorrem para afíligir os doentes, taes como : uma expectoração abundante e uma dyspnéa habitual que reconhece por causa não só as lesões da mucosa bronchica e emphysematosas, como também as stases sanguíneas, que de ordinário existem na vizinhança das lesões ; para aggravar ainda mais a situação dos doentes, os catarrhos chronicos com emphysema são quasi sempre acompanhados de uma affecçáo cardiaca. Pois bem, nessas condições em que a thera- peutica mostra-se tantas vezes impotente, o leite será um grande recurso, não para reparar as lesões do apparellio respiratório, porém para melhorar sensivelmente a critica situação dos doentes, como provam os factos da clinica de Jaccoud e as observações que vêm consignadas na memória de Lebert. Na opinião de Jaccoud é a acção diurética do leite que é principalmente posta em contribuição no caso presente ; debaixo da influencia da diurese a circulação regularisa-se, as stases passivas dissipam-se e por conseguinte as secreções da mucosa diminuem de intensidade. Porém não é sdmente como agente diu- rético que o leite é util nos catarrhos bronchicos ; pela sua acção sedativa elle acalmará a tosse; actuará também melhorando a nu- trição e talvez exercendo uma certa influencia sobre as desordens do centro circulatório. Derrames pleuriticos.— Aqui é sem contestação o poder diu- rético do leite que se põe em jogo. Nos casos de derrames chro- nicos isolados ou acompanhando hydropisias generalisadas, a ef- fícacia da medicação lactea era bem reconhecida, quando o professor Jaccoud veiu demonstrar que ella também presta valiosos ser- viços nos casos de derrames pleuriticos agudos, nas seguintes condições : No pleuriz agudo, o periodo ascencional e o de es- tádio da febre correspondem a formação da collecção serosa. Quando, p>orém, a febre começa a declinar ou, ainda melhor, quando tiver cessado, póde-se considerar o derrame como effec- tuado ; é nesta occasião que começa o periodo estacionário da moléstia, periodo de duração indeterminada. Pois bem, é justa- mente nesse momento que Jaccoud manda instituir a medicação lactea, exceptuando os casos em que a indicação da thoracentese é formal e urgente, quando, por exemplo, lia dyspnéa intensa com imminencia de suffocação, casos em que o leite não conviria por necessitar sempre de alguns dias para produzir seu effeito. Encontramos no trabalho do professor Jaccoud (1) tres va- liosas observações, pelas quaes vê-se que o leite foi pelo menos tão rápido em dissipar a collecção serosa, como os outros me- dicamentos empregados para esse fim : (1) Loc. çit, Primeira observação.— Pleuriz de invasão aguda com vasto derrame pleuritico esquerdo ; estabelece-se o regimen lácteo no fim do periodo agudo; 11 dias depois o derrame tinha desap- parecido totalmente e mais tarde o doente deixa o hospital per- feitamente curado. Segunda observação.— Um caso de reincidência de ura pleu- riz agudo do lado esquerdo, com abundante derrame, não tanto porém como no primeiro caso. Cura em 10 dias, sem reproduc- ção do liquido até 12 dias depois quando o doente deixou o hospital. Terceira observação.— Ainda de um caso de pleuriz es- querdo com um derrame occupando dous terços da cavidade da pleura e tendo tido uma invasão brusca. O doente entra para o hospital com 14 dias de moléstia, porém já apyretico. O tra- tamento lácteo durou 14 dias, tendo desapparecido o derrame desde o decimo dia. Em todos esses casos a diminuição do derrame coincidiu quer com o augmento da diurese, quer com uma diarrhéa serosa intensa. Estes factos parecem proprios a conduzir-nos a novas expe- riências e dignos da attenção dos práticos. IV Emprego do leite nas moléstias do apparelho urinário O leite representa hoje um poderoso agente therapeutico no tratamento das moléstias renaes, acompanhadas de albuminúria. Algumas delias reputadas incuráveis até certo tempo, são hoje perfeitamente debelladas com o auxilio do regimen lácteo bem dirigido. O grupo das nephrites, que constituem o mal de Bright, é clinicamente caracterisado por liydropisias mais ou menos generalisadas, por albuminúria e por alterações materiaes nos differentes tecidos da glandula renal. Pois bem, o leite quasi sempre dissipa as infiltrações, attenua, si não impede de todo, a passagem da albumina nas urinas, e as próprias lesões renaes si nào forem antigas e profundas, podem ser beneficamente re- paradas pelo tratamento lácteo. E’ aqui que tira-se grande proveito da acção diurética do leite, acção que, como já vimos, exerce-se sem determinar irri- tação alguma no filtro renal, como sóe acontecer com a maior parte dos agentes diuréticos. Todos os clinicos, que tem empre- gado o leite no tratamento das plilegmasias renaes, observam uma diurese franca e a par delia a reabsorpção da serosidade colleccionada ou infiltrada. Porém si o leite mostra-se tão efíicaz contra o symptoma liydropisia, já não 'é assim com a albuminúria, a qual torna-se muitas vezes rebelde ao regimen lácteo como a qualquer outro medicamento. Comtudo em muitos casos consegue-se attenual-a e em alguns mesmo supprimil-a, effeito que não se póde negar ao leite, porquanto basta muitas vezes suspender o seu uso para que a albumina reappareça nas urinas, plienomeno que serve para indicar que a cura ainda não se acha realisada. O suc- cesso aqui depende unicamente da natureza e da idade da le* são renal. Esta acção especial do leite sobre a albuminúria é uma questão que para nós ainda não está elucidada. Tudo que se poderia dizer e que o vicio de assimilação das matérias albu- minoides da alimentação commum e mais importante sob o ponto de vista da excreção da albumina do que a própria alteração renal/ porém, esta tentativa de explicação é logo refutada péla riqueza do leite em matérias proteicas e não se tem mais do que appéllar para uma influencia especial devida a fôrma in- tima da albumina ingerida. (1) O que não se pode porém contestar é que o leite modifica a albunmina do sangue, a ponto de impedir a sua passagem atravez dos rins. Além dos effeitos que acabamos de passar em revista o leite ainda actua aqui como alimento reparador, restabelecendo ao mesmo tempo as funcções de nutrição. Grande numero de autores se tem occupado do emprego do leite no mal de Bright. Entre elles destacaremos : Clirèstien e (1) Jaccoud. Loc. cit. Guinier (de Montpellier), Artigaes, Serre (d’Aliais), Lemoyne, Debove, Jaccoud e Dujardin-Beaumetz, os quaes são todos ac- cordes em reconhecer no leite a principal medicamentação da mo- léstia brightica. Seria fastidioso reproduzir aqui as numerosissimas observa- ções que encontramos em todos esses autores, falta