DISSERTAÇÃO ACERCA DA ANALYSE E PROPRIEDADES THERAPEÜTIGAS DAS ÁGUAS AGIDULAS GASOSAS TMESE QUE FOI APRESENTADA, E SUSTENTADA PERANTE A FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO, NO DIA 4 DE DEZEMBRO DE 18 18, POR NATURAL DA CIDADE DA CAMPANHA, (PROVÍNCIA DE MINAS) Doutor em Medicina pela mesma Faculdade, E FILHO LEGITIMO DE FRANCISCO XAVIER LOPES DE ARAÚJO, CORONEL CHEFE DA SEGUNDA LEGIÃO DA GUARDA NACIONAL DO MUNICÍPIO DA CAMPANHA, E CAVALLE1RO DA ORDEM DE CHRISTO. Magrium iter ascendo, sed dat. mihi gloria v ires : Non juvât ex facili lecta corona jugo Combien j'ai douce souvenance Du joli lieu de manaissauce! Ü mon pays, sois ines ainours Toujours I ClUTEAUBRIAND. liio trc Saueívo, TYP. ÜE M. A. DA SILVA LIMA, RUA DE S. JOSÉ N. 8. 18V8. DO RIO DD JANEIRO- DIRECTOR. Sr. Db. José Martins da Cruz Jobim. LENTES PROPRIETÁRIOS. Os Srs. Doutores: l.o A3S0. Francisco de Paula Cândido........Physíca Medica. Francisco Freire Allemão, Examinador.....S "zíSSia*""04 ° prÍnCÍpÍ0S elementares de 2.o ASSO. Joaquim Vicente Torres-Homem, Presidente . . . \ ChimiÇa Medica, e princípios elementares de Mi- ^ neraiogia. José Maurício Nunes Garcia.........Anatomia geral, edescriptiva. 3.° Asso. José Maurício Nunes Garcia.........Anatomia geral e descriptiva. Lourenço de Assis Pereira da C unha......Physiologia. 4.° ANN0. Luiz Francisco Ferreira..........• Pathologia externa. Joaquim José da Silva, Supplente.......Pathologia interna. J oao José de Carvalho...........S Pharmacia, Matéria Medica, especialmente a Brasi t leira, Therapeutica, e Arte de formular. 5.° Asso. Cândido Borges Monteiro..........Operações, Anatomia topographica, e apparelhos. Francisco Júlio Xavier. Examinador......\ Partos, Moléstia das mulheres pejadas e paridas, l edos meninos recém-nascidos. 6.° Asso. /ohsèZrtiGn°,Trrn,Sain^.........UY&me, e Historia da Medicina. José Martins da Cruz Jobim.........Medicina Legal. ?ISS 5? vIKdS Mmeíü?rv,!l10.....CUnica externa, e Anatomia patholog. respectiva. udiioei ue vanaddo Pimentel........Clinica interna, e Anatomia patholog. respectiva. LENTES SUBSTITUTOS. Francisco Gabriel da Rocha Freire, Examinador Antônio Maria de Miranda castro . . • . . José Bento da Rosa, Supplente Antônio Felix Martins . . . Domingos Marinho de Azevedo Americano Luiz da tunha Feijo, Examinador . . . Secção das sciencias accessorias. Secção Cirúrgica. Secção Medica. SECRETARIO. Dr. Luiz Carlos da Fonseca. «.&£^S%%,^^^S'2£ S&SrxriTSJSS" as op'"'to" ^^áyyil!^^ m m «Si -•A À MEU RESPEITADÍSSIMO PAI, MEU PRIMEIRO AMIGO, MEU TUDO, O Sr. Francisco Xavier Lopes d'Araújo, iP- Coronel Chefe da 2.1 Legião da G.N. do Município da Campanha, e Cavalleiro p- da Ordem de Christo. ^ Á MINHA ADORADA E EXTREMOSA MÃI § A SR A. Ê D. ANNA. LUIZ A XAVIER D>A RAUJO. t ■£=_ W rfer Senhores. * Tres circumstancias concorrem para que hoje no momento o mais ditoso de mi- |f nha vida brilhe, no intimo de meu coração, o maior prazer, que imaginar se pôde: £ a lembrança que ainda felizmente gosam dos prazeres d'este mundo aquelles '&. que me deram a existência : a certeza que nunca poupasteis despesas, nem ou- li- tros meios para a educação de vossos amados filhos: finalmente o ter sido sem- Je- pre feliz na carreira de meus estudos. E será possível que sendo-me hoje confe- g rido o tão desejado gráo de Doutor em Medicina, e podendo eu dest'arte occupar E a mais illustrada posição na sociedade, deixe de dirigir meus sinceros, e cordiaes g. agradecimentos á vós, que únicos empregasteis todos os recursos para tal em- presa? não, certamente que não : á tão desvellados cuidados, quaes tem sido os vossos, não deve ser dada em recompensa a ingratidão. E' fora de duvida que me acho inhabilitado para satisfazer ao menos o prêmio da divida, que comvosco contrahi ; tal é o capital! Mas, pergunto eu, pelo simples facto de não poder pagar este prêmio devo negar a divida? não sem duvida : assim pois compre- hendo que impossível me é satisfazer tal divida, trabalhando ainda mesmo toda minha vida. Entretanto recordo-me que a presente These, primeira producção de minhas fadigas é toda—obra de vossas mãos. E à quem mais meritoriamente offereceria eu? Dignai-vos pois acceital-a : seja dada a primeira colheita áaquel- les, que lançaram a semente sobre os campos: sim, decidi acceita!-a não como %. paga d^ssa divida immensa, mas por satisfação á ijfc Vosso obtdiente e grato filho, ff i • í JOSÉ. 71 :£S" &. fe W':J*$WW^WW^WW"?W'':' híW W'h^ < l A'MINHAS QUERIDAS E ADORADAS MAN AS, MANOS,CUNÍJ ADOS, ECUNHDAS, ^ E MAIS ESPECIALMENTE A MEU MANO $ O Sr. JMartiniano da Silva Reis Brandão, # E a' minha nunca esquecida mana .". ■*,.■» % _. - _..... * A Sra. D. Luiza Thcodora Xavier de Araujo, ^ Comme gage de reconnaíssence des soins et de Ia tendre aífection que vous ** ££ •>*• & K? n'aYez pas cesse de m'accorder dans tous les ages de ma vie. s •55» f § A' TODAS AS MINHAS TIAS, E TIOS, f § § & E MAIS PARTICULARMENTE A MEU TIO É f O SR. DOMINGOS LOPES DA SILVA E ARAÚJO. f 35 3? ^; A' MINHA TIA E MADRINHA £ A SRA. D. ISABEL MARCIANA DA SILVA BRANDÃO, f Corno signal certo de respeito, gratidão e eterna amizade. O SR. BRIGADEIRO JOSÉ DA SILVA BRANDÃO, ^ Á INDELÉVEL MEMÓRIA DE MEU PRESADO AVÔ E PADRINHO jfc íjit >£ ^ Um euspiro, uma lagrima de dôr e saudade !! ! ~v? 5? — Si? •Ô . £3 ^ A MINHAS PRESADISSIMAS PRIMAS E PRIMOS, *& Tenho nobres sentimentos, <;. *>■* Tenho utn'alma agradecida, V M A lembrança do que devo, 3£ «£ Dura tanto como a vida. ^f ^ (Evaristo Ferreira da Veiga). x 1 &4*^^^£«M4«*^4*^<^^^ * SI í? §Ü A' MEU PADRINHO, E PARTICULAR AMIGO, tf SI & i OILLM. SR. CORONEL IGNACIO GOMES MIDÕES, à| Cirurgião formado em Coimbra. *v>« * «_._ . 55 Senhor J -& & ^« O edifício, que agora acabo de levantar, tem por alicerces vossas sabias lições, e ^ |£ os preciosos preceitos, que comigo tão benignamente vos dignasteis repartir: acei- |? * tae por tanto esta prova ü ás r -& W W ᣠ* íjê De gratidão, respeito e alta consideração. & ¥ & ¥ %' 3? AO ILLM. E EXM. SR. "& & GREGORIO DE CASTRO MORAES E SOUSA, S ■53P 'j.* 1 Coronel Chefe da 4.a Legião da G. N. d'esta Corte, Veador de S. M. a Imperatriz, % Commendador da Ordem de Christo, eOfflcial da Imperial Ordem da Rosa. j> 1$ t.. /•„._ ,..„*• = ______. r_______i:i......~k-„ S5§3 In freta dum fluvii current dum montibus umbrse %& s j Lustrabunt convexa, polus dum sidera pascet, gg rí£ Semper honos nomenque tuum laudesque manebunt ^ ^5 QuéE me cumque vocant terrse, 5£ g (Ftrg-.) % ■«5» "s,*> ?