FACULDADE DE MEDICINA DO BID DE JANEIRO THISI DO lír. José Borges Eilbeiro áei Cosífl THE SE DISSERTAÇÃO Secção Medica.— Do valor das investigações thermometricas no diagnostico prognostico e tratamento das pyrexias que reinão no Rio de Janeiro. PROPOSIÇÕES SbcçAo Accbssobia.—Caracteres que differencião as manchas e anneis arsenicaes das manchas e anneis antimoniaes. Secção Cirúrgica. — Desarticulação da còxa. Secção Medica. — Diagnostico das aneurismas da aorta. THESE APRESENTADA  FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO EM 4 l)E SETEMBRO DE 1895 E POR ELLA APPROVAD COM DISTINCÇÃO A 15 DE DEZEMBRO DO MESMO ANNO POU Jesé Beraes Bikire rfa fesía NATURAL DO RIO GRANDE DO 8UL Doutor em Medicina e Pliarmaoeutico pela mesma Paculdade FILHO LEGITIMO DE Jose Borges Ribelro da Costa e de D, Adelaide Borges Soares RIO DE JANEIRO Ttpographia Universal de E. & H. Laemmert 71, Rua dos Inválidos, 71 1876 miiiw 111 nim no mo m jmiro DIRECTOR CoNSELHEIEO Dr. VlSCONDE DE SANTA IzABEL. Conselheiro Dr. Babao de Thebesopolis. VICE DIRECTOR SECRGTARIO Db. Caelos Feebeika de Souza Feenandes. LISTES CATHEDUATICO» F. J. do Canto e Mello Castro Mascarenhas,(la cadeira). Physica era geral, e particularmente em suas appli- cacoes a Medicina, Manoel Maria de Moraes e Valle. . . . (2a » ). Ghimica e Mineralogia. (3a » ). Anatomia descriptiva. Doutores t PRIMEIRO AWO SEGUXDO A\\« Joaquim Monteiro Caminhoá . . . .(Ia cadeira). Botanica e Zoologia. Domingos José Freire Júnior . . . .(2a » ). Chimica organica. Francisco Pinheiro Guimarães . . . .(3a » ). Physiologia. (4a » ). Anatomia descriptiva. TERCEtRO ANNO Francisco Pinheiro Guimaraes . . . . (1u cadeira). Physiologia. Conselheiro Antonio Teixeira da Rocha.'2a » ). Anatomia geral e pathologica. Francisco de Menezes Dias da Cruz (Presid.)(3a » ). Palhologia geral. Vicente Gandido Figueira de Saboia . . (-ia » ). Clinica interna (5° e 6° anno). Antonio Ferreira Fran§a (la cadeira). Pathologia externa. Jo3o Damascene da Silva . . . (2a » ). Pathologia interna. Luiz da Cunha Feijo Junior (3a » ). Partos, molestias de mulheres pejadas e paridas QUARTO ANNO e de recem-nascidos. Vicente Gandido Figueira de Saboia, . . (4a » ). Clinica externa (3° e 4° anno). QUINTO AMINO Joao Damascene da Silva . . .(la cadeira). Pathologia interna. Francisco Praxedes de Andrade Pertence.(2a » ). Anatomia topographica, medicina operaloria e apparelhos. Albino Rodrigues de Alvarenga . . . . (3a » ). Materia medica e therapeutica. Joao Vicente Torres-Homem (Examin.) . (4" » ). Clinica interna. SEXTO ANNO Antonio Correade Souza Gosla (Exam.) . . (la cadeira). Hygiene e historia da Medicina. BarSo de Theresopolis {2“ » ). Medicina legal. Ezequiel Correa dos Santos (3s » ). Pharmacia. Jo3o Vicente To res-Homem (43 » ). Clinica interna. Agostinho José de Souza Lima (Examinador) . BenjaminFranklin Ramiz Galvâo João Joaquim Pizarro João Martins Teixeira Augusto Ferreira dos Santos Luiz Pienlzenauer Cláudio Velho da Motta Maia José Pereira Guimarães Pedro Affonso de Carvalho Franco Antonio Caetano de Almeida José Joaquim da Silva João José da Silva João Baptista Kossuth Vinelli LENTES SUBSTITUTOS Secção de Sciencias Âccessorias. >Secçâode Sciencias Cirúrgicas. \ Secção de Sciencias Medicas. N.B. A Faculdade nio approva uem reprovaas opiniftes emittidas nas Theses que Ihe sSo apresentadas. Í MEMÓRIA i MiS MOS A SAUDOSA MEMORIA DE MEU PAI A MINHA AV O A MIMA EXTREM08A MAl ÂIIHM ADORADA ESPOSA A MEUS IRMÃOS E CUNHADOS  MINHA PRIMA A EX SR/ D. BEITA DE CARVALHO DO PAÇO E A SEUS FILHOS k MEU SOGRO i assai fii i s#eM A MEUS PARENTES A MEUS AMIGOS À MI1S MiilSAS A MEUS MESTRES AOS DOUTORANDOS DE 1876 INTRODUCE AO 0 immenso alcance e elevada importância das observações thermometricas no diagnostico, prognostico e tratamento das mo- léstias aguda í em geral, e das pyrexias em particular, nos deci- dirão a escolher para nossa dissertação assumpto tão transcendente, a occupar-nos de um thema, que tão de perto nos diz respeito e que tanto interessa ao medico brazileiro, espectador constante de numerosas entidades pathologicas, peculiares á zona que habita. Estudar um ponto de tao vasta entre nds, aproveitar* para nossa futura pratica as observances e estudos, que ora fazemos, taes forao os moveis, que nos impellirao, nao com o intento de recuar os limites da sciencia, nem mesmo enriquecel-a de novos factos, pois conscios estamos da inopia de nossos recursos em relanao ao immense campo dos conhecimentos medicos; se accres- centarmos que assim teremos satisfeito uma condinao, cumprido um dever perante a Faculdade, justificaremos nossa escolha e seremos dignos da benevolencia de nossos mestres e inclytos juizes. Dividindo o nosso modesto trabalho em tres partes, faremos na primeira um succinto esboço bistorico da therraometria clinica, e apresentaremos algumas de thermo-pathologia geral, indis- pensaveis d comprehensao do assumpto ; iia segunda nos occu- paremos do valor das investigates thermometricas no diagnostico e prognostico das pyrexias que reinao no Eio de Janeiro, e na terceira e ultima do valor d’essas mesmas investigates no sen tratamento. Eis o que pretenclemos, pondo em contribuinao os trabalhos de Wunderlich, Hirtz, Jaccoud, Costa Alvarenga, as sabias do nosso illustrado professor de Clinica medica e as observances, que colhemos, tanto na Clinica interna da Faculdade, como na 9a e 10a enfermarias do hospital da Misericordia a cargo do Him. Sr. Dr. Francisco Jos£ Xavier. DISSERTAÇÃO S«|g»€lAS MEOtCAg Do valor das investigates thermometricas no diagnostic©, prognostic© e tratamento das pyrexias que reindo no Rio de Janeiro. PRIMEIRA PARTE Consignemos os nossos factos, tenliamos um archive onde elles possao ser guardados e depois consultados, e poderemos inais tarde rejeitar como falsas algumas das opinioes que nos sao impostas da Europa, porque entao eataremos habilitados a crear uraa opiniao nacional. (Dr. Torres Homem. Annuario de Obs. 1868.) ESBOgO HISTORICO Perde-se na antiguidade da Medicina a apreciaqao da temperatura do homem no estado morbido, e ja nessas remotas eras, os que se entregavao a arte de curar ligavam grande importancia ao aug- mento da temperatura do corpo. Hippocrates, o venerando patriarcha da Medicina, baseava-se na elevagao da temperatura para diagnosticar a febre ; Galeno, o celebre medico de Pergamo, admittia que o augmento de calor do corpo constituia a essencia da febre. 