que esperamos ser relevada, tanto mais quanto não temos o prazer de dar uma observação própria visto não termos tido ainda occasião de as- sistir um caso de neplirite, em que se tenlia lançado mão do leite como medicamento. E’ aqui principalmente que a medicação lactea deve ser se- vera, si se deseja obter bons resultados com o seu emprego ; o regímen lácteo deve ser exclusivo e persistente até que se ob- tenha a suppressão da albuminúria, quando então se passará ao regimen mitigido e depois ao mixto; devendo se instituir de novo o regimen puro, caso a albumina reappareça com a mudança do regimen. Os preceitos a seguir e aconselhados por Jaccoud já deixamos dito em outro lugar. Lancereaux aconselha o leite de jumenta e em sua falta o leite de vacca desnatado. Começar-se-ha por 2 litros por dia aug- mentando-se 1 litro todus os dias até attingir a dóse de 4 a 6 litros, segundo a tolerância do doente. Si polerá ajuntar ao leite agua de Vicliy ou agua de cal, ou ainda, o que parece melhor, o chlorureto de sodio, na dóse de 5 a 10 grammas para cada litro. Serre (d’Aliais)e com elle Claudot e Pautier aconselharam associar ao leite a cebolla crua, associação que está hoje intei- ramente banida da pratica. Vejamos os casos em que a dieta lactea prestará serviços e de que valor elles serão : Neplinte catarrhal.—Moléstia em geral benigna e de du- ração transitória, o catarrlio renal cede quasi sempre aos meios hygienicos, e a medicação lactea é de todas a que mostra-se mais efficaz, quer a nephrite seja primitiva quer de origem escar- latinosa. E’ esta especie de plilegmasia renal caracterisada anatomo- patliologicamente por descamação epitheliale accumulo de muco no interior dos tubuli. Pois bem, a principal indicação aqni consiste em desobstruir os tubidi / por conseguinte deveremos empregar os diuréticos e de preferencia o lede, que não irritará os elementos que se acliatn debaixo d i acção do trabalho infla mina torio. A nephrite catarrlial muitas vezes manifesta-se por plienomenos agudos, taes como : febre, vomitos e dores lombares ; acalmadas estas por meio de emissões sanguíneas locaes e purgativos brandos, devemos logo instituir e medicação lactea. Na clinica do professor Jaccoud lê se observações de casos acompanhados de hydropisias generalisadas e albuminúria rnais ou menos copiosa, perfeitamente curados pelo regimen lácteo. Mal de Briglit. — Aqui o successo varia com a fôrma que a moléstia reveste e na fôrma parenchymatosa os efíeitos da medi- cação lactea dependem ainda do gráu do processo morbido. Assim é que no periodo agudo inicial caracterisado por febre, dores re- naes, vomitos e hematúria, o leite alcança triumplios quasi con- stantes. Si as dores lombares forem muito intensas far-se ha uma applicaçào de ventosas sarjadas, loco dolentí, e instituir-se-ha logo o regimen lácteo exclusivo, o qual trará sem demora a desappa- riçào de todos os symptomas. Mesmo que o periodo agud > tenha passado, si o leite é administrado poucos dias depois, ainda po- deremos tirar bons resultados do seu emprego. Obtida a cura, o regimen lácteo deverá ser mantido por precaução durante alguns dias até que ella se torne definitiva, o que se conhece pelo facto da snppressão do regimen não produzir de novo a albuminúria e outros accidentes renaes. Não podemos deixar de reproduzir neste lugar o resumo de algumas observações valiosas do professor Jaccoud: Primeira observação. — Um homem robusto entra no hos- pital com tres dias de moléstia, apresentando febre forte, he- matúria considerável e vomitos frequentes. Acalmadas as dores lombares com a applicação de ventosas escarificndas, o doente é sujeito ao uso do leite, que é a porin- cipio vomitado ; no dia seguinte addiciona-se 100 gram. de agua de Vicliy por cada litro ; o leite é bem tolerado e 12 dias depois a cura era perfeita. Segunda observação. — Caso de nephrite parenchymatosa a frigore em um moço de 19 annos. O doente apresenta os mesmos symptomas do primeiro caso e algumas perturbações visuaes. En- trou para o hospital no 10.° dia de moléstia, tendo já passado a phase aguda desde um ou dous dias. Instituiu-se a medicação lactea no 11.° dia e a cura tem lugar em 14 dias. No periodo de transição que succede ao precedente e que é o primeiro periodo quando a moléstia é clironica db initio, a cura ainda póde ser obtida, porém tudo depende do momento da intervenção, circumstancia que dá a essa phase do mal de Briglit um grande interesse tlierapeutico. Si o tratamento lácteo é instituido em um momento ainda proximo do estádio agudo, quando a urina apenas encerra epitlielio e cylindros epitlieliaes, a cura ainda póde ser alcançada. Porém si a intervenção fôr mais tardia, si o microscopio já revelar na urina a existência de cylindros granulo-gordurosos proprios do periodo clironico ou atrophico então o successo será muito incerto, mas nem por isso a medicação deixa de ser util, porquanto ella póde fazer desappa • recer a hydropisia, restaura as funcções digestivas e diminue muitas vezes a albuminúria. E’ pois neste periodo que a nossa intervenção deve ser enér- gica e prompta e na opinião de Jaccoud nenhuma medicação póde ser posta em parallelo com a medicação lactea exclusiva, que dará os melhores resultados si ella fôr applicada em tempo e com perseverança. Mesmo nos casos incuráveis o leite será ainda util mantendo uma diurese abundante que previne até certo ponto os terriveis accidentes da intoxicação uremica. No periodo atrophico ou clironico do mal de Briglit, quando os tubos granulo-gordurosos denotam alterações materiaes pro- fundas na glandula renal, o tratamento é simplesmente palliativo. Tonificar os doentes, combater as hydropisias e as com- plicações, manter a diurese, são asprincipaes indicações a preencher e na maior parte dcs casos é ainda o leite um dos melhores agentes a empregar. Porém mesmo neste periodo si a medicação fôr instituida logo no começo da moléstia, Jaccoud é de parecer, que ainda se poderá obter curas completas e duradouras. Devemos observar que, si, em qualquer dos periodos da mo- léstia houver anazarca considerável ou hydropisias visceraes que ameacem a vida do doente a ponto de constituirem um perigo imminente, não deveremos lançar mão da dieta lactea, cuja acção é relativamente lenta. Nestes casos a indicação é de urgência e portanto será conveniente lançar mão dos drásticos. Passado porém o perigo, deve-se instituir logo a medicação lactea. O leite também poderá prestar serviços na nephrite inter- sticial porém aqui o seu papel é muito secundário como aliás é o da therapeutica empregada contra esta fôrma