£ Vi %? AO ILLM. SR. DR. ^ § JOAQUIM VICENTE TORRES HOMEM. | ^ Senhor l se íy2 Faltaríamos á um dos mais sagrados deveres, e mesmo julgariamosque mais im- ;£ Ür perfeito se tornaria este nosso trabalho, se por ventura nos passasse pela idéa o di- ^ H rigirmos nossos sinceros agradecimentos á vós, que tão prompta, e civilmente vos || í| dignasteis acceitar a presidência da presente These : recebei por tanto os meus pu- g M- ros e eternos agradecimentos. ^ * % Sê J. X. L. d'Araújo. ^ é\ " *........................................... É •^ Ü AO MUITO DIGNO SUBSTITUTO DE SCIENCIAS ACCESSORIAS O ILLM. SR. DR. §* S ANTÔNIO MARIA DE MIRANDA CASTO, f 5| Limitada prova de constante amizade, e eterna gratidão. jtF -ü; A SAUDOSA MEMÓRIA DE MEU COLLEGA, E INTIMO AMIGO O SR. JOÃO JOSÉ' DOS SANTOS BANDEIRA, m. p- ■^i Pois que não quiz a sorte que juntos terminássemos a correira que encetamos, p- j| recebei, Manes queridos, os suspiros da mais acerba dor, e da mais amarga sau- p- % dade em memória do muito que vos ama o H Vosso Amigo Fiel . m. ^í A' TODOS OS MECS AMIGOS, COLLEGAS, E COMPANHEIROS D'ESTUDOS, E EM PAUTICU- j í f ^ LAR AOS MEUS INSEPARÁVEIS, E ÍNTIMOS AMIGOS OS SRS. P I t 43 Dr. Carlos Luiz de Saules, e sua honrada famiha, p- M. Dr. Laurindo Marques d'Attaide Moncorvo, e sua illustre família, g # . . p" ^ Dr. José Francisco de Souza Lemos, e sua nobre familia, ;^. 0 Conservez toujours dans votres cceurs 1'amitié, et le souvenir de votre collègue. É- 4 | *• "" fe d AOS CAMPANHENSES, | I I "5; Prova certa de verdadeira sympathia, c não fingida amizade. jg- J. X. L. d'Araújo. ;g ??W^WÍWWW ap&m®&®a ^^►•T"^^^^*^*1 Submettemos hoje pela vez primeira á vossa consideração um pe- queno trabalho nosso sobre um objecto de grande ponderação. Esse objecto é a analyse das Águas Acidulas Gasosas (Virtuosas da Cidade da Campanha) que de propósito escolhemos, não só por causa de suas propriedades therapeuticas, como mesmo por desejarmos ser úteis á humanidade soffredora, mostrando-lhe suas vantagens nas moléstias cm que seu uso é quasi sempre coroado de felizes resultados. Descrever, e analysar Águas Mineraes é por certo uma tarefa bem difficil; por que na sciencia que trata da mesma (Chimica), por muito que tenhamos estudado e sobre ella meditado, descobrimos uma difficuldade inquestionável, e por numerosas razões, que longo seria exhibir, reconhecemos sua utilidade para bem nos dirigirmos no sca- broso trilho da vida Medica. Na verdade se attendessemos ao limitado numero de conhecimento^ que possuímos, acerca das árduas sciencias naturaes, á nossa fraca in- teiligencia, e á desproporção que existe entre nossas poucas idéas, e a- sciencia vastíssima em questão, certamente que não tomariamos a penna para expor nossas reflexões n'esta difficil matéria; mas impellidos pelo mando da lei, que nos impõe o dever de apresentar uma These' para podermos obter o tão desejado, e honroso gráo de Doutor em' Medicina, buscaremos transpor o receio, de que nos sentimos possui- dos, e trabalharemos a fim de podermos apresentar-vos uma analyse, se não completa, ao menos exacta, e tanto quanto possa consentir a limitada sphera de conhecimentos, que possuímos a tal respeito. De propósito reservamos este lugar, e a presente occasião para diri- girmos nossos sinceros agradecimentos ao Illm. Sr. Dr. Frederico Leo- poldo César Burlamaque, pela sua decidida bondade, com que nos franqueou o laboratório do Museo Nacional, onde livremente podemos pôr em pratica nossa analyse. Vale. INTRODUCÇÃQ, DA ÁGUA. Les eaux minerales sont une richessc dont en doit compte à l'humanité. Alibert. OXIDO DE SIYDROGEYO-PROTOXYDO DE HYDROGENO-9XYDO HYDSICO. Agua 6 um corpo liquido, transparente, sem gosto, cheiro, ou sabor, de que usamos para beber, lavar etc. A Agua é o corpo, cujo estado physico é o mais susceptível de se modificar pela ac- rjo do calorico, pois que, em diversos gráos de temperatura pouco afastados, cila é solida, ou liquida, ou gasosa : solida constituindo o gelo, que existe em uma quanti- dade infinita nos dois pólos Arctico, c Anlarctico no Oceano Glacial, c Mar Pacifico: liquida formando os diversos mares, rios, regatos etc: e gasosa no estado de vapores espalhados na atmosphera. Depois dos resultados os mais exactos, que os chymicos poderão obter, a Agua é formada de 88,94 partes de Oxygeno, e de 11,06 partes de Hydrogeno cm peso, ou de um volume de gaz Oxygeno, e de dois volumes de Hydrogeno. Debaixo da relação de sua composição, ou antes de sua naturesa, e da proporção dos princípios estranhos, que ellas encerrão, as Águas líquidas, que existem livres so- hrc o globo, podem pois ser distinetas em Águas Doces, e Águas Mineraes. ÁGUAS DOCES. Taes são cquellas de quasi todos os cursos d'agua que, das partes elevadas dos con- tinentes, e das Ilhas descem por mil canaes para as partos as mais baixas: taes são — 10 — também aquelias de um certo numero de lagos, pântanos, e lagoas: seu sabor ó quasi nullo, sua temperatura é raramente mais elevada, que aquella do ar: ellas nutrem em seu seio vegetaes, e animaes particulares, que designa-se pelo epitheto de flu- viaes, e de lacustros para indicar o lugar de sua habitação; porém que em geral d i fie - rem muito das plantas, e animaes marinhos, porque os Geólogos tem sido conduzi- dos pelo conhecimento deste facto, e pela analogia, estudando os pedaços de corpos organisados, que encerrão as camadas de terra, a distinguir de uma maneira quasi certa aquelias d'estas camadas, que tem sido formadas no seio das Águas Doces, d'a- quellas que tem sido depositadas debaixo das Águas salgadas. A Agua é uma substancia imminentemente essencial ao sustento do homem, c dos animaes. Aquella, de que ellestem necessidade para viver, e se conservar no estado de saúde, nãoé medicinal; ella não tem outra acção sobre a economia animal, que de a entreter em uma disposição favorável ao desenvolvimento, e ao equilíbrio da ac- ção vital. A Agua sahio pura da mão do Autor de todas as coisas, e as diversas qualidades, que ella adquire na superfície do globo, dependem de circunstancias estranhas â sua naturesa. A Agua, que se forma nos ares pela condensação dos vapores, que tem si- do roubados nas regiões da atmosphera, c que se precipita liquida, está cm um grande estado de puresa, e sem quasi mistura alguma, se se faz excepção dos corpus- culos, que fluctuantes no meio do espaço, e da naturesa solúvel, podem ser levados por ella em um estado de dissolução completa. Os saes diversos, que ella oceulta na superfície do globo, tem uma origem, que lhe é estranha, e não os tem appropriado ási, se não por sua faculdade rmminentemente dissolvente. Também observa-se a Agua, que cahe do céo, recebida directamente, no momento de sua queda, em vasos de matéria inalterável por ella, exposta em pleno