4 Era a mao o meio uuico empregado pelos antigos para avaliar a temperatura do corpo, que nao podia desse modo ser verificada de uma maneira rigorosa, pois que, de infiel a assim percebida, sao insufficientes as fornecidas por um meio de tao imperfeito; entretanto as observances con- fusas e sem nexo dos medicos antigos nao devem ser lanijadas no olvido, porque constituem os primeiros elementos da therm ome- tria clinica. Do xvii seculo (1626) data a mara vilhosa descoberta do ther- mometro, attribuida por uns a Gralileo, Bacon, Van-Helinont, por outros a Drebbel, medico hollandez e pela m6r parte a Sanctorius, medico veneziano, primeiro qne o applicou nas investi- gates a que procedeu sobre a temperatura humana, presentindo desde entao o valor da thermica nos diversos estados pathologicos, e dando um exemplo, que mais tarde seria imitado e seguido, de resultados tao fecundos e brilhantes. Mais de um seculo decorreu, durante o qual conservou-se a thermometria estacionaria, at<$ que Boerhaave e dous de sens mais distinctos discipulos continuaram a grande obra encetada per Sanctorius. Comquanto Boerhaave admittisse que a frequencia do pulso con- stimia o phenomeno essencial da febre, nao deixou todavia de empregar o thermometro; a de Haen, porem, celebre professor de Vienna (1761), coube a gloria de ter sido o fundador da thermo- metria clinica; fazendo do thermometro nma applicaqao immensa, chegou a conclusoes e resultados preciosos ; entre outras reconheceu a lei que rege a evoluqao normal da temperatura, as remis- soes matutinas e as exacerbates vespertinas no estado febril, o augmento thermlco durante o periodo de calefrio nas febres intermit- tentes, o desaccordo queexiste, em certos doentes, entre o pulso e a temperatura, o augmento de calor em alguns casos nos primeiros momentos depois da morte, finalmente, sua therapeutica fund >se nas fornecidas pelo thermometro. Infelizmente o grande impulse dado por de Haen nao teve imita- dores e nova de decadencia para a thermometria medica; em compensate, porem, recebe a thermopbysiologia grande impulse dos importantes trabalhos de Spallanzani, Ch. Martin na Inglaterra, J. Hunter, Lavoisier e tantos outros. James Currie (1) (1797) applica o thermometro em larga escala nas observances de seus doentes, e estuda as modilicanoes, que soffre a temperatura sob a iufluencia de di versos agentes therapeutic os, os effeitos da agua, tanto fria, quanto quente, do opio, da digital, etc. De 1840 a 1850, uma pleiade de nomes brilhantes tirao a thermo- metria clinica do period© estacionario em que jazia. 0 professor Bouiilaud (2) faz numerosas pesquizas therm ometricas • e generalisa em Franca o emprego do thermometro ; os Drs. Piorry (3), Donne (4), prestao valioso concurso a essa vulgarisagao . 0 illustre professor Anclral (1841), que na phrase do Dr. Wun- derlich, encontra-se sempre na vangaarda do verdadeiro progress© ds sua estabeleceudo preceitos praticos sobre a marcha da tem- peratura em certas molestias, da grande impulse a thermopathologia. Henri Roger (5) publica factos numerosos e de transcendente valia sobre a temperatura medica infantil. At<5 entao as pesquizas e os estudos thermometricos ainda nao tinhao cliegado a esse grdo de que mais tarde deviao attingir; as leis geraes, deduzidas da thermica nos diversos estados pathologicos, ainda nao estavao descobertas; longe de nos, entretanto, escurecer a gloria, que tao devidamente e a partilha desses (1) Medicai Reports on the effects of water cold and warm as a remedy infever and other diseases. (2) Clinique médieale. Paris. (3) Traité de diagnostic et de séméiologie.—Paris, 1840. (4) Recherches sur 1’état du pouls, de la température et de la respiration. Areh. gér. de méd.—Paris, 1835. (5) De la température chez les enfanls á Pétat physiologique et pathologique. Arch. gén* de méd.—Paris, 1844 a 1845. obreiros infatigaveis, que superaudo mil obices, enriquecerao a sciencia com innnmeros e valiosissimos factos. Em 1850 e sobretudo nestes doze ultimos annos, attingio a thermo- metria clinica sen raaior esplendor, devido aos afanosos estudos dos eminentes observadores allemaes Barensprung (6), Tran be (7), Wun- derlich (8), tres vultos que symbolisao o desse pre- cioso ramo dos conhecimentos medicos. 0 illnstre professor de Leipzig come continuo. Este typo seria constituído por uma febre apre- sentando durante seu periodo de estado a mesma intensidade : thermometricamente não existe; pode a febre ser continua quanto á sua persistência, nunca quanto a seu gráo. 2. Typo sub-continuo. Caracterisado por oscillações quotidianas de alguns décimos de gráo. 3. Typo remittente. A febre nunca cessa, mas apresenta em sua intensidade oscillações consideráveis, que podem abranger de 1* a 2o e mesmo um pouco mais, sem nunca attingir todavia a media normal. 4. Typo intermittente. A febre apresenta accessos ou paroxismos. em cujos intervallos a temperatura é normal, (apyrexia). Quando os intervallos são sensivelmente iguaes, o typo é chamado periodico. Period©* tliermicos. Admittem os auctores tres perlodos ou estadios em todas as raolestias febris: 1°, periodo inicial, ascendente on pyrogenetico (Wunderlich) ; 2U, periodo estacionario, acmeiforme ou de fastigio ; 3°, periodo de termina^ao. l.° Periodo inicial. A observa9ao deste periodo quasi nunca 6 completa, porque a m6r parte dos doentes so recorre ao medico em estado adiantado de molestia. Comprehende este estadio o tempo decorrido desde o come90 da ascensao thermometrica acima da temperatura normal, at£ o ponto era que o calor tem attingido sen maximo no curso da molestia. A, ascensao thermometrica apresenta dons typos : o typo rapido e o typo lento. No primeiro a temperatura sobe rapidamente e de raodo quasi continue, attingindo seu maior grao em algumas boras (febre intermittente), em urn dia, ou quando muito 36 boras (pneumonia, variola, escarlatina). No segundo a ascensao se faz de um modo vagaroso e gradual e o maximo so se manifesta no fim de tres a seis dias (febre typhoide, sarampao regular). Este typo apresenta duas variedades : a, ascensao gradual com exacerbates cada vez mais fortes, cliamada pelo professor Jaccoud, augmento por oscillagdes ascendentes, em zig-zag ascensao regular (Costa Alvarenga); h ascensao gradual e muito irregular, observada em um grande numero de molestias atypicas e de cyclo mal definido (sarampao anomalo, rheumatismo polyarticular agudo, peritonite , etc.), e denominada por Alvarenga ascensdo irregular. E de observato que, a uma ascensao rapida no periodo pyrogenetico, succedem periodos de fastigio e terminate tambem rapidos, donde a conclusao importante, que em geral tanto mais benigna serd a molestia, quanto mais rapido tiver sido o periodo pyrogenetico. 