do mal de Bright. Com tudo, si houver edemas, o leite servirá para dissipal-os ; pôde ser também de grande utilidade para acalmar as palpita- ções ligadas a hypertrophia do ventrículo esquerdo que acom- panha em geral a sclerose renal. Quando ha ameaça de uremia, terminação tão frequente da nephrite intersticial, o regímen lácteo determinando uma polyurese, previnirá até certo ponto que os princípios toxicos se accumulem na economia produzindo a en- toxicação uremica. Existindo porém uma polyuria persistente, Jaccoud recommenda que a dieta lactea seja posta de lado. Outro symptoma que pôde, na opinião de alguns autores, ser vantajosamente modificado pelo regimen lácteo é a retinite que se manifesta commummente no decurso do mal de Bright. Rim carcUacc. — Com este nome o professor Jaccoud descreve a moléstia renal dependente das lesões do centro circulatório e caracterisada por stase renal, determinando albuminúria. As des- ordens nestes casos são de origem meoanica e devidas a embaraços de circulação, cuja causa reside no coração. Com tudo o leite aqui ainda prestará serviços, que serão de grande proveito para os doentes, os quaes com o seu auxilio se acharão livres de symptomas gravíssimos, cuja persistência aggra- variam bem depressa sua triste situação. Infelizmente o successo aqui é apenas temporário, porque com novos ataques de asystolia os mesmos symptomas se manifestarão, mas ainda assim o seu reapparecimento será muitas vezes retardado pelo uso do leite. Albuminúria da ‘prenhez. — O successo obtido contra a al- buminúria symptomatica do mal de Bright, deveria levar os práticos a ensaiarem a medicação lactea contra a albuminúria própria das mulheres gravidas. Foi o que fez o professor Tarnier, que louva-a muito em um artigo inserto no Progrès medicai de 1875. Com o auxilio do leite elle obteve rapidas melhoras ou mesmo a cura definitiva. Os seus successos nos parece terem tido lugar sómente quando a albuminúria era dependente de lima superalbuminose do sangue ou de um augmento de tensão vascular ; quando porém ella era a expressão de lesões renaes chronicas, a medicação mostrou-se improfícua, como é de regra. TJremia. — Somos agora levados naturalmente a tratar da uremia, visto ser a sua causa mais frequente a desordem da uro- poiese produzida pelas lesões renaes. Sendo a uremia uma verdadeira intoxicação determinada pela insuífíciencia de secreção dos principios excrementicios da urina, plienomeno que anda quasi sempre de par com uma oligúria ou mesmo anuria, a indicação tlierapeutica é patente ; é de toda neces- sidade activar a secreção renal favorecendo desta sorte a exoneração dos principios nocivos contidos no sangue. Além disto, é idéa hoje corrente na sciencia, que os accidentes da encephalopathia uremica reconhecem por causa principal o edema cerebral. Por conseguinte a indicação tlierapeutica desta especie de uremia, consiste ainda em determinar uma espoliação serosa, que faça baixar a tensão intra-vascular e previna a exos- mose do serum sanguineo. E’ pois 11a medicação expoliativa que o medico achará os meios de conjurar os accidentes uremicos e assim, os drásticos, a sangria e os diuréticos serão postos em contribuição, segundo certas indi- cações especiaes. Quando o perigo é imminente, quando não ha tempo a perder, ou mesmo quando os elementos secretores dos rins, compromettidos em sua integridade funccional, não puderem corresponder a solici- tação dos diuréticos, é aos drásticos que deveremos recorrer por causa da sua acção prompta e energica. Vencido porém o primeiro perigo deve-se instituir a medicação diurética. Em qualquer outra circumstaucia poderemos lançar mão só- mente dos diuréticos, quando, por exemplo, houver apenas ameaça da explosão dos accidentes, ou quando as lesões renaes não sendo antigas, permittirem que elles exerçam sua acção therapeutica, como no mal de Bright agudo, na neplirite catarrlial primitiva ou escarlatinosa e na stase renal devida a uma lesão cardiaca ou a prenhez adiantada. Reconhecida a indicação dos diuréticos, ao qual delles devemos recorrer? Ao leite, respondemos nós baseados em clinicos abalisados, como 0 professor Jaccoud, que não aconselha outro agente senão o leite, diurético precioso que não determina irritação alguma para o lado dos rins, irritação que seria tão prejudicial nas congestões activas e plilegmasias agudas desses orgãos. Sómente na albuminúria dependente do rim cardíaco, Jaccoud émprega primeiro a digitalis ; obtido o seu effeito, elle continúa a entreter a diurese por meio do leite. Pelo emprego da medicação lactea no tratamento das moléstias renaes e pelo que acabamos de expôr, vê-se que, além de um meio preventivo ella representa um grande meio curativo da intoxiçâo u remi ca. Urolithiasis e obstrucções renaes.— Em suas lições de clinica do hospital Lariboisière, o professor Jaccoud refere a interessante historia de um doente de lithiasis urica, o qual, no curso de sua moléstia, apresentou uma notável diminuição na quantidade da urina e todos os symptomas precursores do envenenamento uremico, plienomenos estes que foram attribuidos pelo distincto clinico á obliterações dos canaliculos uriniferos pelo accumulo de arêas uricas no seu interior. Convinha pois o mais depressa possível desobstruir os tubuli por meio de uma diurese abundandante, sem causar irritação alguma sobre os rins. Empregou portanto exclusivamente o leite na dóse de dous litros por dia e os resultados foram tão promp- tos e satisfactorios que no fim de pouco tempo a diurese era franca, e os accidentes uremicos conjurados e as próprias concre- ções uricas desappareceram temporariamente da urina. Quando as concreções são mais volumosas, quando sobre- tudo a anuria observada sobrevem á accessos de cólica nephri- tica, Jaccoud recommenda que não se empregue o leite com medo de aggravar a situação pela lavagem forçada do appare- lho renal. E’ preciso confessar que o leite nada póde contra a diatliese urica; porém, pelo uso constante da medicação, mantém se uma superabundância de agua na urina, o que garante a solução do acido urico e as arêas são assim supprimidas por uma acção indirecta. São os accidentes devidos á obstrucção renal que constituem a gravidade da moléstia que nos occupa; é contra ella também que o leite tem acção mais directa e efficaz, portanto não po- demos negar grande valor a medicação preconisada por Jaccoud, a qual reúne em si a efficacia e a simplicidade. Catarrhos do apparélho excretor da urina. — O regimen lác- teo tem sido empregado com vantagem nas inflammações catar- rliaes da mucosa do conducto excretor da urina. Assim, na