ar, e sem ter tido o menor contacto com a terra, como a mais pura, e aquella que converia o melhor para os usos ordi- nários da vida. Mas, regando o solo, ella desapparece momentaneamente, o penetra á uma maior, ou menor profundidade, e depois de ter fornecido á terra que necessitava o soecorro de sua fecunda influencia, leva comsigo tudo quanto lhe pôde subtrahir, e sua constituição se acha então modificada pela presença de corpos estranhos, que o mais das Yezes são nocivos á sua salubridade. ÁGUAS MINERAES. Tem-se designa.Io pela denominação de Águas Mincraes todas aquelias que contém assás grande quantidade de substancias medicamentosas para ter sobre a economia animal uma acção particular dependente da naturesa, e das propriedades destas subs- tancias. Porém melhor seria que a denominação de Águas Medicinaes lhes con- — 11 — viesse mais appropríadamente pelo uso á que são destinadas, e em razão de que muitas vezes a propriedade medicamentosa pode depender da presença de algumas substan- cias, âs quaes se não pode rasoavelmente applicar o nome de mineraes propriamen- te ditas. Ellasdifferem das Águas ordinárias por um cheiro particular, sabor, côr, etc. e que, em rasão d'estas propriedades, não podem servir aos usos da economia do- mestica. O seio da terra encerra muitas origens d'Aguas Mineraes, e a maior parte é hoje perfeitamente imitada pela arte. Distingue-se as Águas Mineraes naturaes, relativamente á sua temperatura, em quentes ou thermaes, e em frias. As primeiras marcão desde 20 até 80 gráos do thermometro de Réaumur: as outras marcão de 0 á 28 gráos segundo as circunstan- cias. Umas, e outras, segundo as substancias, que dominão em sua composição, tem sido distribuídas em quatro classes, que são: aguasgasosas, ou aciduladas, águas salinas, águas ferruginosas, e águas sulfurosas, ou hepaticas. As Águas gasosas, ou aciduladas são aquelias que contêm uma assás grande quan- tidade de ácido carbônico para serem effervescentes ao ar. Existe uma fonte ao sul da Cidade da Campanha, da qual dista três léguas e meia, conhecida pelo epitheto de Agua Virtuosa, e que, como disse, faz o objecto da presente These. * Seu sitio com- prehende o arraial do mesmo nome situado ao redor da fonte da Agua Mineral, e o terreno oecupadopor matas, capoeiras, e algumas várzeas. A Câmara Municipal pos- suindo ha annos este sitio por meio de compras feitas de algumas partes na importân- cia de rs. 600$ pouco mais ou menos, e por doações obtidas de seus anteriores pro- prietários, ahi tem marcado, e alinhado o necessário terreno para a construecãode casas particulares, e de edifícios públicos, e igualmente tem concedido porções de 50 palmos de frente, e 150 de fundo á diversos pretendentes mediante o módico foro de 6 reis por cada palmo, e2 / de laudemio, que será elevado à k J° quando a proprie- dade passar á outras mãos, que não sejão as de herdeiro forçado. Ja se achão cons- truídas 16 casas cobertas de telha, e algumas destas offerecem boas commodidades ás pessoas, que procurão aproveitar-se da Agua Gasosa, dando bom interesse á seus proprietários principalmente nos mezes d'Agosto, Septembro, Outubro, e Novembro, época em que ali se reúnem 200, 300, 400, e mais pessoas. Data de remota antigüidade a confiança, que tem sido concedida às Águas Mine- raes, e justificada pela observação dos modernos. Com effeito, como se poderia du- vidar da efficacia das Águas Mineraes, sobretudo nas moléstias chronicas, sendo que acredita-se que ellas offerecem ao mesmo tempo um meio medicamentoso, c hygienico? É à essa feliz associação, que se deve os suecessos admiráveis, que tom sido algumas vezes obtidos nas fontes mineraes. A naturesa nos dá liberalmente este remédio para • Esta fonte foi descobcrU a 70 annos mais eu menos por certos indivíduo., que procuravam destrairem.so per meio da caça nas matas, quo pertencerão a Antônio de Araújo Dantas. — 12 — nos convidar a ter n'ellas o mais das vezes recurso nas moléstias. Ella tem poupado, tanto quanto tem sido possivel, nossa delicadcsa, nosso gosto; ella tem temperado a virtude das águas, sua força, e as tem proporcionado á uma infinidade de tempera- mentos. Apesar das vantagens tão preciosas, as Águas Mineraes não são tão estimadas, como o deverião ser. Ha uma coisa que tem muito concorrido a desacreditai-as no espirito dos médicos; è que a maior parte dosautores, que tem scripto sobre as Águas Mineraes, se tem deixado arrastar por uma prevenção que lhes tem feito ver em suas águas um remédio para todas as enfermidades humanas. As águas não são umfi pa- nacéa universal; a naturesa tem partilhadoá muitas fontes propriedades especiacs, bem distinetas, que não são desmentidas desde os séculos. Na verdade desde um tem- po immcmoravel as Águas de Vichysão recommendadas nos engorgitamentos chroni- cos do Fígado, e das vísceras abdominaes; as do Monte de Ouro na phlhisica pulmo- nar, e as de Baréges nas chagas feitas por armas de fogo, e moléstias cutâneas an- tigas. A experiência tem demonstrado que nas moléstias agudas, c sobretudo nas phleg- masias um pouco intensas as Águas Mineraes não conYÔm; sua marcha rápida ne- cessita de meios activos, e repclle os remédios, cuja acção é vagarosa, e insensível. Não acontece o mesmo com as moléstias chronicas: não pode-se obter sua cura senão pelo concurso dos soecorros, que nos offerecem a pharmacia, c sobretudo a hygiene. Em geral as Águas Mineraes reanimão a circulação languida, imprimem uma nova direcção á energia vital, restabelecem a acção perspiratoria da pelle, chamão á seu lypo physiologico as secreções viciadas e supprimidas, provocam evacuações salu- tares, quer pelas ourinas, quer pelas fezes, ou a transpiração; ellas produzem na economia uma transmutação intima, uma mudança profunda. Quantos doentes abandonados de todos os médicos tem achado a saúde nas fonte* mineraes 1 Quantos indivíduos esgotados por violentas enfermidades tem recobrado, por uma viagem ás Águas Mineraes, o tom, a mobilidade, a energia, que se teria talvez tentado de lhes dar de uma outra maneira com suecessos menos assegurados! Porem, é preciso confessal-o, quanto esta acção medicamentosa das Águas é favo- recida pela viagem, o apartamento dos lugares testemunhas dos males, que tem-se soffrido, o abandono momentâneo de todos os negócios, c de tudo que pode pôr em jogo uma sensibilidade muito activa, a esperança de uma cura próxima, um ar puro, um regimen salutar, a regularidade no emprego methodico do tempo das Águas, nas horas da comida, o levantar, o deitar; muitas vezes mesmo nos prazeres, os diverti- mentos? A vida activa, que os doentes passão nas Águas, inverte