2.° Periodo estacionario ou de fastigio.— 0 fastigio 6 o periodo em que a febre tem chegado a sen complete desenvolvimento ; nelle apresenta a columna thermometi ica numerosas variances, depen- dentes das remissoes e exacerbates da molestia, de phenomenos acci- dentaes. Tres sao os typos deste periodo : typo culminante, typo continue on oscillante e typo descontinuo on remittente. 0 primeiro em que a temperatura se conserva no maximo apenas algumas horas, um, dous, quando muito tres dias (fastigium iw mu> (9* mmO. £>. H-" -4 ) , £ 4 ■A-M'M-OO, c w > I jVt t<' , Jcv£ tH«i) iVe (9*4.h$. de i*nu>. /C. m-'" -V _) JV.° 2 .WtHiWHH-, £ 6 «.X 41 -t) íí t it <■«* { 3A«UUe,£ *• M) Jv.° & e*yu&t- . ,>a Htj 1 (ki»/ . (10* eivf. £.i*# 5 ) (i > Alia ft) Alta fl) AUm JV.° 7 !íf . ( .Sk" J*»«4vei, tv" jf ) Jfouvewt , %c> . foXte, temp. , $. H * 1# ) (1 } Fo(vU com sul$.l>t e '(<'iii j VúeuAe j)u fit 01>.) <\ 19 20 H. 24 (in. coast, forte, sanguin. (l A. demvUstjS' Isabel L.n. 14 - 1874 II. 36 an. const forte, saiujuuvco S. Isabel 18 74 J Tart. emetico o,o5 2 Sutf. qq 1 qr. 3 SuJf. qq 0,60 4 AlUv J Sulf. qq 1 ffr. 2 IdtAn 1 gr 3 I cUm 120 cerU Xe\v\ÀVCevdfa Ihfuxyu itj p (u> it) e*v Idem 1 íca\\aXX?mKv f)t Ay |>lu>uVu 23 JT., 19 ait,, const.forte, temp. sccruf S. Lsahet, L rv.5 - 1874- J 'farqoUivo duiphoretico 2 Sulf. de quinina* 1 gram. 3 I de-m. 1 gr. 4 Sulf. de rtKUjn. Sulf qq 5 Aqoa, 180 qr Tinet de diq. 2 ditcu, - Tinct. de verceb-itux. tí got 6 Titut.ileeLuiit.-120 cent. alc . cU ver ah' 3yot. 7 Eryotincv 8 Aq. uiyleza- - Sulf. qq 9 Alta. 33 amplas e desiguaes, abrangendo 0o,5 ou Io e que nunca attingem a média pliysiologica; este periodo tem uma duração muito varia- vel, segundo a gravidade da moléstia; muito longo em uma febre remittente biliosa typhoidéa grave, pode terminar-se em alguns dias quando se trata de uma simples remittente paludosa. 0 terceiro periodo, finalmente, 6 constituido por oscillates des- cendentcs nos casos favoraveis, podendo cliegar a gradates in- feriores a normal, on vezes ascendentes, quando a molestia termina fataluiente, do que se observa um excmplo no qnadro n. 22. Da temperatliira nas lehrest peruiciojias. Toda e qualquer manifest do impaludismo pdde apresentar o caracter pernicioso. Como 6 sabido, a perniciosidade caracterisa-se, on pela aggravate de um dos estadios do accesso intermittente, ou pelo apparecimento de um phenomeno novo, insolito, estranho d symptomatologia do paroxismo e indicando gravidade extrema. Varias vezes tem sido esta capital theatro de verdadeiras epi- demias de febres perniciosas. A primeira, de qne dA noticia o distincto pratico brazileiro o Sr. Conselheiro Pereira Rego no seu—Esboço historico, appareceu em 1556, a segunda em 1784, a terceira em 1819 5 de todas porém a mais notável por sua exagerada morta- lidade foi a que se desenvolveu em íins de 1829 para 1830. Independente, porém, dessas epidemias, raro é o anno em que não se deplore a perda de numerosas victimas de accessos perni- ciosos. O diagnostic© dessas pyrexias tao traicjoeiras, ou miuto facil, ou muito difficil; facil, quando o accesso pernicioso 6 precedido cie accessos intermittentes francos ; se, porém, o accesso pernicioso fôr o primeiro phenomeno morbido, se apresentar o typo continuo, o seu diagnostico offerecerá grandes difficuldades e immensa será a responsabilidade do medico se esse diagnostico não fôr prompta- mente estabelecido e logo após seguido de energica therapeutica. Mas, quaes os meios de que pode o clinico dispor, quaes os ele- mentos a qne deve recorrer para estabelecer tal diagnostico? O thermometro, meio exploratorio tão precioso, infallivel mesmo no diagnostico de outros estados morbidos, no caso vertente perde todo seu prestigio, porque nada de positivo se conhece a respeito da marcha thermica nas febres perniciosas. Alguns exemplos demonstrarão nossa asserção. José de Barros, Portuguez, de 22 annos, const. fraca, solteiro, trabalhador, entrou para o hospital da Mizericordia no dia 13 de Janeiro de 1875 e occupou o leito n. 23 da 10a enfermaria de medicina . As 5 horas da tarde o encontrámos em decúbito dorsal, nimia- mente pallido, olhar desfallecido, prostração extrema, sub-delirio, suores profusos inundando-lhe o corpo, gemidos constantes, respi- ração anciosa; lingua coberta de uma saburra branca e rubra no apice; região abdominal extremamente sensivel; figado e baço muito augmentados de volume. O doente não nos ponde fornecer commemorativos. A exploração axillar indicou 38o, 7 ; no dia seguinte falleceu ás 8 horas da manhã. André Tofanelli, Italiano, de 46 annos, const. forte, temperamento sanguineo, solteiro, criado, entrou para o hospital no dúj 29 de Maio do corrente anno, e occupou o leito n. 8 da enfermaria de Santa Izabel. Sentia-se doente, havia 15 dias; tinha frequentemente febre, acompanhada de cephalalgia e dores vagas pelo corpo. Quando o examinámos, apresentava a face animada, conjunctivas oculares injectadas, olhar brilhante e um tanto desvairado, cephalalgia 35 intensa, regiao abdominal nmito sensivel, figado e augmen- tados de volume, temperatura 37°,7. 0 diagnostics de accesso pernicioso estabelecido por nosso mestre foi confirmado pelo sulfato de quinina; nos dias subsequentes a tern- peratura foi sempre normal e o doente teve alta, curado no dia 8 de Junho. Joaquim Ribeiro, Portuguez, 42 annos, forte, tempe- ramento sanguineo, solteiro, alfaiate, recolheu-se d Santa Casa no dia 14 de Junho e occupou o leito n. 4 da enfermaria de Santa Izabel. a sentir-se doente no dia 11, em que foi accommettido de um grande calefrio, segnido em breve de cephalalgia intensa, t>ensa(;ao de calor, tosse, pontada abaixo do mamelao direito, alguns escarros estriados de sangue. A auscultate revelou a existencia de ruido de attrito, uma pole- gada abaixo do mamelao direito e alguns estertores sub-crepitantes na parte media e posterior do pulmao do mesmo lado. Na tarde desse dia marcou o thermometro 40°,5 e na manha do dia seguinte 36°,8. Diagnostic© : Accesso pernicioso, provocando uma hyperemia limi- tada da pleura. 