pyelite, na cystite e nas blenorrliagias, o leite será um poderoso agente para acalmar as dores iniciaes e abrandar os soffrimen- tos causados pela micção. Nos catarrhos mucosos simples, o successo é constante na opinião de Jaccoud, que diz ter tam- bém tirado bons resultados em dons casos de pyelo-cystite muco- purulenta, em que a acção do leite foi auxiliada pela hydro- therapia. Johnson cita também observações muito valiosas de casos de cystites curados pelo regimen lácteo. Em casos de catarrhos vesicaes graves ligados a presença de cálculos ou não, a acção do leite será simplesmente pallia- tiva, mas não deixará comtudo de ser salutar. A acção do leite nestes casos, posto que obscura, póde-se explicar pela polyurese que determina, produzindo desta sorte uma lavagem das super- fícies doentes, ou uma diluição dos principios irritantes da urina; elle parece também fornecer á urina qualidades particulares, que modificam o estado da mucosa. No periodo agudo das blennorrhagias, obtem-se uma melhora rapida dos symptomas iniciaes, todas as vezes que os doentes se submettam por alguns dias ao regimen lácteo exclusivo e a duração da moléstia poderá ser abreviada. Nesta moléstia po- der-se-lia praticar também injecções de leite. Temos concluído sobre o emprego do leite nas moléstias do apparélho secretor e excretor da urina, e pelo que íica exposto vê-se que o leite é o medicamento por excellencia destas affec- ções ; capaz de produzir a cura em alguns casos, em outros não deixa de ser valioso como medicação symptomatica ou palliativa. ¥ Emprego do leite nas moléstias do coração 0 regimen lácteo i>óde prestar uteis serviços nas affecções cardíacas, quer sejam dependentes de lesões oro-valvalares quer sejam secundarias, isto é, originadas por moléstia de um outro orgão, como os pulmões, rins ou estomago. Antes de tudo convém declarar que não devemos ter a pre- tenção de, por meio do leite, curar as lesões cardíacas, preten- ção que seria absurda no estado actual da medicina; a sua acção nesta ordem de affecções é puramente palliativa ou symp- tomatica. Mas, nem por isso deixará de ser a til, porquanto elle combaterá symptomas muito penosos e que só por si podem constituir graves perigos para os cardíacos. Passemos rapidamente em revista os effeitos beneiicos que a dieta lactea póde produzir nas affecções do coração. Todos sabem como são frequentes as liydropisias ligadas ás affecções organicas do coração e que gravidade ellas trazem para os pobres doentes, já determinando a morte por asphyxia quando ellas são vísceras, já augmentando a sobrecarga do co- ração, pelo maior embaraço que a anasarca produz na circula- ção periplierica. Pois bem, o leite na opinião de Jaccoud e de outros cardio-pathologistas distinctos, é capaz de subtrahir essas hydropisias e só por isso elle adquire grande valor na thera- peutica das affecções cardíacas. Os successos do leite contra as hydropisias cardíacas, por serem frequentes, estão longe de serem constantes como em cer- tas classes de hydropisias, das quaes nos occuparemos adiante. Potain é de opinião que o leite é principalmente vantajoso, quando a hydropisia é dependente de uma moléstia renal secun- daria ou de uma phlogose intercurrente das serosas. E’ preciso distinguir os casos em que o leite será util ou não: Quando, apesar de uma hydropisia mais ou menos consi- derável, as affecções não estiverem muito adiantadas; quando a par de um pulso regular e forte, nota-se ainda uma certa ener- gia na impulsão cardíaca, póde-se estar quasi certo de livrar os doentes da sim hydropisia por meio do tratamento lácteo. Quando porém as moléstias forem muito antigas, a ponto de determina- rem a steatose do myocardio, cuja força contractil será notavel- mente enfraquecida, então o leite não exercerá sua acção liy- dragoga e será impotente para dissipar a hydropisia. Em semelhantes condições de asystolia será contra-indicado, pelo menos no principio, porquanto irá simplesmente augmentar a repleição vascular e trazer mais um obstáculo á diurese, pelo que, longe de ser util elle será até prejudicial. E’ nestas con- dições que Jaccoud aconselha em primeiro lugar a digitalis como fim de augmentar a força contractil do coração ou os drásticos com o fim de diminuir o obstáculo, representado pela massa liquida. Obtidos os effeitos dessa medicação, elle dá o leite e as hy- dropisias serão dissipadas. Nisto cifram-se os serviços pi estados pelo leite nas moléstias car- díacas, segundo o professor Jaccoud; e com effeito, si ha outros, os mais importantes são, sem duvida alguma, os obtidos contra a hydro- pisia. Alguns autores, porém, e de não menos mérito, têm as- signalado outros effeitos beneficos produzidos pela medicação lactea, os quaes passaremos á descrever. A albuminúria, symptoma também frequente das cardiopa- thias, poderá desapparecer, si tivermos o cuidado de prolongar o regimen lácteo por um tempo mais ou menos longo. Porém os successos aqui não são tão constantes e os casos de insuc- cesso são em geral de um prognostico grave. Lemoyne que reuniu em sua these muitas observações colhidas na clinica de Jaccoud, viu em 5 casos de albuminúria consecutiva á affecções cardíacas, 3 curarem-se da albuminúria depois de dous mezes de tratamento. Já vimos em outro lugar os effeitos do leite em casos de stases renaes, devidas á lesões do centro circulatório ; assim omo também já fizemos ver os seus effeitos salutares contra os ac- cidentes cardíacos consecutivos á neplirite intersticial, mesmo que não haja edemas; o que prova que a acção diurética, posto que a principal, não é a unica que o leite exerce nas affecções cardíacas. Por sua acção sedativa, elle acalmará symptomas bem pe- nosos como a dyspnéa e as palpitações. Como alimento de facil digestibilidade elle convirá aos esto- magos dos cardíacos que apresentam mais ou menos um certo gráo de dyspepsia determinada pelas hyperemias passivas, a que estão sujeitas as viceras em geral. Evidentemente a dieta lactea tem effeitos múltiplos. O professor Peter (1) que dá grande importância ao leite no tratamento das affecções cardíacas, assignala os seus effeitos do seguinte modo: “Em primeiro lugar o leite exerce um effeito diurético, cuja consequência physica é diminuir a tensão vas- cular, e por conseguinte o trabalho do coração; em segundo lugar, elle será ainda util, actuando dynamicamente, neste sen- tido, que a dieta lactea é também um meio de tratamento do fígado e rins em trabalho de sclerose, fígado e rins que func- cionam menos activamente pelo facto da congestão vascular e que sob a influencia da dieta lactea