bem depressa a or- dem de suas idéas, e os arranca ás affecçõens tristes, que os ameação occultamcntc. Elles achão-se repentinamente, diz o Dr. Bertrand, lançados em um mundo novo, no incio de uma multidão movei, inoccupada, isenta de cuidados, de aííazeres, livre de deveres, onde cada um não cuida senão do seu restabelecimento, e trabalha sem cessar para o restabelecimentodos outros. Avistão-se, animão-se mutuamente, entre- - 13 - tendo dos seus males; é tão doce d'elles fallar á quem nos escuta! e qual outro nos escutaria com mais interesse, do que aquelle mesmo que soffrc? Que horas, que pas- são-sc em semelhantes entretenimentos, se passão docemente 1 que tristes pensamen- tos desvião elles! que momentos de inquietação, e de desanimo prevêem elles!.. Ninguém contesta ás Águas Mineraes sua eíficacia como meio hygienico; não acontece o mesmo como meio medicamentoso. Alguns médicos negão a acção medicamentosa das Águas, e proclamão com uma sorte de aflectação que os bons effeitos, que ellas produzem são devidos unicamente á viagem, á distracção, á mudança de ar, e de hábitos. Sem duvida estas causas são bem poderosas para a cura das moléstias va porosas, e hypocondriacas; porem as viagens, as distracçõens, e os encantos de um bello sitio são suflicientes para curar rheumatis- mos chronicos, paralysias, eugorgitamentos das vísceras, exanthemas cutâneos, anky. loses falsas etc. ? As Águas Mineraes contem muitos saes, de que se faz um freqüente uso em medi- cina ; porque, esgotados no laboratório da natureza, não terião elles a mesma virtude, que tomados n'aquelle do boticário? Se a Agua pura é eflicaz em muitas moléstias, de que virtude não deve ser ella dotada, quando tem em dissolução substancias mi- neraes combinadas pela natureza? Nada é mais nocivo na pratica medica que as opi- niões exclusivas: sabe-se que a acção dos remédios é complexa, que muitas vezes sua eflicacia depende de um grande numero de circunstancias accessorias: por que não aconteceria o mesmo com as Águas? Para conceber sua acção, o medico deve consi- derar não só sua composição, mas também o tempo, o modo de sua administracção, a impressão que ellas produzem sobre os diversos órgãos, e principalmente sobre o estô- mago por sua quantidade, e sua temperatura. Deve-se acerescentara influencia simul- tânea do clima, da estação, da nutrição, e do exercício. Julgamos ter tocado de uma maneira summaria os principaes pontos, que Unhamos de relatar sobre as generalidades. Assim pois dividiremos nosso trabalho em três partes a saber: l.a Topographia, Geognosia, Vegetação, e Caracteres Physicos das Águas Gasosas: 2.a Analyse Qualificativa, e Quantitativa : 3.a Therapeutica das ditas Águas. ~H~— DISSERTAÇÃO ACERCA DA ANALYSE, E PROPRIEDADES TUERAPEUTICAS DAS ÁGUAS ACIDILAS GAS0SAS DA CIDADE DA CAMPANHA. PARTE PRIMEIRA. POSIÇÃO TOPOGRAPHICA. O Sitio da Agua Virtuosa está collocado ao Sudueste da Cidade da Campanha, da qual dista tresjleguas e meia; comprehende perto de meia légua quadrada de extenção, tem próximas a Serra de Santa Catharina, que lhe fica ao Oriente, e a Serra da Agua Virtuosa, que corre ao Occidente; vindo ambas do Norte, descrevendo varias curvas, e conservando quasi o mesmo parallelismo; abaixão-se ao Sul na distancia de oito lé- guas para dar passagem ao rio Sapocaby. O terreno é composto na maior parte de sua superfície de montes, montanhas extensas, c elevadas, todas ligadas entre si por gar- gantas mais ou menos estreitas., e algumas terminando na Serra de Santa Catharina, uma das grandes ramificações occidentaes da Serra da Mantiqueira, e de pequenas várzeas intermediárias, por onde correm pequenos ribeiros, que aíHuem ao reacho Lambary Pequeno, o qual â alguma distancia vai se encorporar ao rio Lambary Grande. GEOGNOSIA E VEGETAÇÃO. Todo o terreno comprébendido no Sitio da Agua Virtuosa parece ser todo formado de uma substancia calcaria, que se apresenta em pedaços mais ou menos volumosos, e estes offerecendo formas diversas: na fonte, na época de sua descoberta, e mesmo alguns annos depois, segundo nos informou um morador ancião do lugar, esta subs- tancia calcaria, que formava a primeira camada existia em lages sobre-postas, e de cujas fendas saltava a Agua em borbotões. Sendo estas lages próprias para amolar as» — 16 — differentes ferramentas dos lavradores, estes as destacavam de seu lugar, e d'esta sorte destruirão a primeira camada, ficando a segunda que é formada de silíça, e barro. Esto terreno alimentava a 70 annos mais ou menos expessas matas, mas agora está reduzi- do, na maior parte de sua superfície, á capoeiras incultas, por ter sido pela Câmara Municipal prohibida abi a agricultura até ulteriores ordens da mesma. Este terreno porém, quando foi cultivado por seus primeiros proprietários, produzia milho, feijão, e alguns outros cereaes, eleguminosos, e em seus arredores é cultivada a canna de as- sucar, e igualmente o tabaco, que faz o principal ramo de commercio de seus habitan- tes. Não possue minas de ouro, nem de outros metaes, nem apresenta vestígios vol- canicos. CARACTERES PHYSICOS. Ausência de côr e cheiro, sabor acidulo, picante, e agradável, densidade 5o do Areometro de Beaumé, temperatura observada ás oito horas da manhãa do dia 22 de Junho elevou-se á 66° do thermomctro de Fahrenheit, quando a da atmosphera o fez baixar a 50°: ás 10 horas elevou-se a 72° do mesmo thermometro, o qual no aratmos- pherico indicou 02° c no Rio visinho 58°. No mcz de Janeiro porém, cm 18V8, a temperatura, observada ao meio dia, marcou 69°. -»?Í3'S— PARTE SEGUNDA. ANALYSE QUALIFICATIVA. CARACTERES CHYMIC0S. Antes de evaporada offerecc unicamente estas reacçôcs: envermelhece o reaetivo azul, c precipita abundantemente pela agua de cal, e os sàes solúveis de chumbo, barjta, cal, etc. Quando muito concentrada, experimenta as seguintes reacções: 1.' Restabelece a côr azul do Tournesol envermelhecida por um ácido, c enverde- ce o xarope de violetas. 2.* Precipita em branco pelo nitrato de prata; o precipitado, que é pouco con- siderável, dissolve-se na ammonia, e é insoluvel no ácido nitrico. 3.° Precipita em branco pelo nitrato de baryta, c o precipitado dissolvc-se com cflervescencia no ácido nitrico, deixando apenas alguns traços inatacáveis. 4.° Não dão precipitado algum o chlorureto platinico, oxalato ammoniaco, sulfo- exanureto de potássio, e ácido tartarico. Evaporei 2 libras d'Agua, e puz o residuo em maceração no álcool de 33* por espa- ço de 24- horas. Decantei esta dissolução alcoólica, evaporei-a em uma cápsula de platina, e dissolvi o residuo em agua distillada, e sendo submettida á acção dos rcacti- vos, apresentou estas mudanças: 1 .