0 Dr. Lejollec (30) descrevendo os symptomas de uma febre per- niciosa de fórma comatosa, assim se exprime: « Os movimentos do coração são precipita- dos, o pulso que era a principio lento e duro, torna-se ao depois depressivel e rápido; a pelle apresenta-se cada vez mais secca. A temperatura axillar excede 41°, e attinge algumas vezes 44.° A insensibilidade torna-se completa; emfim a morte sobrevem, sem que a pelle tenha recuperado suas funcções, e muito tempo depois, o corpo conserva seu calor. Tres quartos de hora depois, pudemos observar mais de 41.° » (30) De 1’influence des hautes temperatures sur la production des accee pernicieux dans les pays chauds. These de J'aris, 1873. 36 Em um caso de accesso pernicioso de forma ataxica, elle observa uma temperatura de 41°,5, em um outro de forma comatosa 42.° / A vista, pois, de temperaturas tao diversas, ora muito elevadas, ora quasi normaes, ve-se qual a irregularidade da marcha thermica nas febres perniciosas, tornando-se por conseguinte extremamente difficil, senao impossivel, referi-la a um cyclo determiuado. Na falta, pois, de um recurso tao precioso como o thermometro, para nos guiar em diagnostic© tao difficil e urgente, recorreremos aos importantissimos signaes formulados pelo professor Torres- Honiem, os quaes preeneliem tao grande lacuna da pyretologia palustre. Ei-los ; 1. A rapidez com que se desenvolvem os phenomenos morbidos e adquirem o máximo de sua intensidade. 2. A desharmonia estranha que se nota nos symptomas, a ma- neira insólita por que se achão grupados, de modo que não podem ser referidos a uma moléstia determinada. 3. A gravidade do pbenomeno ou dos phenomenos que denuncião a perniciosidade. 4. O desenvolvimento rápido que, entre nós principal mente, ad- quire o íigado e ás vezes também o baço. Da temperatura ua febre ivplioltle. Difficil serla lembrar todos os trabalhos de que tem si do objecto a febre typlioide, debaixo do ponto de vista de sua marcba ther- mica. Numerosas observances da temperatura nesta pyrexia permittirao estabelecer regras, que, por sna fixidade, offerecem o mais alto inte- resse pratico e as quaes admiravelmente expostas por Wunderlich, tem sido commentadas e verificadas por Griesinger, Jaccoud, Hirtz, Sde, LabdCj Bollenat e outros; de tantas investigan-oes result&rao 37 as mais precisas, dados os mais preciosos para o diagnostico, prognostico e tratamento desta idoy 2 5 26 H., 26 an. temp, lymphatico ■ S.lsah. L.n.iti, 1874 H., IS an. sang.,const. medíocre, 13 d, (te mvlest. S. ísab. L.iv. Sb, 1874 1 TofX-to torucoc 2 do Porto - cut rcuchio, bravos, rey. prefer diat com : Tinct. lie vateruuvoc i Vuvayre aromcct. j a'a' 6 Aimnon . twj. 30 yr. + Morte 1 Ipec . Su4f. qq I gr. 2 qq ISO ceru. 3 Cont. o suif. em poção 4- Loc. com vituig. ctroxruit. 6 Poção ton-ic. ■h Morte tyeíyte; 2 7 H2o a*v., eonst .Jvaetv, temp. lymphat.-S d. de molest S. Isnhei, X n . 11 Vmho da I'or to 200 yr. 2 Ajiuvtc a- p oc. 30 gr. aU Extr. lit de gum. 3 „ cogn. e J gr. tie cart, tie Tmct. can-el. 4 ,, ammon, „ almiec- S „ 3 Alcool XnropOf luranj. 30 „ + Morte « Para os medicos doRiode Janeiro, sobretudo, estes preceitos sao de muito valor, porque durante os mezes de rerao reina nesta capital uma pyrexia, de natnreza paludosa e typo remittente, que se reveste de grande nnmero dos symptomas da febre typhoide, e que a nao ser a elevada temperatua que logo no primeiro dia da molestia apresentao os doentes (40°), facilmente se confundiria com ella. E verdade que a marcha de uma d muito diversa da marcba da outra ; que na remittente paludosa nao ha tympanismo nem diarrhea, senao muito raras vezes; pordm se attendermos para a necessidade urgente que tern o medico de um diagnos- tico seguro logo nas primeiras 24 horas para decidir-se a empre- gar on nao o sulfato de qulnina em alta dose; se tivermos em vista que entre n6s a verdadeira febre typhoide quasi sempre vem acompanhada de constipacjao de ventre durante o primeiro septenario e na febre remittente paludosa nota-se fis vezes uma diarrhda biliosa, nao poderemos deixar de proclamar o thermometro como um recurso efficaz para o diagnostico differencial. » Se o estudo clinico da temperatura na febre typboide tem grande importancia para estabelecer o diagnostico, nao £ menor sua utildade para esclarecer o prognostico d’essa pyrexia. Em todos os casos benignos on graves, o estadio inicial 6 sempre o mesmo e ponca luz offerece ao prognostico ; £ no periodo estacionario que se encontram dados importantes, forneci- dos por sna duraqao, pela temperatura media em torno da qnal se fazem as oscilkujoes dinrnas e pelas remissbes matutinas. Nos casos benignos, o periodo d’estado tem uma nmito menor que nos graves e desde o dm do segundo septenario on principio do terceiro, v6-se o estadio de declinac^ao. 0 ponto fixo, ao redor do qual oscillao as temperaturas da manlia e da tarde, £ inenos elevado qne nos casos graves, quasi sempre inferior a 40°. As remissoes matutinas sao muito mais fortes nos casos benignos; com effeito, se as temperaturas da tarde se mantiverem entre 39°,5 e 40° e se as da manha forem de 0°,5 ou 1° mais baixas e se isto tiver lugar regularmente cada dia, 6 quasi certo que a molestia termine pela cura (quadro n. 24). A febre typhoide sera pelo contrario extremamente grave, quando pela manha o thermometro marcar 40° e mais, a tarde 41° e al£m? ou quando, no fim da segunda semana, a elevacjao da temperatura for sempre crescente; de uma maneira geral p6de-se dizer que o algarismo de 41° nao se encontra frequentemente e nao £ observado senao nos casos mortaes (quadro n. 26). O prognostico e ainda fatal quando a temperatura da manha attinge on excede muitos dias seguidos 40°. Com quanto a gravidade de uma febre typhoide se ache na razao directa do maximo attingido e de sua persistencia, todavia devem outras condi9oes ser tomadas era considerate; eis o que a esse respeito nos diz Griesinger: « Seria completamente erroneo acreditar simplesmente que as temperaturas baixas sejao boas e as elevadas mds; um abaixamento da temperatura sem melhora nos outros phenomenos 6 muitas vezes de triste presagio