readiquirem uma parte da sua actividade secretora. Ora, nós sabemos, que a secreção mais activa da bile e da urina é ainda um meio indirecto de dimi- nuir a sobrecarga sanguínea e por conseguinte de attenuar a tensão vascular e o trabalho do musculo cardíaco. Emfim, não é menos util para o fígado do que para os rins, ser atravessado por um sangue contendo o soro do leite ; ha como que uma acção tópica salutar ao tecido hyperemiado, hyperemia que tende a phlogose, ou pelo menos a sclerose atropliica. ” O leite é sobretudo indicado, diz Peter, na phase das hy- peremias visceraes, quando ha dyspnéa mais ou menos intensa, diminuição da secreção urinaria e começo de anasarca, isto é, na phase que elle chama dynamica ; phase em que se produzem as perturbações da liematopoiese e á qual succede ás vezes muito rapidamente o periodo de cachexia. M. Potain diz, que c leite é particularmente efficaz nas mo- léstias secundarias do coração, nas hypertrophias ou dilatações simples dependentes de uma moléstia renal ou gastrica. O re- gímen lácteo, trazendo um repouso mais completo para esses orgãos, modifica em um caso o estado dos rins, em outro o do estomago ; pelo que para ser efficaz elle recommenda que o re- gímen seja absoluto e prolongado. (1) Artigo do Bulletin thérapeutique, Fev. 1883. Póde ser ainda de alguma utilidade em casos de palpitações reflexas, tendo por ponto de partida uma moléstia gastrica. Encontram-se na memória de Pécliolier tres factos de hyper- trophia essencial do coração curados pelo regimen lácteo ; essas observações não podem merecer grande confiança, não só pela falta de rigor nos seus diagnósticos, como também elle recorria simultaneamente a digitalis. Parece-nos todavia que a dieta la ctea empregada a titulo de alimentação insuíRciente, póde ser de alguma utilidade no tratamento das hypertrophias activas. M. Leudet (de Rouen) fez observar que o leite' dá bons re sultados especialmente nos cardíacos alcoolicos não caclieticos, mas que quando trata-se de cacheticos, elle é a maior parte das vezes imporficuo. Uma condição é essencial para que o leite dê bons resultados, condição aliás exigida em todos os casos, é que elle seja bem tolerado pelo estomago. Ha, com effeito, casos, em que, quer em virtude de uma repugnância natural, quer haja mesmo uma impotência digestiva, nota-se uma intolerância quasi absoluta do estomago pelo leite; intolerância que se manifesta sobretudo em homens de certa idade, e que se traduz quasi sempre por vomitos ou diarrhéa. E’ portanto questão importante fazer tolerar o leite. Além pois dos meios que já deixamos descriptos em outro lugar, achamos de conveniência reproduzir os que aconselha o professor Peter : (1) Si o leite fôr bem tolerado, elle aconselha o uso exclusivo por duas ou tres semanas, na dóse de 2 ou 3 litros por dia em pequenas quantidades de cada vez. Depois passa ao regimen mixto e mais tarde á alimentação ordinaria, que será conservada por uma ou duas semanas, para recomeçar-se depois a dieta la- ctea pela mesma fórma. Desta maneira, diz elle, evita-se a re- pugnância, e tem-se todos os benefícios desejados. Si o leite provoca eructações acidas, elle prescreve o uso, tres vezes por dia, de um papel contendo 25 centigr. de bicarbonato de soda, 10 centigr. de giz preparado e 1 centigr. de extracto (1) Loc. cit. de noz-vomica. Contra a diarrhéa, elle prescreve papeis contendo 50 centigr. de sub-nitrato de bismutho, 1 centrigr. de extracto de noz-vomica e 1 ou 2 centrigr. de opio bruto em pó. Quando ha indicação para a dieta lactea, Peter diz, que em geral é bom alternar essa dieta com o uso da digitalis ; assim se fará bem em dar a digitalis durante uma semana e o leite nas duas semanas seguintes. Elle ainda aconselha a strychnina ou as preparações de noz-vomica durante os dias em que se faz uso do leite, na dóse de 1 a 2 pilulas de strychnina de 1 milligr. cada uma por dia, ou 2 a 3 pilulas de 1 centrigr. de extracto de noz- vomica. Para elle a strychnina obra efíicazmente sobre a contra- ctilidade do musculo cardíaco. VI Emprego do leite nas hydropisias Desde Hippocratis que o leite tem sido empregado no tra- tamento das hydropisias; foi porém depois de uma época de esquecimento e mesmo de descrédito, que em 1831 Chrèstien, professor em Montpellier, veiu de novo chamar a attenção dos médicos sobre esse meio de tratamento das hydropisias e fel-o de tal sorte a ponto de exagerar os seus effeitos. Chrèstien demonstrou que o leite produzia muitas vezes a cura em casos rebeldes a todos os outros recursos e os seus successos foram de tal sorte constantes que não contribuiram pouco á vulgarisar o seu nome. Elle diz em sua memória que em quasi todos os casos de ascite acompanhada ou não de anasarca, deve-se tentar a dieta lactea antes de ter empregado qualquer outro remedio e como prova de sua efficacia cita muitas observações que são em geral muito deficientes no que diz respeito ao diagnostico da natureza da ascite. Foi Guinier o primeiro que estabeleceu as indicações e con- tra-indicações deste methodo; assim é que elle pensava que a dieta lactea só tem acção contra as hydropisias activas ou de forma liypersthenica, emquanto que nas de fórina asthenica não sómente ella é inefíicaz, como mesmo aggrava a moléstia. Mais tarde outros médicos como Pécholier, Karell, Lemoyne Jaccoud, etc., occuparam-se deste assumpo e contribuíram muito para vulgarisar esse methodo de tratamento das hydropisias. Estes porém, e com especialidade o professor Jaccoud, já sou. beram fazer a distincção dos casos, em que o leite póde convir. E’ aqui que o leite actua quasi unicamente pelo seu poder diurético ou liydragogo; qual porém o mecanismo dessa acção exercida pelo leite a ponto de determinar a reabsorpção dos líquidos \ E’ o que tem procurado explicar diversas theorias mais ou menos engenhosas, mas que em geral não satisfazem o espirito. Assim é que Pécliolier, para explicar a reabsorpção das hy- dropisias, diz que é preciso admittir uma influencia exercida sobre as funcções de absorpção e de exhalação. Cordier explica o augmento das urinas pela quantidade de serosidade reabsorvida. Para elle o leite actua como alimento sobre a economia em geral, modificando ou destruindo a causa ultima das liydropisias ; sob a sua influencia a circulação resta- belece-se, os capillares absorvem o liquido derramado ou infil- trado ; donde augmento de pressão em todo o systema venoso e diurese consecutiva. Para Mackiewickz (1) o regimen lácteo exclusivo deve seus effeitcs, além da acção diurética, á modificação que elle opera na composição do sangue e provavelmente a que elle põe o epitlielio renal em condições as mais favoráveis a sua renovação. Já tratamos das hydropisias dependentes das moléstias car- díacas e renaes, bem como dos derrames pleuriticos; resta-nos portanto sómente fallar das hydropisias chamadas essenciaes ou idiopathicas e de algumas outras symptomaticas. A anasarca e ascite espontâneas a frigore são aquellas em que a medicação lactea dá os melhores e mais rápidos resulta- dos ; infelizmente ellas são as mais raras e a sua frequência tende cada vez mais a diminuir com os progressos da medicina. Ha comtudo hydropisias que se manifestam debaixo da influen- cia do frio, e que não reconhecem por causa alteração material de orgão algum. A sua invasão é ordinariamente acompanhada pelo quadro symptomatico proprio da invasão das moléstias (1) Du regime lacte dans le traitement des néphristes. Thèse de Paris. 