* O nitrato de prata deo um precipitado ligeiro com os caracteres do chlorure- to d'esta espécie. 2." O xarope de violetas, e tinetura de Tournesol conservaram a mesma côr que lhes é própria. 3.° Não produzem precipitado os ácidos nitrico, esulfurico. h-.m O chlorureto de platina, ácido tartarico, oxalato ammoniaco, o phosphato ammoniaco-sodico não dão precipitado. Segue-se destas differentes reacções que dos princípios solúveis no álcool, que mi- neralisam as Águas contém o chlorureto de sódio. Puz em maceração por espaço de 2V horas em agua distillada o residuo insoluvel no álcool; decantei, ajuntei á cápsula em que estava o residuo uma onça d'agua distillada; decantei esta dissolução e ajuntei á precedente; concentrei todo o li- quido em uma cápsula de platina, e depois de filtrado elle apresentou as seguintes reacções: 3 — 18 — 1 / Enverdeceo o xarope de violetas, e restabeleceo a côr azul do Tournesol enver- mclhecida por um ácido. 2.° Precipitou pelo nitrato de baryta, e o precipitado dissolveo-se com efferves- cencia no ácido nitrico, deixando apenas alguns traços. 3.e Precipitou em branco pelo nitrato argentico, e o precipitado dissolveo-se com effervescencia no ácido nitrico. 4.° O oxalato ammoniaco, chlorureto de platina, phosphato ammoniaco-sodíco, ferro-cyannido de potássio não deram precipitado algum : os ácidos nitrico, e sulfuri- co não produzirão outra reacção que uma effervescencia: não appareceo precipitado algum ainda mesmo no fim de 24 horas. 5.° O antimoniato de|>otassa agitado por muito tempo deo um precipitado bran- co não muito apparente de bi-anlimoniato de soda. D'estas differentes reacções revela-se a existência do carbonato de soda e sulfato da mesma base. Tractei pelo ácido hydrochlorico o residuo, que recusou-se dissolver-se no álcool, e depois n'agua distillada ; evaporei esta dissolução ácida até seccar, e dissolvi o resi- duo n'agua distillada corn duas gottas de ácido hydrochlorico. Tractei esta dissolução pelo oxalato de ammonia, que deo um precipitado branco, não obstante ter addicionado previamente ao liquido algumas gottas de ammonia ; separei o precipitado de oxalato decai por meio de um filtro. Ajuntei algumas gottas de phosphato ammoniaco-sodíco ao liquido filtrado, que turvou-se, depositando-se no frm de alguns minutos um ligeiro precipitado branco. O sulfo-cyanureto de potássio evaporado em uma cápsula de porcelana até seccar com uma certa quantidade desta dissolução deixou um residuo com a côr azul de Prús- sia em alguns pontos; o que indica a existência de alguns traços de ferro alem do carbonato de cal e de magnesia. ANALYSE QUANTITATIVA. Foram dirigidos nossos primeiros passos a fim de podermos determinar o volume do gaz ácido carbônico existente em uma porção dada d'Agua, gaz este que repre- senta o mais importante papel n'cstas Águas. E' sabido que em 100 partes de sub- carbonato de cal ha 43,01 de ácido carbônico, e 56,39 de cal. Por conseguinte para saber-se quanto ácido carbônico, em peso, existe em 25 grãos do sub-carbonato de cal obtido na analyse quantitativa de duas libras d'Agua Virtuosa faz-se a seguinte proporção. 100 : 43 ; 61 : : 25 : X. 43, C1X25 X—--------------=10, 80 grãos. 100 — 19 — Para determinarmos pois qual é o volume de ácido carbônico existente em duas libras d'agua, sendo já principio conhecido que 1 grão e 9741 corresponde á um litro de gaz, fizemos a seguinte proporção. 1 grão 9741: 1 litro:: 10, 80 : X 1 X 10 , 80 X=--------------=5 litros 354 1, 9741 Não podemos pôr em pratica a analyse quantitativa dos outros principios, que entram na composição da Agua em questão por dous grandes motivos : a falta dos indispensáveis conhecimentos chymicos para tal cmpreza, e difliculdade invencivel da matéria, assim como a não existência de apparelhos destinados para esse fim. Portanto pois nos contentaremos de apresentar uma analyse quantitativa feita pelo nosso muito digno substituto o Illm. Sr. Dr. Antônio Maria de Miranda e Castro no laboratório de Mr. Pelouse na casa da moeda em Paris a 15 de septembro de 1843. O dito Senhor doutor Miranda evaporou cm uma grande cápsula de platina 2 Killogramos d'Agua Virtuosa, e obteve um residuo, que depois de bem seccoa 100 yràos pesou 0,3624 grammas-=6,8856 grãos. Pòz este residuo em digestão no álcool de 33° de B. por espaço de 24 horas; de- cantou, e evaporou esta dissolução alcoólica em uma pequena cápsula de platina até seccar : aqueceo convenientemente a cápsula para decompor a matéria orgâni- ca, e redissolveo o residuo n'agua distillada. Ajuntou na mesma cápsula algumas gottas de nitrato de prata ; e aqueceo o li- quido com a chamma alcoólica até concentrar todo o chlorureto argentico. Recolheo todo este chlorureto argentico em um pequeno filtro de papel Ber- zelius ; seccou este na estufa de Gay Lussac, e calcinou cm uma pequena cá- psula de platina. Obteve de peso, 0,093 gram = 0,722 grãos de chlorureto de sódio. Ajuntou 60 gram d'agua distillada á grande cápsula de platina, que continha o residuo insoluvel no álcool : deixou em digestão por espaço de 24 horas ; decantou e evaporou a secco cm uma menor cápsula de platina : apenas secco o residuo, subtrahio-o do fogo, e redissolveo n'agua distillada. Ajuntou â esta dissolução o nitrato barytico, aqueceo ligeiramente o liquido para concretar o precipitado, que depositou-se no fundo da cápsula ; decantou o li- quido, e aqueceo muito lentamente a cápsula até seccar o residuo que pesou 0,2895 gram--5,5005 grãos. Ajuntou á este residuo na mesma cápsula algumas gottas de ácido nitrico que produzio effervescencia, c dissolveo a maior parte do residuo. Evaporou a secco esta dissolução nitrica, c.allcrnadamente tractou o residuo pela agua distillada e pesou até separar lodo o nitrato barytico, e por conseguinte a cápsula não diminuir de — 20 — peso pela agua distillada: inteiramente a maneira de proceder na determinação àn Gapacidade de saturação de um ácido orgânico. O residuo diminuio de gram. 0,2460 = 4,674 grãos, peso de carbonato de baryta que representa 0,1379 gram =z 2,6201 ? rã os de carbonato de soda. Ficou na cápsula um residuo inatacável pelo ácido nitrico de 0,0435 gram ^= 0,5985 grãos de sulfato de soda. Tractou pelo ácido hydrochlorico o residuo que recusou dissolver-se no álcool, c depois n'agua distillada, evaporou esta dissolução ácida até seccar, e redissolveo o re- síduo n'agua distillada com duas a três gottas de ácido hydrochlorico. Ajuntou á esta dissolução aquosa algumas gottas de ammonia para separar os tra- ços imponderáveis de ferro; filtrou e ajuntou por pequenas gottas o tungstato òe soda, depois de