no segundo periodo da molestia ; podemos, durante semanas inteiras, constatar uma temperatura media ao lado de symptomas mui perigosos pro- duzidos pelo marasmo e prostrate. » A despeito de uma marcha cyclica tao caracteristica, qual a da febre typhoide, ser£ sempre facil estabelecer o diagnostics e nao havera outros estados morbidos que possao simular o typho abdominal ? A febre typhoide, no periodo inicial sobretudo, apresenta symp- tomas, que sao communs a muitas outras affec9oes, taes como a febre intermittente acompanhada de embara90 gastrico, a pneu- monia de forma typhoidea, a variola, o catarrho gastro-intestinal. Antes de se ter feito o estudo clinico da temperatura nesses di- versos estados pathologicos, em quanto a molestia se nao tivesse revelado por sens signaes on symptomas pathognomonicos, era sen diagnostico differencial extremamente difficil; entre nos, onde abundao pyrexias graves, revestindo muito commummente a forma typhoidea franca e simulando a dothienenteria gennina e classica, essa difficnldade toma grandes propor^oes. « Assim como ha no Rio de Janeiro febres paludosas intermit- tentes e sobretudo remittentes, que simulao uma febre typhoide, ha tambem verdadeiras dothienenterias, com graves lesoes dos intes- tinos, com extensas e profundas ulcerates nos pontos correspon- dentes as glandulas de Peyer e Brunner, que se apresentao revestidas dos caracteres de uma febre intermittente e quo- tidiana on e ds vezes dos de uma febre remittente biliosa; todavia cumpre confessar, segundo me demonstrarao dous factos seguidos de autopsia, nestes casos o meteorismo abdominal manifes- ta-se ainda mesmo que faltem todos os otitros symptomas da molestia. < Don grande importancia ao diagnostico differencial entre uuia febre paludosa typhoidea e uma febre typhoide legitima, visto como a primeira nao se cura sem de quinina e na segunda estas sao nocivas (84).» Vejamos quaes os recursos, que nos presta o thermometro no diagnostico differencial de algumas das raolestias que enumerdmos. Certas febres intermittentes, cujos paroxismos nao sao seguidos de apyrexia, e que sao acorapanhadas de gastrico, vomitos, cephalalgia podem, com effeito, fazer-nos acreditar na existencia de uma febre typhoide ; mas, se attenderraos A marcha da temperatura nos dons casos, verificaremos que e muito diversa; no primeiro, a temperatura sobe rapidamente, attinge em duas horas mais ou menos 40°, depois desce tambem bruscamente e como a febre persiste no intervallo dos accesses, a columna thermometrica para, nao na media physiologica, mas em uma temperatura superior, 34) Dr. Torres Homem.—Aunuario de Observances, 1868. finalmente, como em geral o accesso tem lugar antes do meio dia a temperatura da tarde c inferior a da manha. Na febre typhoide nada disto se observa ; a ascensao da tempe- ratura e lenta e gradual; nos tres primeiros dias e raro observar uma temperatura de 40° e de ordinario a temperatura da tarde e sempre superior 4 da manha. Na pneumonia, comquanto a rapidez da elevaQao thermometrica no primeiro periodo seja um excellente caracter para o dlagnostico, todavia as difficuldades sao algumas vezes de tal ordem, que o professor Wunderlich diz que pode-se confundir a tebre typhoide com certas pneumonias, nas quaes a 6 tardia, sendo muitas vezes impossivel durante dous ou tres dias, distinguir, so por meio da temperatura, esses casos da febre typhoide. Mesmo nos casos de pneumonia, em que se tem constatado a lesao dos pulmoes pelo exame estetboscopico, pode-se ainda perguntar se uma febre typhoide nao se acha ao lado da molestia pulmonar; em taes casos, nao se pode chegar a resolver o problema senao por uma observatjao prolongada durante muitos dias. Na variola, a marcha thermica d continuamente ascendente no periodo iniciale nao se encontrao as remissoes matutinas observadas na febre typboide, descrevendo uma linlia quebrada ; admittindo mesmo que a linha ascendente da variola apresente algumas remis- soes no periodo d’erupcjao, ver-se-ha a teraperatura descer con- sideravelmente em 24 on 36 boras, logo que o exanthema se tenha completamente manifestado. No catarrho gastro-intestinal pode-se nao raras vezes observar na tarde do primeiro dia uma temperatura de 40°, o que exclue im- mediatamente ©diagnostic© do iloeo-typho : seu periodo d muito irregularecaracterisadoporamplas oscillates, divergindoassim da marcha typica da dothienenteria, finalmente,' no periodo terminal a defervescencia se faz deummodo brusco e rapido, nafebre typhoide ella d ordinariamente lenta e gradual. 81a teni|se2*a(iii>a nast fobres eruptlvasi. Immensas vantagens colherd ainda o medico clinico do emprego do thermometro nas febres eruptivas, que, muito communs entre nos, tantas victimas tern feito reinando ora endemica, ora epidemica- mente; na thermometria ainda encontrard elle elementos seguros e preciosos, que o guiardo no diagnostico, prognostico e tratamento dessas tao graves pyrexias. De trabalhos devidos a Wunderlich, Roger, Frederic Moreau, Charles Amiard e outros, resulta que, de todas as febres eruptivas a que mais eleva a temperatura e a escarlatina, em segundo lugar a variola e em terceiro e ultimo o sarampao, verdade esta que constantemente e conhrmada pelas observa9oes thermometricas. No sarampao e na escarlatina a da temperatura 6 pro- porcional a intensidade da ; na variola, por&n, nao 6 raro observar-se o periodo de invasao. acompanhado de um cortejo imponente de outros symptomas, seguido entretanto de uma erupcjao discreta. Nas febres eruptivas as anomalias e complicates sao muito frequentes; mas, como sempre, nos sao reveladas pela marcha thermica. Variola e varioloid©. Exporemos simultaneamente a marclia da temperatura na variola e na varioloide, formas clinicas pelas quaes s6e manifestar-se a variolosa, dando lugar a dons typos febris, se melhantes no periodo inicial, mas differentes na evolmjao ulterior da molestia. No estadio initial nao d possivel distinguir essas duas modalidades da variola; mas desde que a ernpgao se desenvolve, a marcha ther- mica d um dos mais preciosos dados para estabelecer a distincgao. porque na variola ella apresenta clous cyclos caracteristicos ; febre inicial, on de erupcdo, e febre secundaria ou de suppuracao e as vezes segundo de Leipzig e Wunderlich um terceiro cyclo, febre terciaria ou de secca; na