18.7. agudas e por uma elevação de temperatura que se conserva por 3 ou 4 dias. E’ depois de passada a febre, que o leite deve ser dado sob a fórma de regimen exclusivo. Uma diurese franca não tardará á se produzir e as hydropisias serão em pouco tempo dissipadas na opinião do professor Jaccoud. Quando mesmo datando de semanas ou mezes, as liydropi- sias a frigore são ainda perfeitamente curáveis pelo regimen lácteo; e a albuminúria que muitas vezes mostra-se no fim de um tempo mais ou menos longo, receberá ou não a influencia benefica do leite conforme fôr a sua significação patliologica. Achamos de utilidade reproduzir aqui a seguinte observação importante da clinica de Jaccoud : Uma mulher de 34 annos, temperamento lympliatico foi atacada de anasarca e ascite que não reconheciam por causa senão a impressão do frio húmido ; depois de quatro mezes de um tratamento improfícuo por meio dos tonicos e da digitalis em outro hospital, a doente apresentou-se na clinica em estado grave : a inchação era geral, havia ascite considerável e edema das pa- redes do ventre, dorso e peito, sem liydrothorax. Ausência de lesão organica apreciável e de albumina nas urinas, cuja quan- tidade era de 900 grammas com uma densidade de 1014. Insti- tuiu-se o regimen lácteo puro e os successos foram brilhantes. Desde o segundo dia estabeleceu-se uma diurese franca que se conservou até o fim do tratamento e no nono dia não havia traço algum de hydropisia. Passou-se ao regimen mixto e 24 dias depois a cura ainda subsistia. Dous dias depois do regimen mixto a albumina appareceu pela primeira vez nas urinas, e desde então conservou-se com oscillações quotidianas notáveis; albuminúria, cuja explicação o exame microscopico não pôde dar. As anasarcas escarlatinosas acompanhadas ou não de albu- minúria estão também na classe das hydropisias, contra as quaes o leite conta os seus maiores triumphos. Essas hydropisias são quasi sempre por conta da determinação renal da escarlatina e nós já vimos os elfeitos da medicação lactea sobre as hydropi- sias nephriticas. Ha porém certas hydropisias próprias do periodo de con- valescença e sem origem renal, que são facilmente curadas pelo regimen lácteo. Quanto a albuminúria concomitante, si ella fôr devida a uma simples descamação epithelial ou a nephrite catarrhal, fa- cilmente ella cederá; porém se reconhecer por causa uma ne- plmte fibrinosa, tornar-se-ha rebelde ao tratamento embora as liydropisias cedam. Nas hydropisias symptomaticas de lesões chronicas dos pul- mões, comc o empliysema extenso e a sclerose pulmonar, a ac- ção do leite é simplesmente palliativa como nas hydropisias cardiacas ; comtudo o beneficio obtido é mais duradouro que nestas, quando as lesões pulmonares não são acompanhadas de lesões cardiacas. A ascite symptomatica da cirrhose hepatica póde ser benefi- camente modificada pelo regimen lácteo, segundo os factos re- feridos por Karell e Pêcliolier. Nós porém acompanhamos o professor Jaccoud, que é de opinião que o leite é inteiramente inefficaz nesses casos, bem como naquelles em que a ascite é dependente de lesões chronicas do intestino ou peritoneo. Jaccoud explica essa resistência da ascite symptomatica á medicação lactea pela diminuição ou falta de acção dos diuré- ticos sobre as desordens dependentes do systema porta, sobre cuja circulação a acção delles é mais indirecta e tardia do que sobre as hydropisias dependentes da circulação geral; donde a superioridade dos drásticos em semelhantes casos. VII Diversas indicações da dieta lactea Temos nos occupado até agora das mais importantes indi- cações do tratamento lácteo. Fazendo uma rapida recapitulação, vê se que o leite por si só é capaz de produzir a cura, como em certas aífecções do tubo gastro-intestinal, certas especies de neplirites e algumas liydropisias quer symptomaticas, quer pro- topatliicas. Em outros casos, como nas moléstias dos appare- lhos respiratório e circulatório e nas pirexias, o leite ainda repre- senta importante papel como um precioso meio adjuvante de outro tratamento, actuando principalmente como alimento recon- stituinte. Além dos casos que ficaram consignados e nos qnaes vimos o leite prestar serviços mais ou menos valiosos, encontramos nos autores outras indicações therapeuticas que tem tido o leite, as quaes, por serem de somenos importância e não se acharem ainda bem averiguadas, reservamos para tratar em separado. Icterícia grane.— Quer seja a manifestação de uma affecção hepatica, quer seja o resultado de uma infecção geral com de- terminação especial para o lado do fígado como querem alguns, os symptomas gravissimos da icterícia grave não deixam de ser o resultado de uma verdadeira toxiemia, devida a retenção de princípios excrementiciaes, cuja natureza não está bem elucidada. Ha portanto certa analogia entre a uremia e a icterícia grave. Nos casos em que a obliteração do canal clioledoco não produz logo os accidentes terríveis da icterícia grave, suppoz-se como Vulpian que as substancias toxicas poderiam ser eliminadas pe- los emunctorios renaes. Segando esta theoria, os accidentes se- rão mais ou menos intensos e mais ou menos jmecoces conforme o gráo de integridade anatómica e funccional da glandula renal. O leite será pois indicado aqui como na uremia pela sua acção . diurética com o fim de provocar uma polyuria e eliminação dos princípios toxicos contidos no sangue. Em um doente de atrophia amarella aguda do fígado, cujas urinas apresentaram, em certa occasião, uma notável diminuição na cifra das matérias extractivas, M. Bouchard lançou mão do regimen lácteo, obtendo logo uma diurese abundante seguida da cura do doente. Achamos pois que esta nova indicação do leite deve merecer a attenção dos práticos. Intoxicação