expulsar pelo calor todo o alcali volátil. Recolheu o tungstato de ral em um filtro, seccou este na estufa de Gay-Lussac, e destacando com o aparo de uma penna todo o precipitado obteve de peso 0,200 gram=l,900 grão que re- presenta 0,0830 gram=l,577 grão de carbonato de cal. Methodo proposto por An- thon para separar a cal da magnesia. Ao liquido filtrado ajuntou uma gotta de ácido hydrochlorico para separar algum traço de ácido tungstico que podesse existir ; filtrou c fez ferver o liquido em uma cápsula de platina. No momento da ebulição ajuntou o carbonato sodico. Tornou-se um precipitado branco, que recolheo minuciosamente em um filtro de papel Berze- lius; seccou-o na estufa de Gay-Lussac, e calcinou em uma cápsula de platina. Obteve 0,0257 gram = 0,4883 grão de magnesia que representa 0,0257 gram = 1,0830 grão de carbonato de magnesia. Finalmente ficão na cápsula alguns grumosde silíça, que recusarão dissolver-se no ácido hydroclorico. COMPOSIÇÃO CHYMICA. EM 2 KILLOGRAMOS DAGCA. grammas Chlorureto de sódio 0,0385.......... Sulfato de soda 0,0315.......... Carbonato de soda 0,1379.......... Carbonato de cal 0,0830............. Carbonato de magnesia 0,0570............. Ferro, silíça, e perda 0,0145............ Ácido carbônico existente em 2 libras d'Agua 5 litros 354 grãos 0,7220 0,5985 2,6201 1,5770 1,0830 0,275o — 21 — Existem ao Suduestc da Cidade da Campanha na distancia de doze léguas no ponto denominado — Villa deBaependy — duas fontes de águas mineraes, provavelmente originárias da mesma nascente que a Agua Virtuosa : uma fonte é de águas férreas, e outra simplesmente gasosa. Ambas forão analysadas pelo nosso hábil Lente de Phy- sicaolllm. Sr. Doutor Francisco de Paula Cândido. 1.° Ácido carbônico cm dissolução. \ primeira contem. 2.° Abundante quantidade de carbonato de ferro. 3." Chlorureto de sódio. 1.° Ácido corbonico em dissolução. 2.' Pequena quantidade de chlorureto de sódio. —t»S«— PARTE TERCEIRA. PROPRIEDADES THERAPEUTICAS. Acreditamos ser mister, antes de tractarmos da acção medicamentosa das Águas Ga- sosas sobre a economia animal, mencionarmos de uma maneira mui succinta as propriedades do clima, que circumda o terreno, onde existem as ditas Águas, e que tem uma acção especial sobre os enfermos, pois que elle único parece ser um agente poderoso, em alguns casos, para a solução de muitas moléstias. Esta proposição é confirmada por factos verdadeiros ; por que as mais das vezes certos doentes atacados de moléstias, ás quaes o uso das Águas parece contraindi- cado, procurão o seu emprego inconsideradamente sem a determinação de medi- co algum, e conseguem o fim desejado, voltando restabelecidos para suas casas. A que é devido este plíenomeno? Sem duvida ao clima do lugar, pois que elle está nas condições necessárias para a vivificação dos entes organisados. Assim elle é frio, secco, puro, corrente, e por isso sempre renovado, e isento de todo, e qualquer miasma, que por ventura tenha-se desenvolvido da superfície da terra. A noticia da acção benéfica d'este clima, assim como a das virtudes das Águas tem penetrado os paizes os mais remotos, c de tal maneira excitado o animo dos po- vos, que muitas pessoas, como já ficou dito, procurão o seu emprego nos mezes de Agosto, Septembro, Outubro, e Novembro, época, cm que o gaz ácido carbônico, quo é o mais importante agente mineralisador das Águas desenvolve-se com a maior ener- gia possível, ea ponto tal que muitas vezes sua ingestão é difficil, e quasi suffoca a pessoa, que faz o seu uso. MOLÉSTIAS, EM QUE É BEM INDICADO O EMPREGO DA NOSSA PRECIOSA AGUA VIRTUOSA. A importância da Agua Gasosa da Cidade da Campanha, na Província de Minas Geraes, é assaz conhecida de muitas pessoas, maxime d'aquellcs indivíduos, que as tem visitado, e d'ellas usado. A Cidade da Campanha, a que ella deu origem, e bem assim o nome de Agua Virtuosa, de que a longo tempo gosa são mais que provas sufficientes. Até o auno de 1838, acclamavão-se de uma maneira vaga as proprie- dades medicinaes da dita Agua, sem que até essa época houvessem observações de pessoas competentes ; porém depois da viagem de um íllustrado medico compatriota á essa fonte a matéria medica brasileira tem observações positivas, que comprovão n proficua acção therapeulica da Agua Gasosa da Campanha na coqueluche, gnstral- gias, hypocondrias, eólicas spasmodicas, affecções nervosas, chloroso, obstrucção das vísceras abdominaes, vômitos teimosos, dores de estômago, dyspcpsia, atonia do apparellio digestivo, affecções chronicas das membranas muecosas, catarrhos bron- — 24 — cincos, da bexiga, da uretra, e congestões do systhema uterino; producçoes mór- bidas do systhema ganglionario lymphatico, engorgitamentos, hypertrophias, endu- rações, affecções lentas, o repetidas do systhema vascular sangüíneo com tendência a edema geral, suppressão de hemorrhoides, e hydropesias por sua dupla proprieda- de de provocar a absorção, e as ourinas abundantes. Ella é útil em todos os casos, em que é applicavel o gaz ácido carbônico : obsta a formação de arôas na bexiga, e ao crescimento dos cálculos vesicaes : também é útil, em alguns casos, e circumstancías, na menorrhagia passiva, c cm outros nn amenorrhéa entretida, ou acompanhada por debilidade geral, ou local : na leucor- rhéa passiva, e chronica: em algumas variedades de dartros, e nas sarnas. E con- traindicada em qualquer das referidas enfermidades, quando são acompanhadas de duresade ventre habitual , ou accidental, ou quando o seu uso produz dores de in- testinos: é contraindicada finalmente quando estas enfermidades são promovidas, ou entretidas, ou associadas á alguma lesão orgânica dos órgãos da respiração, da circulação, da assimilação, e da reproducção. (') PRECAUÇÕES A TOMAR ANTES DO USO DAS ÁGUAS MINERAES. As Águas Mineraes não convém á todas as moléstias. Não é preciso dicidir-se a beber as Águas senão depois do conselho de um hábil medico, depois de ter-lhe bem explicado seu mal, seu temperamento, eo gráo de suas forças. O medico verdadeiramente amigo da humanidade não deve jamais esperar que o doente esteja em um estado desesperado para envial-o ás Águas Mineraes, como á seu ultimo refugio. Elle deve procurar distinguir os casos absolutamente incuráveis d'aquelles que podem achar um soecorro na viagem ás fontes mineraes. Elle pode também fixar a quantidade d'Agua que o doente tomará, e regular pouco mais ou menos a duração de sua residência nas Águas. So o enfermo chega fatigado pela viagem, é preciso entregar-se ao repouso por 2, ou 3 dias antes de começar o tratamento. REGIMEN, QUE SE DEVE SEGUIR DURANTE O USO DAS ÁGUAS MINERAES. É com o auxilio do