varioloide, por&n, existindo sempre a febre inicial, falta a de suppuracao. Tanto ern uma como em outra no periodo inicial, a temperatura eleva-se logo no primeiro on segundo dia a um grdo consideravel (40°,40°,5); proseguindo em sua marcha pode o maximo ser attingido no segundo, terceiro on mesmo quarto dia com remissoes matutinas extremamente fracas; raramente e elle representado portemperatura inferior a 40° (quadros ns. 28 e 29): tern este periodo uma de dons a cinco dias. Desde que os botoes variolicos se tern desen volvido, sobrevem a defervescencia, que geralraente no quarto on sexto dia de molestia. Ella pode ser continua e durar apenas vinte e quatro boras e algumas vezes menos; on entao descontinua 'e durar dous ou tres dias, sendo interrompida por ligeiras vespertinas. Na varioloide regular a defervescencia produz-se tambem de um modo brusco e em 24 boras a temperatura cahe ao nivel physiologico on mesmo abaixo. Na variola confluente a temperatura mmca desce ao estado normal; conserva-se cm grdossub-febris com fluctuates quotidianas e prolonga-se atd ao momento em que a temperatura torna a elevar-se, constituindo esse novo movimento febril a febre secundaria ou de a qual costuma declarar-se do sexto ao oitavo dia e apresenta uma duratoindeterminada, variando com a intensidade da molestia ; esta nova ascensao se faz de um modo mais ou menos rapido e a temparatura attinge ordinariamente em tres ou quatro dias sen apogeo, que d sempre inferior ao da febre inicial, a menos que nao sobrevenha alguma complica OJCiO^to.L 28 29 Horn,. 2 5 SIsccbel 1874 Horn. 16 . S. Isabel 1874 (Si\ tt\ IH |> il <> 30 31 8 cuv. 2 d. dt molest. Crutnfu , 6 cut . 2 d. de m&lest 1 Começo da trup^ãc 1 Conveço da erujifão C> f I H i\ 32 CruutfM', 4 cut. const. forte . teiHp. sanq . I F lujccto da . faxe TERCEIRA E ULTIMA PARTE Do valor das investigates themometricas no tratamento das pyrexias que reinao no Rio de Janeiro. Immensa importancia deve merecer do medico o element© febre, que, attingindo frequentementetemperaturasbyperpyreticas, constitue urn phenomeno de extrema gravidade. / E facto corrente na sciencia que a temperatura de 41°, continuada por alguns dias, e sempre um signal prognostico mui grave e que se ella sobe a 42°,5 ou 43°, a morte e fatalmente a consequencia de tal temperatura. E com a exagerada da temperatura que a ner- vosa e consecutiva se incrementao; 6 durante sen maximo que geralmente se manifestao mui series phenomenos, taes corao, insomnia, delirio, convulsoes, paralysia do esgotamento do systema nervoso, e, finalmente, a morte. O distincto professor de Clinica Medica da Universidade de Stras- burgo (37) diz: « Se o calor morbido so fosse um signal on um symp- toma, nao seria necessario consagrar-lhe um tratamento ; este se (37) Nouveau Dictionnairc cie medeciue etde chirnrgie pratique, art. Chaleur. 1867. deduziria logicamente da lesao causal. Mas o calor morbido nao sabemol-o agora, unicamente um signal pathogoomonico da febre elle d sen elemento fundamen tal e primordial; a propria febre nao d somente a expressao directa e o resultado immediate de uma desor- dem grave no organismo, mas tambem o agente ulterior de desordens consecutivas; em uma palavra o calor febril nao d simplesmente um symptoma, pordm uma lesao, mai de muitas complicates ulteriores ; por isso tanto o pratico como o vulgo ligao- lhe importancia extrema, a tal ponto que, um homem que nao tern mais febre, ja parece pouco mais ou menos curado. » Nas molestias agudas, constituindo pois a febre por si so, por sua intensidade, sua prolongada, um signal prognostico extrema- mente grave, e intuitive dever recorrer o pratico a meios therapeu- ticos tendentes a destruir ou polo menos a diminuir essa exagerada. I A temperatura morbida e vantajosamente modificada pelo emprego dos agentes denominados anti-pyreticos. A exemplo do Dr. Hirtz, e com o fim de facilitar a da materia, de que nos vamos occupar, incluiremos cm tres classes on grupos, os mais importantes meios therapeuticos considerados como exercendo uma depressiva sob re a temperatura, comprehen- dendo a primeira: os agentes bygienicos, que nao sendo propria- mente auti-pyreticos, sao todavia meios coadjuvantes; a segunda os meios que, actuando directamente sobre o sangue, dimimiem as com- bustoes organicas; a terceira, as substaucias que pareccm ter directa sobre o systema nervoso. Primeiro grupo.— Neste grupo se achao incluidos a dieta, as bebidas frescas, as locoes d’agua tepida ou fria, pura on avinagrada, os banhos, a hydrotherapia em suas diversas formas. Dieta. — A privagao mais on menos completa de alimentos produz um abaixamento de temperatura que, em certos cases, pode ser consideravel; segundo Chossat, a m orte proveniente da insufficiente, seria devida no maior numero de casos ao resfriamento. Unia dieta mais on nienos severa deve ser acouselhada durante o erectismo febril, nao perdendo todavia o medico de vista que, exage- rada podera acarretar funestas consequencias: a experie ncia clinica tem demonstrado que o organismo esgotado pela e incapaz de resistir & influencia de causas insignificantes, que podem occasional- um estado grave e mesmo a morte subita; porisso deve ser a dieta empregada com todo o criterio. Embrocaqoes, loqdes. hanhos frios.— Aagua fria foi empregada desde amais remota antiguidade, mas simplesmente como agente bygienico, com o fim de prevenir molestias, fortificando o corpo. Hippocrates recommenda o uso da agua fria para combater o augment© de calor, que as febres provocao no corpo humano. 