saturina. — E’ ainda como agente diurético que o leite tem sido aconselhado na intoxicação saturnina com o fim de provocar a expnlsão das particulas de chumbo pelos rins, principal via de eliminação desse metal. Segundo as observações de Tan- querel e Didierjean, os operários, que trabalham com chumbo e que fazem uso habitual do leite, ficam assim preservados dos acci- dentes da intoxicação plumbica ou pelo menos retardam muito a sua manisfestação. Obesidade e amenorrliea. — Na parte physiologica deste tra- balho já deixamos demonstrado que o leite empregado como ali- mentação exclusiva em individuos de boa constituição e obesos não tardava a produzir uma diminuição no peso do corpo e um verda- deiro emmagrecimento. Forão baseados neste facto que Karell e Weir Mitchel lançaram mão do regimen lácteo como meio de tra- tamento da obesidade e os resultados foram satisfactorios como provam suas observações e tanto mais promptos, porquanto elles se serviam do leite desnatado, isto é, privado da parte gordurosa. E’ facto de observação, que um dos resultados da obesidade na mulher, são os vicios do fluxo catamenial, dysmenorrhéa e aine- norrliéa; logo, curando-se aquella, o fluxo menstrual se regulari- sará. E’ o que provam os factos observados por Tarnier, o qual, empregando a dieta lactea em mulheres polysarcicas e amenor- rheicas, viu. graças á influencia do leite, a polysarcia desapparecer e a menstruação restabelecer-se. Chlorose. — Déchambre, no artigo do seu Diccionario, pre- screve com successo o uso exclusivo do leite frio nas chloro-anemias ; na fórrna própria das moças núbeis, e que se acompanha geral- mente de fastio, repugnância pelos alimentos gordurosos, in somnia e calor na pelle. A acção do leite neste caso parece ser tónica e sedativa. Póde ser também preconisado com alguma vantagem nas ane- mias secundarias ; porém, condição primordial para dar bons resul- tados, é ser bem supportado pelo estomago dos doentes. Diabetes. - Donkin, medico inglez, propoz curar a diabetes assucarada por meio do regimen lácteo puro ; elle aconselha muitos litros por dia e recommenda que o leite seja privado da nata, que na sua opinião é uma substancia nociva aos diabéticos, mas que na opinião de Bouchardat é pelo contrario muito favorável á alimen- tação dos doentes. Donkin publicou varias observações com as quaes elle pretendeu tornar patente a eíRcacia do regimen lácteo e chegou mesmo a dar a cura como certa se a moléstia não estiver muito adiantada. Segundo suas próprias observações essas curas não eram com- pletas, porquanto o assucar reapparecia nas urinas todas as vezes que os doentes ingeriam alimentos assucarados ou amylaceos. Segundo elle, o assucar de leite não se transformaria em assucar diabético, pois todo elle seria absorvido sob a fórma de acido láctico, opinião contestada por Bouchardat. que viu sempre a quantidade do assacar diabético angmentar todas as vezes que administrava leit° nas g^yeosuricos. E’ esta portanto uma indicação da dieta láctea, que não deve merecer grande attenção da nossa parte, tanto mais quanto, mesmo na Inglaterra, grande numero de médicos mostram-se desfa- voráveis a esse meio de tratamento. Pellagra. — Na opinião de Cii. Boucliard, Roussel e outros o regímen lácteo seria de grande vantagem no tratamento dessa dermatose, tanto como meio prophylactico como curativo. Bou- cliard, em sua memória, fez observar que homens que fazem uso habitual do leite, corno os vaqueiros, gozavam de certa immunidade para esta moléstia. Não acreditamos comtudo em uma acçào especial do leite contra a pellagra. Tudo que se póde esperar delle é como um meio re- constituinte e facilmente capaz de levantar a nutrição dos doentes do mal das Asturias, moléstia que conduz rapidamente a uma anemia profunda, a ponto de produzir a loucura. EUe será portanto util mais como meio dietetico precioso, do que como remedio pro- priamente dito. Moléstias nervosas. — O leite tem sido também preconisado no tratamento de certas moléstias nervosas, como a liysteria, epilepsia, certas manias e liypocliondria. Entre outros médicos que trataram desta questão, nota-se Sydenliam, Tissot, Cheyne, Cliréstien eLépine. Aqui ainda não nos parece que o leite possua virtude alguma especial. Elle obrará vantajosamente como calmante e sedativo do sys- tema nervoso. Eclo.mpsia puerperal.—Já vimos que proveitos póde-se tirar do leite no tratamento da albuminúria das mulheres gravidas ; pois bem, a frequência da eclampsia nas albuminuricas devia levar natu- ralinente os médicos a empregal-o no tratamento desta ultima moléstia. Foi o que fez M. Tarnier que preconisou o leite no tra- tamento preventivo da eclampsia, ao lado dos outros agentes espoliativos. O leite será pois empregado como um diurético dos mais innocentes e como um alimento de facil digestão, podendo ser tolerado facilmente pelos estomagos os mais debilitados. Elle será particularmente indicado, quando houver dysuria, afim de previnir accidentes uremicos ; é uma medicação que nescessita de novos factos em seu ax)oio, porquanto o x>roprio Tarnier é o xmimeiro a manifestar falta de confiança absoluta em seu inetliodo de tratamento. VIII Emprego externo do leite Já falíamos do leite no tratamento das pústulas variolicas, bem como das injecções praticadas nas blenorrliagias. O leite é ainda empregado externamente em fónna de collutorios, gargarejes, loções e cataplasmas. O leite pelos principios graxos que encerra, obra a maneira de liquido emolliente ; x>orém como elle altera-se e acidiíica-se com facilidade, convém que as cataxJasmas sejão reno- vadas a miudo. Também o leite é usado em fórma de clysteres como meio de alimentação. PROPOSIÇÕES CADEIRA DE PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR Alcaloides vegetaes cMmieo-pharmacologicamente considerados I Sertiiner, pharmaceutico allemão, eleve ser considerado como o verdadeiro autor da descoberta dos alcalis vegetaes. II Os alcaloides vegetaes são, uns solielos e lixos, outros liquidos e voláteis. III Os primeiros são em geral crystallisaveis e incolores, e com- poem-se de quatro elementos : azoto, carbono, liydrogeno e oxygeno. IV Os únicos alcaloides liquidos e voláteis de que trata a Phar- macia são: a nicotina e a conicina, que encerram só tres ele- mentos : o azoto, o carbono e o hydrogeno. V Os alcalis fixos são em geral pouco solúveis na agua; elles se dissolvem pelo contrario em quantidade mais ou menos con- siderável no álcool. VI Uns se dissolvem bem no ether puro e no chloroformio, outros são porém insolúveis. VII A maior parte delles são solúveis na glycerina hydratada