regimen que se chega a curar as moléstias as mais rebeldes, e as Águas Mineraes não tem poder algum se se não observa ao mesmo tempo as re- gras, que prescreve a hygiene. (•) Na maior parta dis enfermidades acima mencionadas o muito digno, e pratico Cirurgião o Illin. Sr. coronel Jgnacio Gomes Midõee tem aconselhado o uso das Águas, que tem sido sempre co. roado de felizes resultados. — 25 — Indivíduos ha que, desde que se lhes tem ordenado o uso de uma agua mineral, fazem-se árbitros do sua própria conducta, c pensão que não devem fazer oulra cousa niüis do que beber, e que tudo irá bem. Acreditão que elles não tem neces- sidade de um homem instruído para os guiar na quantidade da bebida, dos ali- mentos, do exeicicio etc. Para conseguir-se bons resultados da viagem ás Águas Mi- neraes é preciso consultar-sc freqüentemente ao medico instruído, dar-lhe parte dos effeitos das Águas, e seguir seus conselhos. Ensaiemos os preceitos geraes que devem servir de base de conducta aos bebedores d'Agua, e aos banheiros. 1/ Procurar um lugar arejado, fazer renovar muitas vezes o ar da casa, em que se habita ; não expor-se ao calor do sol, nem ao sereno. 2.° Regular as horas da comida. De manhãa, depois da bebida da Agua Mineral, almoçarem pouca quantidade substancias de fácil digestão. Jantar legumes, carnes brancas, como gallinba, vitella, cosidas, ou assadas: abster-se de carnes verme- lhas, ou pretas, de fruetas ácidas, ou verdes, e de licores alcoólicos. Cear substan- cias de fácil digestão. As Águas Mineraes provocão algumas vezes um tão grande appetite, qneé perigoso de se abandonar á elle: também é preciso ser circumspccto sobre a quantidade do alimentos: quando o estômago se acha cheio de um grande numero de substancias, a natureza não pôde se occupar do restabelecimento da saúde, Nas moléstias graves, e de longa duração não é em comendo muito que se recobra as forças; maior numero de doentes as tem perdido comendo muito, que comendo pouco. 3.* As vestimentas contribuem muito para a saúde dos homens. Ellas devem ser levei, c quentes ; pois que as fontes mineraes são cercadas de montanhas, onde o ar é iíio: deve-se pois trazer vestimentas próprias para o outomno, e inverno: as de lãa preenchem efíicazmente esta indicação. rj.J É útil que as excreções se facão cm ordem, e em seu estado physiologico. Sc as evacuações idvinas forem muito freqüentes é preciso modcral-as : se as provo- ca ao contrario se ha constipação. 5." O passeio é de absoluta necessidade para a cura das moléstias chronicas; o exercício á pé, «ui ò cavallo é de imperiosa necessidade depois da bebida da Agua Mineral. Os doentes devem regular os passeios segundo suas forças, e sua suscepti- bilidade nervosa, evitando os exercícios violentos do corpo, e os trabalhos aturados do espirito. G.° Deitar-se, c levantar-se cedo: o somno de seis, ou sete horas é suíficiente, quando í:m-se dormido tranquillamente. Celso recommenda o r. pouso depois do jantar, outros pelo contrario pretendem que o exercício é necessário para apressar a digestão : sobre este ponto o conheci- mento, que cada um tiver adquirido de seu temperamento, e custumes, é o melhor guia que se possa consultar. 7.° Os doentes devem persuadir-se que não chegarão a curar-se mais prompta- — 26 — mente, occupando-sc sempre de sua moléstia, pensando sempre em seu tratamento ; devem antes desviar de seus espíritos as idéas tristes, as inquietações, as tristesas da vida, c os negócios: as distracçõescontinuas, os divertimentos no meio de uma agradável, c socegada sociedade são úteis aos indivíduos, cuja sensibilidade só c affectada, para romper acadêa das idéas tristes, e melancólicas, que os assaltão de todos os lados. Com esta advertência não quero dará entender aos enfermos que se rcunam em numero de 12, ou mais pessoas, maximé de famílias differentes em uma casa de capacidade regular, nem que se entreguem muito aos prazeres dos bailes, como é quasi sempre de costume mal adoptado por algumas pessoas, quo visitão as Águas Gasosas da Cidade da Campanha, inconvenientes estes que serão sempre no- civos por não poderem viver em plena liberdade etc. REGRAS DE HYGIENE. E ao despontar da Aurora, nas bellas manhãas, que vai-se em jejum beber as Águas na sua fonte. Se as toma em copo de cinco a seis onças, e augmenta-se cadii dia a dose alé a quantidade, que se poder supportar sem se encommodar. Deixa-se enlie cada copo um intervallo de meia hora, quo dedica-se o mais das vezes à um r-\ci-r-icio moderado. Ora bebe-se as Águas puras, ora mistura-se com decoeção de ülgu'i.ós [í^ntas, leites etc ; algumas vezes ajunti-se saes neutros, segundo o ge- r«ei o de moléstia. Pode-se beber quer passeando, quer no banho, ou na cama : estas três maneiras são igualmente boas. Á Agua passa bem quando não pesa sobre o estômago, c quando, no fim de meia hora, sente-se disposto a beber um segundo copo. Não é preciso imitar aquelles que na intenção de apressar sua cura, e abreviar sua estada nas Águas, bebem grandes doses nos primeiros dias de sua chegada. Esta conducta oceasiona peso de estômago, dores geraes, gastrites, febres inflammatorias, biliosa, pútrida etc. As Águas Mineraes não são um remédio a produzir em poucos dias seus effeitos de que é capaz. Vinte libras d'Agua por exemplo, tomadas em 2, ou 3 dias não farão o mesmo effeito que esta mesma quantidade tomada cm 12 a 14 dias. E* por uni pequeno numero de effeitos augmentados de dia em dia que obtém-se as mais per- feitas curas. Estas Águas, por serem gasosas, devem ser bebidas taes quaes correm na fonte- O calor apressa sua decomposição, o desde então se não pode contar sobre seus effeitos. Não é preciso almoçar-se senão uma hora, ou duas depois de ter cessado, de be- ber, quando sente-se o estômago inteiramente livre, e a necessidade de tomar algum alimento. — 27 — Quando tem-se feito uso das Águas durante um mez, ou seis semanas é preciso descançar-se por 15 dias, e as tomar de novo, se a moléstia o permittir. Não ê necessário terminar-se o emprego da Agua de uma maneira brusca, porém no fim diminuir progressivamente a dose, tomando uma quantidade, pela qual co- meçou Com effeito a economia animal supporta diíTicilmente as mudanças súbitas, e intempestivas. PRECAUÇÕES A TOMAR DEPOIS DO USO DAS ÁGUAS. Acreditava-se em outro tempo que as Águas Mineraes dcixavão nas primeiras vias uni sedimento, e ter-se-hia acreditado commetter uma falta essencial se se deixas- se de purgar-se para cxpellir esta substancia nociva. Se o appetite é bom, se as digestões executão-se facilmente, se não tem-se com- mcttido algum excesso no regimen é preciso abster-se de