0 fundador da liydrotherapia moderna, James Currie, as primeiras e verdadeiras bases de uma doutrina scientifica, estabeleceu regras, que mais tarde forao apenas desenvolvidas; guiado pelo ther- mometro, demonstra que as pyrexias apresentavao, como elemento essencial, um augmento de calor efficazmente combatido pelo emprego d’agua fria, pois que, a subtraccjao do calorico, por esse meio, tern como resultado attenuar os accidentes das pyrexias, fazendo des- apparecer algumas vezes mui rapidaraente todos os phenomenos inflammatorios. Admitte que o cheque violento e subito, impresso k economia pela agua fria, produz no systema nervoso geral uma cujo effeito e restituir a pelle sen funccionalismo regular; demonstra ainda que 6 possivel augmentar a vitalidade de certos orgaos e obter effeitos derivativos poderosos. Nas pyrexias em geral, Currie tinha sempre em vista a do calorico; por meio de um thermometro avaliava a quantidade de calor que o doente perdia, certificarido-se desse modo que o grao de melhora estava em constante com a quantidade de calorico subtrahida aos doentes; prescrevia a agua frla em banbos geraes on parciaes, dando preferencia a agua salgada; as indicates para essas embrocates achavao-se no calor vivoena seccura da pelle ; abstinha-se das immersoes Mas, por acha-las perigosas, durante ou immediata- mente depois de snores abundantes, porque a transpiraqao tendo ja occasionado um resMamento ao doente, uma nova subtract© de calorico podia ter graves inconvenientes. Em 1825 Vicente Priessnitz, camponez da Silesia Austriaca, de espirito observador, mostra os etfeitos poderosos da hydrotherapia e as vantagens que offerece sen emprego; nessa epoca limitava-se sua pratica a simples ablnqoes com esponjas on a applicable da agua fria por meio de compressas, obtendo assim mui vantajosos resultados. As affusoes frias com esponjas on compressas forao substituidas primeiramente pelos banhos geraes na temperatura de 18 a 20 graos, depois pelas douches, e finalmente pelas depois das quaes erao os doentes envolvidos em cobertas de la; effectuada a erao os doentes submettidos a affusoes d’agua fria sobre a cabec;a e peito, tomando finalmente um banho d’agua tambem fria, sendo ao mesmo tempo frlccionados durante alguns momentos. Se a pelle do doente achava-se muito qnente e secca, envolviao-o em um molhado, depois em uma coberta de la e quando a transpiraqao a produzir-se, davao-lhe a beber uma grande quantidade d’agua; depois de uma de algumas boras, era lavado com aguafria e transportado para seu leito. Esta pratica era repetida em quanto persistiao o calor e seccnra da pelle. Attribue-se geralmente a Brand (de Stettin) o merito de ter creado o metliodo de tratamento da febre typhoide pela agua fria empre- gada de diversas maneiras e mesmo pelo gelo administrado interna- mente : o professor Rabuteau (38) porem, prova cpie anteriormente 38 Elements de Therapeutique et de Pharmacologic.—Paris, 1875. os medicos Francezes Jacquez (de Lure) Wanner, Leroy (de Be- thime) demonstrarao de modo inconcusso a efficacia do tratamento da febre typhoide pela agua fria ; eis o que nos diz esse autor: « 0 tratamento de Jacquez (de Lure), (1846) consistia em applicar desde o comedo da molestia, sobre a fronte, ventre e differentes partes do corpo, compressas d’agua fria, que erao renovadas todos os lOminutos se a pelle estivesse ardente, todas as meias boras se menos quente. Clysteres frios erao administrados e a agua fria on gelada constituia toda a bcbida do doente. «Sob a influencia deste tratamento, via-se o estado febril diminuir, muitas vezes de um para outro dia; as desordens da intelligencia, as perturbances nervosas, a seccura da lingua, a intumescencia do ventre ceder promptamente. » Assirn se exprimia Jacquez (de Lure) e mais tarde Brand (de Stettin). Na mesma epoca, um outro medico francez, Wanner, estudou clinica e experimentalmente esta questao interessante. No fim de 1849, Wanner communicava d Academia de Sciencias, que empregava, liavia muitos annos, com o maior successo, na febre typlioide, um methodo, que consistia tambem em fazer to- mar exclusivamente aos doentes agua fria, em fazer-lhes sobre a superficie cutanea locoes d’agua na temperatura da fusao do gelo, em administrar-lhes clysteres frios todas as tres ou seis boras. No anno seguinte, em 1850, expunba tambem, perante a mesma Academia, os resultados de experiencias, em que tinba visto a tem- peratura descer rapidamente nos animaes, aos quaes fazia ingerir gelo. Insistia ao depois com rara perseverance sobre a necessidade de fazer baixar (i normal a temperatura elevada dos individuos affectados de febre typhoide, e de usar para isso da agua fria interna e externamente. Finalmente em 1855, Wanner nao cessava de insistir no methodo de tratamento, de que tinba feito objecto constante de sens estudos. Elle affirm a, v a ter adquirido «a certeza experimental de triumphar de qualqner febre typhoide, cuja data de invasao nao excedesse set® dias. » E muitos aimos depois das publicacjoes de Jacquez e Wanner, Brand dizia : « Toda febre typhoide tratada regularmente desde o principio pela agua fria serd isenta de complicaQoes e curada.» Emfim em 1852, Leroy (de publicava igualmente, qae a refrigeraqao continua produzida pela agua fria administrada interna- mente e por compressas frias applicadas sobre o peito, fazia cessar a febre, e todos os ontros symptomas, restituia o somno, e em breve os vestigios da molestia erao tao pouco sensiveis, que muitas vezes do oitavo ao decimo quinto dia, o doente se julgava curado e o me- dico perguntava a si proprio at(3 que ponto podia partilhar essa opiniao. » Em nosso paiz, e muito antes de 1846 o illustre professor Dr. Joaquira Jos£ da Silva applicava com summa vantagem banhos geraes aos doentes de febre typhoide, quando a pelle era secca e quente. A temperatura dos banlios era a mesma que a do estado pliy- siologico, por este meio obtinha uma da temperatura, apoz a qual o doente podia conciliar o somno e evitar a vigilia, symptoma tao grave das affecQoes febris. Quando predominavao os symptomas cerebraes, punha em pra- tica o tratamento pelas embrocates frias. Tambem ministrava o gelo em peqnenas e repetidas por^oes. Muitas vezes tivemos occasiao de verificar na enfermaria de Santa Izabel os beneficos effeitos das loQoes frias, quer com agua, quer com vinagre aromatico inglez, feitas sobre todo o corpo e repetidas vezes durante o dia em algnns doentes de febre typhoide, observando-se consecutivamente a essas applicaQoes uma muito sensivel na teraperatura dos individuos snbmettidos a esse tratamento. As locoes frias sao extremamente uteis, nao s6 porque subtrahem calorico, acalmao a sensibilidade geral e diminuera a actividade cir- culatoria, mas tambem porque, pela impressao viva e energica produzida na saperficie cutanea, operao uma derivaQao favoravel k mucosa intestinal e aos orgaos profundos. Ern resumo, a agua fria nao actua, como outros agentes, moderando as combustoes organicas, mas apoderando-se do calor em excesso produzido pelo doente, isto d, representa o papel de espoliador activo em consequencia de sua conductibilidade e de seu calor especifico consideravel. Segundo grupo.