das pliarmacias. yiii O caracter fundamental dos alcaloides vegetaes, é elles for- marem com os ácidos saes definidos e quasi sempre crystallisaveis. IX A maior parte desses saes são solúveis na agua, álcool e glycerina. Muito poucos o são no etlier ; e todos são insolúveis no cliloroformio. X A cinchonina é um dos poucos alcaloides solidos, que possue uma certa volatibilidade. XI Admitte-se geralmente que os alcaloides existem nos vegetaes em estado de saes. XII As bases organicas solidas são em geral sapidas; todas pos- suem um sabor amargo que, em muitas, é extremamente intenso. XIII Com o fim de obter um effeito tlierapeutico mais rápido e prompto, empregam-se geralmente os saes dos alcaloides e par- ticularmente os saes solúveis na agua. XIV A acção dos alcaloides sobre a economia é geral mente energica e algumas vezes mesmo toxica em pequenas dóses. XV Os alcaloides mais empregados em pliarmacia são : a quinina, a morphina, a atropina, a stryclmina e a pilocarpina. CADEIRA BE PATHOLOGIA EXTERNA Ferimentos por armas de fogo I As desordens produzidas pelos projectis das armas de fogo são, regra geral, feridas contusas simples ou complicadas com a presença de corpos estranhos. II Quando as balas penetram no corpo, produzem ferimentos de differentes formas. III Quando uma bala espherica atravessa a pelle e pára nos tecidos vizinhos, ella fôrma um trajecto em fundo de saco no interior do qual acha-se o projectil. IV Quasi sempre, porém, o trajecto da bala é completo e provido de duas aberturas, uma de entrada e outra de sabida. V A fôrma dessas aberturas tem sido objecto de opiniões con- tradictorias e dependem de muitas condições taes como : fôrma irregular dos projectis, a direcção obliqua da ferida e a distancia em que foi dado o tiro, etc. VI Segnndo Devergie, o oriíicio de entrada é maior qne o de sahida, quando o tiro é dado á queima roupa; o oriíicio de sahida é o maior, quando o tiro é dado de grande distancia. VII Quando a bala cliega obliquamente sobre uma parte, a ferida de entrada é em fórma de goteira e mais extensa que a ferida de sahida. VIII As balas cylindro-conicas são as que produzem desordens mais graves. IX As lesões produzidas no systema osseo são, em geral, frac- turas comminutivas. X As pretendidas lesões determinadas pelo vento da bala não são mais do que graves contusões visceraes. XI Os symptomas dos ferimentos por arma de fogo são geraes ou locaes. Desses symptomas uns são primitivos, outros conse- cutivos. XII A hemorrhagia é uma das mais graves e mais frequentes complicações dos ferimentos por arma de fogo. Distinguem-se em primitivas e secundarias. XIII O diagnostico é facilmente feito pelos coramemorativos e pelo exame da ferida. XIV E’ muito raro obter-se a reunião iminediata nesta especie de ferimentos, por causa da camada de tecidos que soífre a contusão. XV O debridamento da ferida não é aconselhado senão em casos excepcionaes. CADEIRA DE CLINICA DE MOLÉSTIAS CUTANSAS E SYPHIL1TÍCAS Syphilis congénita, influencia relativa dos progenitores na sua producção I Chama-se syphilis congénita uma fôrma de syphilis dos recem- nascidos adquirida durante a vida intra-uterina e transmittida, quer pelo pai durante a fecundação, quer pela mãe durante a gestação. II A syphilis póde ser transmittida pelo pai ou pela mãe iso- ladamente ou por ambos ao mesmo tempo. III A transmissão pelo pai, admittida e contestada por differentes autores, e posto que mais rara, não deixa de ser real. IV Os factos de observação clinica se referem quasi todos á crian- ças originarias de pais syphiliticos, vis'o como os filhos de mães infeccionadas suecumbem pela maior parte, antes, durante ou logo depois do parto. V Entre os partidários da transmissibilidade paterna, alguns acreditam que para a possibilidade dessa transmissão é preciso que o pai esteja affectado de manifestações sypliiliticas por occasião do coito fecundante. VI Um facto muito extraordinário, porém veridico, é que a sy- pliilis póde se transmittir do pai ao íillio sem infeccionar o orga- nismo materno, em cujo seio desenvolve-se o feto infeccionado pela sypliilis. VII A transmissão da sypliilis pela mãe nunca foi contestada e todos os sypliilographos admittem que a infecção materna é mais frequente que a paterna. VIII A mãe póde já achar-se sypliilitica por occasião da conce- pção ou póde infeccionar-se em qualquer dos períodos da gestação. Neste ultimo caso, porém, os autores não estão de accordo sobre a época em que a sypliilis, contrahida pela mãe, póde ser trans- mittida ao feto. IX Mandon não acredita que a mãe infeccionada durante a pre- nhez, possa transmittir a syphilis; mas esta opinião isolada é combatida pela maioria dos syphilographos. X Quer a syphilis seja contrahida antes, quer durante a gestação, o feto morre ordinariamente antes do termo da gestação e é expel- lido por um aborto ou por um parto prematuro, já em estado de putrefacção. XI A transmissão pelos dous progenitores não póde ser contestada, porém está longe de ser fatal, como querem alguns. Ella não é mais do que excessivamente provável se ambos forem syphiliticos. XII Parece que, em todos os casos, a potência da infecção heredi- tária vai esgotando-se, até que chega uma época em que a immu- nidade torna-se completa. XII A syphilis hereditária se manifesta por um certo numero de symptomas constitucionaes que correspondem aos accidentes secun- dários do adulto. XIV A syphilis hereditária não se manifesta, em geral no momento- do nascimento por signal algum exterior. Os casos, em que as crianças nascem magras e com a pelle extremamente descorada e enrugada, são relativamente raros. XV E’ do primeiro ao terceiro mez da vida extra-uterina, que se percebem ordinariamente as primeiras manifestações da syphilis ; é excepcional ver a moléstia se mostrar além dessa época. HIPOCRATIS ÂPHORISMI I Vita brevis, ars longa, occasio pneceps* experientia íallax. jndicium difficile. (Sect. 1.* Ap7i. 1.°) TI Acutorum morborum non ommino sunt certae salntis ant mortis proedictiones. (Sect. 2 A Aph. 19.) III Ubi somnas deliriam sedat, bonum. (Sect. 2.a Ap>h. 2.°) IV Malum lac dare febricitantibus et quibus ilia suspensa mur- mnrant: convenire vero tabidis non admodum valde febricitantibus lac proebere et in febribus longis et languidis et prceter rationem extenuatis. (Sect. 5A Aph. 7.°) V Ad extremos morbos, extrema remedia exquisite, óptima. (Sect. IA Aph. (j.°J VI Naturam morborum curationes ostendunt. (Sect. 2.a Aph. 18.) Esta tliese está conforme os Estatutos.— Rio de Janeiro, 3 de Agosto de 1883. I)r. C. de Almeida. Dr. Benicio de Abreu. Dr. Oscar Bulliões.