purgantes, que, longe de serem úteis então, estão no caso de destruir o fructo, que tem-se podido obter das Águas. È prudente de não partir, se não um, ou dois dias depois de ter cessado o em- prego das Águas, fazer pequenas jornadas, e aproveitar, viajando, os momentos, em que o calor é menos forte. Depois da partida é preciso seguir ainda durante um mez o regimen, que se ado- ptou. A experiência tem muitas vezes provado que a acção das Águas prolonga-se mesmo depois de ter sido interrompido o seu uso, e que a cura, começada na fonte, se acaba, e se confirma quando volta-se para seus lares. Se tem-se experimentado algum allivio notável com o uso das Águas é preciso voltar paratomal-as alguns mezes depois que se as tem deixado, ou no anno se- guinte. Muitas pessoas, que tem encontrado sua cura vão, em signal de reco- nhecimento, visitar as fontes d'Agua Virtuosa, onde cilas tem recobrado a saúde. PRECAUÇÕES NECESSÁRIAS NO TRANSPORTE DAS AGÜAS. \s Águas Acidulas Gasosas perdem uma parte de suas propriedades pelo trans- porte. Como os doentes, depois de sua residência nas Águas, são muitas vezes obri- gados, em razão da teima de sua moléstia, a continuar o emprego, mesmo em suas casas,' e como não pode-se encontrar por toda a parte águas mineraes artiíiciaes, julgamos dever indicar as precauções, que nos parecem as mais seguras para o trans- porte das Águas Gasosas com a menor perda possível de suas virtudes. A experiência tem demonstrado que as botijas de barro são os vasos mais precio- sos para o transporte das Águas Gasosas. As garrafas serião melhores ; porque alim- — 28 — pão-sc mais facilmente e é mais commodo de as tapar cxactamentc ; porém de 100 garrafas apenas aproveita-se a terça parte ; entretanto que as botijas são menos su- geitaes ás fracturas, resistindo mais á força expansiva do gaz. Estas botijas não de- vem ser rachadas, nem ter contido vinho, ou outro liquido : é necessário enxa- goal-as com a Agua Mineral, c allender a que não entre no seu interior partes ve- getacs, como palha etc. que poderião determinar a putrefação da Agua. Quando quer-se transportar as Águas importa muito attender ao estado da at- mosphera ; porque a huniidade as enfraquece absorvendo muito gaz. Costuma-se algumas vezes, quando quer-se ter Águas muito perfeitas, pôr nas botijas os depó- sitos, espécies de humor ví=cjso, que as Águas formão ao redor das paredes das fontes; porém por este meio a Agua se decompõe mais depressa, perde o seu gosto, ee o seu sabor. É melhor conduzil-as taesquaes correm na fonte. Pura encher as botijas é preciso mergulhal-as abaixo do nível d'Agua, deixar um espaço de 2 pollegadas para ser oecupado pelo gaz, e introduzir no seu gargallo uma cortiça nova, que se faz penetrar com um pequeno malhete de madeira. E preciso tapar as botijas no mesmo momento, em que acaba-se de enchcl-as para evitar a evaporação do gaz: entretanto em certas oceasiões estão de tal sorte sobre- carregadas de gaz, que é necessário deixai-as por um momento expostas ao ar antes de tapal-as. Se despresa-se esta precaução, quebrão-se, ou o gaz faz saltar as cortiças. As botijas estando cheias liga-se um pedaço do pelle, ou bexiga no seu gargallo, que é mergulhado no aícatrao, ou na cera derretida com breu. ENCANAMENTO DA AGUA VIRTUOSA, REBAIXE NO LAMBARY PEQUENO, E EDIFÍCIOS PÚBLICOS. Para que a Agua Gasosa da Cidade da Campanha preste todo o bem, a que foi destinada, é da maior necessidade a intervenção do Governo Provincial para a fun- dação de um estabelecimento, por muito simples que seja em principio, para a melhor conservação da mesma Agua, e mais que tudo para abrigo dos doentes, pa- gando estes, e bem assim os exportadores d'Agua uma certa contribuição para manu- tenção do dito estabelecimento, o ulteriores melhoramentos. Assim pois desenvolve- remos algumas idéas. Primeiro que tudo deve cuidar-se no desempachamento do rio Limbary-Pequeno, extrahindo-se os troncos, e ramagens; que o obstruem em sua correnteza, e rebaixar- se o seu leito até a profundidade de seis palmos, desde a ponte, que fica na estrada geral até a confluência de um córrego anonymo, cuja extensão será de oitocentas bra- ças para evitar as innundações da várzea, onde já estão edificadas varias cazas para impedir o refluxo da Agua Mineral, que nasce, e corre quatro palmos abnixo do ni- — 29 — vel da várzea -. finalmente para embaraçar que a mesma Agua possa tomar algum des- vio, entranhando-se por algumas veias subterrâneas em prejuízo do publico, e dos novos proprietários. Cumpre construir-se uma caixa d'Agua oito palmos acima da casa de banho exis- tente, trazendo-se encanada a Agua no pequeno espaço, que fica de sua principal nascente até a dita casa de banho. E indispensável edificar-se uma hospedaria, que tenha até 140 palmos de com- primento e 60 de fundo, dividida internamente em cellas de 14 palmos quadrados, communicadas por um extenso corredor para abrigo dos pobres de ambos os sexos. Esta hospedaria deverá ser collocada junto ao antigo cemitério afim de desfructar uma corrente de agua nativa, que lhe fica superior, e as saudáveis influencias da at- mosphera desse lugar. Erigir uma capella no alto do morro, e n'aquella parte, que tem o nome áe Cas- tello, cuja eminência, sendo toda formada de rocha viva, e apenas coberta de uma pequena camada de terra vegetal, e tendo de elevação o melhor de 200 palmos, nem um perigo terá de que o edifício prejudique as veias, por onde transita a Agua Mi- neral, que nasce na base do morro, devendo-se comtudo prohibir-se a construecão de edifícios nas fraldas do mesmo para evitar o encontro de algum vieiro, bem como para conservarem-se os restos da pequena vegetação, que ainda existe de um, e outro lado do ponto indicado para a edificação da Capella. «..*.— HYPPOCRATIS APHORISMS i. \qua quje cito calefit, et cito refrigeratur, levissima. (Sec. 5.4 Aph. 26). II. Facilius estrepleri potú, quàm cibo. (Sec. 2.» Aph, 11). III. Ubi fames, non oportet laborare. (Sec. 2.* Aph. 16). IV. Autumno in universum morbi acutissimi, et perniciosissimi fiunt: ver autém sa- luberrimum et minus exitiale. (Sec. 3.a Aph. 9.°) V. Quaí longo tempore extenuantur corpora, lente reficere oportet: quae vero breví, eeleriter. (Sec. 2.» Aph. 7.*) VI. Multum et repente evacuare, autreplere,autcalefacere, aut frigefacere, aut aliter quocumque modo corpus movere periculosum est. Enim vero omne multum (id est nimium) naturas est inimicum. Quod vero paulatim fit, tutum est. (Sec, 2.» Aph. 51). TYP. M. A. DA SILVA LIMA, RUA DE S. JOSÉ N. 8. Esta These está conforme os Estatutos. Rio de Janeiro 20 de Outubro de 1848. Dr. Joaquim Vicente Torres Homem.