— Comprehende as emissoes sangnineas, os alca- linos, os mercuriaes os arsenicaes, e os antimoniaes. Emissoes sanguineas. — Podem ser obtidas ora por meio da lanceta (sangria geral), ora por meio de ventosas escarificadas on sanguesngas (sangrias locaes); qualquer que seja o meio empre- gado, os resultados sao da mesma ordem e nao differem senao por sua intensidade, segimdo a quantidade de sangue de que foi privado o organismo. As grandes perdas sanguineas tem geralmente por consequen- cia, tanto nos individuos saos, como nos doentes um abaixamento consideravel da temperatura, indo algumas vezes at£ ao collapso. Diversas sao as opinioes dos auctores a respeito da ac9ao que exercem as emissoes sanguineas sobre a temperatura. Segundo Wunderlich uma perda espontanea, raesmo moderada, produz ordinariamente nos febricitantes uni abaixamento passageiro da temperatura. As sangrias praticadas opportunamente nos doentes, assim como as emissoes sanguineas locaes produzem os mesmos resultados, posto que menos accusados; nao 6 raro v£r ao depois a temperatura , antes muito febril, approximar-se da normal on mesmo attingil-a ; mas, a reacQao d de ordinario consideravel. Depois de uma sangria, diz o Dr. Hirtz, o thermometro baixa de 1° a 1°, 5, mas essa estd longe de ser constante e ainda menos duradou ra. O Sr. Dr. Costa Alvarenga citando as experiencias dos Drs. Bdrensprung e Spielman diz : «As experiencias do Dr. Bdrensprung sobre os animaes mostrarao que a temperatura elevava-se durante a sangria de alguns decimos de grdo; mas que nas 24 boras seguintes diminuia, attingindo o minima sete ou oito boras depois da emissao sanguinea e que, passado esse tempo, elevava-se len- tamente. 0 celebre observador achou que no segundo e terceiro dia depois da sangria a temperatura era superior d normal, par- ticularmente se a tivesse sido praticada na carotida. Passado o terceiro dia, ella tendia a diminuir e poucos dias depois conservava-se constante, sendo 0°,4 a 0°,6 inferior d normal. Eis o resultado immediato de nove sangrias de 300 a 450 grammas, praticadas pelo Dr. Bftrensprung, sete vezes em indivi- duos aftectados de molestias agudas e duas vezes em homens saos. Tres vezes nao houve alguma na temperatura (uma vez em um homem sao), quatro vezes houve augmento de 0°,2 a 0°,6 (uma vez em um homem sao), duas vezes abaixamento de 0°,5 a 0°,7 (nestes dous casos houve syncope). 0 Dr. Spielman, fundando-se em suas observaQoes e nas de outros praticos, pensa que o effeito da sangria sobre a tempe- ratura 6 muito variavel; elle notou algumas vezes a de 0°,5 a 2°, outras vezes o mesmo calor sem nenhuma modifi- caqao. 0 distincto medico de Strasburgo conclue. estabelecendo que as emissoes sanguineas diminuem a temperatura e que sen effeito 6 mais ou menos rapido conforme a intensidade da molestia, mas que nao persiste al£m de um a tres dias.» O professor Alvarenga, dos factos por elle observados, tira a seguinte conclusao : «Que as emissoes sanguineas nos limites therapeuticos nao exercem influencia sensivel, notavel sobre a temperatura, pelo menos nao est& demonstrado que ellas a exercem; e se essa influencia existe, pequena, variavel e passageira. Novas e numerosas observances sao talvez necessarias para estabelecer defi- nitivamente uma opiniao; o campo fica livre aos investigadores, » As emissoes sanguineas nao eonstituem, pois, um verdadeiro meio anti-pyretico, porque sua sobre a temperature, alem de ephe- mera e extremam ente incerta. Alcalinos. —Suppunhase, nao ha muitos annos, que os alcalinos deviao ser poderosos agentes de oxydaQao, que activavao a circulaqao e elevavao a temperatura; experiencias recentes, pordm, do Dr. Rabuteau e outros vierao demonstrar justamente o contrario, isto e, que os alcalinos sao verdadeiros model adores da nutri(jao e administrados em doses elevadas tern a propriedade de diminuir as combustoes orga- nicas e conseguintemente de fazer baixar a temperatura, o que explica os effeitos vantajosos desses medicamentos em molestias eminente- mente febris, como o rheumatism© articular agudo, a pneumonia, etc. Os medicamentos chamados temper antes, isto e, diversos saes alcalinos de acidos organicos, certos fructos e vegetaes, que contain esses mesmos saes e sens acidos livres on combinados, alguns acidos mineraes, como o acido azotico, phosphorico, e finalmente o nitro sao frequenfce e vantajosamente empregados em diversos estados febris. Os saes alcalinos organicos, transformando-se na economia em bicarbonatos, sens effeitos physiologicos e therapeuticos sao analogos aos dos alcalinos. Mercuriaes. — A antiphlogistica de certas mer- curiaes, sobretudo dos calomelanos, nas das serosas e em certas febres typhoides, produz-se com abaixamento da temperatura, como o provao as experiencias do professor Wunderlich, que asse- gura que o uso dos calomelanos nessas febres em doses moderadas (30 centigr.) e administrados cedo, isto e, no meioda primeira semana, exerce uma influencia sobre a marcha da molestia e occasiona uma remissao mais forte do que a que se produz espontaneamente nesse periodo. Os Drs. Traube e Tliierfelder admittem tambem a vantagem dos calomelanos no tratamento da febre typhoide : 1°, no principle da molestia ; 2°, qUando nao ha diarrhea ; 3°, quando administrado na d6se de 25 a 50 centigrammas em 24 horas e em duas doses. Arsenicaes. ■—• As primeiras investigates physiologicas sob re as variates da temperatura sob a influencia dos arsenicaes sao devidas aos Srs. Demarquay e Dumeril (39), que experimentando sobre ani- maes notarao inn grande abaixamento de temperatura. 0 Sr. Lolliot(40) tendo estudado sobre si proprio a de alguns preparados arsenicaes, constatou, alem de uma menor quantidade de urea na urina emittida, um abaixamento de temperatura, pouco sen- sivel quando as doses da substancia erao fracas, augmentando, porem, com ddses elevadas. Admittindo os auctores que o arsenico actua principalmente diminuindo os phenomenos de deve essa substancia achar um emprego racional em muitos estados morbidos, em que as com- bustoes se acbao exaltadas, d’abi sua applica9ao nas febres palustres. Antimoniaes . A mais importante das prepara9oes antimoniaes e o tartaro emetico, typo dos agentes contro-estimulantes da doutrina italiana. Sua ac